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BCI
sábado, 25 janeiro 2025 09:55

Uma proposta editorial, a todos os órgãos de comunicação social

Escrito por

TomasVieiraMario2608 (1).jpg

Estamos em tempo de balanço da nossa longa travessia martirizada, a que se convencionou designar por crise pós-eleitoral. De todas as fontes temos recebido, todos os dias, números e qualificações dos danos materiais causados por manifestantes contestando o que entendem terem sido eleições extremamente problemáticas. E um largo número de infraestruturas destruídas. Avultados prejuízos econômicos. Temos ouvido disto tudo, todos os dias, de diferentes fontes.

 

Mas parece que tem faltado a outra face da mesma crise. A face social, a face humana. 

 

Esta crise destruiu penosamente a confiança dos cidadãos sobre qualquer instituição do poder de Estado. Ela roeu de uma vez aquele resto, ainda que tênue, do contrato social que unia os cidadãos ao Estado. E nesta crise foi destruída uma parte significativa do maior patrimônio do Estado: vidas humanas!

 

Nas suas contas, o recem-exonerado comandante geral da Polícia, Bernardino Rafael, diz que (apenas) 96 pessoas foram mortas durante as manifestações; porém diferentes organizações da sociedade civil ("Decide", CDD...) contabilizam mais de 350 vidas humanas, fulminadas por balas da Polícia.

 

Estas vítimas têm nomes; viveram em bairros conhecidos; alguns eram chefes de família que deixaram viúvas e filhos sem recursos para a sua subsistência; outros ainda eram jovens na flor da idade. Com eles foram enterrados sonhos; seus próprios sonhos; sonhos de seus pais, namoradas ou de namorados.

 

Alguns ainda, de famílias extremamente pobres,não puderam, sequer, ter enterro digno, podendo ter sido sepultados em vala comum.

 

E aqueles reclusos mortos na chamada cadeia de máxima segurança, cujas cabeças sem vida vimos sendo pisoteadas por desalmados agentes da Polícia? Os seus familiares receberam os seus corpos, para ao menos dar-lhes enterro digno? Qual é a responsabilidade do Estado ante esta cruel matança em calabouços?

 

E já que todo o mundo está a lançar-nos à cara valores monetários de prejuizos derivados desta crise, digam-nos, por favor: quanto vale a vida de um cidadão morto injustificadamente por um agente do Estado?

 

É esta a outra face dos "danos" derivados das manifestações violentas, que a nossa comunicação social tem se "esquecido" de reportar.

 

Porque faltam porta-vozes dos mortos e daqueles a quem a sua morte deixou em eterno luto.

 

Então estas notícias sobre "danos" estão enviesadas; podem traduzir-se em colossal manipulação de opinião pública. Por serem demasiadamente parciais!

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