O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) apreendeu, na semana passada, 573 Kg (mais de meia tonelada) de cocaína no Porto de Maputo, avaliada em mais de 850 milhões de Meticais. Segundo o SERNIC, a droga provém da Índia, mas ainda não se sabe qual seria o destino final.
"O SERNIC tomou conhecimento, no dia 3 de Novembro, de que havia atracado no Porto de Maputo um navio proveniente da Índia, que transportava contentores, sendo que um deles continha uma mercadoria com substâncias suspeitas", explicou Hilário Lole, porta-voz do SERNIC na cidade de Maputo.
Com base nessa informação, o SERNIC constituiu uma equipa composta pela Alfândega, Polícia Canina e outras entidades do porto para averiguar o respectivo contentor. No interior, além de material de construção, que provavelmente foi usado para camuflar a droga, foram encontrados 20 recipientes de 25 litros contendo cocaína.
Posteriormente, o SERNIC apreendeu a mercadoria e, neste momento, decorrem investigações para identificar os responsáveis pela importação da droga para Moçambique. Apesar de o navio contendo a droga ter como destino a cidade de Maputo, o SERNIC diz estar a investigar se esse era o destino final da cocaína.
Sem revelar os nomes dos indivíduos que importaram o material de construção que estava no mesmo contentor, Hilário Lole avançou apenas que já foram identificados e que investigações estão em curso para verificar se essas pessoas também eram proprietárias da cocaína. (M.A.)
A população dos arredores da vila de Macomia, em Cabo Delgado, entrou em pânico depois que um incêndio de grandes proporções devorou, na noite do último domingo (10), dezenas de barracas de construção precária.
Inicialmente, os residentes presumiram que se tratava de mais uma invasão terrorista, tendo em conta os relatos que dão conta da circulação de terroristas nas aldeias ao longo do rio Messalo, que limita com o distrito de Muidumbe.
"Foi um incêndio no mercado, todas as bancas foram consumidas. Mas, para quem não estava perto, parecia que estávamos a ser atacados por terroristas, por isso ficamos em alerta", contou um morador.
O episódio teve início por volta das 18h00 e só terminou à meia-noite, situação agravada com a falta de meios para combater as chamas. O distrito de Macomia não dispõe de bombeiros, nem de pessoal preparado para intervir tecnicamente em caso de incêndio.
Comerciantes contactados pela "Carta" dizem estar desesperados, pois boa parte da sua economia foi completamente destruída. As autoridades locais ainda não se pronunciaram sobre a ocorrência. No entanto, sabe-se que o distrito não possui muitos beneficiários do Fundo de Reconstrução Económica de Cabo Delgado, apesar de muitos terem submetido propostas de financiamento.
O mercado da vila de Macomia, em Cabo Delgado, já passou pela mesma situação após o incêndio de 2020, quando o primeiro ataque terrorista devastou a região, deixando os estabelecimentos comerciais completamente destruídos pelo fogo.
O incêndio do último domingo também afectou o fornecimento de energia eléctrica na vila, pois, um dos postes de electricidade foi danificado. No entanto, os residentes informaram que uma equipa da Electricidade de Moçambique está no local para fazer a reposição. Além disso, não há sinal de uma das operadoras de telefonia móvel. (Carta)
As manifestações populares contra a fraude eleitoral, sequestros, raptos e violência policial já ultrapassaram as fronteiras moçambicanas, estando também a decorrer em alguns países europeus, para além de serem manchetes das principais publicações do velho continente.
Para além de Lisboa, capital portuguesa, onde dezenas de moçambicanos já realizaram duas marchas de protesto contra a fraude eleitoral e violência que se vive em Moçambique, os protestos chegaram também a Bruxelas, na Bélgica, sede da União Europeia; Londres, capital inglesa; Paris, a capital francesa; e a cidade universitária de Coimbra, em Portugal.
Em todas estas cidades, dezenas de moçambicanos clamam pelo fim da violência policial, pelo respeito às liberdades individuais e pela reposição da verdade eleitoral. Empunhando dísticos com diversas mensagens, bandeiras e cascóis de Moçambique, os manifestantes vão gritando, em algumas ocasiões, “não ao assassinato do povo moçambicano”, em clara referência à brutalidade da Polícia nas manifestações, que já causaram mais de vinte mortos com balas da Polícia.
