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segunda-feira, 04 janeiro 2021 06:17

A máfia do Zimpeto

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Jornalistas económicos e desportivos devem conhecer, antes de mais, as regras que regem a modalidade, sob o risco de cairem no ridículo nas suas abordagens. Devem saber, por exemplo, como é que, em 20 anos, 90 por cento do mercado nacional de cigarros passou para as mãos de uma empresa anglo-americana, para entender como os cigarros de marca circulam por aqui. Devem saber como a Cervejas de Moçambique passou à subsidiária da Anheuser-Busch InBev - maior produtora mundial de cervejas -, para entender como as bebidas internacionais entram em Moçambique. Saber como funciona o mercado do gás e petróleo, para entender como a Total passou a controlar os activos da Anadarko. É preciso conhecer as regras do jogo para evitar promover notícias supérfluas e levianas como as que têm publicado todos os Janeiros sobre prejuízos de vegetais e legumes do Mercado Grossista do Zimpeto.
 
Aqueles gajos fazem muito lucro naquela semana de 25 a 31 de Dezembro. Lucros injustos, diga-se! Trazem 10 camiões de batata, vendem 8 camiões a preços super-especulativos e os 2 camiões que sobram são simples 'bacela' para aparecerem na tê-vê a chorar lágrimas de crocodilo. Por acaso, vocês conhecem algum ex-vendedor do Zimpeto que ficou falido e sentou em casa por ter comprado camiões de batata, tomate ou cebola e apodrecido logo em seguida? Podem-nos mostrar um só que pode servir de exemplo?!
 
Vamos ser um pouquinho inteligentes! Não é verdade que aqueles senhores somam prejuízos a cada início do ano. Não é verdade! Aquilo é banditismo. É o que acontece quando não há Estado. Aqueles vendedores fazem as suas próprias regras. Aqueles controlam o mercado. Fazem e desfazem. Essa batata que estão a vender agora a 100 meticais eles já não precisam. É só para entreter o povo e a imprensa. 
 
O filme é o seguinte: vender pouca batata a preços especulativos durante a quadra festiva é mais lucrativo do que vender toda a batata ao preço normal. Isto é: vender 8 camiões a 500 paus é melhor do que vender 10 camiões a 100. O mais importante, para eles, é controlarem o preço do produto. Só isso! Há vezes que sobem o preço no Zimpeto e baixam na Malanga ou no Xipamanine ou vice e versa. Os maiores vendedores do Zimpeto são os mesmos que estacionam camiões em outros mercados satélites como forma de controlarem o mercado. 
 
Aqueles agem como traficantes de droga. Controlam as redes de fornecimento e venda por forma a controlarem o mercado. Às vezes praticam o 'dumping' (crime comercial): é comum encontrar o tomate caro em Chokwe e barato no Mercado Grossista do Zimpeto. Ou seja, vendem o produto a baixo do custo de produção e do fornecedor. Na verdade, o Mercado Grossista do Zimpeto é um faroeste. É o melhor campo de ensaio de crimes comerciais e financeiros. Infelizmente o governo sabe e não faz nada.
 
Eu desafio os jornalistas a investigarem esse fenômeno. Como é que um comerciante vende um produto a 500 meticais hoje sabendo que amanhã vai baixar para 100 meticais? O que o impede de baixar o preço para vender tudo em pouco tempo? Vocês não acham que este círculo vicioso é uma máfia? Parem com isso!
 
Todos os anos, na primeira semana de Janeiro, o mesmo vendedor aparece na tê-vê a dizer que está a somar prejuízo por conta do apodrecimento da batata ou tomate. E o cameraman 'haya' mostrar camiões de batata ou tomate pobre. Palhaçada! Não conheço um comerciante que soma prejuízo todos os anos, na mesma época, da mesma maneira e não aprende. Ou é comerciante ou é burro! Aquilo é uma máfia da pesada que, infelizmente, o Estado não quer pôr cobro. Parece que o Mercado Grossista do Zimpeto é uma república autónoma. É 'tutu mafia'!
 
- Co'licença!
 
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