Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
Juma Aiuba

Juma Aiuba

Se a Lei de Probidade Pública protege o Estado de possíveis conflitos de interesse por parte dos seus gestores, devíamos ter também uma "Lei de Ignorância Pública" que proteja o Povo de exacerbados conflitos de ignorância dos seus governantes. Devíamos ter uma lei que olhasse para a quantidade e qualidade do desconhecimento dos nossos dirigentes. 

 

O conflito de ignorância é quando a estupidez e a descortês podem levar o indivíduo a decisões lunáticas que podem prejudicar a comunidade. Aquele nível em que a ignorância começa a roçar o analfabetismo, como diria um jovem nos tempos em que era na Esse-Tê-Vê onde a gente se via. Quando se perde a humildade. Quando a postura pública vaza.

 

O mais estranho nisso tudo é que, no ano passado, o governo - de que a ministra hoje faz parte - rendeu homenagem oficialmente ao "mai-love" lançando o "mai-love-EKSSI-PLAZ" como transporte público misto oficial. Então, uma ministra que não conhece "mai-love" - o transporte do povo, de certeza que também não conhece um "badjimburguer" - o alimento do povo.

 

Afinal, vive "awondi"?! Não domina a cultura geral da zona?! Então, não sabe que temos um físico-nuclear, com experiência na NASA, que subiu de cargo porque descobriu que quem come "tseke" a noite caga côcô mole de manhã?! Não sabe que um ministro da indústria mandou-nos comer mandioca para termos músculos fortes?! Não sabe que frango costuma a ter derivados no Natal?! 

 

Se assim for, é mais do que justo que não saiba da existência de malta Nhangumele, Chang e Boustani! É justo que não sabe que temos um tabuleiro de gatunos de estimação que deve ser protegido! Obviamente que não sabe que temos uma coleção de ladrões codificados. Nem val'apena falar então da tabela de Teo, então! Sem dúvidas também nunca ouviu falar da EMATUM! Dívidas ocultas, então, hummmmm. Nem sabe dizer em que ano estão a viver em Gaza.

 

Nada, não sabe. Mas quem é o culpado? Nós! Muito nós! 

 

- Co'licença!

quarta-feira, 01 abril 2020 06:58

Imaginem só!

Imaginem que estamos em período de eleições presidenciais e legislativas, concretamente em campanha eleitoral! Façam de conta que o Coronavírus é RENAMO, Eme-Dê-Eme, PIMO, PAHUMO, AMUSI, ou sei-lá esses partidinhos que surgem menstrualmente em tempos de campanha eleitoral! Imaginem que a comunicação do Estado de Emergência feita na segunda-feira a noite era tempo de antena da FRELIMO e que Filipe Nyusi estava a falar como presidente e candidato da gloriosa e cinquentenária FRELIMO!

 

É só uma imaginação, não custa nada. Ninguém vai morrer por isso! Continuando, imaginem, então, que o conteúdo principal da comunicação de ontem a noite era simplesmente golear a oposição com uma derrota esmagadora, retumbante, convincente e qualquerizante!

 

Estamos juntos até aqui!?! Okey!!! Então, imaginem a quantidade de apoio que o partido FRELIMO teria recebido até ao meio-dia de ontem, terça-feira, vindo dos empresários e membros do partido FRELIMO espalhados pelo país! Imaginem malta Eme-Bê-Esse, Lalgy, Gulamo, Sidat, Abdula, Yunusso, Noormamad, Moti, etecetera, etecetera, etecetera! Imaginem os leilões de cadeiras, canetas, camisetas autografadas, bonés, etecetera, etecetera, etecetera. Imaginem só! Imaginem quanto dinheiro o partido não teria hoje para erradicar a oposição! 

 

Já-tão a imaginar né!?! Agora imaginem qual seria a manchete desta semana na mídia! Imaginem as análises dos ANAListas! Imaginem as esteiras dos Gustavos, dos Juliões, (mais quem?) desta vida no "Feicibuque"! Imaginar não paga imposto, então, imaginem!

