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Redacção

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O Banco Nacional de Investimento (BNI) e o Moza Banco foram os dois bancos moçambicanos com os rácios de crédito em incumprimento mais elevados no segundo trimestre, mas a maioria está acima dos 5% recomendados pelo banco central.

 

De acordo com o relatório sobre os Indicadores Prudenciais e Económico-Financeiros divulgado pelo Banco de Moçambique, o Banco Nacional de Investimento (BNI) – que integra a lista do banco central de instituições com menos de mil clientes - fechou o segundo trimestre deste ano com um rácio de crédito em incumprimento (NPL) de 60,45% do total concedido (48,44% no trimestre anterior) e um rácio de cobertura de NPL de 13,03%.

 

Entre os cerca de 15 bancos comerciais da listagem do banco central segue-se o Moza Banco, quinto maior banco do país, intervencionado em 2016 após o colapso do acionista português BES e atualmente participado em 3,54% pelo Novo Banco, com um rácio de NPL de 26,53% (20,12% no trimestre anterior), mas um rácio de cobertura de 87,29%.

 

No relatório de estabilidade financeira de 2022, divulgado em junho passado, o Banco de Moçambique refere que o setor bancário “manteve-se sólido e resiliente” naquele período, “com crescimento de resultados e níveis adequados de capitalização e liquidez”.

 

“Entretanto, no que concerne à qualidade do ativo, o índice de crédito em incumprimento situou-se em 8,97%, acima do 'benchmark' aceitável de 5,0%”, lê-se.

 

Da lista divulgada pelo banco central, apenas o First Capital Bank (FCB), Ecobank e Standard Bank apresentam um rácio de NPL inferior ao recomendado, respetivamente de 0,43% (rácio de cobertura de 55,96%), de 0,66% (rácio de cobertura de 15,29%) e de 2,40% (rácio de cobertura de 57,55%).

 

Os dois maiores bancos do país, Millennium BIM (Banco Internacional de Moçambique, detido em 66,69% pelo português BCP) e Banco Comercial e de Investimento (BCI, liderado pelos portugueses Caixa Geral de Depósitos e BPI), apresentaram respetivamente rácios de NPL de 11,19% e 13,13% no segundo trimestre, e rácios de cobertura desse crédito em incumprimento de 96,37% e 41,52%.

 

Segundo dados do banco central, funcionam em Moçambique 15 bancos comerciais e 12 microbancos, além de cooperativas de crédito e organizações de poupança e crédito, entre outras.(Lusa)

Wiriyamu massacre

Quase um ano depois de o Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, pedir, perante o Presidente da República, Filipe Nyusi, desculpas pelo massacre de Wiriyamu, o Governo aprovou, na última terça-feira (22), um Decreto que classifica o Local Histórico de Wiriyamu, localizado na Localidade de Muchenga, Posto Administrativo de Chiôco, Distrito de Changara, Província central de Tete, como Património Cultural Nacional.

 

Segundo o porta-voz da 30ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, o Decreto visa garantir a protecção adequada, conservação, gestão sustentável e a fruição, considerando o simbolismo, a importância política, cultural, social e o valor histórico nacional de que se reveste o Local Histórico de Wiriyamu na definição da identidade dos moçambicanos e o seu papel para a educação patriótica.

 

A 16 de Dezembro de 1972, durante a luta armada de libertação de Moçambique, sob dominação colonial portuguesa, cerca de 400 civis desarmados foram mortos em Wiriyamu por militares portugueses. Cinquenta anos depois do massacre, em Setembro de 2022 passado, o Primeiro-Ministro português, em visita oficial a Moçambique, pediu desculpas ao povo moçambicano. 

 

“Neste ano de 2022, decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriyamu, acto indesculpável que desonra a nossa história”, afirmou Costa, em Maputo, citado pela Lusa.

