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Redacção

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A intermediária petrolífera Vitol e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) lançaram, esta terça-feira, a ENH Energy Trading, uma 'joint venture' de comércio de produtos petrolíferos, anunciaram em comunicado.

 

A parceria vai estar centrada no comércio do gás (natural e propano liquefeito, GNL e GPL, respectivamente) e produtos condensados, "permitindo que a ENH crie valor adicional e desenvolva conhecimentos no comércio de produtos energéticos", refere o comunicado.

 

"Moçambique tem um valor estimado de 125 triliões de pés cúbicos (TCF) em recursos de gás tecnicamente exploráveis", nota o comunicado, com destaque para a bacia do Rovuma de onde algumas das principais petrolíferas mundiais vão começar a extrair gás natural em 2023.

 

Tendo em conta o potencial para o mercado doméstico e exterior, "a Vitol e a ENH estão empenhadas em desenvolver uma equipa líder de marketing e comercialização independente para a ENH Energy Trading, aproveitando o conhecimento e a experiência das empresas-mãe".

 

A empresa será constituída e sediada em Singapura, "para facilitar o contacto com clientes em toda a região, na qual a procura por GNL deverá crescer significativamente".

 

"A ENH Energy Trading será inicialmente detida em 51% pela ENH e 49% pela Vitol, prevendo-se que a participação da ENH aumente" mais tarde, indica ainda o comunicado.

 

Omar Mithá, presidente da ENH, espera que a empresa estatal consiga entrar nos "mercados internacionais de comércio de produtos energéticos" para apoiar o crescimento de Moçambique.

 

"Enquanto companhia petrolífera nacional de Moçambique a operar activamente no segmento de 'upstream' [extracção], estamos a expandir as nossas operações no estrangeiro com confiança e a construir um activo importante para as gerações futuras", referiu, citado no comunicado.

 

Russell Hardy, director executivo da Vitol, espera que a sua empresa consiga ter sucesso ao replicar "a experiência anterior de parceria com uma companhia petrolífera nacional". (Lusa)

As autoridades moçambicanas encerraram, esta terça-feira, o centro de trânsito da Moamba, a 60 quilómetros de Maputo, que desde quinta-feira acolheu 138 vítimas de xenofobia na África do Sul, disse fonte oficial à Lusa.

 

"Não temos mais ninguém lá, o grupo dos 138 que chegou na quinta-feira já foi transportado até aos seus destinos. Não temos ninguém no centro de trânsito à espera de acompanhamento", disse Geraldo Saranga, responsável pelo espaço. O centro fica junto à estrada que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia.

 

De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MINEC), mais de 400 moçambicanos manifestaram interesse em regressar ao país natal depois da onda de violência contra estrangeiros que eclodiu desde o início do mês na África do Sul, que provocou 12 mortos. No entanto, apenas 138 recorreram ao apoio do Estado para voltar a Moçambique.

 

Segundo Geraldo Saranga, há a impressão de que, à medida que a situação fica mais calma, os moçambicanos ficam mais encorajados em permanecer na África do Sul. "Nunca mais ninguém manifestou interesse em regressar", concluiu. (Lusa)

O projecto Mozambique LNG, liderado pela Anadarko, em parceria com o Instituto para Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME), iniciou com a assinatura ontem (17) em Maputo, dos Termos de Compromisso, do programa de apoio à certificação das Pequenas e Médias Empresas (PME) moçambicanas.

 

Em comunicado recebido na nossa redacção, consta que o contrato para apoio à formação de empresas locais e ao desenvolvimento de sistemas e procedimentos necessários para certificação foi adjudicado à Energy Works, uma empresa moçambicana dedicada à implementação de padrões de gestão internacionais.

 

Citado pela nota, o Director-geral do IPEME, Claire Zimba, diz que, com o projecto, voltado ao apoio estratégico para o fortalecimento da estrutura competitiva das PME nacionais no acesso ao mercado, está-se a responder com serenidade e de forma concreta, por um lado, ao memorando de entendimento celebrado este ano com a Anadarko e, por outro, a cumprir-se com um dos compromissos da actual agenda governativa referente à inclusão empresarial local.

 

“Estão lançadas as bases para o arranque e implementação sustentável da verdadeira qualificação empresarial, onde a profissionalização na gestão e modernização produtiva tem no processo da certificação um activo relevante para a contínua melhoria da competitividade das PME moçambicanas”, acrescenta Zimba citado pela nota.