 

Agora parem de imaginar. Caiam na real! Acordem! Olhem para o Coronavírus como pandemia! Olhem para o desespero do Presidente Filipe Nyusi! Olhem para a sua solidão! Olhem para o silêncio dos empresários! Procurem aqueles que pagam cadeiras de tábua a nove milhões, canetas a um milhão, camisas autografadas a sete milhões, bonés a três milhões, etecetera!

 

Olhemem para a Cê-Tê-A! Aquela associação de lobistas que estão em todas as viagens do Chefe do Estado para o estrangeiro. Aqueles que recebiam dinheiro do Estado até bem pouco tempo. Aqueles que ofereceram ao pai de Boustani um Mercedes Benz, modelo Esse-350, avaliado em duzentos mil euros, em 2014. Aqueles que "sabiamente" condecoram todos os Chefes de Estado no poder com medalhas por melhoramento do ambiente de negócios em Moçambique. Aqueles cujo presidente (falecido) ia buscar dinheiros do cofre dos já pobres e sofridos trabalhadores para comprar seus aviões e montar suas empresas. 

 

Em outros quadrantes, neste momento de crise, os empresários se dispõem ao seus governos. Empresas privadas estão a ajudar o governo com produtos de higiene, até com ventiladores. As CLINICA(RE)S se predispõem a receber seus compatriotas doentes. Não há mãos a medir. Não é tempo de contabilizar ganhos.

 

Mas, também - a verdade seja dita - nesses outros quadrantes, há EMPRESÁRIOS no verdadeiro sentido do termo. Pessoas que fazem negócios de verdade, que não precisam de ter cartão vermelho para o serem. Empresários de sucesso de lá não precisam ser filhos nem amigos dos Chefes de Estado. 

 

Mas, também - outra verdade - nesses outros quadrantes, o Estado não fica a dever todos os lucros dos empresários durante anos. Os concursos públicos ganham-se justamente, e paga-se o que deve ser pago. Não se deixa o empresário na corda bamba. Lá o negócio é "win-win". 

 

Mas é melhor voltarmos a imaginar. Imaginar é bom! Eu já estou a imaginar um jantar de gala de angariação de fundos para o partido onde o filho do Gulamo de Nacala, o Gulamozito - mais conhecido por Gula - comprou todo o Coronavírus de Moçambique, e, no dia seguinte, a sociedade civil começou a fazer cartas abertas ao presidente da FRELIMO por ter vendido um bem público sem concurso. A imaginação é a nossa maior riqueza. Graças a Deus isso ninguém nos roubam!

 

- Co'licença!

segunda-feira, 30 março 2020 08:57

Os dilemas de Nyusi

Se o Presidente Nyusi decretar o Estado de Emergência, vamos morrer de fome, e, se não decretar, vamos morrer de "couve-di-dezanove". Duma ou doutra forma, o Pé-Ere será insensível. É esse o grande dilema do Presidente Filipe Nyusi. Nyusi está perante uma equação trigonométrica do segundo grau com senos e cossenos e tangentes e cotangentes. E a calculadora científica da presidência não aguenta.

 

O dilema aqui não é da decisão que o Pé-Ere vai tomar, mas do seu remorso em saber que, em condições normais, essa equação era desnecessária. Nyusi é presidente de 28 milhões de habitantes, espalhados por 800 mil metros quadrados, que têm apenas dois mil testes e um único laboratório para fazer testes de corona. Um exagero para baixo. Então, nem val'apena falar de ventiladores médicos!

 

Nyusi sabe que o dinheiro das dívidas ocultas dava para comprar 100 testes com dez litros de reagente, mil máscaras, cinco mil barras de sabão Maeva, três mil luvas e cinco bidões de álcool-gel para cada moçambicano. E ainda um laboratório em cada quarteirão, um hospital em cada bairro e um ventilador para cada família.

