Filipe Nyusi deve mesmo perder algum tempo com os Nhongos da Renamo, resquícios do lado mais sinistro do “pai da democracia”, Afonso Dhlakama. O Presidente Nyusi entrou nesta empreitada de pacificação com um profundo registo anti-bélico e é assim que deve continuar até ao fim: negociar com os homens.
Ao contrário do que muitos consideram, os Nhongos da Renamo não são apenas produto das desavenças internas no movimento rebelde. E de nada vale agora, nos grudarmos numa plateia horripilante de cinismo, incapazes de gesticular a linguagem da paz sem balázios nas kalashes, só porque nos enche o ego constatar que, afinal, a Renamo era uma turma heterogênea de ambição e ganância.
Aliás, o Nhongos da Renamo são também produto dos sucessivos Governos da Frelimo. Desde as eleições de 1999, quase perdidas pelo partidão, que o Governo e Dhlakama engendraram uma fórmula de paz podre. Dhlakama vociferava e a Frelimo, consciente das maracutaias eleitorais, lá abria os cordões à bolsa. Joaqum Chissano foi exímio na monetização dessa paz podre, pensando que era o caminho do fim da Renamo bélica. Mas não!
Dhlakama usou esse estratagema para perpetuar sua guarda canina. E esgrimir a linguagem do regresso à guerra para arrecadar mais uns tostões do Governo virou um “modus vivend” da sua tropa. Por isso é que ele nunca quis fazer política sem armas em Maputo. Os Nhongos da Renamo beberam profundamente de suas táticas. E estão a usá-las novamente. Lançar a ameaça de pânico para buscar uma recompensa.
Mas é claro, hoje, que os Nhongos tem a consciência de que chegaram ao fim da linha. Com o acordo precário assinado por Ossufo Momade, eles pretendem uma saída airosa das matas: dinheiro. Filipe Nyusi não tem outra opção senão dar largas à sua diplomacia de paz. Falar com os Nhongos, pagá-los e desarmá-los de uma vez por todas. Para o PR, não há outra saída airosa. A não ser que ele queira pintar de sangue esta etapa derradeira de um consulado onde uma pacificação sem violência foi sua jóia de coroa.
Agora percebo que toda esta imaginação que hoje vivo é uma realidade. Uma tormentosa realidade. Diferentemente do tempo em que eu era a rainha desta terra, vivendo por cima de todo o chão. Desprezando as minhocas, pisando-as sem misericórdia, dizendo sem reservas que nada de mal me aconteceria. Mas no fundo eu era a Dambóia, irmã do Ngungunhana, semeando espinhos em todo o lado.
Estou abraçada, por não ter abrigo, a uma rocha que me rasga as mãos até ao sangramento. Porém, paradoxalmente, tenho empregados e mordomos que se revezam diariamente neste palácio onde moro cercada de ouro e diamantes, sem falta de nada. Mesmo assim os temporais incessantes não me poupam. Varrem-me em cada passo que tento dar na fuga de mim mesmo. Sou um lagarto desesperado, na luta inglória pela escalada das lindas paredes da minha casa, debroadas de rubis.
Mas isto já não é casa. É uma clausura, onde passo as noites sem sentir o cheiro aspergido pelas alfazemas trazidas da Etiópia. Perdi o olfacto. Estou nua por dentro da alma, sem vestimenta, apesar das roupas confortáveis que agora não valem nada depois de tudo isto. Desdenho-me em todo o ser. Repugno-me. E pior do que isso, as cobras enchem-me o quarto em substituição do tapete de veludo que adquiri sem o merecer. O medo ri-se de mim, enquanto de longe, como cavaleiros do Faraó, desembucham sobre mim as gargalhadas dos mochos.
Estas noites não podem ser uma alucinação. Na verdade sou eu, sentindo a penetração das esporas nas minhas vísceras, obrigando-me a trotear em rodopio no seio da própria tormenta. Já não sou a raínha. Sou uma mulher estranha perante os empregadose mordomos que sempre me temeram. O meu palácio é sombrio. Assombrado. Meu corpo e minha alma não estão quentes nem frios. Estão mornos. É por isso que se aproxima de mim toda esta bicharada. Fui vomitada pela vida.
Pena que eu não tenha copiado da sabedoria da formiga, e hoje estou aqui sem provento. Vazia. Abandonada. Tenho comida para mim e para os cães, e sobras para o Lázaro, mas a minha fome não passa. No fundo estou morta. Sinto que meu nome descerá para sempre com a minha carcaça. Não restarão lembranças de mim para as crianças. Muitos aspirrarão de alívio ao receberem a notícia da minha morte. Beberão o champanhe que nunca me faltou. E muito mais para festejar aquilo que eles agora desejam ardentemente: que eu sucumba. Isso é que me fulmina o ser todos o dias, nesta vida em que já não olho para o relógio, cujos ponteiros morreram como eu.
Nyongo & companhia é um problema de Ossufo Momade. Junta Militar da RENAMO é um problema da RENAMO. Não são assuntos da nação. São assuntos caseiros da RENAMO. São assuntos de indisciplina. São assuntos de falta de respeito entre generais do mesmo exercíto. São assuntos de hierarquia.
