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quinta-feira, 13 dezembro 2018 03:06

Nas mãos da polícia

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No aeroporto de Paris, o polícia francês de fronteira olhou e revirou o meu passaporte, franziu o sobrolho e perguntou:

- Moquambique?

- Moçambique, emendei eu, fazendo de conta que não entendia a dificuldade dele perante o “c” com cedilha.

- Onde é que fica isso?, questionou o polícia.

- Em África, respondi fazendo de conta que aquele “isso” não me beliscava.

- Você é africano?, voltou a indagar o polícia.

- Sim, respondi fazendo de conta que não me espantava aquela troca de falsas impressões. Ele um polícia francês de raça negra, surpreso por encarar um escritor africano de raça branca.

 

Podia ter-lhe lembrado dessa troca de falsas pertenças mas aprendi há muito que, com os polícias, a gente responde muito rápido e diz muito pouco. Conduziram-me depois para a sala dos viajantes “duvidosos”. A sala estava cheia de passageiros mexicanos, quase todos do sexo feminino. Era de onde eu vinha: do México, da Feira do Livro de Guadalajara. Indicaram-me uma cadeira e eu sabia que esse assento se destinava a uma longa espera. As mulheres mexicanas olharam-me com o mesmo espanto do polícia: eu não parecia mexicano. Usted, mi amor, es mexicano?, perguntou a mais idosa das mulheres. Não, não, esbracejei. E mais esbracejei quando elas me envolveram com abraços solidários. Confesso que necessitava daquele consolo mas não me convinha nada que os polícias me surpreendessem aos abraços com aquelas mulheres cujos casos de fronteira seriam certamente bem diversos do meu.

 

O assunto resolveu-se. E, afinal, não existe queixa da minha parte. Pelo contrário, os polícias não deixaram nunca de ser profissionais. Foram firmes mas nunca deixaram de ser amáveis. E pensei na minha ampla experiência no meu próprio país. Na verdade, polícia que rosna e ameaça não quer fazer cumprir a lei. Quer outra coisa. E sabemos bem o que é...

Sir Motors

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