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quarta-feira, 19 fevereiro 2020 07:41

A etiqueta do racismo

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Os especialistas em postura pública do racismo dizem que o jogador Moussa Marega não devia ter abandonado o jogo. Dizem que devia ter ficado para marcar mais um golo e, no final da partida, lançar a sua camisola à bancada onde estavam os brancos racistas, fazer gesto de macaco e sair. Dizem esses peritos que isso chama-se sair em grande estilo. Dizem que é a melhor resposta aos actos racistas.

 

Quer dizer, já começaram a aparecer compatriotas nossos "ekspertis" em etiqueta do racismo. Daqui a pouco, vão começar a fazer "cotxingui" sobre métodos de resposta ao racismo. Vamos ter "workshops" sobre etiqueta do racismo. Vão nos ensinar técnicas de auto-defesa contra o racismo assim tipo taekwondo. Racismo vai ter ritos de iniciação. Vão produzir manuais de resposta contra o racismo para o ensino primário e secundário.

 

Para o bem da humanidade haverá um guia do racismo. Haverá um tratado do racismo que deverá ser ratificado por todas as nações. O objectivo é não perder a elegância quando estiver a sofrer racismo. Do tipo, não pode perder a postura. Não pode ser boçal. Tem de manter a classe quando estiver a ser insultado. Pode doer, pode-se sentir humilhado, pode ficar chateado, mas, faz favor, não mostre. Mantenha a pose.

 

Os entendidos na matéria dizem que a melhor forma de reagir ao racismo é não reagir. Não ligar. Mandar passear. Ficar tipo nada aconteceu. Procurar a tia Verô para te relaxar como fez com a imunidade de Chopstick. Dizem que os pretos devem estar psicologicamente preparados para sofrerem racismo, principalmente quando estiverem a viver na Europa. Preto não deve ter frescura.

 

Assim, estamos a desenvolver um código de conduta para convivemos pacificamente com o racismo. Infelizmente, é assim que vamos fabricando almofadas mornas para acomodar cobardias. Vamos tratando romanticamente a estupidez. Vamos protocolando o racismo, assim como fazemos com o estupro, com a violência doméstica, com o casamento prématuro, com os gatunos, com a homofobia, etecetera, onde a vítima é treinada a agir politicamente correto. Onde a vítima, antes de reagir, deve pensar na imagem e no bom-nome do seu agressor. Onde a vítima deve ser civilizada. Ser "polaiti". Vai que o agressor fique traumatizado!

 

Nesses moldes, o Marega devia ter permanecido no rectângulo do jogo para manter a harmonia no estádio. Foi constrangedor. Havia crianças e idosos ali. De acordo com o novo código, o Marega foi ríspido e selvático. Quem assim procede precisa de uma indução comportamental muito séria. Essa cena de racismo e não-racismo, o Marega não entende patavina.

 

Eu: aos especialistas, vai aquele inglês de Doppaz para vocês.

 

- Co'licença!

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