Ouro – É um dos primeiros metais usados pela humanidade. O artefacto mais antigo em ouro foi encontrado na tumba da Rainha Zer do Egipto, aproximadamente há 4600 anos. Até à data, é considerado no mundo como o abrigo seguro do valor.
Missanga – São pequenos objectos decorativos originalmente feitos em vidro ou porcelana há 4300 anos na Ásia, Mesopotâmia e Egipto. São peças de adorno normalmente brilhantes, de baixo custo que seduziram os indígenas, europeus, americanos e africanos. Quando os romanos iniciaram a aventura pelo Hemisfério Sul descobriram a importância da missanga na troca de mercadorias e iniciaram a sua produção (apesar da igreja católica ter banido o seu uso nos terços por considerar uma prática pagã).
Valor – É o equivalente justo em dinheiro, do que pode ser comprado ou vendido.
Há dias num grupo das redes sociais de colegas de escola vi uma “postagem” que dizia, ironicamente, “será verdade que os nossos antepassados trocavam ouro por missanga”?
Fiquei a pensar nesse assunto da história, fui investigar e, facilmente, verifiquei que era verdade (aliás, vinha nos livros da história colonial portuguesa) – os nossos antepassados trocavam ouro por missangas.
Muitos leitores, em particular os mais jovens, devem estar chocados com este facto, com muita razão, já que no contexto actual o ouro padrão em barra vale USD 60.000,00/Kg, em contraste à missanga de qualidade que vale USD 60,00/Kg.
Ainda bem que quase todos vocês estão surpreendidos, chocados e/ou até indignados. O conhecimento (não confundir com informação e diploma) é o alicerce de qualquer sociedade bem-sucedida!
O Ouro por Missangas é uma questão filosófica, se não compreendermos a razão do valor dificilmente encontraremos o caminho. Para o efeito, partilho alguns pensamentos brilhantes que achei apropriados:
- O filósofo inglês Bertrand Russel disse e passo a citar: “ciência é tudo que sabemos, filosofia é o que não sabemos” fim de citação.
- Axiologia – É o ramo da filosofia que estuda a natureza e a essência do valor. A natureza do valor reside na capacidade do ser humano em valorizar o mundo de forma objectiva.
- Confúcio (551-479 a.C.), um dos maiores Mestres chineses e do mundo na ciência político-social, definiu como um dos pilares para estabilidade social – correcção dos termos (rectification of names) – que significa, por exemplo, governar é servir os melhores interesses dos cidadãos, que os recursos públicos devem ser geridos com o máximo de rigor, que justiça deve ser justa, que violar as regras de serviço público é crime, que ninguém está acima da lei. Com a “correcção dos termos” não há dualidade de critérios. Confúcio faz o diagnóstico de quando numa sociedade os “termos” não são corrigidos e diz, passo a citar: “os cidadãos não sabem se andam com as mãos ou com os pés no chão” fim de citação.
Que os nossos antepassados não valorizassem o ouro é aceitável, se considerarmos que, provavelmente, eles tinham ouro em abundância, sem qualquer aplicação que justificasse mais valor. Devemos analisar no contexto e percebermos que nessa altura o ouro era uma matéria-prima e não um metal precioso.
Que em 2020 eu, você e muitos outros, digo a maioria de nós continuemos a trocar o nosso ouro por missangas, é inaceitável, senão vejamos:
- O ambiente é fundamental para a biodiversidade que é o pilar para uma qualidade de vida. A COVID-19 ensinou-nos que, pela preservação ambiental do Continente Africano, fomos os menos afectados pela pandemia no mundo. Porém, continuamos a ser um porto franco para os criminosos ambientais, deixamo-los instalar indústrias altamente poluidoras com efeitos e consequências nefastas nos próximos centenários. Se é verdade que precisamos de investimentos, sigamos as boas práticas – o investidor deveria por exemplo fazer um seguro contra danos ambientais.
- “Vendemos” licenças de saque para pescas, florestas, minas de forma leviana para não dizer pior.
- Acreditamos ingenuamente no que os “investidores” dizem, sem fazer qualquer esforço em questionar, investigar, obter uma segunda e terceira opinião. Pior, punimos todos aqueles cidadãos que questionarem - “fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes é insanidade”, disse Einstein.
- Acreditamos e sonhamos que os “outros” trarão as soluções (missangas) que precisamos para “servir” os cidadãos.
Resumindo, continuamos a ceder o nosso ouro – ambiente, hidrocarbonetos, minerais, florestas, fauna, pesca, o bem-estar da população (paz) e dignidade – em troca de missangas.
Na actualidade, os preços (mercados) estão a um click de qualquer dedo. A tecnologia é acessível a qualquer um. O financiamento é uma mercadoria cuja oferta é maior que a procura, dependendo da “viabilidade” económica da proposta.
Os técnicos que fazem os estudos de viabilidade para os “investidores” estão disponíveis para qualquer um.
Então você está a ficar ansioso ou até irritado com esta conversa e pergunta, ENTÃO O QUÊ NOS FALTA?
Falta-nos CREDIBILIDADE!
PORQUÊ?
- Porque não chamamos os nomes pelos próprios nomes como diz o Confúcio.
- Porque ignoramos o velho ditado Babilónico: “Se levares os bens do povo, o povo levará os teus bens”.
- Porque não acreditamos no que disse o filósofo alemão Friedrich Nietsche (1844-1900) “é a dificuldade que dá valor às coisas”.
- Deixo-vos com uma das reflexões mais antigas no mundo sobre ATITUDE: “Aconteceu que aprendi isto, aconteceu que aprendi aquilo, e talvez eu saiba aquele outro conhecimento e faço todo o meu trabalho com esse conhecimento. Amanhã posso aprender que o que aprendi antes não é verdade, e aprender uma nova realidade, começando tudo de novo...” por Richard Feynman, físico americano (1965), referindo-se ao pensamento Babilónico há 4000 anos. Tenho a certeza que o leitor vai regar esta semente…
Ref: enciclopédia Britânica, Wikipedia,
A Luta continua!
Amade Camal