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Redacção

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Estava emocionado Maulana Nazir, quando defendeu haver elementos do Governo envolvidos na milionária indústria dos raptos, que flagela o tecido social e empresarial nacional desde 2011. Este é o entendimento que o Ministro do Interior tem, quando interpreta as palavras proferidas, sexta-feira, por Maulana Nazir, numa reunião, em Maputo, entre a Comunidade Islâmica e as autoridades, no âmbito de um movimento para travar os raptos.

 

No referido encontro, em que esteve presente o Comandante da PRM (Polícia da República de Moçambique), a nível da Cidade de Maputo, Maulana Nazir, que teve um familiar nas mãos dos raptores, defendeu haver “elementos do Governo envolvidos com o sindicato de raptos”, sendo que alguns são de “alta patente”. No entanto, sem avançar nomes.

 

Para o Ministro do Interior, Pascoal Ronda, as palavras de Maulana Nazir derivam de emoção. “Toda a nossa reacção, todo o nosso pronunciamento, é bom que seja carregado de elementos que sustentam a reacção. Há momentos em que as pessoas falam carregadas de emoção porque querem uma resposta rápida e não olham para os factores à volta”, defende.

 

Um dos elementos que leva Pascoal Ronda a concluir que Maulana Nazir estava emocionado é o facto de este concluir que as armas AK-47 (de origem soviética), usadas pelos raptores nas suas incursões, são da Polícia, em referência ao facto de o Estado ser o detentor exclusivo (legalmente) deste tipo de arma de fogo, em Moçambique.

 

“Quando ele diz que a AKM, usada pelos raptores, é da Polícia, a pergunta que se faz é: quantos países fabricam a AK-47, que é uma arma de assalto? E, em quantos países se vende esta arma? Na África do Sul se vende, então, essa é uma falácia. Primeiro, não se fez um trabalho de perícia para confirmar que esta arma pertence ao registo da Polícia”, afirmou o Governante, em entrevista a jornalistas.

 

Por isso, Ronda conclui que “ele falou porque estava emocionado, porque está preocupado e quando as pessoas estão preocupadas, por vezes falam um pouco mais alto, por vezes falam um pouco menos”. Defende que “é preciso elementos para sustentar a nossa argumentação”.

 

“Quem é o envolvido? É fulano, então, vamos ao Tribunal. Havendo, não perdoamos. Somos implacáveis contra isso. Se existir alguém envolvido, vai responder porque esta é a única pátria que temos. Não vale a pena usarmos a farda que temos e a arma que temos para prejudicarmos este país. Não ganhamos nada com isso”, acrescenta a fonte, sublinhando haver pessoas que não dormem atrás dos raptores.

 

“Nós não dormimos dia e noite atrás do combate aos raptos e há alguém que brinque com coisas sérias. Isso não”, atirou o General da Polícia na Reserva e terceiro Ministro do Interior no segundo e último Governo de Filipe Nyusi, depois de Amade Miquidade (2020-2021) e Arsénia Massingue (2021-2023).

 

Refira-se que, no mesmo encontro, Maulana Nazir, que diz ter mantido contactos com agentes do FBI (serviço de inteligência e segurança dos Estados Unidos da América), acusou o Serviço de Informação e Segurança de Estado (SISE) de dar primazia a agendas políticas, ignorando a segurança das pessoas e do Estado. (A. Maolela)

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Um navio hospitalar da Marinha Chinesa, com cerca de 300 pessoas a bordo, entre tripulação e médicos de diversas especialidades, poderá atender cerca de 700 pessoas por dia. A embarcação chegou ao país no passado dia 08 de Agosto.

 

O navio hospitalar tem como principal objectivo oferecer assistência médica e medicamentosa aos militares e à população em geral. Para a consulta, as pessoas devem portar o Bilhete de Identidade. Designada “Arca da paz”, a embarcação está equipada com salas de operação, gabinetes médicos, enfermarias, incluindo um helicóptero-ambulância.

