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Severino Ngoenha

Severino Ngoenha

segunda-feira, 03 fevereiro 2025 11:47

Lutar por Moçambique: Liberdade, Pão e Paz

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Os artistas, muitas vezes, dizem, em

poucas palavras, o que nós, filósofos,

não conseguimos expressar em

volumes de textos. Entre esses artistas

visionários, houve aquele que compôs

a canção "Vinde, Vinde,

Moçambicanos, Exaltemos Mondlane."

Com uma capacidade rara de ler as

dinâmicas do momento e de antever o

que nos aguardava, ele escreveu

versos profundos que marcaram a

 

Primeira Republica moçambicana.

Na última estrofe dessa canção,

 salmodiava:

"Os frutos já vamos colhendo:

liberdade, pão e paz."

Essas palavras, entoadas com fervor

por gerações, eram mais do que

versos; um pacto, uma

promessa, um ideal pelo qual

Mondlane viveu e morreu. Hoje,

volvidos cinquenta e seis anos após o seu sacrifício,

olhamos para trás e nos perguntamos:

colhemos, de fato, esses frutos?

 

Liberdade: Uma Promessa Ameaçada

 

As liberdades que Mondlane sonhou e

que tantos outros deram a vida para alcançar

hoje ja não estão ameaçadas

por potências coloniais, mas pelas nossas

próprias incongruências e divisões internas.

Pela nossa incapacidade de criar consensos, de

dialogar, de construir juntos, o que corrói a

liberdade como cupins em madeira

antiga. Mas a liberdade não é apenas a

ausência de opressão: é também

responsabilidade. Não há liberdade

plena sem que sejamos senhores

das nossas vidas, sem que possamos

produzir o suficiente para atender às

necessidades básicas de cada moçambicano.

 

Dependemos ainda, em demasia, da

boa vontade externa, da ajuda que

chega com condições ou que é

retirada conforme interesses alheios.

Como podemos ser livres quando

nossas mesas dependem de um “sim”

vindo de fora? Não há liberdade

quando não conseguimos garantir o

pão com nosso próprio suor, nosso

trabalho e nossa criatividade coletiva.

 

Pão: O direito ao Necessário

 

O pão, metáfora do sustento e da

dignidade, continua sendo um

privilégio para poucos. Em muitas mesas

moçambicanas, ele falta. Em

algumas, sobra em excesso,

perpetuando uma oligarquia insensível

às necessidades da maioria. Mas o pão

só será suficiente quando deixarmos

de esperar por milagres e assumirmos,

como povo, a tarefa de garantir a nossa subsistência.

 

O sacrifício de Mondlane e de tantos

 outros heróis nos ensinou que

 independência política sem

 auto suficiência económica é uma

 liberdade incompleta. Trabalhar pelo

 pão para todos não é apenas uma

 questão de justiça, mas de

 sobrevivência nacional. É um chamamento

 à solidariedade, à construção de uma

 economia capaz de responder às

 necessidades reais do povo.

 

Paz: O Maior Anseio

 

Por fim, a paz, o maior dos frutos,

 continua a nos escapar. Conflitos

 velados e abertos nos dividem,

 ameaçando não apenas a nossa

 estabilidade, mas nossa própria

 identidade como nação. Esses

 conflitos, alimentados por ambições

 pessoais, disputas políticas e

 desigualdades estruturais, impedem

 que nos sentamos à mesa como

 irmãos.

 

A paz verdadeira não é apenas o

 silêncio das armas, mas a construção

 de uma convivência harmoniosa,

 baseada na justiça e na igualdade.

Sem paz, nenhuma liberdade é segura,

 e nenhum pão pode ser

 compartilhado.

 

O legado de Mondlane: Um Apelo a Ação

 

Lutar por Moçambique hoje é mais do

 que recordar os heróis do passado. É

 continuar a luta pela liberdade, pelo pão e

 pela paz. É assumir a responsabilidade,

 como cidadãos, intelectuais, políticos

 e jovens, de transformar sonhos em

realidade.

 

É garantir que a liberdade seja

 sustentada pela nossa capacidade de

 sermos auto suficientes. Que o pão

 seja fruto do trabalho coletivo e esteja

 na mesa de todos. E que a paz seja

 conquistada pelo diálogo, pela justiça

 e pela reconciliação.

Celebrar Eduardo Mondlane e os

 heróis moçambicanos não é apenas

 lembrar os nomes deles, mas honrar os seus

 ideais. É continuar a luta, custe o que

custar, para que Moçambique seja,

enfim, um país onde a liberdade seja

 plena, o pão seja suficiente e a paz

seja duradoura.

 

Lutemos, então, com coragem e

 unidade, pois o sonho de Mondlane

não pode morrer. A luta continua.

 

Severino Ngoenha

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As pragas do Egipto continuam a cair sobre nós, a última dos quais foram as calamidades que se abateram sobre as províncias do Norte, Cabo Delgado, sobretudo, e a província de Nampula. 

 

Parece sermos um povo que seja destinado a lamentar-se, a ler o livro das lamentações, e a ter que fazer um exame de consciência e perguntar o que fizemos ao bom Deus e ao mundo para que todas as pragas caiam sobre nós. 

 

Mas de vez em quando temos boas notícias. 

 

As meninas da UP foram campeãs regionais. As meninas do Ferroviário ganharam o Campeonato Africano de Basquetebol. São notícias que nos confortam e alegram o nosso coração que tanto precisa. 

 

Ontem, o Venâncio Mondlane, no seu encontro, como foi noticiado, com parlamentares da União Europeia, disse ter falado pela primeira vez com o Presidente Nyusi. Esta é uma boa notícia. Pegamos pela parte positiva, e é isso que conta, é que eles estão a falar. Nós agradecemos e encorajamos que este processo de diálogo possa continuar e que possa chegar a um bom fim, para que se encontre uma normalidade nova, quer dizer, transformada, que pretenda reformar tudo que é possível que tenha que ser reformado, mas que essa reforma se faça em paz. 

 

Volto ao dilema de Kant. A ideia de que a revolução e as transformações são necessárias, mas que a gente tem que encontrar maneira para que elas se façam de maneira pacífica, sem perdas de vidas humanas, mais do que aquelas que já perdemos, quer por baleamentos, quer por motins, ou quer até por doenças, pessoas que não conseguiram chegar ao hospital, até para serem curados. 

 

Viva este diálogo, que ele continue e que nos traga frutos. Nós moçambicanos estamos esperançosos e fazemos todo o barulho, como os "tifosi" no futebol, para que esta partida onde se joga a nossa vida, o nosso futuro, continue e que chegue ao bom termo. 

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