“Ao colocar de fora da Comissão Política do Partido Ivone Soares e Manuel de Araújo, figuras com capital político e potencial invejáveis, na minha opinião, o partido Renamo está a cometer um “suicídio” político, de forma mais infantil. Na política, não valem os nossos prazeres, mas aquilo que cada “peça” representa para o conjunto, lembrando que a província da Zambézia, sozinha, meteu em 2019 41 deputados, o que representa mais de 20%.
A Cidade de Maputo, gostemos ou não, passou a ostentar os emblemas do partido Renamo em apoio a Venâncio Mondlane e falo do círculo de debate político mais relevante. Entretanto, a Renamo, pura e simplesmente, hostiliza a figura que mais visibilidade deu ao partido. Nesta reflexão, não pretendo apoiar a candidatura de Venâncio ou seu partido, chamo atenção a algumas incongruências políticas que podem até elevar o orgulho pessoal de algumas figuras, no entanto, remetem o partido a um “suicídio” político anunciado. Reflictam!
Dos actos irreflectidos da Renamo, a Frelimo pode sofrer danos colaterais, por isso nada de abrir champanhe por antecipação. Não haja dúvidas de que Daniel Chapo será o nosso próximo Presidente da República, contudo, o resto pode precisar de muitos concertos e reflexões. Vamos reflectir, Moçambique é de todos nós.
AB
O recente Congresso do partido Renamo, em que o Presidente Ossufo Momade saiu vencedor no escrutínio para o Presidente do partido e os actos subsequentes mostram que o partido não está em condições de viver em tolerância democrática interna e demonstra, de forma grave, a intolerância política, ao ostracizar alguns quadros que, aos olhos de muitos, possuem um enorme potencial político e podem, querendo, fazer “dançar” a Renamo, sob liderança de Ossufo Momade. Na minha opinião, no partido, devem militar, não somente as pessoas que voluntariamente se inscrevem, mas o partido deve ser capaz de manter os membros relevantes e influentes dentro da esfera política!
Quando foi ao Congresso, a Renamo tinha um candidato “temível” para Ossufo Momade, neste caso o Venâncio Mondlane, que se revelou e se revela um autêntico “animal” político e, em contramão, um Ossufo Momade, cujo “capital” reside num passado que muitos não querem recordar, que é da guerra dos 16 anos, que a Renamo moveu contra o Governo de Samora Machel, Joaquim Chissano e porque não, contra o povo Moçambicano. O “capital” do General Ossufo Momade reside nas armas, algo que a cada dia fica ultrapassado. Veja-se na Frelimo, por exemplo, quem diria que o General na Reserva, Hama Thai, poderia estar de fora do Comité Central? Façam leituras, caros políticos!
Mas o pior veio na indicação dos membros da Comissão Política da Renamo. A Comissão Política que prescinde de uma concorrente à presidência do Partido, que fica em terceiro lugar, com 12% de votos, a Comissão Política que prescinde de um Presidente do Conselho Municipal de Quelimane, com todo o potencial político que tem e influência fora desta região política, certamente, concordarão comigo, quando digo das duas uma, falta de uma oficina política íntegra ou uma visão política míope!
Devo recordar que a Província da Zambézia, sozinha, neste mandato, meteu na Assembleia da República 42 deputados, contra o número anterior de 43, um influente num circulo eleitoral como este pode significar um autêntico “suicídio” político. Uma candidata que se queda em terceiro lugar, com 12% de votos, depois de todos os episódios que aconteceram no Congresso da Renamo, isto só pode ser do interesse de pessoas e não do partido e, por conseguinte, o partido pode vir a ser o maior perdedor nas eleições de 09 de Outubro de 2024.
Lembre também que a Cidade de Maputo contou com 13 mandatos nas eleições de 2019, contra os 16 nas eleições anteriores. Na Cidade de Maputo, o centro de debate político por excelência, o partido Renamo passou a ter visibilidade graças ao cabeça-de-lista para as autarquias locais, que é nada mais e nada menos que o rejeitado pela Renamo Venâncio Mondlane. Devo dizer que, depois das Autarquias de 2023, a Renamo, na Cidade de Maputo, passou a ter a visibilidade que jamais teve e a Renamo despreza esse facto.
