Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Blog

segunda-feira, 19 outubro 2020 08:30

As Cinzas do Zambeze. Ode a professora Stela Duarte

Assim, do nada, se fez o silêncio. Condoído e melancólico. Inexplicável. No mês do professor, terminava uma viajem que parecia infinita, duma das mais profícuas e renomadas professoras que a própria Universidade Pedagógica ajudou a professorar. O vocabulário da exaltação será sempre restrito e, quiçá, repetitivo para expressar a temporalidade, a dialéctica de metamorfoses, a viagem, e o erudito. As melhores expressões se converteram em lágrimas. Uma dor profunda e uma comoção abrasiva.

 

Para trás, e neste cenário de incredulidade, ficou um percurso de tantos, e essenciais, livros e outros textos conjuntos e colectâneas de natureza e conteúdo académico e educativo e, acima de tudo, uma história que passou tangencialmente, ou na profundidade, pela história de outros tantos estudantes, docentes e curiosos.

 

E nesse instante, terminou uma fascinante aprendizagem, cuja intenção se associava a disponibilidade para olhar o mundo que nos envolve, saber escutar e, sobretudo, caminhar junto da natureza no universo das suas diferentes formas.

 

No ano em que a Universidade Pedagógica de Maputo, mais extensa ou confinada, celebra o seu 35º aniversário, a nossa professora Stela Mithá Duarte, também se aproximou das 35 publicações, dos 35 estudantes que orientou, das 35 conferências que organizou, dos 35 cantos da universidade que amou e dos 35 tectos que edificou. Essa, a marca do reconhecimento e da grandeza de um talento que, indelevelmente, ficará para os anais desta instituição que são o produto da revolução do 25 de Setembro, das vitórias e dos sacrifícios da independência nacional, da coragem e bravura dos melhores filhos desta pátria.

 

Celebramos os 35 anos de uma universidade que, na sua dimensão territorial, regional, cultural, educacional e científica, uniu e formou moçambicanos de todas as raças e etnias, das classes sociais mais desfavorecidas, das classes médias e abastadas, estrangeiros, e primou por manter presente essa busca incessante pelo conhecimento, pela pesquisa e pela extensão. A professora Stela formatou esse restrito grupo movido pelo ideal do olimpismo universitário que procurou ensinar mais, publicar mais e elevar o brilho de um país que procura o seu reencontro.

 

Nesta ode, não são as memórias ou as fases institucionais mais importantes, que devem ser restauradas. Serão antes, as energias que ao longo dos anos preencheram suas alegrias, os dissabores que a entristeceram, os debates que acalorou e, principalmente, as virtudes que foi estimulando e que engrandeceram este longo percurso que ainda terá de ser palmilhado. A professora Stela era essa líder. Serena e resguardada, que sabia orientar e iluminar as mentes mais controversas e brilhantes.

 

Devolvemos o seu corpo à terra no dia do professor, na semana onde as festividades se confrontam com as vicissitudes, nos momentos em que um país inteiro é chamado à reflexão, como se as nuances educativas continuassem desconhecidas ou carecidas de debates. E sob a capa da chuva miúda e teimosa, transformamos o seu corpo em cinzas. Essa cinza, do seu corpo, que é conhecimento e que vai descer rio a baixo, por toda a extensão do Zambeze, contemplando a Chupanga de David Livingstone e desaguando nas ensobradas águas do Índico. Esta foi a sua vontade, e estas cinzas também são a história. O Zambeze se converte no rio de todas as nossas emoções.

 

O Zambeze se transformará num rio de energias e conhecimento secular e, igualmente, num rio universitário. As águas que nos roubaram uma companheira sóbria, destinta, amiga de todos e companheira de todas as ocasiões.

 

Ninguém te pede para repousares em paz, professora. Os verdadeiros professores não repousam. Não podem repousar, enquanto existirem pesquisas para escrever, enquanto não nos reconciliarmos como moçambicanos, enquanto existirem crianças e adultos analfabetos, enquanto os tabus superarem a ciência, enfim, enquanto os dissensos forem bem maiores que os consensos. A professora Stela partiu como viveu. Comungou o espírito de reconciliação. Nasceu muçulmana, cresceu católica e hindu. Na hora da partida, comungou estas três religiões, para que a sua alma pudesse partir reconcialiada. Apenas o seu corpo deixou de estar no nosso seio. (x)

« Embora os jovens sejam demograficamente dominantes, a maioria vê-se a si própria como membros de uma minoria proscrita...» [Sommers, 2015, 3].