 

Segundo o “Público”, o massacre foi dado a conhecer ao mundo por um jornalista inglês, Peter Pringle, num artigo do jornal “The Times”, em 1973, depois de a história ter sido denunciada por missionários estrangeiros a trabalhar na área de Wiriyamu. Entretanto, uma “investigação do historiador Mustafah Dhada, nascido em Moçambique e radicado nos EUA, concluiu que as tropas portuguesas dizimaram um terço dos 1350 habitantes de cinco povoações (Wiriyamu, Jemusse, Raichu, Juawu e Chaworha) integradas numa área que ele chama triângulo de Wiriyamu, que tem 40 povoações e que foram afectadas 216 famílias”.

 

Contudo, quase meio século sem falar do assunto, o governo português lembra o massacre e para além de pedir desculpas, o Primeiro-Ministro luso sublinhou: “as relações entre amigos são feitas assim, são feitas da gentileza de quem é vítima e faz por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar esquecer aquilo que praticou e perante a história se deve penitenciar”.

 

O pedido de desculpas pelo massacre de Wiriyamu foi replicado, em Dezembro de 2022, pelo Presidente da Assembleia da República Portuguesa, Augusto Silva Santos. Entretanto, o pedido não foi bem-recebido pelo Presidente do Partido Chega. André Ventura alegou que o pedido de desculpas não representa o seu partido nem as forças armadas portuguesas, pois nunca e em nenhum momento, Moçambique se desculpou por milhares de soldados portugueses mortos durante a luta de libertação do país. (Evaristo Chilingue)

anielle franco assassinato

A ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, disse em Maputo que acredita que a justiça “vai ser feita de alguma maneira” no caso do assassinato da sua irmã, a ativista e vereadora Marielle Franco.

 

“A minha mãe sempre fala que se não for a justiça dos homens, vai ser a justiça de Deus e a gente precisa esperar e acreditar nisso”, disse a governante brasileira, à margem de uma roda de conversa com estudantes, em Maputo.

 

Defensora dos direitos humanos e, na época, vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco foi morta a tiro, bem como o seu motorista, Anderson Torres, na noite de 14 de março de 2018, quando saíam de um comício político. 

 

Passados mais de cinco anos desde o assassinato, a irmã da ativista, Anielle Franco, atual ministra, afirmou acreditar que a justiça “vai ser feita de alguma maneira, se não for agora, mais para a frente”.

 

A governante brasileira admitiu que teve alguns receios quando recebeu o convite para assumir o cargo de ministra da Igualdade Racial no Governo de Lula da Silva, referindo que tem, por isso, tentado “minimamente se precaver e proteger” para não correr os mesmos riscos.

 

“Tudo o que diz respeito a política é claro que assusta a gente de mais”, vincou a ministra, referindo que as mulheres brasileiras passaram a ter medo de se candidatar a cargos políticos no país devido ao nível de “violência política” que têm sofrido.

 

“A maior parte das mulheres no país que sofrem violência política são mulheres negras e LGBT [sigla para lésbicas, ‘gays’, bissexuais e transgénero]”, destacou Anielle Franco, acrescentando que se está a avaliar a aplicabilidade das leis sobre o racismo e a punição em caso de violência política.

 

O ex-vereador e polícia militar brasileiro Zico Bacana, uma das testemunhas da investigação sobre o assassínio de Marielle Franco foi morto a tiro no dia 07 deste mês, no Rio de Janeiro, segundo a Polícia Militar.

 

Zico Bacana já tinha sofrido uma tentativa de assassínio em novembro de 2020.

 

Desde 2018 ainda não se sabe quem ordenou o homicídio da ex-vereadora e ativista Marielle Franco. Entretanto, em julho, a Polícia Federal brasileira deteve no Rio de Janeiro um ex-bombeiro suspeito de ter participado no homicídio.

 

O detido é Maxwell Simões Correa, apontado como cúmplice do duplo homicídio e que já tinha sido condenado em 2021 a quatro anos de prisão por obstrução à Justiça neste caso, embora cumprisse a pena em regime aberto, segundo fontes do Ministério Público.

 

As investigações apontaram que o ex-bombeiro era o proprietário do veículo que servia para guardar as armas do ex-agente policial Ronnie Lessa, acusado de ser um dos autores do crime que chocou o Brasil e teve ampla repercussão internacional.