Imaginemos num caso em que Venâncio Mondlane se torna candidato às presidenciais. Imaginemos que o Presidente do Município de Quelimane o apoia, como parece ser. Imaginemos que a terceira mais votada no Congresso da Renamo e, posteriormente, marginalizada se rebele e, por conseguinte, apoia a candidatura de Venâncio Mondlane. Vaticino uma derrota retumbante da Renamo e sua passagem à terceira força, se não a quarta. Caso o MDM faça o seu trabalho, nos círculos como Nampula, Zambézia, Sofala e outros, certamente a Renamo e Ossufo Momade podem sair “machucados” dessas eleições e avisos não faltaram!
A política é uma espécie de jogo colectivo com o qual você deve aprender a viver e conviver, quer goste ou não porque é útil para o colectivo. Marginalizar pessoas cujo peso político é enorme tem e pode ter consequências graves. A Renamo e a Frelimo também devem medir os seus actos, na hora de decidir sobre os seus candidatos a vários órgãos. A questão não é vocês quererem, a questão é o que representa a pessoa em causa para o partido.
Que fique claro, esta análise não tem por objectivo apoiar a candidatura de Venâncio Mondlane, uma pessoa que se revela um político consistente. Ainda que caia, levanta-se de forma extraordinária, não fosse as várias petições que apresentou nos diferentes tribunais e que lhe deram razão. A Renamo pode até faltar respeito aos tribunais, mas não faltará respeito, decerto, às escolhas do povo a 09 de Outubro de 2024. Por isso repito, oficinas políticas precisam-se, em especial no partido Renamo, ou então vamos assistir a um suicídio político anunciado!
Adelino Buque
Alguns de vocês que nasceram agora, e com acesso à internet que já não é barata, devem pensar que o maior engodo se chama Ematum. Algo que até o autor destas linhas e em canal aberto avisou a quem de direito que NUNCA avançaria, pelo menos nos moldes propostos. Mas, como se diz, a voz do pobre não chega ao céu: hoje temos chefe da nossa secreta, filho de Chefe de Estado e outros na cadeia. Nunca uso o “ Ex Presidente” GUEBUZA. Para mim é Presidente, e Nyusi também será Presidente depois de Março de 2025.
Milli Vanilli foi a pior mentira que eu vi. Dois jovens sarados, numa altura em que as duas Alemanhas estão se a juntar, e com isso o fim da Guerra Fria, portanto o desmoronamento dos blocos, pelo menos o Tratado de Varsóvia pois, a NATO está muito viva e activa.
O engodo Milli Vanilli...Fab Morvan e Rob Pilatus engendraram um plano lixado com o produtor do Boney M. Frank Farian, em 1988: trazer gajos bonitos para o palco, só que não cantavam! Sim, tipo assim eu Dino Foi cantar “My number one” no palco, enquanto lá atrás na verdade quem canta é o não menos conhecido King Bawito!
Nos fizeram dançar em todo país aqueles filhos de uma árvore até a verdade vir à tona: nunca cantaram. Quando tentaram cantar foi um fiasco que entraram em drogas até o grupo morrer. Na verdade houve mesmo morte de pessoas por overdose.
Mas não é sobre música que estou aqui a chamar à colação. É sobre a mentira que estamos a construir como país. Temos de parar, antes que forças estrangeiras nos parem, não no interesse dos moçambicanos, possivelmente no interesse delas!
Numa altura em que ficou claro que quem tentou derrubar um governo democraticamente eleito na RDC é alguém que esteve e muito bem neste país e a conversar com as elites políticas deste país, estamos a autorizar a entrada de mais 2,500 militares estrangeiros, que queiramos ou não, estão directa ou indirectamente ligadas à aquela operação, enquanto um bebé bonito, nascido em dificuldades, o CHAPO, que daqui a 6 meses deve ser o Comandante-em-Chefe das nossas forças armadas, se prepara para ser o nosso líder supremo!
Quem é do meu círculo privado sabe que em função do que sairia daquele Comité Central na Matola eu ia entregar o meu cartão ao Partido Frelimo em Julho deste ano, possivelmente ninguém ia notar porque sou um membro júnior mas, quando se chega a minha idade temos de ver o que entra na boca e, principalmente onde enterramos outras coisas .
É que nesta idade sabemos muito bem o que queremos, mas mais do que isso, o que não queremos. Definitivamente Milli Vanilli outra vez não! Os meus filhos, quando todos nós falharmos, devem ir buscar a posição do pai quando os bons se calaram. Em Moçambique, ainda é possível. Dino Foi
A propósito da passagem dos 49 anos da criação da polícia moçambicana no passado dia 17 de Maio lembrar algumas palavras de Samora Machel (1933─1986), então presidente de Moçambique (1975─1986), sobre a polícia e que foram proferidas durante um comício nos dias 24 e 25 de Maio de 1983 nem Nampula, uma província do norte de Moçambique.