As manifestações que se verificam no estrangeiro contam também com apoio de cidadãos de outras nacionalidades, com destaque para angolanos que, nas suas palavras, Angola vive situações idênticas ao que se testemunha em Moçambique. Aliás, quatro activistas daquele país lusófono foram detidos pela Polícia, quando tentavam protestar em frente à embaixada moçambicana, em Luanda.
No entanto, enquanto em Moçambique e Angola, os protestos são rechaçados pela Polícia, em Portugal, Bélgica, França e Inglaterra, os manifestantes exteriorizam as suas opiniões sem ter de inalar o gás lacrimogéneo e muito menos ter medo de balas. A Polícia desses países se tem limitado apenas à protecção dos manifestantes.
Enquanto isso, os jornais estrangeiros não param de destacar Moçambique, pela negativa. O observador, editado em Portugal, fala, por exemplo, de um domingo de “caça às bruxas”, antevendo “mais violência”, em Moçambique.
Já a SIC Notícias criou uma categoria dedicada à violência em Moçambique, contendo mais de duas dezenas de textos retratando a situação que se vive, neste momento, no país. O jornal Expresso, também de Portugal, fala de “eleições contestadas, assassinatos e de pelo menos 30 mortos nas ruas” em Moçambique.
Refira-se que ontem o candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane anunciou as medidas a serem implementadas na quarta e última fase das manifestações, que deverão durar perto de duas semanas. (Carta)
Está restabelecido o acesso “interrupto” à internet móvel em todo o país, depois de 14 dias de restrições e bloqueio total das redes sociais, incluindo um “recolher obrigatório virtual” diário que iniciava às 19h00 e terminava depois das 08h00 do dia seguinte.
Desde sexta-feira que os moçambicanos têm tido acesso à internet móvel sem restrições, porém, com o acesso às redes sociais ainda restrito, havendo ainda necessidade de recorrer à rede virtual privada, o principal recurso de acesso às mídias digitais nas últimas duas semanas, por parte das famílias mais pobres.
Lembre-se que a internet móvel foi desligada pelo Governo, pela primeira vez, no dia 25 de Outubro (no terceiro dia das manifestações populares), sendo que no dia 31 de Outubro começou a ser fornecida com algumas restrições, que incluíam o bloqueio das redes sociais, sobretudo o WhatsApp, Facebook e Instagram, principais veículos usados pelos cidadãos para partilha de informações relevantes em torno das manifestações.
Até ao fecho da reportagem, na manhã desta segunda-feira, era possível usar o WhatsApp sem quaisquer restrições, porém, as restrições continuavam no Facebook, Instragram e Tik Tok.
As restrições no acesso à internet e o bloqueio das redes sociais foram condenados por diversas organizações da sociedade civil, com destaque para o MISA-Moçambique que emitiu um comunicado de imprensa a considerar o acto “como uma clara violação contra as Liberdades de Imprensa e de Expressão e o Direito à Informação, que são direitos fundamentais na República de Moçambique”.
Por sua vez, três organizações da sociedade civil (CIP, CDD e CESC) submeteram, na semana finda, uma providência cautelar contra as três operadoras de telecomunicações (Movitel, Tmcel e Vodacom) para o restabelecimento imediato do acesso à internet móvel em todo o território nacional, alegando que as restrições no acesso à internet têm tido um impacto directo e significativo na vida dos moçambicanos, “prejudicando o direito ao trabalho, à comunicação e à livre expressão”.
Em declarações feitas neste fim-de-semana, a partir da fronteira de Ressano Garcia, no distrito da Moamba, província de Maputo, o Ministro dos Transportes e Comunicações disse que as restrições no acesso à internet móvel visavam impedir a destruição do país. “Quando vemos violações que põem em perigo a integridade de todos os moçambicanos, temos que agir como tal para que os nossos meios de comunicação não sejam usados para destruição do país”, afirmou Mateus Magala.