 

É um grande dilema! Nyusi sabe que certos cidadãos (que ele bem conhece) foram "az-europas" fazer fiado em nome do povo dizendo que iam comprar barcos com tecnologia para pescar atum. Levaram o dinheiro e zwiiiii... sumiram. Sumiram, não! Ficaram aqui mesmo a esfregarem na cara do povo: a comprarem Ferrari's e Bugatti's para os seus amigos e pitinhas, a viverem em todos os condóminos da cidade ao mesmo tempo, a bombarem festas tipo nas novelas. Dinheiro que era para pescar peixe para vender "txilaram" com ele todo. Até marandzas iam gamar na França. Comiam na África do Sul, arrotavam nas Maldivas e palitavam em Dubai.

 

Nyusi não sabe o que fazer porque sabe que esses gajos (que ele bem conhece) compraram uns barquitos que nem conseguem carregar as suas próprias âncoras; sabe que o irmão de Ndambi vendeu-lhe fisgas e disse-lhe que eram armas. E hoje estamos aqui, sem barcos, sem atum, sem armas, nem dinheiro de sobra. "Niwalile puluvi", como se diz em bom chuabo. É do conhecimento de todos que com aquele empréstimo só podemo-nos gabar de termos criado um tabuleiro invejável de gatunos de alto quilate e um país especializado em travar com jantes nas curvas e descidas em direção à ponte.

 

Agora o Presidente Nyusi está engasgado. Não sabe se decreta o tal Estado de Emergência ou não. Outros países que não se especializaram em produzir ladrões em série tomaram decisões sem titubear. Aqui vai-se morrer a mesma, de fome ou de Corona, e Nyusi terá que carregar o peso de cada morte para o seu travesseiro. Não é fácil! 

 

Se, ao menos, tivéssemos aplicado o dinheiro das dívidas ocultas na pesca de atum de verdade. Hoje estaríamos a falar em distribuir 30 kilos de atum para cada família por semana e ninguém estaria a falar em morrer de fome. Estaríamos a falar de uma quarentena farta de atum. Era só xima com atum, arroz com atum, mandioca com atum, inhame com atum, abóbora com atum, batata com atum, tudo-da-machamba-com-atum. Mas nada, os putos pagaram na mola e foram fornicar xawalas na França. Os únicos ventiladores que Nyusi está a ver são de ar condicionado dos Lamborghinis do Florindo.

 

Enfim, o presidente Nyusi está num turbilhão de dilemas. Um país sem comida e sem armas, mas que tem "mangau" no banco dizendo que ia produzir comida e se defender. Ninguém está disposto em nos emprestar dinheiro porque ficamos com a fama de caloteiros e, para piorar, os insurgentes estão a brincar com os badalos do Estado no Norte do país. Que dilema, hein!!!

 

- Co'licença!

quinta-feira, 26 março 2020 08:09

O Estado em quarentena

Se por algum acaso, um grupo de malfeitores se infiltrar na tua casa pela madrugada, roubar os bens da família, espancar, humilhar e violar toda a gente, e na hora de se irem embora a tua família (mulher, filhos e filhas) começar a ovacioná-los com júbilo como heróis, com direito a beijinhos e abraços de despedida... lamento informar, meu irmão, que só podes ser muito problemático. E quando isso acontecer num momento em que, na noite anterior, a tua família te elegeu como o melhor pai do mundo... hummmmm... bro, algo não vai bem aí em casa. 

 

É como aquela história de um grupo de insurgentes que invadem aldeias no norte de um certo país, roubando, assaltando, queimando, humilhando e esquartejando tudo e todos, mas mesmo assim sendo aplaudidos e aclamados heróis pela própria população sofrida, num momento em que há recursos minerais sendo explorados e o governo acabado de ser eleito esmagadora, convincente, retumbante e qualquerizantemente. 

 

Os insurgentes estão a pegar mamas do Estado sem nenhum respeito. Um estupro sem precedentes. Segundo a Ó-Eme-Esse, essas são provas inequívocas de que esse Estado está em quarentena domiciliária. Está em estado de hibernação sem volta. Está em estado vegetativo. Não há ventiladores que possam "helpar".

 

Mas aqui na banda dizem que o Estado e as crianças da primária estão em casa... o Presidente Nyusi já os dispensou.