Neste comício Samora Machel fez um diagnóstico sobre as causas dos abusos e irregularidades cometidos por alguns elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS), em particular da polícia, depois que debruçara sobre o mesmo assunto na reunião do então Bureau Político da Frelimo (ora Comissão Política), a primeira fora da capital desde a independência do país, decorrida dias antes, também em Nampula.
Em geral, para Samora Machel, as causas destes abusos e irregularidades decorriam da educação que se recebe na família, prosseguiam na escola e prolongar-se-iam nos critérios de recrutamento para as FDS, no caso da Polícia, e que se enraizavam na sua deficiente formação no ramo.
No citado comício, entre várias coisas ditas por Samora Machel sobre a polícia na altura, e porque ainda actuais, seguem abaixo alguns trechos que foram editados sem prejuízo da mensagem e subdivididos em três partes (Fundamentação; A questão de fundo; A solução). Os trechos foram extraídos da brochura “O Poder Popular Garante a Legalidade (Samora Machel)”. Número 27 da colecção "PALAVRAS de ORDEM". Edição do Partido Frelimo. Vamos ouvir/ler:
Fundamentação
“O polícia deve ser um elemento político, altamente educado e cortês. ... um polícia não pode dar um pontapé a ninguém! O polícia que dá um pontapé a um cidadão, e particularmente a uma senhora ou a um jovem, não tem ética, não tem brio profissional, não respeita a farda que enverga, não dignifica o seu boné que tem o emblema da República Popular de Moçambique. Esse polícia não sabe o que representa a farda que enverga”.
“Um polícia espancar as pessoas é o cúmulo da vergonha! Este elemento não serve para a estrutura do Estado. Ele, embora fardado, não representa o nosso poder popular.”
“O polícia que anda com as pernas tortas, esse não é polícia. O polícia que mete o dedo no nariz e limpa o dedo na farda, não é polícia! O polícia anda sempre com a coluna vertebral bem esticada, com um passo bem cadenciado! Esse, sim, é um polícia!”
“A Polícia, no Mundo, é assim: não vive confortavelmente, renuncia ao conforto. O polícia não deve ter uma cama com um colchão fofo. Todos eles dormem numa tarimba, mesmo o Comandante.”
“O Comandante-Geral da Polícia, em toda a parte do Mundo, dorme na tarimba para ter sempre a coluna vertebral bem esticada! É que o colchão de luxo dobra a coluna, e então, o polícia dobra a farda, dobra o poder também! Se o polícia anda com as costas curvadas, que polícia é este? Que imagem nos transmite? ”
A questão de fundo
“… Por que é que temos polícias assim? Porque não seleccionamos, porque produzimos polícias em série, como se estivéssemos na época dos fenícios! ”
“Recrutámo-los (os polícias) sem qualquer critério de selecção e abrimos um campo para os treinar. Estes jovens não passaram por uma disciplina forte, que é a disciplina militar. ”
“…Muitos deles nunca viveram nas cidades, são jovens do campo. E, de repente, depois do treino, são colocados a trabalhar na cidade. É por isso que alguns são atropelados em Maputo, porque ficam a olhar, no meio da rua, admirados, para os altos prédios da cidade, que nunca tinham visto! E são polícias de trânsito! ”
A solução
“Para o nosso polícia, o estudo, a educação, a aprendizagem, devem ser permanentes. Ele deve aprender constantemente a evolução da ciência da Polícia, de todo o Mundo. O polícia deve preocupar “se em conhecer as leis para as fazer respeitar, conhecer a Constituição para a saber defender. Ele deve respeitar o sofrimento dos outros. Deve saber representar a autoridade, representar o vosso poder, o poder popular, este poder do nosso povo do Rovuma ao Maputo, que muito lutou para o conquistar. ”
“Os elementos que vão para a Polícia devem ser bem seleccionados, devem revelar boas qualidades, devem ser inteligentes e bem constituídos fisicamente. Devem ter, pelo menos, 1,75 metro de altura, para representarem com evidência a autoridade. Imaginem: se o polícia tem só 1 metro e meio, como vai pedir a documentação a um cidadão com 1 metro e oitenta de altura?”
“Antes de se ser polícia ou agente de segurança, deve-se ir à tropa, revelar qualidades de inteligência, de sensibilidade. Deve revelar-se um estudioso da psicologia, da sociologia, das reacções das pessoas.”