 

É comum dizer-se que maior parte da violência mundial – em espaços públicos ou espaços privados, bem como em conflitos ou guerras – é levada a cabo por homens, muitas vezes jovens. De facto, não parece ser difícil perceber por que razão de forma reiterada vemos surgir debates que procuram avaliar os desafios enfrentados pelos jovens em várias esferas. Provavelmente uma das razões esteja num fenómeno demográfico conhecido como o ‘’inchaço da juventude’’, que significa a existência de uma proporção invulgarmente elevada de jovens numa população adulta, uma realidade que implica a presença de uma situação anormal que pode piorar: uma população jovem ‘’protuberante’’ apta para ‘’explodir’’, sendo que a violência extrema é tida como uma dessas consequências (Honwana, 2012; Sommers, 2015; 2019).

 

O fenómeno do ‘’inchaço juvenil’’ inspirou cativantes correlações estatísticas. Em geral, elas detalham como a presença de grandes números de jovens em vários países pode levar a resultados inquietantes e talvez devastadores. As correlações entre elevadas proporções de jovens e os obstáculos ao desenvolvimento alimentam um círculo vicioso de más oportunidades de vida para os esses mesmos jovens, alertou, por exemplo, o Fundo das Nações Unidas para a População, em 2014. Uma publicação da mesma agência destaca ‘’a correlação global entre as elevadas proporções de jovens na população e o baixo estatuto económico e de desenvolvimento nacional’’ (idem: 9). Outras correlações centram-se na percepção de uma tendência para a violência por parte dos jovens, sendo que tais ideias foram amplamente difundidas por Samuel Huntington (1993) e Robert D. Kaplan (1996, 2000), e continuam a ter ressonância. ‘’As chamadas ‘bolhas juvenis’’’ (Uri Friedman, 2014) ‘’podem alimentar a instabilidade (especialmente quando tantos dos jovens de hoje estão desempregados e economicamente marginalizados)’’.

 

Contudo, Sommers (2019) observa que a correlação entre a demografia da(s) juventude(S) e a instabilidade política – e a tendência relacionada de ver a(s) juventude(S) masculina(s) como inerentemente perigosa – tem sido posta em causa. (1) A maioria dos países com população jovem em expansão não tiveram grandes conflitos. (1) Muitos desses países que viveram uma guerra não voltaram ao conflito (Sommers, 2011); (2) Há estudos que indicam que grande população jovem nas cidades reduz o risco de distúrbios sociais. Como Urdal e Hoelscher demostraram em alguns países de África, ‘’o crescimento da população jovem dos 15-24 anos está associado a um risco significativamente menor de perturbação social’’ (2009, 17); (3) A presunção comum de que os jovens desempregados provocam tumultos violentos tem sido questionada, uma vez que a ligação é difícil de provar (Cramer, 2010; Izzi, 2013; Walton, 2010). Um estudo do Mercy Corps, por exemplo, ilustrou que os factores de violência juvenil estão directamente ligados a questões de má governação e exclusão, do que ao desemprego (Hummer, 2015).

 

Associar juventude(S) e o conflito violento extremo pressupõe uma tarefa que parece fácil a partida, mas estamos diante de uma realidade ampla e vaga sem saber de facto o que significa.  O que chamamos de juventude(S) pode ser uma faixa etária ou uma fase da vida entre a infância e a vida adulta.  A idade relatada dos jovens que entraram em organizações extremistas violentas é variável, mas razoavelmente consistente, parecendo a maioria estar no final da adolescência ou na casa dos 20 anos. No entanto, o desafio de atingir a idade adulta permanece para muitos jovens: até ganharem reconhecimento social como homens e mulheres, podem ser vistos como jovens na casa dos 30 e mais anos. Do mesmo modo, há debates sobre o que constitui um grupo extremista violento.