 

- Co'licença!

terça-feira, 24 março 2020 06:14

Rifar a própria morte

É isso aí, primo. É a mais pura verdade! Na semana passada, Nhongo reivindicou mais um ataque na zona Centro. Ainda na mesma semana, insurgentes deixaram um autocarro de passageiros em cinza. Ontem, primo, foi içada a bandeira na República Insurgente da Mocímboa da Praia. Ainda ontem mesmo soube de mais uma roptura de stock de paracetamol no centro de saúde de Munimale-De-Vez, pela décima quinta vez num dia. 
 
Não me diga, primo! É verdade?! Epah, cunhado Mucunha morreu mesmo?! Faltou antiretrovirais de Sida?! Possas! São coisas! Dizem que, na Beira, estão a espera da segunda temporada do Idai para desviarem mais outros produtos. Acabou remédio de malária aqui na comunidade de Então-Munive e dizem que cólera já começou a matar mais uma vez de novo lá na minha sograria em Caliya. 
 
Primo, digo-te uma coisa, primo: para nós aqui esse Coronavírus é mais uma forma de morrer. É mais uma opção. É mais uma saída. Aqui na banda o Corona não assusta ninguém porque já ninguém se assusta com a morte. Aqui a novidade não é morrer, é ainda estar a respirar.
 
Estó-tá-falar, primo. Muitos pensam que é desleixo, mas, não é, primo. Aqui morrer é a única saída para evitar a humilhação. Morrer é a única solução para ser respeitado. Morrer é sorte. Morrer é sobreviver. Aqui rifa-se a própria morte. Morrer é ganhar. 
 
Acredita em mim, primo. Corona é a octagésima nona opção no nosso menú e deve estar - se a memória não me trai - na nonagésima oitava posição do nosso ranking das mortes mais artísticas. Aqui na banda é mais artístico morrer com a sua própria cabeça no sovaco. Também tem a opção de morrer sem os membros superiores e inferiores. Aqui os insurgentes não estão a matar, estão a esculpir. Cinza sobre tela, fogo sobre casa, explosão sobre carro, sangue sobre papel, catana sobre pescoço, tiro sobre testa, etecetera, são as novas técnicas da arte plástica neo-contemporânea daqui da zona.
 
Primo, talvez a vantagem do Corona seja a sua contabilidade. Parece que o Corona tem um "Primavera" que actualiza os defuntos, enquanto que a morte artística tem um esquecimento automático. As mortes dos insurgentes, dos Nhongos, dos esquadrões, da fome, do estupro, etecetera, não se somam automaticamente. As de ontem não se juntam com as de hoje. O Corona abre os noticiários com os seus somatórios.
 
Primo, ouvi dizer que vocês aí querem o nome e o endereço do fidalgo contaminado. Aqui as vítimas não têm pelo menos idade, nem sexo... quanto mais nome e endereço. Aqui os mortos são simplesmente pessoas que morreram... sem apelido nem avenida. 
 
Dizem que Corona precisa de 700 milhões de dólares para ir embora. A indemnização dos insurgentes não sabemos quando vamos saber. 
 
Ai-am-tellingui-yu, primo...! Aqui rifa-se a própria morte. Corona é outra sorte. Aqui morrer é esperteza. Morrer é fugir humilhação. Morrer é sorte. Morrer é sobreviver. Morrer é a própria salvação. Morrer é vitória. 
 
- Co'licença!
sexta-feira, 20 março 2020 06:14

O "pretérito mais-que-perfeito" da vida

Se tivéssemos pensado em colocar baldes de água e sabão no Ministério das Finanças, Ministério da Defesa, Presidência da República e Banco Central para higienizar as mãos dos nossos dirigentes, talvez hoje tivéssemos algum dinheiro guardado para fazer face ao novo coronavírus. 

 

Se tivéssemos desenvolvido o hábito de medir a temperatura das reais intenções das pessoas que entram no país através dos aeroportos internacionais, talvez o Boustani não tivesse entrado nem tomado a taça de champanhe na festa de aniversário do pai de Júnior. 