 

A marinha chinesa encontra-se em rota na sua "Missão Harmonia 2024", com visita marcada a 12 países africanos, entre os quais, Moçambique. Esta será a 10ª Missão Harmonia da Arca da Paz, desde a sua entrada em serviço em 2008. À semelhança de outros anos, irá, durante a sua estadia, oferecer atendimento médico e diagnóstico a militares e à população local.

 

Informações partilhadas pelo departamento de saúde das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) indicam que os interessados devem fazer a marcação e ter acesso a uma ficha de inscrição que deverá ser apresentada à entrada no Porto.

 

Após formalizar a sua inscrição, será indicada a data da consulta e mais informações sobre como aceder ao navio hospitalar. Refira-se que o Navio hospitalar presta serviços de triagem em saúde desde o dia 09 de Agosto, devendo prolongar-se até ao dia 16 de agosto. (M.A.)

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Um relatório produzido pelo Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) revela a ocorrência, no ano passado, de 24 mortes resultantes da violação dos Direitos Humanos (DHs). Na sua maioria, as mortes foram perpetradas pelo Estado através da Polícia da República de Moçambique (PRM). Para o CDD, o ano de 2023 caracterizou-se pela agudização da deterioração dos DHs em Moçambique

 

Entre as violações mais frequentes destaca-se ainda o registo de 37 feridos e de cerca de 170 detidos de forma arbitrária. Estas violações ocorreram aquando da realização das VI Eleições Autárquicas, o que tornou mais evidente o nível caótico do país no que concerne à observação dos Direitos Humanos (DHs).

 

O documento publicado na semana finda destaca que tem estado a prosperar o abuso de autoridade, resultando em mortes ou, na melhor das hipóteses, em ofensa grave contra a integridade física das vítimas. Apesar disso, o Estado moçambicano não garantiu um efectivo acesso à justiça, às vítimas de violações e abusos de DHs.

 

No que concerne aos crimes contra a vida, o documento destaca os casos de assassinato do jornalista João Chamusse, ocorrido na madrugada do dia 14 de Dezembro, na sua residência, no distrito da KaTembe, no município de Maputo, e que até hoje não teve qualquer esclarecimento.

 

A organização cita ainda o caso do assassinato do professor Tevino Benedito, que teve lugar na madrugada do dia 02 de Dezembro, no distrito de Mocuba, na província da Zambézia. Este crime ocorreu depois do professor ter denunciado através das redes sociais um esquema de extorsão dos professores daquele distrito.

 

O relatório diz também que as instituições de Administração da Justiça demonstraram-se incapazes de proceder a investigações de actos que consubstanciam violações dos DHs, sendo que os processos para esclarecimento destes factos são intermináveis e morosos e os tribunais não respondem às solicitações de forma pronta, adequada e efectiva.

 

Refira-se ainda que o ano de 2023 foi também marcado pela realização do recenseamento eleitoral para as VI Eleições Autárquicas. Nesse período, verificou-se que várias pessoas foram excluídas do recenseamento e, consequentemente, o seu direito de eleger e de ser eleito foi irreparavelmente violado.

 

No geral, verificou-se que a Polícia tem sido um dos principais actores no que respeita à violação dos DHs, destacando-se na sua prática o uso excessivo da força, a desproporcionalidade durante as suas intervenções, detenções arbitrárias e torturas de cidadãos.

 

Tendencialmente, cresceu também a denegação do direito à liberdade de imprensa e informação por parte das instituições, com enfoque para as Forças de Defesa e Segurança que, em episódio específico, agrediram jornalistas, impedindo-os de exercer a sua profissão. (M.A.)

 

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O açúcar exportado por Moçambique no primeiro trimestre rendeu apenas três milhões de dólares (2,7 milhões de euros), uma queda de 70,7% face ao mesmo período de 2023, indicam dados do banco central compilados pela Lusa.