 

A prisão ocorreu no âmbito de uma operação lançada pela Polícia Federal, que incluiu buscas em sete endereços na cidade do Rio de Janeiro e região metropolitana.

 

Com a chegada ao poder do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em 01 de janeiro deste ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, criou um grupo especial dentro da Polícia Federal para apoiar as investigações da polícia do Rio de Janeiro com o objetivo de solucionar definitivamente o crime.

 

Os dois supostos autores materiais, os ex-agentes Elcio Queiroz e Ronnie Lessa, foram detidos em 2019, mas ainda não se sabe quem foi o mandante. O Ministério Público suspeita que tenha sido um crime encomendado.(Lusa)

quinta-feira, 24 agosto 2023 05:41

Abatidos dois líderes terroristas em Cabo Delgado

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As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e seus aliados abateram dois líderes terroristas em Cabo Delgado no âmbito das operações em curso naquela província. De acordo com um comunicado divulgado esta quarta-feira (23) pelo estado-Maior-General das FADM, trata-se de Abu Kital que ocupava o cargo de vice-Comandante das operações dos terroristas do grupo Al Sunna Wall Jammat e adjunto de Ibin Omar, também conhecido por Abu Suraka. Na mesma operação, também foi abatido Ali Mahando que, à semelhança de Abu Kital, ocupava importantes funções no seio do grupo terrorista.

 

Nesse exercício, uma unidade motorizada das FADM, que se encontrava integrada numa coluna militar com destino a Quiterajo, por volta das 8h30min da última terça-feira, entrou numa emboscada inimiga e capotou numa ponteca, tendo de seguida se incendiado, porém, os seus ocupantes saíram ilesos.

 

No mesmo comunicado, as FADM referem que continuam engajadas na segurança e defesa do país e dos moçambicanos e, neste momento, decorrem acções de recolha de mais informações de outras movimentações de outros integrantes do grupo terrorista. (Carta)

paulo vahale mz

Uma notícia publicada esta quarta-feira pelo jornal Ikwele, editado na cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome, garante que o Edil de Nampula, Paulo Vahanle, escapou a uma tentativa de assassinato, supostamente protagonizada por um indivíduo das forças especiais da Polícia da República de Moçambique (PRM), na passada terça-feira, durante as comemorações do Dia da Cidade de Nampula.

 

Segundo o jornal Ikwele, um elemento da Unidade de Protecção das Altas Individualidades (UPAI) foi interceptado na Praça do Município de Nampula com uma arma de fogo, com intenção de matar o Presidente do Conselho Municipal daquela cidade, uma missão abortada por generais da Renamo que se encontravam no local. O jornal não avança se o indivíduo terá sido detido, assegurando apenas que foi apreendida a sua arma.

 

“Carta” contactou Paulo Vahanle para inteirar-se da estória, mas este não atendeu as chamadas telefónicas da nossa reportagem e nem respondeu às mensagens. Aliás, “Carta” soube que o Conselho Municipal da Cidade de Nampula havia convocado uma conferência de imprensa para a manhã de ontem para abordar o caso, mas a mesma foi adiada sem quaisquer explicações.

 

Em contacto telefónico com a “Carta”, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Nampula, Zacarias Nacute, garantiu não ter qualquer informação acerca do assunto e que também tomou conhecimento dos factos através da imprensa local.

 

Até às 14h46min, hora em que conversou com o nosso jornal, Nacute garantiu que ainda não tinha recebido qualquer queixa por parte de Paulo Vahanle e nem de figuras próximas a si, pelo que acredita tratar-se de informações populares, que não foram devidamente filtradas pela comunicação social local.

 

O porta-voz da PRM, em Nampula, explicou ainda que a Polícia esteve em todas as esquinas daquela urbe, durante as comemorações da efeméride, e que não percebeu quaisquer movimentações que colocassem em causa a integridade física do Edil de Nampula.