Magala disse ainda que as operadoras desligaram a internet devido a sua responsabilidade civil. “É uma combinação de muitos factores, destruição de infra-estruturas, mas também a segurança dos próprios operadores, pois, têm que operar num ambiente de segurança. Mas também há responsabilidade civil dos operadores, quando vêem que a internet está a ser usada para destruir o país”, defendeu o governante.
Refira-se que o país viveu, nas últimas três semanas, manifestações populares, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane, em protesto contra os resultados eleitorais. Em algumas situações, as manifestações tornaram-se violentas, com a Polícia a ser, em grande parte, a protagonista das cenas de guerra, recorrendo às armas de fogo para impedir marchas pacíficas.
Hoje, serão anunciadas as medidas da quarta e última fase das manifestações populares, que já registaram o assassínio de mais de duas dezenas de civis pela Polícia e perto de uma dezena de agentes da Polícia pelos manifestantes. (Carta)
A Força Aérea de Moçambique recebeu recentemente uma aeronave de transporte CASA C295 da Airbus, que ajudará a fortalecer as capacidades de transporte aéreo do país. A nova aeronave tem como objectivo apoiar os esforços do exército moçambicano na província de Cabo Delgado, onde desde 2017 combate contra grupos islâmicos armados.
O avião bimotor turbo-hélice, avaliado em cerca de € 50 milhões, foi montado na fábrica em Sevilha, na Espanha, e pode transportar até 70 passageiros. A CASA C-295 é versátil e pode ser usada para uma variedade de missões, incluindo: transporte aéreo de tropas, equipamentos e suprimentos para áreas remotas ou hostis, transporte de cargas pesadas, incluindo veículos, helicópteros e outras cargas de grandes dimensões, e fornece cuidados intensivos e transporte para feridos.
O C-295, quando comparado ao seu antecessor, destaca-se com o seu motor Pratt & Whitney Canada PW100 mais potente, entregando 2.645 cv, uma nova hélice e uma asa redesenhada. Apesar dessas melhorias significativas, os esforços foram feitos para manter o máximo de semelhança possível entre as duas plataformas.
Enquanto isso, a Força Aérea de Moçambique está aumentando lenta, mas firmemente as suas capacidades aéreas na medida em que se envolve em combates contra insurgentes em Cabo Delgado. Em 2022, As Forças Armadas de Moçambique receberam duas aeronaves de transporte adquiridas do Grupo Paramount da África do Sul. A Paramount entregou um Let-410 Turbolet e um avião de transporte CN-235M para os militares moçambicanos. Oficiais da Força Aérea afirmaram que os aviões serão usados para transporte de carga e tropas e implantação de forças especiais e paraquedistas.
Um ano depois, Moçambique adquiriu uma aeronave Mwari desenhada pela Paramount. A Mwari é uma aeronave bimotor turbo-hélice usada para uma variedade de missões, incluindo vigilância, reconhecimento e ataque leve. (África Militar)
Várias dezenas de pessoas manifestaram-se ontem em Lisboa em defesa de justiça para Moçambique, face à instabilidade que se vive desde as eleições de outubro, com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana a anunciar a vitória da Frelimo.
Perto do centro do Terreiro do Paço, mais de meia centena de manifestantes entoaram cânticos e gritaram “liberdade ou morte”, enquanto se agitavam cartazes de protestos e bandeiras moçambicanas. “Não queremos um governo mentiroso”, “Chega de mortes”, “Fim da ditadura” ou “Queremos Frelimo fora do poder” eram algumas das mensagens que se liam nos cartazes, entre a curiosidade de alguns turistas que passavam à volta do protesto e tiravam fotografias.
Um dos manifestantes tomou o megafone em punho e anunciou que o protesto não era em nome do candidato presidencial Venâncio Mondlane ou do partido PODEMOS (Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique), que apoiou a sua candidatura, mas, sim, pelo povo.
Contudo, Hércio Chiziane contou à Lusa que os moçambicanos estão com o candidato e rejeitou que Venâncio Mondlane esteja a causar os tumultos no país. “O povo moçambicano já estava ansioso por um líder, nós só precisávamos que alguém nos desse um impulso. Este Governo, que governa há mais de 49 anos, oprimiu o povo durante todo esse tempo… o povo já estava cansado e está farto. Só foi preciso alguém com mais coragem aparecer para o povo despertar. O Venâncio [Mondlane] é o impulso que nos faltava”, afirmou, acusando de seguida a Frelimo de estar por detrás do atual clima de tensão.