 

De acordo com um relatório do Banco de Moçambique sobre a balança de pagamentos nos primeiros três meses do ano, a queda registada nas receitas com a exportação de açúcar moçambicano “deveu-se a redução no volume exportado, associada a fraca disponibilidade da cana-de-açúcar”. “Devido às cheias e inundações registadas no início do ano”, lê-se no documento.

 

No primeiro trimestre de 2023 as exportações de açúcar renderam 10,3 milhões de dólares (9,4 milhões de euros) a Moçambique. A Lusa noticiou esta semana que a produção de açúcar na Açucareira de Mafambisse, na província de Sofala e uma das principais de Moçambique, está em queda, devido aos efeitos combinados das intempéries e das alterações climáticas, segundo a administração.

 

“Estamos a registar baixas na nossa produção de açúcar devido a algumas dificuldades provocadas pelas intempéries registadas nos últimos anos no país”, disse na quinta-feira, aos jornalistas, o diretor da Tongaat Hulett, grupo que detém a Açucareira de Mafambisse, Pascoal Macule.

 

O responsável avançou que, das 75 mil toneladas produzidas anualmente pela firma, esta caiu para 40 mil nos últimos dois anos, criando avultados prejuízos à fábrica. Um outro fator que influenciou na forte quebra de produção foi a perda de cerca de 8.000 hectares de cana sacarina, matéria-prima para a produção de açúcar, devido aos efeitos das alterações climáticas: “Isto em Nhamatanda, devido à seca nos nossos campos e ao fenómeno El Niño.”

 

Localizada no posto administrativo de Mafambisse, no distrito do Dondo, em Sofala, a açucareira tem capacidade instalada para produzir 92 mil toneladas de açúcar por ano. A Tongaat Hulett anunciou recentemente uma injeção de 500 milhões de rands (25 milhões de euros) nas açucareiras Mafambisse e Xinavane, ambas em Moçambique e nas quais o grupo sul-africano é acionista maioritário.

 

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

 

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país. A província de Sofala, no centro do território, tem sido das mais fustigadas pelas tempestades.

 

Já no primeiro trimestre do ano passado, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram no país mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, segundo dados oficiais do Governo. (Lusa)

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A agência de notação financeira Fitch Ratings decidiu sexta-feira manter o 'rating' de Moçambique em CCC+, três níveis acima do Incumprimento, mas ainda abaixo da recomendação de investimento, considerando que permanecem "riscos substanciais", como a elevada dívida pública.

 

O 'rating' de Moçambique volta a manter-se desta forma inalterado, tal como na avaliação de 09 de fevereiro, e "reflete elevados níveis de dívida pública, fraca gestão das finanças públicas, baixo PIB per capita, finanças externas fracas, fracos indicadores de governação e uma situação de segurança desafiadora", escrevem os analistas da Fitch Ratings, na nota consultada pela Lusa.

 

Reconhecem, por outro lado, tal como em avaliações anteriores, “perspetivas robustas de crescimento a médio prazo”, que são “apoiadas pelo desenvolvimento do setor do gás natural liquefeito (GNL), ou pelo acordo de Facilidade de Crédito Alargado de 456 milhões de dólares (417 milhões de euros) com a duração de três anos, assinado com o Fundo Monetário Internacional em 2022 e em vigor.

 

A Fitch não atribui uma perspetiva de evolução da economia, conhecida como 'outlook', a países que têm um rating de CCC', o terceiro acima do Incumprimento Financeiro, ou 'default'. Na análise, a Fitch revê em baixa a previsão do crescimento económico de Moçambique para 4,0% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano (4,5% na avaliação anterior) e 4,2% em 2025 (4,5% anteriormente), que comparam com uma expansão de 5,9% no ano passado.

 

A desaceleração do crescimento face a 2023 reflete “sobretudo uma menor contribuição da plataforma flutuante de GNL da Eni (Coral Sul)”, que já se aproximou no ano passado da capacidade máxima de produção. (Lusa)

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A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) considera o Pacote de Medidas de Aceleração Económica (PAE) como o legado deixado pelo Presidente da República (PR), Filipe Nyusi, durante os 10 anos de governação, para a economia moçambicana. Entretanto, no mesmo sector, a CTA diz que houve pecados que mancharam a governação de Nyusi.

