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O Tribunal Administrativo emitiu ontem um comunicado de meia dúzia de parágrafos bastante redondo. Um "peipa" maningue poético e nutrido de parábolas. Um pacote de português embrulhado e fino que nada diz. No tal comunicado entitulado "processo de averiguação das dívidas contraídas pela PROINDICUS, EMATUM e MAM", o Tê-A diz que somente vai-se pronunciar sobre este assunto se essas empresas apresentarem as informações que foram ocultadas durante as investigações levadas a cabo pela Kroll. Na verdade, os Juízes do Tê-A estão a dizer qualquer coisa como: para não andarem a dizer por aí que nós não estamos trabalhar, nós preferirmos confirmar na primeira pessoa que não estamos a trabalhar mesmo. Como quem diz não é com essas vossas dívidas escondidas que vão nos fazer transpirar logo com esse calor do fim de ano.

 

De resto, é um documento despropositado e inoportuno. Um documento desfocado. Um documento imbuído de devaneios. Oco. Um festival de cobardia e ausência de tomates. Um desfile de ociosidade. Todos sabemos que nem o Tê-A nem a Pé-Gê-Ere tem tacto suficiente para tocar neste assunto. Ninguém quer pôr o guizo ao gato. Isso está claro. Agora, não precisa inventar. Esse teatro é desnecessário. A propósito, quando é que vocês também vão pedir mais gorduras para as vossas mordomias? Nada de vergonhas... Podem pedir também. Nós vamos pagar. Estamos aqui para isso. O que é que a gente não paga!?

 

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Publicado em 28-12-2018

 

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No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

Não sei se já repararam, mas parece que a agremiação que representa e advoga os interesses e direitos de todos trabalhadores deste país está velha e caduca. Se ficar atento, vai notar que desde a sua criação, em 1983, a Organização dos Trabalhadores de Moçambique, mais conhecida por Ó-Tê-Eme-Central-Sindical, tem estado a ibernar a cada ano que passa. Perdeu interesse. A sua constituição, gestão e planos de actividades não são transparentes. Se são, me elucidem.

 

Um país com uma pirâmide bastante jovem, qual Moçambique, devia ter uma Ó-Tê-Eme mais jovem, criativa e actuante. Uma organização que acompanha os problemas actuais dos trabalhadores. Uma organização mais revolucionária. A nossa Ó-Tê-Eme ficou no tempo. Continua a discutir os mesmos problemas do Comunismo. A Ó-Tê-Eme sabe apenas discutir salários mínimos a cada dúzia de meses (que mal discute, diga-se) e tomar café com bolachas chocantes de baunilha em conferências alheias.

 

Não se explica que a nossa Ó-Tê-Eme seja constituída somente por velhotes. Os novos órgãos que tomaram posse na semana passada são todos velhotes pançudos que mal conseguem discutir ideias sérias durante um par de horas. Não tem um só jovem de 25 ou 30 anos (me corrijam, se estiver equivocado), num país jovem como este. Este país tem médicos, professores, engenheiros, estivadores, canalizadores, carpinteiros, bancários, motoristas, advogados, etecetera, de 22 anos de idade que têm os seus próprios problemas e interesses. Esses também precisam de ter alguém que os represente.

 

Precisamos de um sindicato que discute assuntos actuais: integração regional, globalização, qualidade de formação, mão-de-obra estrangeira, dolarização da economia, custo de vida, higiene e segurança no trabalho, meio ambiente, minorias sexuais, representação parlamentar, paz e segurança, dívida oculta, etecetera. O bem-estar do trabalhador não se define apenas pela subida(?) do salário mínimo.

 

Não estou aqui a dizer que os mais velhos, nossos pais, que ali estão não sejam importantes. Não! A sua experiência é uma mais-valia. Estou a dizer que todas as classes e faixas etárias de trabalhadores devem estar ali representadas para que o debate flua e seja abrangente. Para que seja inclusivo. E isso depende dos jovens também. Os jovens trabalhadores devem começar a se interessar também por questões sindicais. Devem começar a assumir a Ó-Tê-Eme como uma plataforma importante e válida para discutir as suas vidas profissionais e sociais. Não podem aceitar que os seus problemas sejam discutidos por outras pessoas. Não podem aceitar que a sua luta seja usada como trampolim para cargos políticos.

