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BCI
domingo, 08 julho 2018 12:53

La dérive du Mounsier Faustino

Quando o calar das armas esbarra na cacofonia das vozes dissonantes na Frelimo, há um homem que ergue alto seu estandarte de violência. Agora que Nyusi e a Renamo abriram fendas numa ferida cuja cura observava os derradeiros procedimentos clínicos, lá veio ele colocar nessa ferida não o dedo da panaceia mas o veneno da odisseia.

A odisseia da dor. Fernando Faustino, o líder dos veteranos de guerra da Frelimo, acusou ontem a Alta Comissária do Reino Unido, Joanna Kuenssberg, já em fim de missão, e o representante da União Europeia Sven Kuhn Von Burgdsdorff, como sendo as principais forças por detrás da recusa da Renamo em desmilitazar antes do processo eleitoral autárquico. “Eles usam e abusam da Renamo para obstruir a Governação em Moçambique, encorajando este partido para se manter armado”.


É o recorrente discurso da mão externa. Quando a Renamo se entrincheira intransigente nas exigências de uma desmilitarização que não seja apenas a entrega de armas é porque está sendo manipulado pelas chancelarias. Quando a sociedade civil expõe as mazelas da governação é porque está sendo influenciada do estrangeiro. Quando jornalistas denunciam a promiscuidade entre política e negócios é porque recebem dinheiro das embaixadas. É um quadro mental completamente doentio. Que chacina os espaços de diálogo dentro da sociedade.


Desde que Nyusi assumiu o poder e Faustino a liderança dos veteranos, este senhor nunca se sintonizou com uma perspectiva de diálogo. Onde houve sangue, ele quis mais sangue; onde houve morte, ele defendeu mais morte. Quando Dhlakama foi atacado em Zimpinga, em Setembro de 2015, ele disse que o antigo líder da Renamo devia ser preso e julgado. Quando em 2016 a Renamo se barricou na guerrilha atacando inclusive alvos civis, ele pediu armas para os antigos combatentes. Seu discurso não serve para sarar feridas. É para cultivar a dor. Ele não é um pacificador. É um instigador. Alguém que parece estar nos antípodas do discurso de Nyusi.


Quando o Presidente usa o palco de um banquete de Estado a um chefe de Governo estrangeiro (o português António Costa) para dizer que a paz é irreversível e que os moçambicanos são como que uma família,
Faustino surge em diapasão distinto. Ele dá corpo às teorias segundo as quais Nyusi está amarrado, dentro da Frelimo, a forças que se opem a uma solução não militar do actual impasse. A tal história dos dois comandos. É uma história que pode fazer sentido em certa medida mas que não elimina a certeza de que a Frelimo está sendo comandada por uma corrente que eu chamo de tradicionalista, hard core, clássica, socialmente conservadora, defensora de um Estado centralizado, propriedade do partido, lealistas de Guebuza e da linha dura e para quem a alternância democrática é uma miragem.


Uma corrente que não consegue captar os ventos da mudança nas preferências do eleitorado, cada vez mais jovem, marginalizados e para quem o legado da luta de libertação não pode ser o único apelo de voto na Frelimo. Os eleitores de Nampula mostraram isso a bem pouco tempo, com a eleição de um candidato da Renamo para a edilidade. Faustino parece mesmo um marciano recém-chegado. Se ele fala como fala e ninguém lhe chama à atenção é mesmo um sinal de desnorte no partido. A opção por Eneias Comiche em Maputo é prova dessa deriva.

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