 

Enviado pela Anadarko, o comunicado cita ainda o vice-Presidente e Director-geral da multinacional em Moçambique, Steve Wilson, a afirmar que aquele acto é um marco importante nos esforços da empresa visando o empoderamento das empresas locais no país. De acordo com a nota, para Wilson, o projecto de certificação foi possível graças ao apoio contínuo do Governo moçambicano em todo este processo.

 

“Nesta primeira fase, com a duração de seis a nove meses, iremos trabalhar na capacitação e desenvolvimento de 40 empresas moçambicanas, sendo 20 em Maputo e outras 20 em Pemba, para um padrão essencial para a certificação internacional ISO 9001 (Gestão de Qualidade). Esperamos que, em 2020, estejamos em condições de implementar o programa completo, que contempla o desenvolvimento das empresas nos seguintes sistemas de gestão de qualidade: ISSO 45001 (Saúde e Segurança Ocupacional), ISO 14001 (Gestão Ambiental) e ISO 22000 (Gestão de Segurança de Alimentos), incluindo outros padrões exigidos para a prestação de serviços para o projecto”, explicou Wilson citado pelo comunicado.

 

Refira-se que, em Junho passado, a Anadarko Moçambique Área 1, Lda. e seus parceiros da Área 1 offshore anunciaram a Decisão Final de Investimento (DFI) do projecto Mozambique LNG. Em Agosto, o Presidente da República, Filipe Nyusi, procedeu ao lançamento da primeira pedra para a construção da instalação de GNL, e à inauguração da nova vila de Quitunda, construída para albergar as famílias impactadas pelo projecto em Palma.

 

O projecto Mozambique LNG espera gastar cerca de 2,5 mil milhões de dólares americanos com empresas de propriedade moçambicana ou registadas em Moçambique ao longo dos cerca de cinco anos do período de construção das instalações de GNL. (Carta)

Cidadãos moçambicanos com deficiência visual, auditiva, locomotora, física e até mesmo com falta de pigmentação na pele (vulgo albinos) dizem sentir-se excluídos do processo de votação, pela falta das condições para que exerçam o seu direito cívico com liberdade, secretismo e sem nenhum auxiliar.

 

Entre as medidas propostas por este grupo social está, por exemplo, a introdução do sistema braile nos boletins de voto para deficientes visuais, de modo que as suas escolhas não sejam condicionadas.

 

A proposta foi manifestada, esta terça-feira, à “Carta”, por alguns cidadãos com deficiência, à margem do workshop sobre a participação política da pessoa com deficiência nos processos eleitorais, organizado pelo Centro dos Estudos Urbanos.

 

O encontro, que juntou cerca de 80 participantes, entre pessoas portadoras de deficiência, organizações da sociedade civil e estudantes, tinha o objectivo de auscultar aquela camada social e buscar soluções para junto dos órgãos eleitorais serem respeitados e inclusos no processo de votação.

 

Rafael Bata, Assistente de Advocacia e Saúde da TV Surdo, na cidade de Maputo, defende ser muito fácil roubar o voto de uma pessoa com deficiência visual, porque o indivíduo não tem como saber em quem votou, mesmo que leve consigo uma pessoa da sua inteira confiança.

 

“Mesmo que eu leve uma pessoa da minha inteira confiança para a cabine de votação, não tenho como saber se ela me ajudará a votar na pessoa que eu preciso porque a mesma pode ter suas preferências partidárias”, afirma Bata.

 

“Os boletins deviam ter letras em braile, que me ajudassem a escolher a pessoa e o partido da minha preferência. Não existindo, o voto deixa de ser secreto. Esta é uma grande lacuna”, observa a fonte.

 

Além da questão do voto, os deficientes sentem-se excluídos também no decurso da campanha eleitoral. “As caravanas dos partidos políticos deviam também andar com pessoas que falam língua de sinais para que os deficientes auditivos lhes compreendessem, boa parte de nós deficientes auditivos não conhecemos o manifesto eleitoral de cada partido político que está a concorrer para estas eleições”, defendeu um dos participantes, comunicando-se em língua de sinais.

 

Por sua vez, Belarmina Tamele, portadora do albinismo, disse ser necessário prestar-se bastante atenção na questão de prioridade para os albinos nos dias de votação porque estes não podem ficar expostos ao sol.

