Um lutador inconformado. Mas o lutador jogando dentro das regras da decência. Ele até chegou a dizer os anos que eu teria de passar ao seu lado para amadurecer e chegar a tal estatuto. Ele acreditava que eu podia. Eu desconfiava. Depois da tragédia do 22 de Novembro de 2000 parti para outras trincheiras. Estudei um pouco mais. Juntei jornalismo com academia. Fundei uma organização. Fiz pesquisa. E quando as redes irromperam me empoleirei numa delas para exprimir minha cidadania. Foram anos a fio. Hoje regresso. Quando me decidi fundar outra coisa de raiz (tal como fiz com o CIP), há quatro meses atrás, sondei por uma motivação que me desse esse impulso e libertasse minhas energias criativas. O que senti lá no fundo correndo nas veias foi espírito do editor orientando os meus sentidos. Me transmitindo sua capacidade de trabalho. Sua paixão pela escrita. Seu rigor ético. Seu religioso respeito e proteção pelas fontes. A Carta de Moçambique, decidi, era mesmo a minha derradeira homenagem ao editor.
O jornalismo moçambicano precisava de uma coisa diferente. Creio que consegui criar as condições básicas para que essa coisa exista. É um desafio enorme. Uma ventura tipicamente empresarial, sem doações à partida, mas com um registo inapagável de interesse público. Para defender a liberdade e a democracia. Lançar o jornal no dia 22 de Novembro é uma honra bastante. E uma responsabilidade enorme. Hoje, a Carta de Moçambique começa uma jornada sem fim. Decidimos que seria um lançamento sem pompa nem circunstancias sob reluzentes candelabros e buffets de luxo. A melhor imagem que eu e a equipa decidimos vestir hoje é a de um grupo de operários de mangas arregaçadas. O champanhe, vamos abrir a 22 de Novembro de 2019. Em homenagem ao editor Carlos Cardoso.