 

Em vários países e culturas, ser jovem representa o período de transição da infância para a idade adulta (Sommers, 2015).   No entanto, quando as definições culturais de juventude(S) e idade adulta são aplicadas à era actual, surgem problemas graves e significativos.  A razão é simultaneamente simples e alarmante: em grande parte do mundo, é cada vez mais difícil obter o reconhecimento social como adulto. Tradicionalmente, há tarefas que devem ser realizadas antes das sociedades atribuírem o título de ‘’homem’’ ou ‘’mulher’’ a um jovem.  Eguavoen (2010) enumera as principais tarefas ou expectativas como o casamento, a fundação de uma família, e o apoio à família (pais e filhos) ao longo do tempo.

 

Como pré-requisito para o casamento, os jovens do sexo masculino nas zonas agrícolas em alguns países do continente Africano podem necessitar de terra para construir uma casa, enquanto os seus homólogos nas zonas urbanas podem necessitar de um rendimento estável e de habitações adequadas para ter uma família (Sommers, 2015). Os ‘jovens machos pastoris’ devem frequentemente fornecer um número negociado de animais como ‘preço’ para ter a noiva. Por exemplo, no Sul do Sudão, o gado é muitas vezes o elemento que figura nas negociações de ‘preço de noiva’. Como explicou um jovem pastoril no Sul do Sudão: ‘’Não se pode casar sem vacas... e não se pode ser chamado homem sem vacas’’ (Sommers & Schwartz, 2011: 4). No mundo exigente de hoje, tais realizações elementares podem ser excepcionalmente difíceis de conseguir.  Como observa Eguavoen (2010), ‘’O grupo de pessoas que não se tornam adultos sociais [ou seja, pessoas reconhecidas na sociedade como adultos] devido à pobreza está constantemente a crescer em número, bem como em idade’’.

 

Podemos partir da aceitação que a maioria dos jovens é propensa para aderir ao conflito, sobretudo se notarmos que a esmagadora maioria das pessoas que se tornam extremistas violentos são jovens – parte significativa dos quais são homens. Assim, o desafio no centro do conflito violento extremo é, portanto, invulgar: identificar a fracção da população jovem com maior probabilidade de entrar num conflito violento extremo e frustrar essa opção.  Por exemplo, quando se faz um trabalho com ex-combatentes, mulheres, homens e jovens afectados por conflitos em várias partes do mundo, temos visto noções preconcebidas sobre quem são os jovens que os empurram frequentemente para a violência.

 

Historicamente, os decisores políticos, os adultos e as agências internacionais vêem frequentemente os jovens como vítimas indefesas ou como problemas à espera de acontecer.  Em qualquer destas representações simplistas, despojamos os jovens da sua humanidade e complexidade, e depois implementamos com demasiada frequência políticas e programas mal orientados.  Na verdade, nas nossas representações simplistas sobre os jovens, por vezes inadvertidamente alimentamos a ocorrência da própria violência que esperamos prevenir. Sommers (2019) vai notar que as respostas dos governos aos seus próprios jovens são geralmente pouco impressionantes: (1) a dissensão pacífica é frequente e severamente constrangida ou proibida; (2) as oportunidades de emprego fora dos sectores económicos informais tendem a ser escassas; (3) a oferta de educação é frequentemente insuficiente (particularmente depois da escola primária); (4) os serviços e alojamento para a população em expansão de jovens migrantes urbanos são rotineiramente inadequados; (5) as oportunidades políticas para os jovens podem não passar de uma filiação em partidos subordinados; e (5) estatuto social da(s) juventude(S) (já referido anteriormente) é ténue e frequentemente embaraçoso.