 

Falando durante a abertura do evento, o Director do Centro dos Estudos Urbanos, Arquimedes Varimelo, defendeu que para as eleições continuarem a ser um mecanismo de democratização devem ser pacíficas, credíveis, livres, justas, participativas e inclusivas, pelo que se deve criar condições para o envolvimento dos cidadãos com deficiência.

 

Refira-se que os dados do último Recenseamento Geral da População, de 2017, apontam que, em Moçambique, existem 727.620 pessoas com diferentes tipos de deficiência, representando 3 por cento da população. (Marta Afonso)

O Recenseamento Geral da População e Habitação de 2017, efectuado pelo Instituto Nacional de Estatística, determinou que somos 27.909.798 habitantes. Deste universo, 13.416.860 são homens e 14.492.938 são mulheres. Em 2017, dados oficiais apontavam que a taxa de desemprego no país situava-se na casa dos 40 por cento.

 

De acordo com o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS), no seu Boletim sobre o Mercado do Trabalho (Março/2019), no primeiro trimestre de 2019 houve uma redução de empregos registados de 26,5 por cento em relação ao período anterior, no caso do quarto trimestre de 2018, e um aumento de 11,4 por cento face ao período homólogo. No período em alusão, as admissões directas contribuíram mais com 51,4 por cento do total dos empregos e 9,0 por cento foram do auto emprego.

 

Com o escalar da violência na província de Cabo Delgado, também aumenta o tom das acusações dos alegados abusos cometidos pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS). De acordo com as nossas fontes, alguns oficiais das FDS, baseados na cidade de Pemba, principal centro urbano daquela província do norte do país, têm extorquido certos jovens empreendedores, provenientes de alguns distritos daquela província, como forma de não detê-los e acusá-los de estar envolvidos nos ataques armados que se verificam em alguns distritos daquele ponto do país.

 

Segundo contam as fontes, por exemplo, alguns comerciantes do bairro Muxara, arredores da cidade de Pemba, foram levados à esquadra para prestar depoimentos por supostamente cooperarem com o grupo que espelha terror naquela província e, para ser dispensados, alguns tiveram de pagar aos agentes da Polícia da República de Moçambique.

 

Fontes narram estórias de três jovens que tiveram de desembolsar valores avultados para serem restituídos à liberdade sem nunca ter sido acusados por prática de qualquer crime. Um dos casos é de um jovem alegadamente “capturado” pelas autoridades no bairro Muxara e levado, de seguida, para o distrito de Macomia, onde foi exigido uma quantia de 100 mil Mts para a sua soltura. Depois de uma longa negociação, as fontes garantem que o indivíduo desembolsou 25 mil Mts para que voltasse ao convívio familiar.

 

De acordo com as fontes, o mesmo cenário aconteceu com um cidadão tanzaniano, que estava radicado em Moçambique há mais de 20 anos e que se dedicava à pesca. Segundo contam, o indivíduo também terá sido detido ao cair da noite, quando regressava de mais uma actividade pesqueira e, de seguida, transferido também para o distrito de Macomia, onde viria pagar 400 mil Mts para a sua libertação. Afirma-se que, após o episódio, o tanzaniano terá abandonado o país.

 

O silêncio das autoridades em relação ao clima de terror que se vive naquela província continua prevalecente, não havendo informações oficiais em relação aos ataques assim como reacções em torno dos abusos protagonizados pelas FDS, naquele ponto do país. (Omardine Omar e Paula Mawar, em Cabo Delgado)

O pré-julgamento da acusação americana sobre o calote das “dívidas ocultas”, em que os moçambicanos Manuel Chang, Teófilo Nhangumele e António Carlos Rosário são arguidos (e três outros moçambicanos, chamados de “co-conspiradores”, receberam também subornos milionários da Privinvest) está de vento em popa.

 

Na sexta-feira passada, a defesa de Jean Boustani (Willkie Farr and Gallagher LLP) submeteu ao United States District Court For The Eastern District of New York uma “moção” para impedir que a magistrada portuguesa Helena Susano seja aceite como testemunha da acusação especializada na legislação anti-corrupção de Moçambique.

 

No passado dia 16 de Agosto, o Governo americano submeteu uma versão suplementar da acusação, com novos detalhes incriminatórios sobre os suspeitos (e também contra o Credit Suisse, a Privinvest e o seu chefe máximo, Iskandar Safa, ainda não acusados). Também manifestou a intenção de arrolar uma juíza portuguesa, de nome Helena Susano, como sua especialista em matéria de legislação anti-corrupção moçambicana.