 

Refira-se que o ex-Presidente do Município de Nampula, Mahamudo Amurane, foi assassinado por tiros disparados em pleno dia em que o país celebra a passagem 25º aniversário da assinatura dos Acordos Gerais de Paz (04 de Outubro de 2017).

 

Cinco anos depois, isto é, em Novembro de 2022, a Sexta Secção Criminal do Tribunal Judicial da Província de Nampula condenou Saíde Ali Abdala, antigo Vereador de Promoção Económica, e Zainal Satar, empresário com interesses na área de construção civil, a penas de 20 e 23 anos, respectivamente, pelo assassinato do autarca, depois de ter despronunciado os dois arguidos por falta de elementos de prova. (Carta)

Anselmo Muchave APSUM tecnicos min

Em mensagem divulgada ontem, os profissionais de saúde suspendem, com efeitos imediatos, a prestação dos serviços mínimos e, segundo eles, estes deverão ser garantidos pelos médicos que hoje retomam as suas actividades.

 

″Além disso, estamos a verificar que o governo tem alocado militares, como é o caso do laboratório do hospital provincial da Matola, onde foram colocados técnicos de laboratório militares”, denuncia a mensagem da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUM), assinada pelo respectivo presidente Anselmo Muchave.

 

A Associação refere ainda: ″gostaria de apelar a um diálogo produtivo entre o governo e os profissionais de saúde, com vista ao regresso destes para garantir serviços de saúde condignos ao povo″.

 

A agremiação felicita os colegas médicos pelo facto de terem chegado a consenso com o governo. ″Isso demonstra maturidade de ambas partes″. Os profissionais de saúde, entre enfermeiros, anestesistas, serventes, motoristas, entre outros, iniciaram no passado domingo uma greve de 21 dias.(Carta)

abrimos dstv mz min

A MultiChoice Moçambique tem a honra de informar a abertura da nova loja, na semana passada, sita no bairro 21 de Abril, ao longo da estrada nacional N°1, em frente às bombas BP, na Vila da Massinga, em Inhambane. A nova instalação visa oferecer aos seus clientes melhor experiência de atendimento, dispondo de um ponto de venda mais próximo dos clientes.

 

A MultiChoice toma ainda a oportunidade para informar que os clientes podem beneficiar de métodos alternativos de pagamentos e de serviços de auto-ajuda, em geral, para que continuem a desfrutar dos serviços e conteúdo televisivo oferecido pela empresa, conforme listado abaixo:

 

Métodos de Pagamentos:

 

  • ATM SIMOrede: BCI, Standard Bank, Banco Único, Banc ABC, UBA, ABSA, Ecobank e Letsego.
  • Internet Banking: Millennium BIM, BCI, Standard Bank, Banco Único, Banc ABC, UBA, ABSA, Letsego e Ecobank.
  • Celular: M-pesa *155#, Millennium BIM IZI, Mobile24 (*124#); Letsego (*899#), ABSA (*443#), Banc ABC (*620#) e Standard Bank (*555#);
  • Lojas e Revendedores autorizados: TOP UP, RecargaAki e PEP.

 

Assistência DStv/GOtv:

 

  • Auto-ajuda
  • Via Código USSD: *788#
  • Via SMS: 93788 (DStv) / 94688 (GOtv)

Nysui festival cultura

Quando os médicos cumprem, hoje, o seu 45º dia consecutivo de greve e os profissionais da saúde observam o seu quarto dia consecutivo da paralisação das actividades, o Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, decide, finalmente, falar pela primeira ao país em torno do assunto que marca a actualidade.

 

Falando na manhã desta quarta-feira, no Município da Matola, província de Maputo, durante a abertura do XI Festival Nacional da Cultura, Nyusi pediu aos médicos e demais profissionais da saúde a regressarem aos seus postos de trabalho, alegando que a greve tem causado sofrimento às populações, contribuindo, desta forma, para a redução da produtividade.

