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Crime

quinta-feira, 16 julho 2020 05:28

Palma viveu momentos de agitação no domingo

A vila-sede do distrito de Palma, província de Cabo Delgado, que também alberga deslocados de guerra, provenientes de Mocímboa da Praia, viveu momentos agitação no último domingo, devido aos disparos que se ouviram por volta das 5:00 horas, protagonizados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

Conforme contam as fontes, as FDS terão disparado para o ar durante as suas patrulhas, depois de ter interpelado 15 fiéis muçulmanos a rezar numa mesquita local, violando o plasmado no Decreto do Estado de Emergência.

 

Os disparos, considerados “excesso de zelo” pelas nossas fontes, criaram pânico naquela vila-sede, tendo havido cidadãos que fugiram em debandada, suspeitando tratar-se do grupo de insurgentes que criam terror naquele ponto do país.

 

Segundo as fontes, está instalado um clima de medo naquele distrito da província de Cabo Delgado, desde que os insurgentes decidiram atacar as vilas-sedes distritais. (Carta)

Foram capturados, na manhã desta terça-feira, 14, na baixa da Cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, 15 integrantes “confessos” do grupo terrorista, que desde 2017 vem semeando dor e luto nos distritos do norte e centro daquela província. A informação foi avançada à “Carta” por fontes militares. As mesmas fontes garantiram que os “integrantes confessos” entraram na terceira maior baía do mundo via marítima.

 

À nossa reportagem, as fontes afirmaram que os detidos contaram que eram membros do grupo terrorista e que estavam em Pemba para fazer reconhecimento, porque existem planos de atacar aquela capital provincial. As fontes avançam que só arrancaram a informação após torturar os 15 indivíduos, referindo ainda que, entre os deslocados, na cidade de Pemba e distrito de Metuge, pode haver membros daquele grupo.

 

Referir que fontes da “Carta” garantem que o Estado vem desenhando estratégias militares, em conjunto com alguns países da região, do norte de África e do continente asiático para fazer face aos grupos terroristas, tendo já recebido material de guerra modernizado e helicópteros que aguardam apenas pela autorização do Chefe de Estado para sua utilização. (Carta)

Tudo indica que os homens que atacaram uma aldeia, no distrito de Mecula (https://bityli.com/rq8DG), província do Niassa, em Fevereiro último, pertencem ao grupo que aterroriza os distritos de Quissanga, Macomia, Mueda, Nangade, Mocímboa da Praia, Palma, Muidumbe, Meluco e Ibo, na província de Cabo Delgado.

 

Informações na posse da “Carta” indicam que um dos supostos integrantes do grupo “terrorista” terá sido atendido, em Fevereiro último, no Centro de Saúde de Mecula, depois de ter sido alvejado, aparentemente durante a troca de tiros entre o grupo que atacou aquele distrito e os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM). O referido indivíduo, contam as fontes, desapareceu do distrito de Macomia, em 2017, junto com os seus dois amigos.

 

De acordo com as fontes, na sua deslocação àquele centro de saúde, o suposto “insurgente” terá sido reconhecido por um dos profissionais de saúde afecto àquela unidade sanitária que, por coincidência, é natural do distrito de Macomia, província de Cabo Delgado.

 

As informações que chegaram à “Carta” dão conta de que, após o tratamento hospitalar, o indivíduo terá sido encaminhado ao Comando Distrital da PRM de Mecula, porém, tal como os outros detidos, pouco terá dito em relação às reais motivações do ataque àquela parcela do país. As fontes acrescentam que, na altura, o indivíduo fazia-se acompanhar pela esposa, que também se encontra detida na cidade de Lichinga, capital provincial do Niassa.

 

O distrito de Mecula, lembre-se, foi alvo de um ataque militar, protagonizado por um grupo de homens armados até aqui desconhecidos. O ataque teve lugar no passado dia 12 de Fevereiro por volta das 15:00 horas, tendo culminado com a morte de oito homens e o ferimento de outros 15, sendo que alguns foram capturados.