“Em toda a parte do mundo, um polícia é aquele que fez primeiro o serviço militar obrigatório e depois é seleccionado lá para poder ingressar na Polícia. Não se sai da palhota directamente para a Policia! ”
Depois de ouvir/ler estas palavras a impressão de que Samora Machel esteve a dirigir as celebrações dos 49 anos da polícia na passada sexta-feira, 17 de Maio de 2024.
O termo "same same but different" é frequentemente utilizado de uma forma anedótica ou lúdica na compra de bens na Ásia, especialmente nos mercados informais ou paralelos, onde uma variedade de itens são diferentes, mas têm subtis similaridades. Essa frase adiciona charme e humor à experiência de compra, reconhecendo as semelhanças enquanto enfatiza a singularidade de cada item vendido. No nosso contexto, à medida que iniciamos uma nova jornada com os novos candidatos, destacando entusiasticamente seus estilos diferentes e comparando-os ao incumbente, as esperanças da nossa nação se renovam no candidato que vencer as eleições.
Esse ciclo político assemelha-se ao conceito de ouroboros (serpente que come a sua própria cauda num círculo que representa um retorno ou a evolução) ilustra o complexo jogo entre mudança e continuidade em transições políticas. Ele reconhece a natureza transformadora das mudanças de liderança enquanto considera aspectos duradouros da governação que transcendem líderes individuais ou administrações. O símbolo convida à reflexão sobre a natureza cíclica da política e a busca perpétua por renovação e evolução dentro do cenário político.
No entanto, no nosso actual cenário político, o status quo existente e a estrutura de governação de concentração de poder nas mãos de poucos indivíduos, cria uma situação onde as eleições resultam num vencedor que leva tudo, como amplamente reconhecido. Isso leva-nos a indagar se estamos diante de um novo amanhecer ou a testemunhar mais uma vez variações que nos sãos familiares. Até que ponto um indivíduo pode mudar um sistema? Devemos navegar por essa complexidade com clareza ou desconstruir estas questões.
Este período de grande descontentamento é sentido em diversos sectores da nossa nação, desde trabalhadores civis (médicos, enfermeiros, polícias, professores, militares, etc.) até juízes e desempregados. Existe um sentimento de desespero e urgência no ar, como se a paciência estivesse prestes a atingir o limite. Será que teremos o mesmo de sempre na nova governação, daí o "same, same" no título deste artigo, ou pode uma mudança radical ocorrer simplesmente mudando a liderança principal enquanto continuamos com todos os outros elementos?
Se o partido político actualmente no poder permanecer, deve reflectir, e já vai atrasado dez a quinze anos, sobre a sustentabilidade de um resultado em que o vencedor leva tudo. Perder o poder pode levar à transferência de todas as cartas para a oposição. Que garantias o partido terá contra injustiças cometidas contra eles no meio de um ressentimento de anos que vem fervilhando com o sabor de uma revolta popular? E principalmente porque a forma de estar, os standards, já estão estabelecidos.
No meu texto de 2016 "O Plano B" indago, caso a oposição chegue ao poder, se serão os polícias corruptos que continuaram a proteger, o judiciário comprometido que mudou de lealdade, ou a constituição que é emendada a cada ciclo? Como se garante uma transição pacífica nos correntes termos? O partido no poder deve criar condições para estar também na oposição de forma confortável. De modo a não criar dificuldades que possam um dia se virar contra ele. Para que a lei seja a sua protecção e a protecção de todos.
É também premente abordar as questões que estão no cerne do descontentamento social em diversos sectores da sociedade que sinalizam uma necessidade urgente de mudanças significativas. Talvez o principal dilema seja o próprio partido que ninguém sabe se é peixe ou carne e que parece não ir para além de uma agenda que garanta resultados eleitorais. Aquilo que muita gente já coloca como falência ideológica do partido. Num mundo em que os países e os partidos estão cada vez mais nacionalistas, e pro-dependência interna. Nós estamos cada fez mais dependentes de fora e menos nacionalistas. É difícil identificar, a essência do pensamento político do dia. Igualmente, devido a esse vácuo e para quem está de fora, parece que o partido tem cada fez menos aliados ideológicos nem mesmo os que representavam um casamento entre ideologia e história.
Neste aspeto, até a Renamo tem o seu campo político mais nítido ao identificar-se como um partido de centro-direita e assim expande as suas amizades. O novo fenômeno que se sente por fora são as crescentes alianças de indivíduos com outros indivíduos/estados/partidos em vez de se desenvolver esses laços como organização. Talvez seja porque nem os outros partidos estrangeiros estão a reconhecer a abordagem ideológica do partido no poder.