 

Se quisermos olhar para o tecido demográfico, podemos verificar que a maioria dos jovens, mesmo em sociedades profundamente conflituosas, não se juntam a grupos extremistas.  No entanto, a maioria dos que se juntam a grupos extremistas são jovens, e geralmente jovens do sexo masculino. A violência extremista prospera na nossa ignorância sobre a vida dos jovens e sobre as suas vozes e aspirações, bem como na nossa falta de compreensão sobre como normas rígidas de género moldam as suas identidades. Assim, hipoteticamente, as soluções para a violência extrema ou violência juvenil de qualquer tipo, só serão encontradas quando ouvirmos e compreendemos de que juventude(S) estamos a falar, o que não se mostra tarefa fácil. Provavelmente quando deixarmos a(s) juventude(S) conduzir(em) suas próprias soluções, e quando simultaneamente apoiarmos as jovens mulheres e os jovens homens a encontrar a empatia, a ligação, e as identidades pacíficas pelas quais anseiam.

 

Depois do referido acima, algumas questões nos parecem centrais para o debate: (1) o que, precisamente, exclui ou marginaliza um jovem nos locais onde ocorre a violência extrema? ; (2) quem se preocupa com a(s) juventude(S), e quem é que a(s) juventude(S) venera? ; (3) o que significa ‘’comunidade’’ para os jovens, e a que comunidades pertencem? ; (4) qual é a sua opinião e o seu envolvimento com os líderes locais, agentes da polícia e funcionários do governo? ; (5) o Estado ou outras forças estão a dirigir a violência e a ameaçar o seu caminho? ; (6) como é que o Islão (ou outras crenças religiosas) figura na sua vida e nas suas ideias? ; (7) quais são as suas perspectivas de vida? ; (8) como é que as questões de classe e género esculpem os seus

 

pontos de vista e planos futuros? ; (9) que razões empregam os jovens para resistir ao envolvimento na violência e no extremismo? ; (10) finalmente, talvez a questão mais importante de todas: como é que os jovens ganham aceitação social como adultos – e o que acontece se falharem?

 

Um debate por continuar...

 

Referências centrais:

 

Honwana, A. (2012). The time of youth: Work, social change, and politics in Africa. Sterling, VA: Kumarian Press.

 

Sommers, M. (2015). The outcast majority: War, development, and youth in Africa. Athens, GA: University of Georgia Press.

Inaugurada no dia 09 de Outubro de 2020, na antiga Vila Pery, hoje Chimoio, capital da província de Manica. A nova filial do Banco de Moçambique (BM) foi bastante celebrada e publicitada até que um dia foi surpreendida com uma chuva e relâmpagos que em menos de 15 minutos causou vários danos, entre eles, o tecto do auditório, donde chovia como se não existisse tecto no edifício.

 

O vídeo, sobre o facto, viralizou-se nas redes sociais e órgãos de comunicação social. Vários debates sobre a qualidade das obras voltaram a ser reactivados, numa sociedade marcada pela constante má-qualidade de infra-estruturas públicas devido aos ajustes directos ou negociatas.

 

Entretanto, para os cidadãos do planalto o problema era outro. É que todas as obras de edifícios em Moçambique são antecedidas por uma cerimónia tradicional; e em Chimoio essas cerimónias são realizadas ou dirigidas pela rainha Nhaucaranga; no caso da filial não se fez presente na inauguração. Os “maniqueces” não gostaram da situação que para além do tecto aberto, reclamam o facto de o recrutamento, para se trabalhar na filial, ter sido feito em Maputo como se lá não houvesse quadros formados.

 

Nas ruas de Chimoio a juventude protesta a exclusão silenciosamente. Os jovens que lavam e gerem carros estacionados nos passeios próximos a filial já vêem o seu pão a fugir, até porque no próprio dia da inauguração existiram alguns atritos entre os residentes e os brutamontes engravatados dos dirigentes presentes naquele acto.

 

No planalto diz-se que no dia da inauguração da imponente infra-estrutura, o administrador de Chimoio, o Secretário provincial dos camaradas, o presidente da Assembleia provincial e outras figuras da cidade do planalto foram impedidas de participar do evento. Tendo ficado em pé do lado de fora, porque alegadamente não havia espaço para eles; havia espaço só para os “vientes”. No planalto conta-se que até alguns escribas locais foram impedidos de fazer a cobertura do evento.

 

A exclusão da rainha Nhaucaranga já começou a ter consequências nefastas; antevendo-se outras realidades tristes, caso os donos da terra continuem a ser excluídos das oportunidades e de saudar os visitantes!