 

“O nosso sector, apesar de afectado, foi felizardo durante os últimos 10 anos. Tivemos a reforma mais profunda que é o PAE. Trata-se de uma reforma que marca todo o período da independência de Moçambique. Bem implementado, tem o potencial de trazer o crescimento económico que almejamos. Como consequência, na última conferência do sector privado, defendemos a necessidade de extensão do PAE para além de dois anos definidos”, afirmou o Presidente da CTA, Agostinho Vuma.

 

O PAE é um conjunto de 20 medidas, aprovadas em Agosto de 2022, pelo Presidente da República para alavancar a economia moçambicana afectada por várias crises internas e externas, nomeadamente a pandemia da Covid-19, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o terrorismo em Cabo Delgado e as calamidades naturais.

 

O destaque das medidas vai para a redução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), de 17% para 16%, visando a redução gradual da carga tributária para dinamizar a economia e melhorar o poder de compra das famílias; a isenção do IVA na importação de factores de produção para a agricultura e a electrificação, com o objectivo de baixar os custos dos insumos agrícolas para aumentar a produção e competitividade da agricultura e promover mais investimento nas energias renováveis para acelerar o seu acesso em particular nas zonas rurais.

 

A quarta medida estabelece incentivos fiscais para novos investimentos em sectores chave realizados para um período de três anos, com a redução da taxa do Imposto de Rendimento sobre Pessoas Colectivas (IRPC) de 32% para 10% na agricultura, na aquacultura e nos transportes urbanos. Ainda no quadro da promoção da competitividade do sector agrícola, o Governo decidiu reduzir a taxa liberatória cobrada a entidades estrangeiras que prestam serviços a empresas agrícolas nacionais passando de 20% para 10% e eliminar a retenção na fonte da taxa de 20% sobre juros de financiamentos externos destinados a projectos agrícolas.

 

Entretanto, para a CTA, houve pecados que mancharam a governação de Nyusi. “O destaque vai para o sistema financeiro, nomeadamente, o endividamento público, através de Bilhetes de Tesouro, mas também o incremento de Reservas Obrigatórias aos bancos comerciais exigidas pelo Banco de Moçambique, alegadamente para que a economia flua com normalidade”, apontou Vuma.

 

Como a CTA tem vindo a queixar-se, os Bilhetes de Tesouro e o incremento de Reservas Obrigatórias são medidas tomadas pelo Banco Central, que apesar de ter as suas vantagens, sugam a liquidez (dinheiro) no sistema que poderia ser canalizado para a actividade económica.

 

“Mas também temos a questão dos raptos e sequestros. Estamos a contar cerca de 150 empresários raptados que, depois de pagar os valores exigidos, decidiram sair do país repatriando capitais imensuráveis, deixando vários moçambicanos desempregados”, acrescentou o Presidente da CTA, à margem do Informe Anual do Estado Geral da Nação apresentado há dias pelo PR Nyusi.

 

Para além de raptos, Vuma apontou o terrorismo como outro factor que manchou os 10 anos de governação de Nyusi. Reconheceu algum esforço levado a cabo pelas Forças Armadas, mas exigiu que os discursos feitos nesse contexto saíssem do papel para o terreno. (Evaristo Chilingue)

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Passa um ano desde que o Governo criou a Comissão de Reflexão sobre o Modelo de Governação Descentralizada (CREMOD), com objectivo de ampliar o debate sobre o tema a todos os sectores da sociedade e encontrar modelos adequados para o país. No entanto, ainda não são conhecidos os resultados do trabalho desenvolvido, quando o país caminha para as IV Eleições Provinciais, de 9 de Outubro.