 

Se tivéssemos tido a sabedoria de valorizar a quarentena dos suspeitos, talvez hoje não estivéssemos a gastar dinheiro e tempo em resgates de um gatuno aventureiro e desleixado. 

 

Aliás, se tivéssemos tido a coragem de colocar os suspeitos de roubo do erário público em quarenta domiciliária, talvez hoje não fossemos tão ricos em gatunos. Talvez não tivéssemos desenvolvido um afecto patriótico por larápios e, nessa ordem de ideias, talvez o Téo não tivesse inventado a tabela periódica de gatunos. Quem sabe, talvez, hoje, estivesse ocupado em inventar coisas mais úteis como a vacina do corona. Aí talvez o próprio Pai Grande o tivesse reconhecido publicamente no Comité Central. 

 

Se tivéssemos decretado o estado de emergência, o uso obrigatório de máscaras e a proibição de abraços e beijinhos na rua e com desconhecidos, talvez o Júnior não tivesse conhecido aquela meretriz francesa. Talvez o coito não tivesse acontecido e talvez nem tivesse havido o pedido de comprar uma vivenda de milhões de dólares no sul da França. 

 

Se nos tivessem avisado que existem distúrbios assintomáticos, talvez não tivéssemos caído na lábia da autoestima, da pobreza está nas nossas cabeças, da revolução verde, do atum e quejandos. Talvez tivéssemos desconfiado daqueles delírios do Pai Grande. 

 

Não é fácil conjugar o "pretérito mais-que-perfeito". O pior é que, quando se usa com exemplos concretos da vida, dá vontade de chorar. O "pretérito mais-que-perfeito composto" do modo indicativo ou subjuntivo, então, hummmmm... nem val'apena! Quem inventou essa cena, páh? Desisto! 

 

- Co'licença!

segunda-feira, 16 março 2020 06:33

Aos políticos de rua

O comércio desorganizado da rua pode acabar com medidas sustentáveis, mas Comiche não tem tomates para isso. Bem bem bem, o problema não está na medida, mas, em grande parte, no sujeito. Aristóteles dizia que a primeira verdade de um discurso é o próprio orador. Ninguém acredita no Comiche, ninguém o leva a sério. Comiche não tem moral para tomar quaisquer medidas contra os vendedores de rua. 

 

Quando se dizia que Maputo precisava de um edil jovem com novos paradigmas, o ponto era esse. Maputo (o país todo) precisa de um edil criativo, ousado, atrevido e pragmático, mas que seja um indivíduo desamarrado e sem rabo de palha. Tem de ser alguém que traga novas propostas, novas abordagens, novas estratégias, novos discursos. Alguém que traga novas expectativas as pessoas.

 

As pessoas estão cansadas de ser burladas pelos mesmos ninjas. Eu acredito que o negócio de rua pode ser organizado, mas será com novos paradigmas. É preciso entender que o negócio e o negociante mudaram. Por exemplo, ontem não havia Eme-Pesa na rua, mas hoje, há. Vamos mandar o Eme-Pesa também para o mercado de Xipamanine? É preciso fazer novos estudos e trazer novas soluções. Alargue-se o debate.

 

Hoje, Comiche quer combater o negócio da rua da mesma forma que queria combater há dez anos. O circo precisa de um novo palhaço que conte uma nova piada. Comiche não é novidade. Comiche lembra Simango. Não é a primeira vez que Comiche e Simango organizam este festival de atletismo entre caninos polícias e humanos civis na baixa da capital. Acontecem sempre depois que as águas das primeiras cheias que inundam a baixa de Maputo secam. Até já podemos apelidar de "Jogos Pós-cheias da Baixa": um campeonato de atletismo amador entre cães de raça e transeuntes indefesos. É o que Comiche e Simango fazem para justificarem os fracassos dos seus mandatos. O que vimos na semana passada é simplesmente um "vale a pena ver de novo" de Comiche dez anos depois. É um circulo vicioso. 