 

Segundo Filipe Nyusi, o regresso ao trabalho não irá fechar os canais de diálogo já criados e nem vai prejudicar os médicos e os profissionais da saúde, visto que o diálogo manter-se-á. “Eu tenho fé e esperança de que a mensagem está a chegar e, muitas das vezes, tem havido compreensão. As nossas conquistas não podem ser ofuscadas. Voltem ao hospital, voltem ao banco de socorro, ao laboratório, peguem ao volante de ambulância e tratem o vosso concidadão”, apelou.

 

A reação do Chefe de Estado chega quase 24 horas depois de o Governo ter indicado o Primeiro-Ministro, Adriano Maleiane, para liderar uma nova comissão de negociação com os médicos, depois do fracasso da comissão liderada pelo Vice-Ministro da Administração Estatal e Função Pública, Inocêncio Impissa.

 

“Continuemos a conversar, como estamos a fazer”, disse o Chefe de Estado, fazendo crer aos moçambicanos que os médicos e profissionais da saúde “sabem do que estou a dizer e sabem por que estou a dizer”.

 

O Presidente da República acrescentou que sempre esteve a par do dossier que divide os médicos e o Governo. “Haverá quem vai dizer que o Presidente disse tarde, mas o Presidente sempre esteve presente em todos momentos, por isso mesmo que chega este momento, em que me dirijo a todos”, assegurou.

 

“Depois de analisada a situação, e ouvindo apelos de muitos sectores da sociedade, incluindo os apelos dos profissionais da saúde feitos em diversos fóruns, quero, revestido de humanismo, apelar aos meus irmãos, nossos filhos, compatriotas afectos a estas áreas da saúde, manterem-se ao diálogo e, neste caso, rapidamente, encontrarem soluções conjuntas e exequíveis para a realidade do nosso país, sem prejuízo a nenhuma das partes”, defendeu.

 

Refira-se que a greve dos médicos teve o seu início no passado dia 10 de Julho com o prazo de 21 dias, tendo sido prorrogada por duas vezes, devido à falta de consenso entre o Governo e a classe médica. Durante a paralisação das actividades, sublinhe-se, o Governo chegou a ameaçar marcar faltas aos médicos grevistas, assim como despedi-los do Serviço Nacional de Saúde. Porém, a relutância dos médicos, levou o Executivo a recuar no seu discurso. (Carta)

 

hospital beira mpt min

Na segunda maior unidade sanitária do país, nomeadamente o Hospital Central da Beira (HCB), alguns serviços essenciais estão praticamente paralisados desde ontem, terça-feira (22), enquanto outros registam fraca afluência de doentes. No entanto, as principais unidades do hospital, nomeadamente, o banco de socorros e o sector de RX continuam a funcionar pressionados devido ao fluxo de doentes e ao reduzido número de pessoal atendente.

 

A responsável pelo sector de comunicação e imagem do Hospital Central da Beira, Laurinda Nhica confirmou à Carta que os serviços de laboratório e oftalmologia praticamente não abriram.

 

O cenário nas unidades sanitárias ao nível da Cidade da Beira revela claramente uma tendência de, aos poucos, os doentes estarem a desistir de recorrer aos hospitais públicos devido à falta de confiança no atendimento adequado.

 

As respectivas instalações apresentam-se desertas, sem doentes e sem pessoal médico. É um cenário que, enquanto prevalecente, desaconselha a ida de doentes àqueles serviços no Hospital Central da Beira, sendo o único recurso às clínicas privadas.

 

Reconhecendo que há uma certa desistência dos pacientes aos hospitais, Laurinda Nhica, apelou os doentes a não desistirem, que representaria a fase mais crítica da greve dos profissionais de saúde. "Venham ao hospital, os serviços estão a ser prestados... com o novo quadro reduzido imposto pela greve"

 

Alguns doentes ouvidos pela ″Carta″ no Hospital Central da Beira, mostraram-se profundamente agastados com a situação decorrente da greve dos profissionais da Saúde e apelam ao bom senso. Entendem que as partes ora desavindas, nomeadamente o Governo e os profissionais de saúde precisam, urgentemente, ponderar as suas posições e encontrar meio termo para a retoma do funcionamento normal dos hospitais públicos, considerando que a maioria não tem condições para recorrer às clínicas privadas.

