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terça-feira, 21 maio 2024 12:35

A nossa polícia segundo Samora Machel

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A propósito da passagem dos 49 anos da criação da polícia moçambicana no passado dia 17 de Maio lembrar algumas palavras de Samora Machel (1933─1986), então presidente de Moçambique (1975─1986), sobre a polícia e que foram proferidas durante um comício nos dias 24 e 25 de Maio de 1983 nem Nampula, uma província do norte de Moçambique.  

 

Neste comício Samora Machel fez um diagnóstico sobre as causas dos abusos e irregularidades cometidos por alguns elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS), em particular da polícia, depois que debruçara sobre o mesmo assunto na reunião do então Bureau Político da Frelimo (ora Comissão Política), a primeira fora da capital desde a independência do país, decorrida dias antes, também em Nampula.

 

Em geral, para Samora Machel, as causas destes abusos e irregularidades decorriam da educação que se recebe na família, prosseguiam na escola e prolongar-se-iam nos critérios de recrutamento para as FDS, no caso da Polícia, e que se enraizavam na sua deficiente formação no ramo.  

 

No citado comício, entre várias coisas ditas por Samora Machel sobre a polícia na altura, e porque ainda actuais, seguem abaixo alguns trechos que foram editados sem prejuízo da mensagem e subdivididos em três partes (Fundamentação; A questão de fundo; A solução). Os trechos foram extraídos da brochura “O Poder Popular Garante a Legalidade (Samora Machel)”. Número 27 da colecção "PALAVRAS de ORDEM". Edição do Partido Frelimo. Vamos ouvir/ler:

 

Fundamentação

 

“O polícia deve ser um elemento político, altamente educado e cortês. ... um polícia não pode dar um pontapé a ninguém! O polícia que dá um pontapé a um cidadão, e particularmente a uma senhora ou a um jovem, não tem ética, não tem brio profissional, não respeita a farda que enverga, não dignifica o seu boné que tem o emblema da República Popular de Moçambique. Esse polícia não sabe o que representa a farda que enverga”.

 

“Um polícia espancar as pessoas é o cúmulo da vergonha! Este elemento não serve para a estrutura do Estado. Ele, embora fardado, não representa o nosso poder popular.”

 

“O polícia que anda com as pernas tortas, esse não é polícia. O polícia que mete o dedo no nariz e limpa o dedo na farda, não é polícia! O polícia anda sempre com a coluna vertebral bem esticada, com um passo bem cadenciado! Esse, sim, é um polícia!”

 

“A Polícia, no Mundo, é assim: não vive confortavelmente, renuncia ao conforto. O polícia não deve ter uma cama com um colchão fofo. Todos eles dormem numa tarimba, mesmo o Comandante.”

 

“O Comandante-Geral da Polícia, em toda a parte do Mundo, dorme na tarimba para ter sempre a coluna vertebral bem esticada! É que o colchão de luxo dobra a coluna, e então, o polícia dobra a farda, dobra o poder também! Se o polícia anda com as costas curvadas, que polícia é este? Que imagem nos transmite? ”

 

A questão de fundo

 

“… Por que é que temos polícias assim? Porque não seleccionamos, porque produzimos polícias em série, como se estivéssemos na época dos fenícios! ”

 

“Recrutámo-los (os polícias) sem qualquer critério de selecção e abrimos um campo para os treinar. Estes jovens não passaram por uma disciplina forte, que é a disciplina militar. ”

 

“…Muitos deles nunca viveram nas cidades, são jovens do campo. E, de repente, depois do treino, são colocados a trabalhar na cidade. É por isso que alguns são atropelados em Maputo, porque ficam a olhar, no meio da rua, admirados, para os altos prédios da cidade, que nunca tinham visto! E são polícias de trânsito! ”

 

A solução

 

“Para o nosso polícia, o estudo, a educação, a aprendizagem, devem ser permanentes. Ele deve aprender constantemente a evolução da ciência da Polícia, de todo o Mundo. O polícia deve preocupar “se em conhecer as leis para as fazer respeitar, conhecer a Constituição para a saber defender. Ele deve respeitar o sofrimento dos outros. Deve saber representar a autoridade, representar o vosso poder, o poder popular, este poder do nosso povo do Rovuma ao Maputo, que muito lutou para o conquistar. ”

 

“Os elementos que vão para a Polícia devem ser bem seleccionados, devem revelar boas qualidades, devem ser inteligentes e bem constituídos fisicamente. Devem ter, pelo menos, 1,75 metro de altura, para representarem com evidência a autoridade. Imaginem: se o polícia tem só 1 metro e meio, como vai pedir a documentação a um cidadão com 1 metro e oitenta de altura?”

 

“Antes de se ser polícia ou agente de segurança, deve-se ir à tropa, revelar qualidades de inteligência, de sensibilidade. Deve revelar-se um estudioso da psicologia, da sociologia, das reacções das pessoas.”

 

“Em toda a parte do mundo, um polícia é aquele que fez primeiro o serviço militar obrigatório e depois é seleccionado lá para poder ingressar na Polícia. Não se sai da palhota directamente para a Policia! ”

 

Depois de ouvir/ler estas palavras a impressão de que Samora Machel esteve a dirigir as celebrações dos 49 anos da polícia na passada sexta-feira, 17 de Maio de 2024.  

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