 

O problema de Comiche nem é problema, é dilema. Filosoficamente, Comiche está mergulhado num dilema clássico (ético e moral) em que quaisquer decisões que tomar contra os males que apadrinhou os resultados NÃO lhe serão desejáveis e muito menos favoráveis. E esse não é um dilema apenas do Comiche, é um dilema dos nossos políticos no geral. Um dilema dos políticos de rua. 

 

Por isso, eu penso que não foi o Presidente Eneas Comiche que recuou na intentona de desalojar os vendedores de rua das avenidas da grande Maputo... Não! Foi o sistema que se acobardou. Foi o governo que reconheceu que não tem moral para implementar medidas correctivas sobre algo que apadrinhou. Foi o Estado que mais uma vez subiu ao palco para exibir a sua falência. Foi o país que fugiu com o rabo à seringa como sempre. Assim Comiche já encontrou o motivo que queria para justificar o fracasso do seu mandato. Já mostrou ao mundo a sua vontade de organizar a cidade. Sempre foi assim.

 

Enquanto houver políticos de rua, haverá vendedores de rua, haverá meninos de rua, haverá cães de rua, etecetera, etecetera. Com Comiches no poder, evidentemente que haverá Venâncios na oposição. Populismo e vagabundice. Enquanto houver políticos vagabundos, haverá também cidadãos à sua altura e medida.

 

De resto, temos de reconhecer que somos um país da rua, informal e ambulante. Temos de ter a coragem de assumir isso e a partir daí começarmos a mudar o que realmente deve ser mudado. Temos de estudar muito bem a raiz do mal. O problema primário são esses políticos de rua que elegemos na rua sob efeito de erva e cevada. A urgência deve ser "desvagabundear" a nossa política!

 

- Co'licença!

terça-feira, 10 março 2020 07:19

FRELIMO: o menino de cabeça grande

Seria hilariante, se não fosse alarmante. E mais do que alarmante é também embaraçoso.

 

Não sei se vocês já se deram conta da quantidade de gatunos, vamu-lá-dizer-assim, que disseram, em tribunal, que alguma parte do dinheiro que roubaram contribuíram para a campanha da FRELIMO! Não sei se vocês já pararam para pensar. Há contribuintes de todo peso e feitio, desde ministros, Pê-Cê-As até profetas. Entre arguidos e ex-arguidos. Estranho, não?!

 

Mais do que contar os gatunos vocês já tentaram somar os montantes que o partido alegadamente recebeu? Já fizeram a adição dos valores? Cambaza, Cetina, Helena, Boustani, Zimba. Todos os gatunos até aqui ouvidos dizem que ajudaram na campanha da FRELIMO. Sem contar que ainda tem a Tabela de Nhangumele que conta com gatunos de raça - uns dentro e outros fora - que ainda não abriram a boca. É só imaginarem o que um gajo como o "Chopstick" vai falar. Eu acho que isso é azar. É inveja. É má fé dos gatunos (como se houvesse algum gatuno de boa fé)!

 

Essa FRELIMO, do jeito que se fala, até parece bolsa de valores. Parece uma empresa que está a vender as suas acções. Parece igreja. Ou são acções ou são dízimos, mas quotas de membros do partido não podem ser. A FRELIMO que se fala parece um banco num paraíso fiscal. Agora, basta ouvir que houve rombo financeiro em algum lugar, deve saber que houve alguma contribuição para o partido. Há que ver isso! Assim não dá! O pior é que o partido nunca vem se distanciar em tempo útil. É assim que os outros fazem. 

 

É muito estranho! Mas, como dizia, às vezes é azar mesmo. Na minha zona dizem que são pessoas que nasceram com "cabeça grande". Não é "grande" de grande, de volume. É "grande" de espírito. Pessoas azarentas. Pessoas infortunadas. Dizem que são pessoas que no dia que nasceram o diabo olhou ou soprou para elas. São pessoas com destino assombrado. Quando é assim leva-se a pessoa ao "akulukana", "namugu", "na'ana" para tirar o diabo.