 

“O atendimento é muito moroso. Nalgumas vezes nem se trata de os doentes serem mandados de volta para casa, mas sim acabam desistindo por desespero ao atendimento. Também não temos a confiança necessária de que o atendimento que nos está a ser disponibilizado é de facto o adequado” – disse uma paciente com quem falámos nos serviços de urgência do Hospital Central da Beira.

 

O semblante dos doentes é bastante penoso. “Torna-se difícil lutar pela vida nestas condições. Alguém tem de pôr a mão na consciência e garantir que a população continue a ser atendida nos nossos hospitais públicos. O Governo deve colocar o interesse público acima de quaisquer outros interesses”.

 

Nos seus comentários, os doentes consideram menos importante quem é culpado nessa contenda, defendendo que tanto o Governo assim como os profissionais de saúde têm a obrigação de garantir o funcionamento do sistema de saúde pública. (Carta)

nelson Mnangagwa n min

Hoje é o dia D no Zimbabwe. Os zimbabueanos estão a votar para a eleição do Presidente da República e dos membros do Parlamento. A principal disputa será entre Emmerson Mnangagwa e Nelson Chamisa, num país assolado pela corrupção, pobreza, inflação e desemprego. Entretanto, há outros oito candidatos presidenciais na corrida presidencial.

 

De acordo com estatísticas divulgadas pela Comissão Eleitoral do Zimbabwe (ZEC), 6,6 milhões de pessoas registaram-se para votar e pelo menos 43% dos eleitores são jovens.

 

Mnangagwa, de 80 anos de idade, e Chamisa, de 45 anos, enfrentam-se de novo nas urnas depois de uma batalha campal em 2018, em que o líder da oposição, então representando a Aliança MDC, contestou os resultados no Tribunal Constitucional. Chamisa recusou-se a reconhecer Mnangagwa como líder legítimo do Zimbabwe.

 

Mnangagwa e Chamisa percorreram todo o Zimbabwe implorando por votos, ao mesmo tempo que atraíram grandes multidões nos seus comícios. No entanto, a Zanu-PF de Mnangagwa foi acusada de transportar pessoas para comícios enquanto as atraía com alimentos, bebidas e sementes.

 

Chamisa, no entanto, atraiu zimbabueanos espontaneamente, com muitos observadores dizendo que participaram nos comícios por sua própria vontade.

 

O líder da Coligação de Cidadãos pela Mudança (CCC), Nelson Chamisa, disse na última segunda-feira que não vai permitir à Comissão Eleitoral do Zimbabwe (ZEC) repetir o que aconteceu em 2018, aumentando a pressão ao órgão eleitoral sobre a impressão de boletins de voto a serem usados hoje, que ele disse ser fundamental para um plebiscito livre e justo.

 

O país atingiu um nível eleitoral febril, com a oposição em pé de guerra com o órgão eleitoral sobre a utilização dos cadernos eleitorais baseados nas assembleias de voto e a impressão dos boletins de voto. A ZEC esteve envolvida em controvérsias na preparação para as eleições deste ano, encontrando-se em batalhas com a oposição.

 

O jovem líder acusou a ZEC de trabalhar em conluio com a Zanu-PF, criando condições desiguais. Observadores encaram este cenário como uma indicação para outra eleição disputada após a de 2018, que chegou ao tribunal constitucional.

 

Chamisa, que anunciou estar já a formar o seu governo, disse também que não vai desvalorizar a dignidade do actual presidente Emmerson Mnangagwa caso ele ganhe a eleição desta quarta-feira.

 

“Um dos gestos que vou estender ao Presidente cessante, Mnangagwa, é reconhecer a sua dignidade.  Não vou despojá-lo das suas regalias de ex-chefe de Estado.  Vamos construir o país juntos e aconselhar onde puder”, disse Chamisa.

 

Entretanto, o secretário nacional de segurança da Zanu-PF, Lovemore Matuke, disse que o partido no poder não permitirá que a Coligação Cidadãos para a Mudança governe o Zimbabwe.