 

 

Respeitem os donos de casa!

sexta-feira, 16 outubro 2020 07:29

Vamos ajudar o Manuel Chang

Segundo o jornal 'Canal de Moçambique' desta semana, o nosso compatriota Manuel Chang está a pedir referências das melhores cadeias dos Estados Unidos para viver. Ele quer informações da área das celas e da composição nutricional das refeições. Quer saber se as cadeias de lá têm ar condicionado e colchões 'king' com 'djuveti' dele. Quer saber se têm um 'personal-treina' para lhe endurecer os bíceps. 

 

Vamos ajudar, piplo! Por exemplo, quem souber de uma cadeia que tenha celas com vista para o mar, piscina e alpendre de capim sul-africano pode dizer. Uma cadeia onde é permitido fazer safari e pesca desportiva. Até quem souber de uma cadeia em que ele pode ter direito a férias também pode partilhar. 

 

É uma ajudinha, irmãos, não custa nada. Solidariedade dele que falam, então, é isso mesmo. Logo um homem como o Chang, que tanto fez para levar o nome de Moçambique ao epítome da gatunagem mundial! Ele merece.

 

Tudo pode ser útil, gente. É bem possível que em Nova Iorque exista uma cadeia com Bilene, Tofo e Macaneta lá dentro. Ou uma que tenha Dubai. Também quem souber da existência de uma prisão em que ele pode continuar a ser ministro, com direito à segurança, motorista, A-Dê-Cê e um Mercedes preto pode dar o endereço. Não podemos permitir que a pose do nosso compatriota caia. É um cidadão de alto padrão. 

 

Tio Zandamela, ajuda lá aí. Será que nos 'esteites' não existem calabouços com chuveiros nos candeeiros? É para o nosso irmão Chopstik. A propósito, quem souber de um presídio em que ele pode abrir o seu próprio banco comercial, pode dar as coordenadas também. Vamos ajudar o Chang! Amigo é quem ajuda, já dizia o Deni-Ó-Dji.

 

- Co'licença!

quarta-feira, 14 outubro 2020 06:49

A caverna da morte

Margareth Uambo, menina linda, nascida na terra de Agostinho Neto em Kaxikane, município de Icolo e Bengo, em Angola. Jovem inteligente e dedicada com atributos corporais e faciais extraordinários. Logo cedo, a mangolé apaixonou-se pela medicina tendo em 2012 conseguido uma bolsa de estudo, uma vez que era uma extraordinária estudante. A bolsa da Margareth levou-a a Argélia.

 

Na Argélia tudo corria bem, boas notas, comportamento escolar bom e todos os outros aspectos sociais e financeiros seguiam em bom ritmo, até que numa triste e amarga noite do ano de 2016, a Margareth Uambo que regressava de mais um estágio cruzou com três jovens argelinos, tendo um dado uma palmada na sua "tesuda bunda"; a Margareth sorrindo, reparou aos jovens e afastou-os com desprezo. Entretanto, os argelinos são famosos por serem agressivos, frios, violentos, extremamente tesudos e calculistas, mulherengos, xenófobos, racistas, "assassinos e até terroristas".

 

Após terem batido no traseiro dela e ela ter os mostrado desprezo, os três jovens aproximaram mais o carro até a Margareth, pegaram no braço dela e começaram arrastá-la com o carro a uma velocidade de 180km/h. No passeio, onde a Margareth Uambo foi pega pelos rapazes, estavam lá alguns policiais que a princípio viram o acto como normal, mas logo que começou a barbárie, imediatamente accionaram a polícia de intervenção rápida local que foi atrás dos jovens.

 

Foram capturados os jovens. A Margareth toda ferida, aquela pele negra toda linda raspada e a cabeça a milímetros para que o cérebro sai-se. A Margareth não aguentou, morreu a caminho do hospital e o corpo chegou a Kaxikane sem a cabeça, porque a mesma separou-se do corpo durante o processo do transporte ao hospital. Estranhamente, os jovens capturados foram soltos, porque mataram uma pessoa de cor negra que na tradição deles são pecadores por isso Deus (Allah), os castigou dando-lhes a pele negra.