 

Dizia, então, às vezes a pessoa nem tem culpa... às vezes é azar mesmo. De tanto apanhar sem culpa, a pessoa já habitua. Já nem chora, nem responde, nem pede justiça. Só vai seguindo a vida como se nada estivesse acontecendo. Assim tipo Eme-Ci-Rodja: falem bem ou mal de mim, mas falem de mim. 

 

É isso, minhas irmãs e meus irmãos. Lá na zona diz-se que "quem tem cabeça grande nenhuma pedra lhe falha". Não sei se é o caso. Mas que é constrangedor, lá isso é!

 

- Co'licença!

segunda-feira, 09 março 2020 06:08

Senhores Doutores, vocês são melhores que isso!

Não sei porque razão, mas o processo eleitoral - neste pedaço de terra com nome de jóia - é um autêntico festival de boçalidade, futilidade, vulgaridade, inutilidade, banalidade, etecetera. O evento torna-se uma fossa e os concorrentes, excrementos de toda ordem e feitio. Não se discutem manifestos, discutem-se pessoas. Cavam-se passados fúteis que não agregam valor ao debate. 

 

Isto a propósito da eleição da Ordem dos Advogados. Mas também a propósito da eleição da Cê-Tê-A e da SOMAS. Sem esquecer a eleição do MISA, passando pela Esse-Ene-Jota, pela Efe-Eme-Efe, pelas eleições gerais, presidenciais, autárquicas e das assembleias provinciais. Mas também a propósito da premiação do N'GOMA e da AEMO.

 

Se olharmos de soslaio a esses eventos, vamos encontrar algo em comum: desconfiança na comissão eleitoral que acaba no descrédito de todo o processo. São dedos acusatórios, adiamentos, desistências, assobios para o lado, lamúrias, insultos, desacatos. Para piorar, fala-se sempre de um certo partido político que anda infiltrado nos processos eleitorais das agremiações civis. Sempre a imiscuir-se, a baralhar os processos e a criar desordem, qual energúneno obcecado. 

 

A diferença entre esses eventos é que malta FRELIMO e RENAMO e Eme-Dê-Eme se batem, se incendeiam casas e sedes, se insultam, se abusam, se ferem e se matam abertamente ao vivo e a luz do dia, enquanto que os outros fazem tudo isso cobardemente. Hipocritamente, no meio da peleja, os advogados ainda se tratam por "ilustre colega". No fundo no fundo, bem lá no fundão mesmo, começa a ficar claro que por detrás dessas organizações há muita farinha e carapau. Começa a transparecer que o mais importante é ficar na cozinha.

 

Eu era fã de advogados. Os advogados eram os gajos com os quais eu mais rendia em termos de civismo e seriedade. Eram "top" para mim. Mas, honestamente falando, os dois últimos processos eleitorais me decepcionaram muito. Alguém vai dizer que em democracia é assim mesmo, que o que venceu é a Ordem, que a agremiação está mais coesa, que tudo ficou para atrás, que o futuro é o que interessa, bla bla bla... Uma ova! É assim - sim, mas não devia ser. Eleição devia ser uma coisa muito séria... de advogados, muito mais séria ainda. A ética e a moral deviam ser o A-Dê-Ene da Ordem. "Adversário não é inimigo" devia ser o fio que cose o seu genoma. 

 

Os advogados deviam ser o espécime da justiça, da transparência, da cordialidade e do civismo. Onde se reunem para discutir ideias devia ser o molde da ética e da moral. Os processos eleitorais da Ordem dos Advogados deviam ser o protótipo da democracia. Cobrir-se de ternos e gravatas e ostentar pastas de pele de crocodilo ou búfalo e carregar molhos de chaves não basta. Lembrem-se da "mulher do César", meus senhores! Sentem e discutam profundamente sem evasivas nem subterfúgios e elevem a vossa fasquia. Emancipem-se a altura da vossa importância e prestígio na sociedade! Não deixem nodoar o último pano que falta. Vocês são a luz da sociedade. Não se desonrem, senhores doutores! Vocês são melhores que isso. 