 

Criada em Julho de 2023, em substituição da CRED (Comissão de Reflexão sobre a Viabilidade das Eleições Distritais), a CREMOD é composta por 23 membros e tem como missão trazer soluções para o actual modelo de governação descentraliza, que coloca o Governador da Província eleito em posição inferior em relação ao Secretário de Estado, que é nomeado pelo Chefe de Estado. A Comissão tem um mandato de 24 meses.

 

Na última quarta-feira, o Presidente da República esteve no Parlamento para apresentar o seu Informe Anual sobre o Estado Geral da Nação, mas não partilhou qualquer dado relevante sobre a CREMOD. Disse apenas que a CREMOD foi criada com a intenção de tornar a reflexão mais abrangente e participativa, na medida em que o novo figurino de governação descentralizada é um processo inacabado, contínuo e possível de se aperfeiçoar.

 

Recorde-se que desde 2020 que as províncias são comandadas por “dois Governos”, o central (representado pelo Secretário do Estado) e o provincial (representado pelo Governador), com competências quase idênticas, o que causou choques políticos entre as duas figuras durante os primeiros anos. Aliás, o Governador da Província, embora eleito, tem o seu poder reduzido em relação ao Secretário de Estado, que é imposto.

 

Para o Centro de Integridade Pública (CIP), era importante que a CREMOD já tivesse publicado um Relatório Preliminar para debate público, tendo em conta que o próximo ciclo de governação inicia já em Janeiro de 2025.

 

“Os resultados da CREMOD evitariam que o próximo Governo cometesse os mesmos ‘pecados’ praticados no primeiro quinquénio de implementação do modelo de descentralização vigente”, defende a organização, para quem o Relatório da CREMOD apresentaria a resolução das questões mais candentes que não podem transitar para o ciclo de governação que inicia já em Janeiro, com destaque para o conflito de competências entre os Órgãos de Governação Descentralizada Provincial e os Órgãos de Representação do Estado na Província.

 

Para além do conflito de competências, o CIP indica também a falta de clareza sobre os critérios de alocação do orçamento para cada província; e a ausência de regulamentação do regime fiscal próprio que se aplique ao novo modelo de governação descentralizada. Até hoje, sublinhe-se, os Governos Provinciais eleitos sobrevivem na base de fundos transferidos pelo Governo central. (Carta)

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Um membro da Comunidade Islâmica em Moçambique que teve o seu pai raptado denunciou sexta-feira alegado desinteresse das autoridades em esclarecer os raptos, acusando a secreta moçambicana de estar a priorizar agendas políticas e não a segurança do Estado.

 

“O SISE, a secreta moçambicana, não trabalha para as pessoas, só trabalha para política e outros assuntos deles”, afirmou Maulana Nazir, durante uma reunião, em Maputo, entre a Comunidade Islâmica em Moçambique e as autoridades moçambicanas no âmbito de um movimento para travar a onda de raptos que assola o país.

 

Maulana Nazir, o primeiro familiar de uma das várias vítimas da onda de raptos em Moçambique a pronunciar-se publicamente sobre o assunto, considera que as autoridades não estão interessadas em resolver o problema, denunciando um alegado envolvimento de “membros do Estado de alta patente” nos crimes que assolam o país há mais de 10 anos.

 

“Elementos do Governo estão envolvidos com o sindicato de raptos. Não estou a dizer que são todos elementos do Estado que estão envolvidos, mas há alguns elementos de alta patente envolvidos”, frisou Maulana Nazir.

 

O membro da Comunidade Islâmica em Moçambique, entre as mais afetadas pelos crimes, admite que recorreu às suas influências políticas, do período em que foi deputado, para pedir apoio face ao rapto do seu pai, mas não houve resultados, tendo chegado a pagar parte dos 10 milhões de meticais (154 mil euros) que lhe eram exigidos pelos raptores.

 

“Tenho relações com altas individualidades do Estado (…) entrei em contacto com o primeiro-ministro [na altura] e ele me apresentou o [então] comandante nacional e foi nomeada uma equipa da brigada entre 12 a 28 pessoas, que vinham reunir-se comigo todos dias. Depois de 18 dias  eu cheguei à conclusão de que estava a perder tempo (…). Quando nós pagámos a primeira prestação, no dia seguinte, os Serviços de Investigação Criminal (Sernic) contactaram-nos para perguntar quanto foi entregue aos raptores”, afirmou Maulana Nazir.