 

Durante a incursão àquele distrito, o grupo queimou diversas residências, um modus operandi igual ao do grupo terrorista que actua na província de Cabo Delgado. Aliás, no ano passado, o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, alertou para o facto de alguns jovens do distrito de Mecula estarem a ser recrutados para integrar o grupo terrorista de Cabo Delgado. O distrito de Mecula faz limite com os distritos de Mueda e Montepuez, na província de Cabo Delgado. (Carta)

O passado sábado terminou de forma trágica na cidade capital, Maputo. Ao meio da tarde foi baleado o Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma.

 

O baleamento ocorreu à entrada da sua empresa, sita na Av. Josina Machel, defronte ao Balcão de Atendimento Único (BAU). Agostinho Vuma, contou uma testemunha, no caso o guarda do prédio, foi baleado quando saía do seu escritório. Após o baleamento, Agostinho Vuma foi transportado de urgência para o Instituto do Coração (ICOR), onde posteriormente foi submetido à intervenção cirúrgica.

 

A fonte narrou que Agostinho Vuma foi alvejado a tiros por dois indivíduos e que da boca do Presidente da CTA ouviu, antes de ser atingido pelos dois tiros, o nome “Salimo”. Os indivíduos que impiedosamente atiraram contra Agostinho Vuma não foram ainda identificados pelas autoridades policiais, sendo que as reais motivações continuam ainda no “segredo dos deuses”.

 

Agostinho Vuma foi baleado no maxilar e zona do peito. A situação clínica do Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique é descrita pelos médicos como sendo “reservada”, ou seja, inspira ainda cuidados. Este domingo, família, amigos e colegas deslocaram-se àquela unidade sanitária com objectivo de inteirar-se do seu estado.

 

O baleamento do timoneiro da agremiação empresarial chocou o país, com os vários seguimentos da sociedade moçambicana, primeiro, a condenar o acto macabro e, seguidamente, a exigir o esclarecimento célere e cabal do caso.

 

Na tarde deste domingo, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique quebrou o silêncio em torno do sucedido e, através de uma nota de imprensa, refere que o presidente foi alvo de um atentado cujos autores e motivações não são ainda conhecidos.

 

Sobre o estado de saúde de Agostinho Vuma, a organização avançou que continua a receber tratamentos médicos e apresentava um quadro clínico “controlado”. A organização deixou ainda garantia de que tornará pública qualquer informação sobre a evolução do estado clínico do presidente.

 

Ainda na tarde de ontem, “Carta” ouviu Leonel Muchina, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível da cidade de Maputo. Ao nosso jornal, Muchina disse que o processo investigativo coordenado (com o Serviço Nacional de Investigação Criminal) prosseguia, sendo que os autores bem como as reais motivações permanecem desconhecidos. Muchina disse que o Presidente da CTA foi alvejado por disparos de uma pistola.

 

O porta-voz da corporação garantiu que todas as testemunhas, incluindo o guarda, que ouviram Agostinho Vuma a dizer “Salimo o que eu te fiz”, estão sob protecção. Proteger as testemunhas, vincou Muchina, faz parte do guião de actuação da polícia, devido à importância que desempenham para o esclarecimento cabal de um caso criminal.

 

Entretanto, importa salientar que, há dias, a CTA emitiu uma nota de imprensa em que repudiava o uso indevido do nome do Presidente da agremiação. Denunciava que alguém de má-fé enviava mensagens para personalidades usando o nome de Agostinho Vuma, nas quais solicitava empréstimos de valores monetários a serem enviados através de uma plataforma de pagamento electrónico. (Carta)

“Carta” já tinha noticiado que os administradores dos nove distritos afectados pela insurgência já não se encontravam nos seus postos de trabalho (https://bit.ly/2BWVJdA), facto justificado pela ausência destes durante a invasão aos seus gabinetes de trabalho e residências oficiais. É o caso dos administradores de Macomia, Mocímboa da Praia e Quissanga que, durante as invasões às sedes-distritais, não se encontravam nos distritos.

 

Entretanto, o que não se sabia é que estes estavam “refugiados” nos distritos vizinhos. Esta quarta-feira, a STV e o Jornal O PAÍS noticiaram que todas as instituições do Estado e do Governo, no distrito de Quissanga, estão a funcionar, provisoriamente, no distrito de Metuge, devido à insegurança provocada pelos ataques terroristas.