 

Trabalhadores de todo Moçambique, uni-vos!

 

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Publicado em 24-12-2018

 

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No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

Nos últimos anos temos estado ou firmes ou resilientes ou estáveis. Mas afinal, qual é a distância entre cada uma dessas metáforas presidencialistas? O que mudou na verdade?

 

Então vamos a isso. Para começar, foi o cientista inglês Thomas Young uma das primeiras pessoas que usou o termo "resiliência", em 1807, durante as suas pesquisas sobre a relação entre a tensão e a deformação de barras metálicas. Para a Física, resiliência é a capacidade de um material voltar ao seu estado normal depois de ter sido submetido a uma pressão. Por exemplo, a capacidade da borracha de voltar ao seu estado normal depois de ser tensionada ou a do elástico depois de ser esticado.

 

Portanto, no dia a dia, resiliência significa a capacidade do indivíduo em lidar com situações anormais e adversas e reagir positivamente sem ficar paulado. A capacidade de mandar passear as pressões e manter-se firme nos seus objectivos. A capacidade de manter-se estável face às adversidades da vida.

 

Em suma, ser resiliente é ser firme, é ser estável. Ou seja, nesses últimos anos, não temos andado para frente. Estamos estagnados. Não demos um passo para o destino (se é que temos um). Caminhamos aos círculos.

 

Deixemo-nos de fifias, compatriotas. Paremos com esses discursos redondos. Não sejamos como um cachorro que quer morder a sua própria cauda. Temos que marchar, irmãos. O tempo urge. Chega de poesias!

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Publicado em 20-12-2018

 

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segunda-feira, 10 maio 2021 09:34

Juma Aiuba reloaded*: Um azar evitável

Essa nova moda de exibir falsas vidas largas nas redes sociais um dia vai nos matar. Não entendo qual é a sensação de mostrar ao mundo uma vida de rei que na realidade não se tem. Qual é a tesão de fazer "show off" com molhos de dinheiro que não nos pertence? O que se ganha exibindo um carrão ou um casarão que não é nosso? Não entendo! Juro que não entendo! Na semana passada, "Carta" seguiu o rasto de Shakira Júnior Lectícia, uma figura que, durante quase um ano, exaltou a insurgência em Cabo Delgado por via de uma conta no Facebook. Ele/a fazia o seu trabalho criminoso publicando fotos que presumivelmente não eram suas. Nas fotos aparecem jovens (homens e mulheres) exibindo vidas largas com molhos bastante volumosos de dinheiro em notas grandes.

 

Ora, feita a devassa dos factos, concluiu-se que, afinal de contas, as fotos exibidas eram de pessoas alheias ao perfil de Shakira e, pior, as vidas largas das tais fotos não passavam de mero exibicionismo. Ou seja, Shakira usou fotos de pessoas que exibiam dinheiro que não lhes pertence nos grupos de WhatsApp como se elas tivessem ganho aquele dinheiro matando pessoas e incendiando casas em Cabo Delgado. Quando os "show offistas" são encontrados não dizem coisa com coisa. 

 

Por exemplo, Shakira divulgou no seu perfil fotos de João Álvaro, um jovem de 23 anos, que trabalha na cidade da Beira, neste momento, exibindo um molho saturado de notas de mil meticais. Confrontado, "Álvaro revelou que o dinheiro não era seu, mas dum amigo que pretendia levantar 20 000 Mts mas que, devido às limitações das ATM, decidiu transferir metade para a sua conta. Quando os dois conseguiram juntar os 20 000 Mts, deixaram-se fotografar" e partilharam num grupo de "lifestyle" (Carta, 14/12/2018).

 

E agora, isso é bom? Valeu a pena ter exibido dinheiro que não lhe pertence? Valeu a pena ser confundido com bandido? Assim está bom?! Irmãos, não vale a pena exibir "Deus no comando" quando, na verdade, não está no comando. Amanhã Ele pode querer tirar satisfação e não sabermos o que dizer. Não vale a pena aderir a grupos de partilha de informação duvidosos e sem prévio consentimento. Bandidos estão aos montes nessas redes. 

 

Azar não custa, mas pode-se evitar. 