 

Durante a reunião, que contou com a presença de instituições de justiça, o comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM) na cidade de Maputo, Gabriel Chea, disse que as autoridades estão a usar as informações disponibilizadas pelas vítimas para travar os raptos.

 

“Estamos preocupados, como polícia, que é instrumento do Estado para zelar pelo bem-estar e segurança do povo. Tenho de agradecer por tudo que nos foi dito e vamos transformar em matrizes para colocarmos o nosso efetivo a trabalhar”, declarou Gabriel Chia.

 

Cerca de 150 empresários foram raptados em Moçambique nos últimos 12 anos e uma centena deixaram o país por receio, segundo números divulgados recentemente pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que defende que é tempo de o Governo dizer “basta”.

 

A polícia moçambicana registou, até março, um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime desde 2011, anunciou anteriormente o ministro do Interior.

 

“Tudo indica que a cidade de Maputo apresenta maior tendência e incidência de casos criminais de raptos, seguida da província de Maputo e, por fim, Sofala, com registo de 103, 41 e 18 casos, respetivamente”, declarou, na altura, Pascoal Ronda.

 

A onda de raptos em Moçambique tem afetado empresários e seus familiares, sobretudo pessoas de ascendência asiática, um grupo que domina o comércio nos centros urbanos das capitais provinciais no país.

 

A maioria dos raptos cometidos em Moçambique é preparada fora do país, sobretudo na África do Sul, disse, em abril, no parlamento, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili. O Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) confirmou, em 06 de agosto, à Lusa, que há três mandados internacionais de captura para cidadãos que estão identificados e se encontram na África do Sul, tidos como “potenciais” mandantes de raptos, estando a trabalhar em coordenação com a Interpol para a sua detenção. (Lusa)

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Um agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) perdeu a vida, na última sexta-feira, após uma viatura da Polícia da República de Moçambique (PRM) ter accionado um engenho explosivo. O incidente ocorreu numa zona próxima à aldeia Chitunda, no distrito de Muidumbe, quando a viatura em missão de serviço fazia a rota Palma-cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado.

 

Além da morte de um dos ocupantes, outros contraíram ferimentos graves, tendo sido socorridos pelas tropas do Ruanda, que estavam em missão de patrulha na rodovia. A viatura, de marca Mahindra, também ficou seriamente danificada. Não se sabe ao certo quem terá colocado o explosivo, mas fonte militar ouvida pela “Carta” acredita que tenha sido colocado por terroristas.

 

Dois automobilistas de transporte semi-colectivo de passageiros, vulgo chapa-cem, que habitualmente usam o troço Macomia-Oasse, quando vão à vila de Mueda e Mocímboa da Praia, temem que a colocação de explosivos ao longo da estrada também usada pelos civis possa ser uma nova estratégia terrorista para impedir a circulação dos utentes.

 

Ainda em Cabo Delgado, indivíduos armados que se acredita serem membros dos grupos terroristas, que desde 2017 operam naquela provínci,a queimaram uma viatura ligeira, na altura imobilizada, na noite da passada quinta-feira (08), no bairro Nanga A, arredores da vila de Macomia.

 

Fontes disseram à "Carta" que o facto ocorreu por volta das 22h00, após um breve tiroteio. A viatura estava estacionada numa pensão bastante movimentada no principal mercado da vila de Macomia.

 

As fontes acrescentaram que não há registo de vítimas humanas e sugerem que, para lograr os seus intentos, os atacantes controlaram o movimento das Forças do Ruanda e depois protagonizaram o acto. "Pode ser uma afronta às forças do Ruanda que hoje são as que fazem patrulhas, nós também estamos admirados”, disse Amina Awali, que esteve no local onde foi incendiada a viatura.