 

De acordo com os dois órgãos de comunicação social, o Administrador do distrito de Quissanga, Bartolomeu Muibo, disse ainda não haver condições para se retomar as actividades naquela parcela do país, pelo que a Secretaria Distrital, os Serviços de Saúde, das Actividades Económicas e outras áreas foram transferidas para o distrito de Metuge, que recebeu mais de 20 mil descolados de “guerra”, provenientes do distrito de Quissanga.

 

A fonte não avançou as implicações que a medida poderá ter, mas sabe-se que os cidadãos (os que ainda permanecem naquele distrito) ficaram desprovidos de serviços básicos, como os de saúde, apesar do clima de insegurança que já reinava na região.

 

Falando à STV e ao Jornal O PAÍS, Bartolomeu Muibo afirmou ainda que, no ataque do dia 25 de Março, os insurgentes destruíram todo o arquivo do Estado e do governo distrital, pelo que “estamos a tentar recuperar a partir das informações que existem ao nível do governo provincial”.

 

Lembre-se que o grupo, que protagoniza ataques terroristas na província de Cabo Delgado, desde 05 de Outubro de 2017, invadiu a vila-sede do distrito de Quissanga, na madrugada do dia 25 de Março, tendo destruído diverso património público e privado, incluindo o edifício do Governo distrital, e ocupado a residência oficial do Administrador. Também foram assassinados mais de duas dezenas de membros das Forças de Defesa e Segurança, para além do roubo de diverso material bélico. (Carta)

Continua tensa a relação entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e a população dos distritos afectados pelos ataques terroristas na província de Cabo Delgado, norte do país. Depois do ataque terrorista à vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia, levado a cabo pelos insurgentes no passado dia 27 de Junho, a população daquela parcela do país voltou a queixar-se da actuação das FDS.

 

Em concreto, a reclamação não se deve à visível falta de protecção por parte das FDS, mas às alegadas extorsões (de valores monetários e diversos bens) e à violação dos direitos humanos, protagonizadas pelas forças estatais. À “Carta”, uma fonte contou que as FDS têm sido “assobiadas” pelos munícipes de Mocímboa da Praia, devido a cobranças ilícitas, invasões às propriedades privadas, incluindo residências particulares e agressões físicas, com o argumento de que a população local tem cooperado com os insurgentes, chegando até a “albergá-los” nas suas residências.

 

Aliás, a contestação às FDS não é de hoje, tal como a “desconfiança” destas em relação à real “ligação” entre a população e os insurgentes, sendo que a tensão apenas tem aumentado a cada incursão realizada pelos terroristas às vilas-sedes, sobretudo pela “ovação” da população ao “desfile” dos insurgentes.

 

As fontes garantem ser “proibido” cruzar-se com elementos das FDS, pois, a cada “cruzamento”, estes exigem dinheiro. Caso o cidadão não tenha, avança a fonte, é detido, acusado de ser membro do grupo insurgente. Aliás, um residente de Milamba, no distrito de Macomia, disse-nos que teve de tirar 200 Mts para poder regressar à casa, pois, estava cercado por elementos das FDS.

 

Outra fonte disse à “Carta” ter viajado do distrito de Mueda ao distrito de Montepuez com um indivíduo trajado com o uniforme das FDS, levando consigo diversos bens, com destaque para electrodomésticos (televisores e colunas). A fonte refere que o indivíduo saía de Mocímboa da Praia e acredita que os bens tenham sido retirados de uma das residências daquela vila municipal.

 

As FDS ainda são acusadas de raptar e assassinar diversos cidadãos naqueles distritos, em particular comerciantes. Esta semana, “Carta” recebeu uma denúncia, alegando que as FDS tinham assassinado, em plena luz do dia, quatro cidadãos, no bairro Unidade, na vila municipal de Mocímboa da Praia.

 

A nossa reportagem tem tentado, por várias vezes, obter a versão das FDS em relação às diferentes acusações que pairam sobre elas, entretanto, temos sido confrontados com um autêntico jogo de “ping-pong”, protagonizado pelo Ministério da Defesa Nacional (MDN) e o Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

 

Sempre que é contactado pela “Carta”, o Director de Comunicação do MDN, Custódio Massingue, refere que os assuntos relacionados ao teatro operacional são tratados no Estado-Maior General das FADM, entretanto, naquele local somos informados que a comunicação das FADM é da responsabilidade do MDN. (Carta)

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