 

″Não permitiremos que a Coligação governe este país. O mínimo que vamos permitir é que possam abusar de fundos dos municípios, mas não de todo o dinheiro deste país. Isso nunca vai acontecer″, disse Matuke.

 

Nas eleições presidenciais de 30 de Julho de 2018, a Comissão Eleitoral do Zimbabwe anunciou Mnangagwa como vencedor com 50,8% dos votos, contra 44,3% de Nelson Chamisa. Os resultados foram contestados pela aliança MDC e criticados internacionalmente.

 

Zanu-PF desafia a lei e realiza campanha eleitoral

 

Desafiando a directiva da Comissão Eleitoral do Zimbabwe que estabelece que todas as actividades da campanha não se deveriam prolongar além da meia-noite de segunda-feira, a Zanu-PF saiu à rua esta terça-feira para pedir o voto dos eleitores.

 

Num comunicado, a comissão eleitoral determinou que o último dia de campanha é 21 de Agosto de 2023 às 23h59min, mas esta terça-feira, o partido no poder convocou uma reunião na aldeia de Gungauta, no oeste de Chimanimani, presidida pelo presidente da juventude do partido Tinashe Nyabanga. Quando solicitado para comentar, Nyabanga confirmou a reunião e disse que foi indicado pelos seus superiores. ″É verdade que a reunião em questão aconteceu, mas fui enviado pelo presidente″, disse ele.

 

ZEC nega credenciamento a observadores dos Estados Unidos da América

 

A poucas horas para o país votar nas eleições gerais desta quarta-feira, uma equipa de observadores do Centro Carter, uma organização não governamental sediada nos Estados Unidos acusou a comissão eleitoral do Zimbabwe de negar a acreditação da maioria dos seus membros.

 

Num comunicado, o Centro Carter disse que a maior parte dos seus observadores não recebeu permissão para observar o pleito de hoje, apesar do convite inicial do governo.

 

″Apesar do convite do governo do Zimbabwe para enviar uma missão de observação eleitoral para as eleições de hoje, 30 dos 48 observadores de curta duração do Centro Carter não receberam acreditação das autoridades do Zimbabwe″, disse Maria Cartaya num comunicado.

 

De acordo com a comissão eleitoral do Zimbabwe, a observação eleitoral implica um processo de recolha de informação ou de factos que visa a leitura de um julgamento informado de credibilidade, legitimidade e aceitabilidade do processo eleitoral e do seu resultado.

 

Recorde-se que uma equipa da União Europeia que observa as eleições desta quarta-feira desmentiu no sábado uma notícia de um jornal estatal que alegava o seu envolvimento num escândalo de subornos.

 

Citando fontes não identificadas o diário The Herald, noticiou na sexta-feira, que uma equipa de comunicação da união europeia se reuniu com 18 jornalistas e distribuiu whisky e vales para compras para influenciar os jornalistas a produzirem reportagens que procuram manchar todo o processo eleitoral.

 

O Chefe da missão de observadores eleitorais da EU, Fabio Massimo Castaldo, mostrou-se surpreso com as alegações da mídia estatal, segundo as quais, a sua equipa está interessada em interferir no processo eleitoral do Zimbabwe.

 

Serviço de internet regista interrupções no Zimbabwe

 

A Netblocks, um observatório da internet, confirmou que o serviço de internet está a registar oscilações poucas horas antes das eleições gerais. A organização disse ter notado interrupções nos provedores dos serviços de internet, como a Netone, Econet, Telone e Liquid telecom.

 

As restrições afectam plataformas online, incluindo Instagram, Twitter, YouTube, Telegram e Tik Tok. No passado, o órgão de vigilância detectou interrupções no fornecimento de internet durante comícios da oposição e antes das manifestações.

 

Mnangagwa, ″o Crocodilo″

 

Depois de ser considerado um potencial sucessor de Mugabe, Mnangagwa enfrentou um período de exílio quando Mugabe parecia estar preparando a sua esposa para a sua sucessão em 2017.

