"É fácil ser sábio depois do facto" - Sherlock Holms.
Finalmente, o "Doutor" conseguiu entrar no estádio. No jogo da final. Exactamente no momento em que o último jogador ia marcar o último penalti. Mas se gaba de ter visto os noventa minutos e o prolongamento do jogo. Dá-se ao luxo de convocar a imprensa para fazer o resumo do jogo. Até já quer explicar por que é que o jogo chegou ao empate até ao minuto noventa e por que é que ninguém marcou no prolongamento.
Lembrar que o "Doutor" não viu o campeonato todo; viu apenas o último jogador a marcar o último golo de penalti, no último jogo; mas, dá-se ao desplante de afirmar que o relato que ele ouvia todos os dias pela rádio quando estava em casa (antes de conseguir bilhete no "bleki-fraidei" do Estrela) estava errado. Tem a intrepidez de dizer que todos os locutores que estavam a relatar os jogos durante todo o campeonato, desde o jogo inaugural, são mentirosos. Gaba-se de ser ele o único ser respirante lúcido capaz de fazer o resumo mais original de todo o campeonato desde o primeiro minuto. Definitivamente, a humildade escasseia.
Agora que o julgamento acabou, o "Doutor" virou sábio. Já sabe o que se falou mesmo quando não estava. Diz que tem tudo gravado na sua barba... digo, cabeça. E nós agora temos de esperar que ele esvazie a sua cabeça para entendermos todo o filme deste famigerado endividamento oculto.
Esquece-se o "Doutor" que ele é jurista, e os outros, jornalistas; que o "Doutor" foi "aprender", e os outros, trabalhar. Portanto, têm metodologias, abordagens, expectativas e interesses totalmente diferentes. O "Doutor" foi aprimorar conceitos técnicos de Direito, enquanto que os outros foram descodificar os conceitos e relatar factos no "dialecto" do povo. Ignora o facto de o "Doutor" ter estado ali por simples curiosidade, enquanto que os outros, pelo compromisso tipificado, estrutural e rotineiro da sua profissão - informar. E, não menos importante, os outros estão a cobrir as dívidas ocultas desde os tempos de Kempton Park, quando "Chopstick" ainda era Chang, antes da divulgação da tabela de Teo.
Mas enfim, é caso para dizer que a corrida já começou. Nos próximos dias iremos assistir à uma olimpíada renhida de lamber botas jamais vista. Iremos assistir a truques mais inovadores quanto arrojados de puxar saco. Haverá "acólitos" que em vez de lamberem vão engolir as botas para, em seguida, vomitarem já polidas. Gajos que vão investir em novas tecnologias de implantar graxa e escova na laringe.
Se se parecesse com intelectual, como muitos de nós pensávamos, o Elísio iria apresentar a sua versão dos factos sem atacar ninguém. Que fizesse o seu resumo sem mencionar problemas linguísticos nem ausências dos demais. Era escusado cobrar pelos esclarecimentos ou pela tradução que forneceu, de livre e espontânea vontade, a quem quer que seja.
Parecia estar a erguer a sua carreira honestamente. Parecia humildade com a ciência. Mas nada. Nesta fotografia a imagem do Elísio está tremida. Literalmente, o Elísio apresenta-se como o último arrumador de canoas. Está a tentar organizar canoas que já foram organizadas, na doca de areia, pelos respectivos donos para ver se apanha restos da ceia dos pescadores. Uma cabeça de camarão aqui, uma barbatana de madjembe acolá. Vale tudo.
Na verdade, o objectivo desse arrumador voluntário de canoas é ser reconhecido como o gajo que organiza as coisas na doca para amanhã ter a legitimidade de apanhar restos. Mas todos sabem que o gajo passa a vida a beber. Não tem tempo para pescar. Chega no fim de tudo e quer dar palestra sobre arrumação e higiene. É um preguiçoso.
De resto, o "Doutor" está a passar por um processo bastante sofrido e desconfortante: a transferência da massa encefálica do crânio para o intestino grosso. Muitas vezes neste deslocamento anatómico perde-se a vergonha. É compreensível. Mas, seja como for, talvez a melhor parte seria explicar em que posição "apanhou" esse bilhete.
- Co'licença!