 

Não rendi convosco. Estou desconsoladamente decepcionado. Aquelas "cobras e lagartos" de um lado para o outro não eram necessárias. Jogar baixo também não era necessário. Vão ver que podiam ter feito um processo eleitoral sem barulho. Um evento civilizado de uma classe que se espera civilizada. Se advogados devem-se insultar para se votarem entre si, então é o fim da picada. Eu esperava muito mais. Pensava que o país ainda tinha alguma esperança. Agora só falta ouvir que há um Nhongo-advogado que está a disparar na 24 de Julho ou na Julius Nyerere.

 

Enfim, ao novo Bastonário, os meus mais sinceros parabéns. Bom trabalho! Una a classe! 

 

- Co'licença!

sexta-feira, 06 março 2020 07:59

Os ajoelhados

O brasileiro e professor de Filosofia, Clóvis de Barros Filho, define os valores como identidade. Ele diz que ao se apresentar a alguém pela primeira vez você fala dos seus valores para a pessoa saber quem você é na essência. Ou seja, quando alguém pergunta "quem é você?", você começa a falar das escolhas que você fez na vida. O seu percurso de vida. 

 

E eu cá digo, se você quer conhecer um Estado, olha para os seus governantes. Se você quer saber a identidade de um Governo, olha o que fazem os seus dirigentes. Isto é, o que responde a pergunta "que Governo é este?" é aquilo que os dirigentes que suportam esse governo fazem. Se você quer conhecer um país, veja as atitudes do seu povo. O que constrói uma nação são as escolhas, as crenças e a identidade do seu povo. Cada um é indissociavelmente o reflexo do outro.

 

Ora, sendo o camarada Edson Macuacua a figura indicada pelo Presidente da República Filipe Nyusi como Secretário de Estado da província de Manica espera-se que este seja o seu fiel representante. Ou seja, Edson Macuacua é Filipe Nyusi em miniatura. Edson Macuacua é a identidade de Filipe Nyusi. Aquilo que Edson Macuacua faz, enquanto Secretário de Estado da província de Manica, define os valores do Estado moçambicano.

 

Não sei em que circunstâncias foram tiradas as fotos do camarada Edson Macuacua que circulam nas redes sociais. Nas imagens, o camarada Edson Macuacua aparece sendo "coroado" com um trono em madeira, sendo dadivado com frutas da época e adornado em camisas de capulana. Mais do que simples gesto de "presenteamento", a cerimónia chama atenção pelo seu ritual de idolatria faraónica. O mais preocupante é o rasgo de sorriso que ele faz ao ser adorado e o a vontade dos adoradores.

 

Na verdade, se aquilo foi um evento de Estado, eu, particularmente, não vejo motivo de tanta celeuma. Não vejo motivos de grande indignação, uma vez que aquilo define a nossa identidade. Se Edson Macuacua é a melhor escolha de Filipe Nyusi para Manica e Filipe Nyusi é a melhor escolha do povo para Moçambique, então, aquela cerimónia define o povo que somos. Aquele acto representa os nossos valores, a nossa identidade enquanto povo. 

 

Paremos, então, com essa indignação hipócrita. Se trocarmos a imagem de Macuacua pela de Nyusi, vamo-nos aperceber que essa revolta não faz sentido. O Macuacua não fez nada de estreia. É assim que tratamos os nossos governantes, desde o Chefe de Estado até o chefe de quarteirão. Aquilo é o que nós somos. Somos um povo de cócoras sem motivo. Um povo que nunca se ergue. Um povo que dá até aquilo que não tem. Um povo uniformizado. 

 

O problema não é de Edson, nem de Nyusi. O problema é do nosso conceito de governante. Os nossos governantes são o reflexo do que somos como povo. São as nossas escolhas. Os nossos valores. A nossa identidade. Antes de pensarmos em mudar os nossos governantes, mudemos as nossas escolhas e os nossos valores. 

 

Quando perguntarem "quem são vocês?", responda: "nós somos os ajoelhados". As pessoas vão entender. O mundo sabe que nós existimos. Não é uma condição, é uma escolha.

 

- Co'licença!

Pág. 12 de 28