 

Entre outras, o Governo americano acusa Boustani de conspiração para lavagem de dinheiro, numa acção que se consubstanciou numa “ofensa contra uma nação estrangeira, envolvendo o suborno de um funcionário público, em violação da lei moçambicana”. Ou seja, Boustani é acusado ter feito lavagem de dinheiro depois de subornar (corrupção activa para fim ilícito) um funcionário em Moçambique. 

 

A acusação americana deve agora provar, em julgamento, que Boustani cometeu esse crime de suborno em Moçambique e, por isso, a 16 de agosto de 2019, o Departamento de Justiça informou da sua intenção de estabelecer os contornos da legislação moçambicana violada, através da magistrada Helena Susano, ex-juíza em Portugal, arrolada para, numa audiência de pré-julgamento, testemunhar sobre os aspectos relevantes das leis da República de Moçambique relacionadas à luta contra a corrupção e suborno de funcionários públicos.

 

Mas a defesa diz agora que Helana Susano não reúne requisitos porque ela “não pode praticar direito em Moçambique e não é uma estudiosa da Lei de Moçambique.

 

Até a presente data, o Governo ainda não solicitou essa audiência de pré-julgamento. No entanto, em 9 de Setembro de 2019, submeteu ao Tribunal um “dossier” que inclui várias páginas de legislação moçambicana relevante. A defesa reconhece que o Governo tem o ônus de provar a violação da legislação anti-corrupção de Moçambique, “mas a juíza Susano não pode ser envolvida nesse processo, pois não está qualificada para actuar como especialista na Lei de suborno de Moçambique”.

 

Para justificar a indicação de Helena Susano, o Governo americano alegou que a magistrada já "escreveu vários artigos e publicações, inclusive sobre o direito penal de Moçambique", e seu currículo demonstra uma competência considerável. A defesa diz que a “própria Susano se descreve como ‘coordenadora’ de um livro chamado ‘Direito Penal e Processual de Moçambique’, mas entendemos que este livro não contém nenhuma análise das leis de suborno de Moçambique, é apenas um guia para procedimentos legais básicos, como a apresentação de acusações e o processo de recurso. Por outro lado, o título de ‘coordenador’ mostra que Susano não é autora deste material”.

 

A defesa prossegue: “Existem várias escolas de direito em Moçambique, uma Ordem dos Advogados activa, com advogados capazes e que se envolvem com o direito penal moçambicano diariamente e um quadro de juristas aposentados. De fato, teria sido fácil para o Governo contratar um procurador atual ou um ex-procurador da Procuradoria Geral de Moçambique e, no entanto, o Governo optou por manter a juíza Susano. Qualquer que seja o motivo dessa decisão, a indicação pelo Governo de um ex-juiz europeu que nunca julgou, processou ou defendeu um caso em Moçambique, é um base insuficiente para se prosseguir com a acusação de que o Sr. Boustani se envolveu numa conspiração de lavagem de dinheiro para promover ou ocultar o produto de uma violação da legislação anticorrupção de Moçambique”.

 

E remata: “Pelas razões precedentes, este Tribunal deve recusar-se a designar a magistrada Susano como especialista em legislação anti-corrupção de Moçambique”.

 

Há cerca de três semanas, quando foi revelada a intenção do Governo americano de arrolar a magistrada portuguesa para testemunhar sobre legislação moçambicana, alguns advogados moçambicanos t0rceram o nariz. “Eventualmente, os americanos pensam que Moçambique é ainda colónia de Portugal”, comentou, para “Carta”, um renomado jurista local. (Marcelo Mosse)

Afinal, em Janeiro deste ano, o arguido das “dívidas ocultas” começou a colaborar com agentes do FBI (a policia federal de investigação dos Estados Unidos da América, EUA), numa pretensa iniciativa de “plea bargaining” (delação premiada) e isso explica porque é que ele passava, nas redes sociais, por um inocente vitimizado.

 

O facto vem revelado num “affidavit” submetido ao United States District Court For The Eastern District of New York, na passada sexta-feira, pela firma Willkie Farr and Gallagher LLP, que defende o gestor franco-libanês da Privinvest, Jean Boustani (detido desde Janeiro em Nova Iorque). Nhangumele foi interrogado em Maputo, no dia 29 de Janeiro, por Fanell A. Binder (FBI Assistant Legal Attache) e por Matthew Musselwhite (DEA Deputy Country Attache), funcionários da embaixada americana. Nhangumele acabaria sendo detido a 12 de Fevereiro por ordens da Procuradoria Geral da República (PGR).