A viver em Portugal há oito anos, Hércio Chiziane, de 33 anos, considerou que os resultados anunciados pela CNE moçambicana “são falsos”, contestando a vitória do candidato Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975), na eleição para Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos, enquanto Venâncio Mondlane ficou em segundo, com 20,32%.
“A Frelimo não perdeu as eleições de hoje, já tem perdido há mais de 30 anos”, atirou o manifestante, lembrando que os jovens representam 66% da população e que “nenhum jovem hoje em dia iria votar na Frelimo”, face ao que disse ser o sentimento de insatisfação generalizado com as políticas do Governo moçambicano.
Entre os jovens estava Sílvia Henriques, de 26 anos, que trocou Moçambique por Portugal há cerca de dois anos. Antes de começar a falar, secou as lágrimas pela situação no país, confortada com o abraço de outro dos manifestantes.
“Não são as cores partidárias que fazem um povo. É por isso que estamos aqui, na diáspora e distantes do nosso país, a fazer a nossa luta, a contribuir de forma positiva para que a nossa nação seja de paz e não de guerra ou corrupção, que é o que está a acontecer. O nosso Governo está à frente de todas estas mortes”, denunciou.
As mortes já registadas, os tumultos e a repressão policial de manifestantes representam, para Sílvia Henriques, que Moçambique já está “numa guerra civil” por causa do que considera ser uma “fraude eleitoral” nestas eleições, cujos resultados ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
“O povo está a clamar por justiça… Não é só em Maputo, é todo o país, são todas as províncias que clamam. Conseguimos ver as ruas de todas as cidades lotadas, as pessoas querendo que a justiça eleitoral seja reposta”, sustentou, continuando: “Estamos aqui na Praça do Comércio para dizer chega e que não queremos mais que o povo moçambicano esteja em apuros”.
Com uma bandeira moçambicana nas mãos, Smart Mucache, de 46 anos, revelou à Lusa que deixou Moçambique há apenas um ano por razões económicas e sociais decorrentes das decisões políticas, sublinhando que isso “vai acontecer com muito mais gente”, se a situação do país não se alterar entretanto. Ao contrário de Sílvia Henriques, não vê o país num clima de pré-guerra civil, mas apenas por uma razão: a falta de armas.
“Se tivesse armas, já estaríamos numa guerra civil. O que o povo tem é sede de justiça social. Fomos a eleições, as pessoas votaram no candidato que acharam que tem a capacidade e o interesse de governar o país com justiça e essa vontade do povo não foi respeitada. E eles querem simplesmente usurpar o poder, porque têm armas. O povo não tem como lutar contra eles, mas, se fosse possível, o povo iria fazer uma guerra civil”, defendeu.
Considerando que os resultados eleitorais anunciados “vão muito além de uma fraude” e que constituem “um insulto ao direito de escolha de um povo”, este manifestante referiu que Venâncio Mondlane corre risco de vida. “A Frelimo é um partido sanguinário, está habituado a matar. Não teria vergonha nenhuma em tirar-lhe a vida”, resumiu.
Em comum, os três manifestantes expressaram à Lusa o desejo de ver Portugal adotar uma posição diferente e mais assertiva sobre a tensão e os resultados das eleições no país. “É uma vergonha o Governo português não se manifestar e não condenar. Eles têm de entender qual é a vontade do povo”, realçou Hércio Chiziane, secundado por Sílvia Henriques, que manifestou “esperança de que o povo português também zele por Moçambique”, enquanto Smart Mucache duvida que os governantes tomem “a posição correta perante esta situação”, por considerar que “estão mais preocupados com os seus interesses económicos”.
Hoje cumpre-se o oitavo dia de paralisação e manifestações em Moçambique, com a generalidade dos protestos a levar à intervenção da polícia, que dispersa com tiros e gás lacrimogéneo, enquanto os manifestantes cortam avenidas, atiram pedras e incendeiam equipamentos públicos e privados. Refira-se que esta foi a segunda marcha de protesto a ter lugar em Lisboa em menos de uma semana. A primeira aconteceu no último sábado. (Lusa)