“Não tanto assim. No meu entendimento, o partido é o mesmo apenas no nome. A ideologia está confusa, já esteve mais clara. Na altura, até podia ser errada, como alguns criticam, que era socialista, comunista. Mas estava lá. Hoje mudou. Dois: o que estou a defender não é a subsistência da ideologia, porque ideologia é como chegar. Por exemplo, o socialismo diz que vamos assim e o objectivo é o desenvolvimento do Povo e de todos. O capitalismo diz que vamos assim, mas o objectivo é também o desenvolvimento. A ideologia pode mudar, pode haver diferença de opinião durante o processo, mas ter o foco no crescimento do povo não pode mudar. O Partido que não quer isso nem devia existir. Está a governar o quê? Está a governar um país que não existe. O povo que existe é este. Não vamos importar outro povo. O povo é este e é este que reclama melhores condições de vida”.
In Paulo Zucula, Jornal Canal de Moçambique, nº 869, página 2 de 07 de Fevereiro de 2024
O cidadão Paulo Zucula assume, na entrevista ao Jornal “Canal de Moçambique”, ser militante do partido Frelimo, ao responder a seguinte pergunta do jornalista: “e a sua Frelimo como é que está?” A resposta foi a seguinte: “a Frelimo já mudou de ideologia. E há momentos em que eu próprio, apesar de ser militante da Frelimo, tenho problemas em entender qual é a nossa ideologia hoje. É mais embaçada, é como se eu tivesse óculos que não são da minha graduação. E não consigo ver bem. Não sei se são os meus óculos que estão errados. Nada está claro”, conclui. Ou seja, estamos perante um membro sénior de um partido, que não conhece a ideologia do seu próprio partido e o que é mais grave, na minha opinião, existem muitos Paulos na Frelimo.
A razão do título é a seguinte: todos sabemos que as eleições gerais para o Presidente da República, para a Assembleia da República e das Assembleias Provinciais, estão marcadas para o mês de Outubro, contudo, a Frelimo, partido no poder, cujo Presidente é coincidentemente, o Presidente da República, não tem o candidato para estas eleições, que foram marcadas para o mês de Outubro, ou seja, daqui a oito meses. Isto, no mínimo, é anormal, sobretudo, tratando-se do fim de mandato do Presidente da República e que, por Lei, não se pode candidatar.
Pode-se atribuir a isso vários nomes, pode-se dizer até que a Frelimo possui uma máquina de campanha “demolidora” que a eleição do Presidente da República, candidato da Frelimo, depende da mobilização dos seus membros e não do Presidente em si. Pode-se evocar mil e uma razões, mas essas razões, aos olhos do comum cidadão, não têm qualquer sentido. Pior para os detractores da Frelimo, a não indicação do candidato significa, para estes, que qualquer um, indicado pela Frelimo, ganha as eleições! Será esta a mensagem que se pretende transmitir?
Mas a questão é mais grave quando membros da Frelimo, sobretudo seniores, aparecem amiúde a apresentar-se candidatos ou potenciais candidatos internos para concorrer a candidato à presidência pela Frelimo, cada um evocando suas razões de candidatura. Muitos membros seniores da Frelimo desabafam, através dos Órgãos de Comunicação Social, sobre o actual estágio do partido, como diz Paulo na entrevista: “A Frelimo fez batota” nas autarquias, todos sabemos que existem várias queixas sobre a falta de transparência das eleições Autárquicas.
A questão que se coloca é: teremos de admitir que a Frelimo está, realmente, à deriva? Sim, porque o SLOGAN da Frelimo foi sempre “a vitória organiza-se, a vitória prepara-se”. Desta feita, estará a Frelimo organizando a vitória! Se sim, onde é que está a organizar essa vitória? No silêncio sepulcral! Não pode ser, a Frelimo tem condições de ganhar as eleições, mas deve estruturar-se para o efeito. A Frelimo deve descer às bases para um trabalho mais incisivo e direccionado às eleições Gerais de Outubro, porque, caso não o faça urgentemente, a confusão pós-eleitoral será um dado adquirido. Diz o velho ditado que “a mulher do César não basta ser fiel, é preciso que se pareça” e a Frelimo, um partido libertário, um partido com longa experiência política e de Governação, parece deitar tudo isso abaixo e parece um partido amador.
Hoje, Moçambique é um país onde todos se comunicam e se cruzam, através das redes sociais. Não existe um cidadão do meio rural ou do meio urbano, que não saiba política, os debates, ao contrário do que acontece nos partidos políticos, que não debatem coisa alguma, a sociedade debate sobre sua vida, através das redes sociais e tudo indica que existe uma percepção generalizada sobre o custo de vida alto, não sendo propriamente imputável às políticas governamentais. O povo precisa de ser esclarecido e quem melhor o faria é o candidato da Frelimo e os candidatos do mesmo partido à Assembleia da República e às Assembleias Provinciais, ausentes!
Por aquilo que a Frelimo representa na sociedade moçambicana, são muitas pessoas que acreditam nela por isso os dirigentes do partido devem tomar uma atitude que decepe as piores percepções existentes sobre o partido, a Frelimo deve aparecer e fazer-se ouvir junto das massas, a Frelimo não pode e nem deve parecer que está à deriva!
Adelino Buque