Nyongo é um assunto intestinal característico da RENAMO. Não é um assunto para Nyusi viajar às matas da Gorongosa, procurar um tronco seco para sentar e tirar foto e negociar um novo Dê-Dê-Ere e um acordo de paz paralelo. Nyusi tem muita coisa para fazer, uma delas é preparar a sua campanha.
Nyongo é um teste à diplomacia de Ossufo Momade. É um teste à capacidade de diálogo da RENAMO. É agora que Ossufo Momade deve mostrar o que aprendeu com Afonso Dhlakama. É agora que vamos saber quantos sapos Ossufo Momade consegue engolir.
Trabalho de Nyusi não é mediar traições nos casamentos, falta de pagamento de dízimos na igreja ou excesso de auto-golos no Moçambola. Nyusi não está disponível para qualquer vertebrado paulado. Este país não é só RENAMO e suas pancadas. Existem outros assuntos também pertinentes. Temos os insurgentes que precisam de mais atenção e análise. Temos a reconstrução pós-Idai que clama por mais sinergias. Temos uma parte do país a viver em 2040 que urge devolver. Temos leões virando veganos que precisam de um estudo sério. Temos o Chang que precisa de embarcar. Temos as eleições já à porta que necessitam de preparo. É tanta coisa urgente que deviamos deixar o Nyongo com o seu Momade.
Um coisa é certa: o slogan "com a FRELIMO e Nyusi Moçambique avança" nunca fez tanto sentido quanto está fazendo agora. O nível de desorganização da RENAMO é impressionante. A falta de agenda, então nem se fala. Quando a RENAMO não tem inimigos externos trata de arranjar internamente. Quando não tem pessoa para morder por perto, a RENAMO morde-se sozinha como um cão raivoso.
Por incrível que pareça, a RENAMO não consegue aproveitar os piores momentos do seu adversário. Nem consegue aproveitar os excelentes quadros de que dispõe. Quanto mais bons quadros ganha, mais maluco fica. É pior que os Mambas. Pelo menos Mambas perdem no minuto 92. Esses perdem antes mesmo do jogo iniciar. Quando o adversário está a aquecer, eles já marcaram uma dúzia de auto-golos bonitos de calcanhar, de cabeça, de biscicleta, de ancas. Nunca vi gajos que não mudam.
A RENAMO acredita que as dívidas ocultas vão votar a seu favor. A RENAMO pensa que decepcionar-se com a FRELIMO significa automaticamente voto para si. Puro engano! Procurem voto! Parem de atrapalhar e de se atrapalhar! Parem de fumar suruma molhada!
Entretenham-se com os Nyongos da vida, mas, faxavor, deixem o Nyusi preparar a sua vitória retumbante, asfixiante, qualquerizante, abusante e envergonhante!
- Co'licença!
Matematicamente falando, todos nós contribuímos para o bem-estar emocional dos nossos gatunos. Graças às dívidas ocultas, os nossos gatunos de estimação conseguiram boas mulheres. Boas damas. Muitos até casaram. Para ser mais franco, todos nós financiamos a felicidade destes compatriotas.
Financiamos, com dois bilhões e meio de "galinhas", a compra de Bi-Eme-Dablius, Mercedezes, Rolls Royces, Maserates, Ferraris, etecetera, para as "beibis" dos nossos estimados gatunos. Isso sem contar com aluguer de jactos e mansões para "férias" e lobolos. É bem possível que sem aqueles dólares o "love" não acontecesse.
Então, é bom que vocês, nossas cunhadas de estimação, nunca se esqueçam de nós. A malta também é da família. A malta é a peça fundamental das vossas paixões milionárias. Esses "Bi-Eme-Dablius" modelo "Eksi-six", essas mansões, essas roupas, aquelas viagens, aqueles lobolos cheios de cerejas que vos deram de presente saíram dos nossos bolsos. Aliás, ainda estão a sair dos nossos bolsos... à força. Não estamos a conseguir pagar, mas, pelo bem-estar emocional dos nossos gatunos, estamos a pagar assim mesmo à rasca.
Por isso, exigimos mais respeito de vocês nossas cunhadas. Quando encontrarem a vovó Aissa no mercado do Fajardo, com sacos de alface e couve na cabeça, parem e deem-lhe uma boleia nesse Bi-Eme. É uma das contribuintes da vossa felicidade. Está a rochar para pagar essa viatura aí. Não se façam tipo não sabem!
Os filhos que nasceram e os que vão nascer desse namoro financiado pelo povo são nossos sobrinhos também. Ensinem-lhes a nos respeitarem também. Somos todos primos, titios e avôs deles. Estamos todos a pagar as mensalidades dos colégios deles. Tivemos que deixar os nossos filhos em baixo das árvores para pagarmos os ar-condicionados desses nossos sobrinhos de estimação. Somos muito generosos.
O povo merece uma tatuagem nas vossas coxas. Compramos ambientes climatizados e jantares afrodisíacos. Compramos colchões medicinais e cobertores macios. Compramos enzoys e gonazololos. Compramos de tudo para proporcionarmos noites mágicas. Podemos dizer com firmeza que somos os donos dos vossos orgasmos.
A factura é altíssima. Uma factura de umas dívidas ocultas sexualmente transmissíveis. Dói. Dói, mas vale a pena. A felicidade destes gatunos é um imperativo nacional, e nós fizemos a nossa parte.
- Co’licença!