 

Os assassinos da Margareth não pensaram na família dela. Nos sonhos e projectos dela. Na missão que o governo angolano tinha para ela. Nas crianças, mulheres e idosos da pacata e esquecida Kaxikane de Agostinho Neto. Eles não pensaram que o curso que ela estava a fazer iria revitalizar o sector de saúde na sua comunidade, onde as mulheres morrem em bichas nos hospitais por falta de atendimento.

 

Em Blida, em 2016 vivia um jovem lindo, inteligente e dedicado de nome Shameer Mukhuta, estudante de engenharia química. Shameer era argelino, muçulmano e homossexual. Todas as moças apreciavam a sua beleza, mas não sabiam da sua opção sexual. Os colegas da república estudantil descobriram o outro lado de Shameer, convenceram-no que também eram da mesma "laia". Marcaram um encontro a três. Shameer Mukhuta pensando que aquele seria o dia "H" na satisfação dos seus desejos carnais, acabou por se tornar num filme de terror.

 

Chegada a hora, Shameer dirigiu-se ao quarto dos supostos colegas, onde acreditava que sentiria um prazer raro no seu país. Horas depois, as pessoas encontraram o corpo de Shameer sem vida, a cabeça separada do corpo e com uma escrita em francês estampada na parede que dizia: "Ici, nous ne tolérons pas les gays car ils sont des fruits du diable"; traduzindo - "Aqui não toleramos gays porque são frutos do diabo".

 

Contrariamente, ao caso da Margareth Uambo, o de Shameer Mukhuta foi bastante mediático e debatido nos canais da Argélia, houve repúdio por tudo que era canto daquele país. Os assassinos face a repercussão tiveram que colocar-se em fuga porque caso fossem detidos teriam pena de morte. As fotos circularam por toda imprensa com a escrita "Wanted"- "Voulait" que em português significa "Procurado".

 

Um tempo depois, trouxe-se a público que Shameer era homossexual e os assassinos foram encontrados. Diante desta nova realidade, os mesmos foram apenas obrigados a indemnizar a família Mukhuta e o caso foi encerrado e ficou como mais um…

 

Com a guerra na Síria, um país asiático com governação e cultura islâmica. Na Argélia, um grupo de jovens estudantes começou um movimento de recolha de assinaturas contra a guerra que mobilizou países com poder militar e armamentista pesado, como a Rússia e os Estados Unidos de América (EUA). Os jovens pretendiam ter aprovação para fazer barbaridades contra embaixadas pró-americanas por supostamente estas estarem a apoiar a morte dos sírios que na óptica deles tinham razão…

 

Os jovens estavam dispostos a tudo. Até de explodirem-se no meio da multidão, em autocarros, em universidades ou em aviões. Entretanto, para poder amealhar mais assinaturas, os mesmos andavam armados e com paus nas mãos de quarto em quarto, rua em rua, casa em casa, recolhendo assinaturas e caso alguém recusasse então teria um "fim nebuloso" e em alguns momentos perguntavam as pessoas de que religião eram, caso não fossem muçulmanos, o fim já era sabido.

 

Em Blida, os cidadãos da raça negra morrem e nada é feito. A impunidade, o preconceito, o racismo, os assassinatos e a fobia por outras religiões tornaram esta e outras cidades daquele país numa "caverna da morte". Facto é que duas estudantes zimbabuanas foram mortas; uma em situação estranha e a outra devido a propinas escolares; alguns estudantes foram explodir no ónibus.

 

Que o diga Abdelaziz Bouteflika, ex-presidente da Argélia, que passou diferentes epítetos familiares, sociais e políticos até chegar andar na cadeira de rodas e ver um avião com 300 passageiros explodir porque alegadamente as manifestações para a sua queda não estavam a surtir algum efeito.

 

A diferença entre a caverna da morte e as outras é que lá os casos são rapidamente abafados na mídia porque tudo se tornou num status quo nacional e nos outros países viralizam acabando por paralisar uma nação poderosa e com força policial reconhecida como assassina.

 

Rest peace, à todos que morreram por ser diferente!