 

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Publicado em 17-12-2018

 

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segunda-feira, 03 maio 2021 09:21

Juma Aiuba reloaded*: A nação joga batota

Quando me disseram que o Ministério da Educação ia anular o exame da disciplina de Física da décima classe realizado há dias, me fiz a seguinte pergunta: Quem tem moral para anular o que quer que seja por suspeita de fraude aqui nesta pátria? Desde quando a fraude é proibida nessas bandas? Aliás, quem tem moral bastante para proibir tal acto? Onde está essa pessoa? Quem é esse aventureiro que quer se posicionar na contra-mão? 

 

Anular uma prova por causa de uma fraudezinha?! Por causa de uma ilegalidadezita?! Por causa de uma batotazinha?! Por causa de uma mini-roubalheira?! Txêêê!!! Desde quando? 

 

Quem pode querer fazer isso só pode ser um gajo que acaba de chegar da lua. Um gajo que não tem "feici-buqui" nem vê nossas notícias mundanas e não tem uma só janela virada para o mundo. Um "zamwamwa". Matreco. 

 

Mo brada, fraude é o que está a dar. Moda "dele" desses dias é só roubar. Te roubam e ainda, com um pouco de azar, te mandam chamboquear. Te batotam e logo te cercam com blindados. Trocam teu voto tu aí mesmo a ver. Teu voto baza pela janela e desaparece escoltado no escuro. Até parece que fraude é não fazer batota. Ser bom não é bom. 

 

Com esse empreendedorismo em voga por aqui, não tarda que uma universidade abra um curso de Fraudologia. Nos próximos tempos vamos começar a ter gajos formados em Fraudologia Obsessiva Aplicada. Fraudólogos. Batoteiros. 

 

Na verdade, cada um de nós já vivenciou uma fraude neste ano. Ou participou ou testemunhou. Somos todos uns batoteiros passivos. Não há nem moral nem tomate para condenar. Jogamos batota. Somos uma fraude. Somos um faroeste à parte. 

 

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Publicado em 14-12-2018

 

*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!

 

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Sir Motors

Relaxa, camarada João Lourenço! Aqui relaxa-se. O melhor lugar do mundo para curtir umas férias é aqui. Aliás, aqui todo santo dia é dia de férias, feriado ou tolerância de ponto. Aqui trabalhar é pecado. Não entre na onda desses moçambicanos agitadores que dizem que o camarada devia ensinar alguma coisa ao nosso Presidente da República Filipe Nyusi. Não tente ensinar a trabalhar aqui. Não entre nessa. Vá por mim. 

 

Não tente ensinar como se caçam marimbondos daqui. Se tentar, não será bem-vindo. Marimbondos daqui não se caçam. Não são para matar. Aqui caça-se a quem trabalha. Se tiver que caçar, que sejam vendedores, operários e camponeses. 

 

Samora tentou caçar esses facínoras e pagou com a própria vida. Siba-Siba, Cardoso, Cistac (a lista é longa) também viraram de caçadores a presas de marimbondos. 

 

A Kroll chegou aqui tipo James Bond e voltou depenada no dia seguinte. O seu relatório de mais de uma centena de páginas foi revisado, corrigido e editado que sobraram apenas cinco faces de folha de papel onde a primeira página é capa; a segunda, acrónimos; a terceira, índice; a quarta, agradecimentos e; a quinta, ficha técnica. Um todo trabalho de uma equipa forense internacional renomada virou lixo.  Relaxa, senhor presidente, pois aqui a vida é essa mesmo: descansar. Aqui descansa-se. 

 

Quando se cansa de descansar, volta-se a descansar. É assim que se ganha dinheiro por aqui. Veja que aqueles nossos deputados que só sabem elogiar a gravata e o penteado dos seus chefes são muito bem pagos. Aqueles Juízes sem juízo estão a pedir aumento das suas mordomias. Veja que até os trabalhadores da EMATUM, aquela empresa que comprou pranchas de surf pensando que eram barcos, têm feito greve por falta de salários (numa situação normal, a greve seria por falta de trabalho). Dizia, não tente ensinar a eliminar os nossos marimbondos, por favor! Esses são de estimação escolhidos a dedo num "pet-shop" de luxo para fazerem "marimbondagem" nas nossas vidas. São muito nossos. 

 

Boas férias, camarada presidente!

 

Publicado em 13-12-2018

 

*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!

 

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