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segunda-feira, 25 maio 2020 09:04

Um dedo de conversa com o tio Gustavo

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- Como é que o seu nome foi parar na lista do partido FRELIMO para membro da Comissão Central de Ética Pública?

 

- Bom, primeiro, devo dizer que alguém propôs o meu nome em sede do partido. Fui consultado e eu aceitei. Então, o meu nome foi aprovado pelos membros do partido e levado à bancada do partido FRELIMO na Assembleia da República.

 

- Mas porquê?

 

- Porque para o partido FRELIMO, eu sou um cidadão exageradamente ético. O presidente do partido até nem acreditava que eu existia de verdade em carne e osso. No dia que ele me conheceu assim ao vivo, chorou de emoção. Olha, a Comissão Política do partido nem acredita que eu sou membro. Eles rendem comigo! A sociedade, o povo, a opinião pública não vêem isso, mas o partido FRELIMO vê muita ética em mim. Para o partido, eu sou o guardião da ética e da moral do partido.

 

- Não é verdade!

 

- Então não! Não viste na televisão quando o chefe da bancada do partido FRELIMO estava a defender a minha nomeação? 

 

- Então, o Sérgio defendeu?

 

- Defendeu, sobrinho! Defendeu e muito bem! Disse, na primeira pessoa, que o partido FRELIMO propõe o nome do cidadão Gustavo porque “é uma pessoa culta e com conhecimento profundo da realidade moçambicana e que sempre denunciou os horrores da guerra civil dos 16 anos, ele tem todas qualidades para fazer parte da Comissão Central da Ética Pública”. Ao vivo, sobrinho.

 

- Xeee, tio! Mas ele não sabe das m*rdas que fizeste na AIM?

 

- Que m*rdas, sobrinho? Se eu tivesse roubado, estaria aqui hoje? Ladrão vai a televisão, a rádio, etecetera? Quando me tiraram da AIM não me deram outro emprego? Melhor ainda! Sobrinho, aquilo foi roubo para vocês. Lá no partido aquilo chama-se deslize. Deslizei um pouco. Só não desliza quem não trabalha! E aquele deslize melhorou muito a minha posição no ranking da moral e da ética dentro do partido. Aquilo contou muito na proposta. Há uma ética dentro da FRELIMO que é muito diferente dessa ética daqui fora. A nossa ética lá dentro não é como esta vossa cheia de mimimis. E a nossa ideia é impormos a nossa ética à sociedade.

 

- E, agora, assim, como é que fica?

 

- Com esse barulho que esses surumáticos levantaram, já não vão me colocar ali. Vão me dar um lugar melhor. Sobrinho, não te lembras que foi assim com aquele puto Filimão em Agosto do ano passado? Foi abandonado na Assembleia da República quando era para ser ouvido para o cargo de juíz Conselheiro do Conselho Constitucional. E hoje onde está? Tás a ver! O partido é assim mesmo, não gosta de poeira. Depois disso, vão me esconder num lugar qualquer... mas bom! 

 

- Mas então como classificas esses gajos da sociedade civil que estão a escrever cobras e lagartos a teu respeito?

 

- Apóstolos da desgraça!

 

Bati o último gole e fui-me embora antes que o Mahindra chegasse. Era dentro da boutique da Dalila, no mercado de Janet. Parece que só vende roupa e cabelos da Índia... também vende whisky e gin.

 

- Dona Dalila, vou te transferir Eme-Pesa. Peço mais um duplo para o tio Gugu. 

 

É sempre bom conversar com os mais velhos. Aprende-se muito!

 

- Co'licença!

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