Está praticamente declarada a “guerra” entre o candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane e as Forças de Defesa e Segurança (FDS), a quem o político atribui a autoria material do bárbaro assassinato do advogado Elvino Dias, crivado de balas na noite desta sexta-feira, em Maputo.
Em declarações públicas feitas na tarde de hoje, a partir do local onde foram assassinados Elvino Dias, mandatário e assessor jurídico de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, porta-voz do PODEMOS, partido que suporta a candidatura presidencial do político, Mondlane defendeu terem sido as Forças de Defesa e Segurança a assassinarem barbaramente o seu advogado e o porta-voz do PODEMOS.
“Está claro que foram as Forças de Defesa e Segurança que fizeram este crime”, afirmou a fonte, clarificando, a seguir, a sua declaração. “Logo após o assassinato, homens do SERNIC [Serviço Nacional de Investigação Criminal] e do SISE [Serviço de Informações e Segurança do Estado], que estiveram aqui, arrancaram e quebraram os telefones dos jovens que estavam aqui, recolheram as cápsulas das balas para retirar vestígios acusatórios na perícia. Temos provas disso”, garantiu o político.
Segundo Venâncio Mondlane, as pessoas que mataram Elvino Dias não pretendiam apenas acabar com o indivíduo, mas com a sua causa. “Ele tinha dito, em um vídeo, que já se sentia morto, pelo que, para nós, a morte em si, não é uma grande perda. A grande questão que se coloca aqui é a tentativa de se matar os valores que nós defendemos. Aquela descarga exacerbada de tiros [mais de 20 tiros] não era só para matar o homem. Há muito mais do que matar o homem, mas tentar matar os valores, intimidar, aterrorizar as pessoas que acreditam naqueles valores”.
Mondlane revela que, quando recebeu as primeiras informações sobre o assassinato do seu advogado, pensava que era “uma coisa fictícia”, mas só pela manhã (por volta das 04h00) “é que tive a clareza de que isto era real”. “A mim podem matar, mas a minha luta, essa é que não vai morrer. Então, este é o sentimento que eu tenho agora. Estou a me reerguer para a luta, estou a me reerguer para dar um catalisador maior para esta chama que, até certo ponto, estava ténue, mas acho que, a partir de hoje, está a arder no coração de muitos jovens”, atirou.
Para o político – que já se auto-proclamou Presidente da República eleito, em face da contagem paralela do PODEMOS lhe dá vitória em nove círculos eleitorais, dos 11 existentes no país – o sangue do advogado Elvino Dias e do cineasta Paulo Guambe será vingado, sendo que a primeira etapa terá lugar na segunda-feira, dia em que terá lugar a greve geral por si convocada.
“O sangue destes jovens será vingado e é o início de uma etapa que só Deus sabe como é que ela vai terminar. Na segunda-feira, vai ser a primeira etapa. Se quiserem usar a violência, podem usar, mas fiquem a saber que depois da vossa violência há-de vir algo extraordinariamente mais forte do que vocês todos. Vão se arrepender disso”, garantiu.
Segundo Venâncio Mondlane, a greve da segunda-feira não irá se resumir simplesmente na paralisação da economia nacional. “Agora vamos ter um carácter diferente. Já não vamos ficar em casa de braços cruzados. Vamos carregar os nossos cartazes, vamos sair para rua e levantar os nossos cartazes, pacificamente. Não vamos destruir bens públicos e nem privados, mas vamos sair e caminhar nas nossas ruas para mostrarmos o nosso repúdio. Isto não nos podem tirar”, afirmou a fonte.
Mondlane afirma que a concentração, na cidade de Maputo, terá lugar exactamente no lugar onde foram assassinados Elvino Dias e Paulo Guambe. A concentração será às 9h00 e a marcha inicia pontualmente às 10h00. Garante que não irá usar o colete à prova de bala.
“Nós não vamos fazer desordem. O que vamos fazer é o usufruto de um direito público constitucional, que é, quando estamos revoltados, temos de mostrar a nossa revolta publicamente. Então, o senhor (senhor Comandante) não venha tentar contar narrativas antecipadas para começar a fazer a brutalidade que vos carateriza, a mesma que fizeram em Nampula e mesma que quiseram fazer na Beira e aquele tem feito sempre”, sentenciou.
Na sua declaração de pouco mais de 14 minutos, refira-se, o candidato não teceu qualquer comentário sobre o passo a seguir na sua batalha eleitoral. Porém, garantiu que Elvino Dias não era o único advogado com quem trabalhava, desde finais de 2023. (A. Maolela)
Daniel Chapo, o candidato da Frelimo as eleições presidenciais de deste sangrento mês de Outubro, acaba de ser emitir sua posição relativamente ao assassinato de duas figuras da oposição na madrugada de hoje em Maputo.
Chapo classifica a tragédia como uma “afronta” à democracia.
“Carta” publica, a seguir, seu “repúdio” na íntegra:
“Foi com profunda consternação que recebi a notícia do brutal assassinato do advogado e do mandatário do partido PODEMOS, Elvino Dias e Paulo Guambe, respectivamente, ocorridos na última madrugada.