 

Desde há duas semanas, a vila de Macomia é patrulhada pelas Forças de Defesa do Ruanda que, recentemente, lançaram uma ofensiva contra bases terroristas nos postos administrativos de Mucojo e Quiterajo. (Carta)

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A nona legislatura do parlamento moçambicano encerrou ontem, com a Frelimo, partido no poder, a fazer um balanço positivo da atual governação, e a Renamo e MDM, da oposição, a criticarem o agravamento da pobreza no país.

 

No discurso de encerramento da legislatura da Assembleia da República, o deputado e chefe da bancada da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Sérgio Pantie, defendeu que a economia do país cresceu durante os últimos cinco anos e as condições de vida da população melhoraram. “O país cresceu, sim, cresceu, de facto, na sua economia, o que se reflete na melhoria contínua da vida do nosso povo e em cada um dos moçambicanos”, afirmou Pantie.

 

O Governo da Frelimo, prosseguiu, implementou políticas que permitiram a expansão das redes de abastecimento de água e de energia, permitindo que “muitos moçambicanos saíssem da situação de pobreza absoluta”.

 

O chefe da bancada da maioria parlamentar destacou o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional entre o Governo e a Renamo, que permitiu o Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do principal partido da oposição, como um importante ganho para a instauração da paz e reconciliação nacional.

 

Por outro lado, o contínuo interesse de multinacionais pelos hidrocarbonetos, principalmente gás natural, também criou alicerces para um futuro de forte desenvolvimento económico e social em Moçambique, declarou Sérgio Pantie. Pantie apontou os ataques terroristas na província de Cabo Delgado, norte do país, e o impacto negativo das mudanças climáticas como desafios que Moçambique enfrenta.

 

A bancada da Renamo fez um balanço muito negativo dos últimos cinco anos, realçando que a pobreza piorou e que o Governo foi incapaz de conter o aumento da criminalidade e da corrupção. “Infelizmente, a pobreza aumentou de 48,4% para 62,4%, nos últimos nove anos, o nível de endividamento continua sufocante, elevando o custo de vida da população”, afirmou o deputado e vice-chefe do grupo parlamentar da Renamo, Alfredo Magumisse.

 

Magumisse apontou a “degradação dos serviços sociais básicos como saúde e educação”, como resultado da má governação da Frelimo. A bancada do principal partido da oposição acusou a força política no poder de ter tornado a corrupção e branqueamento de capitais como “norma e doutrina”.

 

Por sua vez, a bancada do MDM também criticou a atual governação, destacando que o país ficou paralisado. “É justo, por isso, fazer um balanço sincero destes anos de governação absolutamente equivocada, errática, incompetente e paralisante, que congelou o país nos últimos nove anos de mandato”, declarou o deputado e porta-voz da bancada do MDM, Fernando Bismarque.

 

Bismarque acusou o executivo da Frelimo de ser “uma incubadora para reprodução da corrupção e de grupos mafiosos que capturaram o Estado”. Moçambique, prosseguiu aquele deputado, transformou-se no principal corredor e mercado abastecedor de drogas pesadas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que alimentam uma elite que usa o setor imobiliário e a economia informal para fazer o branqueamento de capitais.

 

“Este Governo fez o mais difícil, liderou o desmantelamento da Função Pública, criou um ambiente de insatisfação generalizada, devido a uma reforma salarial fraudulenta, que ao invés de motivar os funcionários públicos, provocou caos e levou ao desespero milhares de professores, enfermeiros, médicos e agentes das Forças de Defesa e Segurança”, declarou Fernando Bismarque.

 

A atual legislatura do parlamento moçambicano encerrou ontem, para dar lugar aos partidos para participarem no processo eleitoral. Moçambique realiza em 09 de outubro as eleições presidenciais, que vão decorrer em simultâneo com as legislativas e eleições dos governadores e das assembleias provinciais. Os órgãos que serão eleitos nesse escrutínio vão tomar posse no início de 2025. (Lusa)

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