 

No documento, a defesa exige que as declarações de Teófilo Nhangumele, inseridas como provas no processo, devem ser excluídas do mesmo pois o escritório de advogados de Boustani nunca foi informado de que ele não era funcionário público em Moçambique. “Nhangumele não pode ser considerado um funcionário do Governo e, portanto, qualquer recebimento de subornos da sua parte não pode ser considerada como violação da Lei dos EUA que penaliza o suborno a funcionários públicos estrangeiros” (o Foreign Corruption Practices Act, FCPA).

 

E há uma revelação: “Em Janeiro deste ano, Nhangumele forneceu, a agentes da Lei que o interrogaram em Maputo, vários detalhes sobre os componentes críticos do suposto esquema de fraude. Ele afirmou que os funcionários do Governo moçambicano disseram-lhe que o dinheiro solicitado a Jean Boustani era destinado a uma operação não revelada do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), e não para pagamento de subornos”.

 

Mas, critica agora a defesa de Boustani, “em vez de divulgar prontamente essas informações à defesa, conforme exigido pela Constituição, o Governo americano manteve-as seladas, ao longo de todo o período em que os advogados estiveram a investigar e se preparando para o julgamento. Agora, com apenas algumas semanas antes do início do julgamento, sem tempo para investigar essas informações envolvendo actores localizados a milhares de km de distância, o Governo decidiu divulgá-las. Sem tempo para a defesa tentar entrevistar o Sr. Nhangumele, que actualmente se encontra sentado numa cela noutro continente, o Governo finalmente decidiu divulgar os detalhes exultantes do relatório do FBI (302) do seu interrogatório”.

 

Portanto, para que conste, Nhangumele foi interrogado pelo FBI em Maputo. A acusação americana nunca tinha feito essa revelação, o que leva a defesa de Boustani a sentenciar: “A supressão dessas informações é uma violação clara das obrigações constitucionais dos promotores e exige a exclusão do julgamento de qualquer comunicação envolvendo o Sr. Nhangumele”. Ou seja, tudo o que Nhangumele terá dito deve ser invalidado, exige a defesa.

 

Um segundo aspecto levantado, envolvendo Teófilo Nhangumele, tem a ver o facto de a acusação americana apresentar o ‘lobbista’ moçambicano como funcionário público. Na acusação substituta, de 16 de Agosto, o Governo americano identifica Nhangumele como sendo um moçambicano “funcionário estrangeiro”, na acepção da FCPA.

 

A defesa diz que isso não é verdade, não havendo nada que prove que Nhangumele era um funcionário público durante o período de tempo relevante para o caso. “Apesar da centralidade deste aspecto nas acusações contra Boustani, o Governo suprimiu as declarações de Nhangumele feitas sobre esse ponto.

 

Especificamente, em Janeiro de 2019, alega a defesa, Nhangumele disse aos agentes do FBI que o interrogaram em Maputo que nunca ocupou um cargo no Governo de Moçambique. A supressão dessas informações, argumentam os advogados de Boustani, é uma violação crítica da Lei, exigindo, por isso, a exclusão do julgamento de qualquer comunicação envolvendo Nhangumele. “O Tribunal deve impedir o Governo de argumentar com o júri que o Sr. Nhangumele é um funcionário público moçambicano, dado que esta alegação é falsa e o Governo sabe que é falsa”.

 

O pedido da defesa é extensivo à toda a comunicação anterior à consumação do calote, designadamente datando de 2011 a 2012. Na acusação consta um rol de emails trocados entre Boustani e Nhangumele, marcados como provas mas, rebate a defesa, nenhuma dessas comunicações é admissível porque são anteriores [ao calote] e não têm nenhuma relação com as acusações de conspiração.

 

“A partir da data em que a acusação substituta alega que o Sr. Boustani e o Sr. Nhangumele estavam discutindo a ‘50 milhões de galinhas’, ou seja, em 28 de Dezembro de 2011, nem o Sr. Boustani, nem qualquer dos seus co-conspiradores, nem mesmo qualquer banco de investimento, sequer concebeu envolver-se em transações com investidores e que algum dia poderiam ser supostos alvos de acusações criminais”, lê-se na argumentação final da firma nova-iorquina. “A defesa permanece perplexa com a impossibilidade metafísica da teoria do Governo, pois a lógica determina que dois indivíduos não podem chegar a um consenso mútuo para defraudar certas entidades cuja existência ainda não foi verificada”. (Marcelo Mosse)

Por ocasião dos 40 anos de carreira, o renomado artista plástico moçambicano Pedro de S. Betrufe Mourana, de nome artístico PMourana, inaugura, na sexta-feira, 20 de Setembro, em Maputo, uma exposição sob o tema “Eterno Recomeço - 40 anos de peregrinação artística”.

