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quarta-feira, 30 outubro 2019 06:09

A patética falta de tomates do sheik Abdul Carimo

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Quando o Presidente da Cê-Ene-É, sheik Abdul Carimo, diz que não pode dizer que as eleições foram livres, justas e transparentes porque reconhece que houve irregularidades, o que quer dizer exactamente? Juro que não entendi. Quando ele diz que vai deixar esse refrão para o Cê-Cê, é para a opinião pública pensar o quê? Por que é que não faz isso por escrito e declara nulos os resultados de uma vez por todas, então? O que o impede? Qual é o medo? 

 

É que quem organiza e zela pela qualidade de todo o processo eleitoral é a Cê-Ene-É. Quem deve evitar e mitigar as irregularidades é a Cê-Ene-É. Ou seja, é a Cê-Ene-É quem fiscaliza as eleições. É a Cê-Ene-É quem deve fazer cumprir a ética. Aliás, é por causa disso que assumiu como sua meta e missão a liberdade, a justiça e a transparência. Quer dizer, se as eleições não forem livres, justas e transparentes, o trabalho da Cê-Ene-É foi um fiasco. O discurso de ontem foi um atestado de incompetência limpinho limpinho. Merece uma demissão colegial massiva. 

 

"Por eleições livres, justas e transparentes" não é um simples slogan como "vodacom, vamos?" ou "eu sou daki" ou "frango nacional é melhor". Não! Mais do que um slogan é uma meta institucional. É missão. É visão. É valor. É compromisso. É filosofia. É tudo o que a Cê-Ene-É tem para vender. Se não existir isso, então, a Cê-Ene-É pode (o termo é "deve") fechar as portas. Já não tem produto para vender. Não tem mais nada para oferecer. Acabou. Faliu. 

 

"Por eleições livres, justas e transparentes" não é marca do Cê-Cê. Não é o Cê-Cê que carrega, em primeira instância, esta responsabilidade. Esta é responsabilidade primária e primordial do organizador das eleições. Se fizermos um exercício básico de subtração como: 

 

Resultado eleitoral - Livres - Justas - Transparentes = Zero eleição. 

 

Isto é, do "resultado eleitoral" , se se subtrair "a liberdade", "a justiça" e "a transparência", não vai sobrar nada de eleição. É como se não tivesse ocorrido eleição nenhuma. É igual a "zero eleição". É matemática básica elementar. 

 

Eleições livres, justas e transparentes é o produto final que se espera que o órgão de gestão eleitoral entregue ao povo. Não são os votos válidos, não são os votos nulos, nem as abstenções que contam. Não! O que, de facto, conta é o "livres, justas e trasparentes". Sem isso a Cê-Ene-É é um elefante branco. É uma associação criminosa para delinquir de forma continuada. Uma quadrilha. Uma gangue. Neste caso, o sheik Abdul Carimo estaria a declarar nulas as eleições, mas já com as malas feitas. Ele e a sua equipa. Não pode dizer que as eleições não foram livres, justas e transparentes enquanto entrega o dossier ao Cê-Cê, com aquele sorriso oco de ladrão do bairro quando entra na igreja. É burla por defraudação. Também abuso de confiança. 

 

É um autêntico contrassenso dizer que o escrutínio que a Cê-Ene-É organizou foi repleto de irregularidades e, por isso, não pode ser considerado nem livre, nem justo e nem transparente, mas o Cê-Cê pode validar e proclamar os resultados. Não soa bem. É cobardia. É muita pornografia. Se o próprio "dono" do processo reconhece que o seu trabalho não atingiu as metas planificadas, é para o "outro" fazer o quê? É o mesmo que comprar peixe podre e entregar o cozinheiro e ainda ficar a espera que o cozinheiro faça milagres e o peixe não provoque diarreia. 

 

"Conditio sine qua non" para a legitimação de eleições é o reconhecimento da existência de liberdade, de justiça e de transparência por parte dos principais actores, particularmente do  órgão gestor. Em situações normais de temperatura e pressão, o Cê-Cê devia mandar aquele molho de papel para a sanita. O que o sheik disse foi: "eis aqui um monte de lixo, vocês que digam ao povo que é adubo". 

 

Mas será fome?! Conheci o sheik Abdul Carimo por aí malta 2004 quando eu era estudante-bolseiro da Ú-É-Eme. Eu gostava de ouvir as suas palestras (bayan) das sextas-feiras na mesquita Muhamad (S.A.W.), em Maputo. Sempre o achei um homem inteligente e com tomates gigantescos e múltiplos debaixo daquela sotaina árabe. Calmo e sereno. Nunca me pareceu um "maulana" esfomeado como aquele jovem que não sabe fazer subtração básica de "17 - 8 = ?". Que decepção!

 

Agora só resta saber o que é que o sheik Abdul Carimo está a espera para se demitir, já que ele próprio reconhece publicamente não tem competência para organizar eleições livres, justas e transparentes, que é tudo o que se espera dele. A um homem não se lhe devia permitir escassear tomates daquela maneira. O sheik está a exagerar. Assim também não dá. Vamos brincar - sim, mas com limites. Tá bom!? 

 

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