 

Mnangagwa retornou após um golpe popular no fim daquele ano, prometendo se afastar do governo repressivo e isolacionista de Mugabe. No entanto, analistas políticos notam que ele não é tão diferente de seu antecessor.

 

"Você tem alguém que foi sempre um substituto político de Robert Mugabe, então Mnangagwa cresceu com esse sistema e agora que ele está no poder e tem os militares atrás dele, usa essas tácticas ruins para manter e permanecer no poder", disse Edgar Githua, especialista em Relações Internacionais. "Ele vai armar qualquer coisa para permanecer no poder", acrescentou.

 

Apelidado de "o Crocodilo", Mnangagwa foi anteriormente associado à aplicação das duras acções de Mugabe. Essas acções incluíram o massacre pela brigada militar norte-coreana na década de 1980 de cerca de 20.000 indivíduos de minorias étnicas Ndebele na região de Matabeleland, enquanto Mnangagwa era ministro da Segurança. Também está ligado a uma repressão violenta à oposição após a derrota de Mugabe para o líder da oposição Morgan Tsvangirai em 2008.

 

Apesar dessa história, Mnangagwa iniciou discussões sobre essas atrocidades cometidas depois de se tornar presidente e tinha como objectivo diferenciar a sua administração da de Mugabe. Ele fez promessas de compensar os agricultores brancos, aboliu uma lei que obriga a propriedade de empresas estrangeiras ser cedida aos locais e defendeu a democracia. Procurou ainda restaurar as relações com os países ocidentais, até mesmo solicitando a readmissão do Zimbabwe na Commonwealth e se envolveu com fóruns internacionais, como o Fórum Económico Mundial.

 

Apesar dos apelos de Mnangagwa durante as campanhas, os desafios económicos e uma oposição activa levaram-no a adoptar estratégias antigas para se manter no poder, conforme sugerido por grupos de direitos humanos e analistas.

 

De acordo com Alexander Rusero, analista político, a elite política da Zanu-PF considera o Zimbabwe como sua propriedade privada e recorre à violência sempre que ameaçada.

 

Rusero diz que Mnangagwa não é um novato na política do Zimbabwe, já que está em cena há 55 anos e isso é apenas uma continuação do governo de Mugabe.

 

“A postura de linha dura que existiu durante Mugabe ainda está lá porque é um sistema. Não é uma questão de personalidades, mas é uma cultura. Então, se Mnangagwa estiver sem energia hoje e a Zanu-PF permanecer, esse tipo de sistema provavelmente permanecerá”, disse ele.

 

No meio de crises económicas e alegações de opressão política, como foi apontado em relatórios da Amnistia Internacional e da Human Rights Watch, o relacionamento de Mnangagwa com o Ocidente se deteriorou. Os EUA e a União Europeia mantiveram sanções, afirmando que não havia ocorrido mudanças substanciais para justificar o seu levantamento.

 

Buscando apoio de aliados não ocidentais, Mnangagwa cultivou relacionamentos com líderes como os presidentes da Bielorrússia e do Irão, Xi Jinping da China e Vladimir Putin da Rússia. Essa abordagem espelha o pivot de Mugabe para alianças alternativas após o isolamento ocidental.

 

Apesar dessas dinâmicas, analistas como Rusero reconhecem que houve alguma dica de mudanças que mostram algum contraste com a regra de Mugabe, com excepção de se ter apegado ao poder.

 

“Há também certas coisas que mudaram, especialmente um tom reconciliador e menos conflituoso. Mugabe era conhecido pela sua retórica de confronto 'Mantenha a sua Grã-Bretanha, eu manterei meu Zimbabwe, o Zimbabwe nunca será uma colónia. Então esse tipo de retórica já acabou", disse Rusero.

 

"Mnangagwa está a cuidar do seu próprio negócio de consolidar o poder mais do que lutar no cenário político global, como foi o caso de Mugabe", acrescentou ele. (New Zimbabwe⁄News day Zimbabwe)

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