 

Trata-se de uma compilação de valiosas obras plásticas feitas ao longo de quatro décadas de uma notável carreira artística, caracterizada por uma criatividade ímpar, na forma de exprimir a paixão e as emoções, através da cultura.

 

A exposição, que estará patente durante 30 dias, no Espaço Cultural Moçambique Telecom (Tmcel), localizado no IFT – Instituto de Formação das Telecomunicações, conta com o apoio desta empresa de telecomunicações, inserido no âmbito das suas acções de responsabilidade social corporativa, visando estimular, fomentar, preservar e divulgar o património artístico e cultural nacional.

 

PMourana, cuja primeira exposição ocorreu em 1979, tem abordado várias temáticas, desenvolvendo diversas técnicas: "Nesta exposição, as pessoas poderão ver a minha evolução em termos de busca de temáticas, como também na técnica aplicada. Abordo exaustivamente temas de carácter social, sobretudo no que diz respeito à mulher, pois é a partir dela que procuro abordar a humanidade”, referiu o artista.

 

Quarenta anos de carreira, conforme enfatizou PMourana, são quatro décadas de escola, de muita aprendizagem contínua. A ideia do artista é juntar no mesmo espaço cerca de 40 obras de arte, algumas das quais pintadas em 1983.

 

Sobre a parceria com a Tmcel, PMourana contou que tudo começou a partir duma visita que o presidente do Conselho de Administração da Tmcel, Mahomed Rafique Jusob, fez ao seu atelier, onde contemplou algumas das obras do artista: “Estou feliz por esta parceria e acredito que vai imprimir maior qualidade à minha exposição”, frisou.

 

Ainda a propósito da parceria, PMourana considerou que as artes só podem desenvolver-se se o empresariado nacional apoiar, uma vez que um artista isolado mesmo que tenha talento, dom e potencial, se não tiver uma parceria institucional, um curador à altura, não pode singrar na sociedade.

 

Importa realçar que PMourana já participou em diversas exposições, tanto individuais como colectivas, dentro e fora do País, onde abordou temas que exaltam o amor, a mulher, a poesia, a música e outros de intervenção social, focalizando assuntos inerentes à valorização do património cultural, à exaltação da diversidade cultural e ao diálogo entre as artes, nomeadamente a pintura e a música. (Fds)

terça-feira, 17 setembro 2019 13:48

Ataque em Zimpinga, perto de Gondola, nesta manhã

Dois camiões transportando bens alimentares e toros de madeira da Beira para o Chimoio foram atacados por homens armados desconhecidos, na manhã desta terça-feira, à entrada da montanha de Zimpinga, na estrada nacional N6 (EN6), que liga a região portuária da Beira ao “hinterland”. O ataque deu-se cerca de 30 km a Este da vila de Gondola, de acordo com relatos de Sousa Maulate, motorista de um dos camiões, que foi ferido numa das pernas. Ele encontra-se internado no Hospital Provincial de Chimoio.

 

Maulate disse à “Carta”, por telefone, que foi tudo de repente. Os homens, em número que ele não conseguiu estabelecer, irromperam do mato e começaram a disparar indiscriminadamente. Ferido e sentindo que um dos pneus traseiros do seu camião havia sido atingido, ele não abrandou a marcha e só assim escapou à uma morte certa. Atrás de si vinha outro camião, que também foi atingido, com ferimentos em parte dos seus ocupantes. Maulate diz que não houve vítimas mortais.  

 

A EN6 é uma via vital para a economia de Moçambique, permitindo o escoamento de mercadorias e o comércio internacional centrado no Porto da Beira. Zimpinga foi sempre um lugar estratégico da insurgência dos homens armados da Renamo. Não se sabe se este ataque tem alguma ligação com a auto-denominada Junta Militar da Renamo, liderada pelo General Nhongo, que contesta o acordo de paz assinado recentemente entre o Governo e o antigo movimento rebelde. (Carta)