A nossa democracia se resume apenas ao período eleitoral, seguido por uma continuação da anormal normalidade caracterizada por mecanismos insuficientes para responsabilizar os líderes, levando à corrupção, abuso do poder e desrespeito à lei. De que forma o parlamento exerce o seu papel fiscalizador e de defesa dos interesses do povo, quando a disciplina partidária é a componente fundamental da governação?
As pessoas podem tolerar tendências autoritárias se as questões essenciais forem resolvidas (por exemplo, na China), considerando a estabilidade e uma refeição na mesa como o preço para ceder liberdades. No entanto, o problema fundamental que enfrentamos é que temos menos liberdade e com ganhos econômicos marginais. O Estado não cumpre com o seu contrato social, criando assim pontos de pressão e de descontentamento. Existe toda uma geração que de forma crescente se vem posicionando em lugares chaves que não são tolerantes com o "same same." Assim, é essencial aprender com as últimas eleições autárquicas e as posições dos juízes, dos funcionários públicos que já não têm o mesmo nível de compromisso do pós-independência, indicando uma mudança colossal nas expectativas.
Os desafios e oportunidades de nosso tempo são indiscutivelmente distintos, mas ressoam com aspirações e ansiedades humanas antigas, pontuadas por necessidades urgentes. Por outro lado, parece haver um novo sonho entre os jovens qualificados, que não mais aspiram a um futuro no país, mas buscam aliviar sua situação mudando-se para outros horizontes.
Quem quer que vença terá de reconstruir o sentimento patriótico e um ponto de partida seria iniciar um processo de mudança efectiva do sistema. Eventualmente as pessoas, os membros se ajustarão.
Minha esperança é que se estabeleça um mandato para reconstruir a confiança, abordar questões estruturais e atender às necessidades essenciais da nossa sociedade. Tirar ilações que orientem o caminho a seguir, enfatizando a responsabilidade, responsividade e um compromisso genuíno com o bem-estar de todos os cidadãos.
Seja para quem for a mensagem, a expressão não ficou bem a uma figura que, mesmo antes de ascender ao palanque do poder, já está a ser aplaudida como se o facho da vitória estivesse garantido nas suas mãos. A explosão antecipada de garrafas de champanhe em todos os lugares, não será propriamente pela certeza de que o comboio terá um bom maquinista, mas se calhar Daniel Chapo inspira sem que se saiba exactamente porquê. Talvez seja uma intuição da parte daqueles que já o ovacionam estrondosamente de pé na arena da esperança.
Eu já o tinha dito, mas não me importo de repetir para lembrar ao próprio e aos demais: nutro uma grande simpatia pelo “El Chapo”, mas fiquei com medo da sua expressão ao se dirigir publicamente numa conferência de imprensa após o encontro que teve com as confissões religiosas, às quais foi agradecer pelas orações que fizeram em seu apoio. O candidato da Frelimo disse assim, a um determinado ponto da sua intervenção: nas próximas eleições teremos uma vitória “trombosante”, um termo, segundo ele, novo.
Ora! Chapo não precisa recorrer a esse tipo de palavras para dizer que estou aqui, é como se estivesse a afirmar que os seus adversários não são nada, são desprezíveis. Parece-me um posicionamento retrógrado, e ele mesmo, o Daniel Chapo, já tinha usado, quando concorria às últimas eleições provinciais onde foi proclamado vencedor, a palavra “qualquerzante”, mas os seus camaradas já diziam isso, em coro: “vamos ter uma vitória qualquerzante”, como se os moçambicanos que lutam pelo poder noutros partidos fossem pessoas quaisquer, não!
Este homem de quem se espera um novo amanhecer, deve perceber que está numa importante corrida de estafetas, ele é o último dos quatro e não está na Assembleia da República onde a verborreia impera. Quer dizer, se os outros companheiros de equipa claudicaram durante a prova, então a responsabilidade de vencer está nas suas mãos (se for eleito presidente), mas é necessário que trate os seus adversários políticos com dignidade, sem os “qualquerzar” ou “trombosar”, sobretudo num contexto em que há muitas feridas por sarar, também dentro do seu próprio partido. Para quê andarmos a nos pisar uns aos outros com palavras jocosas!
É isso, meu caro Chapo, você é um homem elegido, então não se “qualquerize” com termos primitivos, não trabalhe com a meta de “trombosar” seja quem for, antes pelo contrário, a sua luta será de um acendedor de luzes para todos os moçambicanos, como Moisés que, das masmorras de Faraó, libertou os filhos de Israel.