 

Texto escrito baseando-se em conversas constantes e histórias contadas por estudantes moçambicanos na Argélia.  

segunda-feira, 12 outubro 2020 05:41

Stélio Craveirinha, peço perdão!

Dizem que perdeu a vida, ontem, um cidadão chamado Stélio Craveirinha. Dizem que era moçambicano. Dizem que nasceu em 1950. Dizem que era filho de José Craveirinha, o nosso poeta-mor. Dizem foi um atleta e amante ferrenho do atletismo. Dizem que participou dos Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1980. Dizem que alcançou a fasquia dos 6,94 metros nas eliminatórias do salto em comprimento. Dizem que foi um recordista. Dizem que foi o primeiro treinador da Lurdes Mutola, a nossa Menina de Ouro. Dizem que também treinou a Argentina da Glória. 

 

Tudo isso está a ser dito agora que ele morreu. Homenagem 'post mortem'. Um currículo patriótico e nacionalista sendo promovido no obituário. E as pessoas querem que os moçambicanos chorem a morte deste patriota e nacionalista que perdeu a vida no anonimato assim como choraram a morte do basquetista norte-americano. Hoje, Stélio Craveirinha inundou os noticiários. Daqui a pouco havemos de ver mensagens do Chefe do Estado exaltando a sua memória. Até dos dirigentes desportivos. Vai ter um funeral cheio de gabarolices do Estado.

 

Como é que um cidadão com o pedestal do Stélio, como hoje se fala, não era conhecido? Eu - modéstia a parte - sou um cidadão informado, mas nunca ouvi falar do Stélio. Um homem que marcou o desporto nacional morreu aos 70 anos sem um único parágrafo para a posteridade. Hoje, dizem que 'o desporto moçambicano perdeu uma das suas figuras emblemáticas e carismáticas que muito contribuiu para o desenvolvimento do atletismo nacional'. Palhaçada!!! Que 'figura emblemática'!!! Quem 'emblemou'?! Quando?! Como?! Carismática?! Aí é?!

 

Não conseguimos promover os feitos do Stélio em vida, mas temos a coragem de gastar o erário público construindo estátuas de um indivíduo que foi desconfiado de ter disparado o tiro inaugural da guerra libertária. Desconfiado porque agora temos sérias dúvidas desse tiro de abertura. Hoje é apenas um indivíduo suspeito de ter iniciado uma guerra que já tinha iniciado. Se calhar estamos a exaltar narrações sobre um fulano que as zero horas daquele histórico dia de Setembro estava a beber 'cabanga' algures nas margens do Rovuma e sequer chegou a ir a tal emboscada. Pois é! Não conseguimos dar ao Mister Stélio a sua mais do que merecida página na nossa história (desportiva) quando a imprensa pública passa a vida a reproduzir epopeias mal contadas de heróis gananciosos. 

 

Dói a alma, juro! Gostaria de falar do Stélio com a mesma propriedade que falo do Samora, do Guebuza, do Mondlane, do Chipande, do Nhangumele, da Lurdes, do Eusébio, do Chang, do Chissano, do Malangatana, do Salimo, e doutros 'heróis'. Pelo que se conta, Stélio Craveirinha é um professor. Gostaria de mandar um 'RIP' encharcado de emoção como aquele que mandei ao Kobe Bryant. Aqui na pátria a(r)mada, até a nossa Menina de Ouro só brilha em períodos de campanha eleitoral. Somos especialistas em apagar histórias e pintá-las quando nos convém.

 

Infelizmente, Mister, muitos dos nossos heróis foram deliberadamente arrancados das páginas da nossa História. Talvez, por isso, as nossas enciclopédias estão repletas de heróis que têm medo de ir à África do Sul. Heróis que não conseguem olhar para Mahindra de frente. Na verdade, os nossos livros de História são autênticos mandados de busca e captura. Os nossos compêndios de História deviam já vir com uma ordem de prisão para os personagens na contracapa.

 

Enfim, desfrute do seu eterno descanso Mister Stélio! É lhe merecido, depois de longas corridas e altos saltos. Peço perdão, professor, por não ter te conhecido! É o país... onde morres ainda vivo. O país do politicamente correto. 

 

- Co'licença!