Este acto de violência não é apenas um ataque contra indivíduos dedicados e comprometidos com o Endereço as minhas mais sinceras condolências às famílias enlutadas. Perder um ente querido em À classe dos advogados e dos artistas, de que eram parte Elvino Dias e Paulo Guambe, respectivamente, expresso a minha solidariedade. Sei que este é um momento de grande pesar para Que este trágico incidente não nos desvie da construção de uma nação mais justa e inclusiva, onde a vida e a dignidade humana sejam sempre respeitadas.
Gostaria de exortar às instituições da justiça para que conduzam uma investigação célere, imparcial, independente e rigorosa, visando apurar os factos e responsabilizar os autores. A justiça tem de ser feita.
Não podemos permitir que exista lugar ao medo num Estado de Direito Democrático. Neste momento tão difícil para todos nós, exigimos que se faça valer a lei.
Reafirmo o meu total repúdio a este crime e a qualquer tipo de violência e intolerância no nosso País, ao mesmo tempo que reitero o meu compromisso em defender a verdade e a justiça em Moçambique”. (Carta)
O Presidente do partido PODEMOS, Albino Forquilha, afirma que o assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe revela que “estamos diante de um caso político”.
“Como partido, não temos dúvidas de que o assassinato bárbaro dos nossos membros Paulo Guambe e Elvino Dias tem motivações políticas. É nossa convicção que o contexto político em que vivemos motivou um comando que provavelmente foi dado para que os dois fossem eliminados”, disse Forquilha.
Falando à estação televisiva STV, Forquilha destacou que os malogrados eram membros fundadores do PODEMOS, com Elvino Dias co-chefiando o departamento jurídico e Paulo Guambe secretário de comunicação e imagem e porta-voz do partido.
A fonte frisou que Elvino Dias e Paulo Guambe eram “peças fundamentais” na preparação de matérias sobre os processos de impugnação a nível distrital, que culminarão numa impugnação geral.
Questionado se havia sinais que pudessem explicar o que aconteceu, Forquilha deu algumas pistas.
“Há três dias, Guambe disse-me que estava a ser convidado por alguns conhecidos do partido FRELIMO para um bate-papo e troca de copos. Na ocasião, eu avisei que ele devia ter muito cuidado. Nunca se poderia imaginar que esse convite poderia estar relacionado à sua eliminação. Eu até pensei que poderia haver alguma intenção de negociação, mas não, era realmente para eliminação”, enfatizou.
Por isso, disse Forquilha, “não nos sai da cabeça que foi dado um comando para que eles fossem eliminados, possivelmente, para criar dificuldades para o processo de reclamações em curso. Sabemos que o PODEMOS ganhou, sabemos que o candidato Venâncio ganhou e tudo o que está a ser feito é para nos intimidar, para que não nos possamos preparar e apresentar provas”.
Forquilha falava na residência de Paulo Guambe, onde foi prestar solidariedade à família, tendo destacado na ocasião que as armas usadas neste assassinato são as mesmas que o país importou para defender a justiça e a boa governação, mas pelo contrário estão a ser utilizadas para eliminar aqueles que lutam contra as injustiças.
Por outro lado, o irmão mais velho de Paulo Guambe informou que soube da morte do irmão através de uma ligação de um primo que reside em Chimoio.
“Eu soube da morte do meu irmão através de um vizinho que entrou no Facebook e me ligou para perguntar se estava tudo bem em casa. Em seguida, meu primo Aguiar, que está em Chimoio, perguntou-me se já tinha visto algo no WhatsApp e eu disse que não. Então, ele pediu para eu entrar no WhatsApp para ver o que estava a acontecer”, detalhou Roberto Guambe.
Questionado se notou algo estranho com o irmão nos últimos dias, Roberto Guambe respondeu que “não”, mas avançou que o irmão o informou um dia antes da morte que alguns indivíduos da FRELIMO lhe ofereceram bebida. Ele achou tudo isso estranho, uma vez que um adversário não ofereceria bebida sem nenhuma intenção.
Em relação aos pronunciamentos da polícia sobre uma eventual discussão antes do ocorrido, relacionada a questões passionais, Roberto Guambe rebateu e afirmou que isso era mentira, pois o irmão não tinha esse tipo de comportamento.
“Ele morreu viúvo, a mulher faleceu há algum tempo. Ele estava a criar o seu filho sozinho. Poderia até ter namoradas, mas que houvesse confusão a ponto de chegar a esse nível, isso nunca aconteceu”, concluiu. (Carta)
O Consórcio Eleitoral Mais Integridade, uma das principais plataformas moçambicanas de observação eleitoral, condenou, esta manhã, o assassinato do advogado Elvino Dias, crivado de balas na madrugada deste sábado, na cidade de Maputo, na companhia do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe.
Em comunicado de imprensa emitido na manhã deste sábado, a plataforma defende que o assassinato bárbaro do mandatário e assessor jurídico do candidato presidencial Venâncio Mondlane, representa um acto de “intimidação de todos os que reivindicam a transparência e a verdade nas eleições de 2024”, incluindo os observadores daquele consórcio eleitoral que “têm vindo a denunciar a fraude eleitoral em Moçambique, através do seu trabalho de observação e denúncia das manobras de manipulações de editais com vista a favorecer ao Partido Frelimo e ao seu candidato presidencial”.
Segundo o “Mais Integridade”, baseando-se em depoimentos de testemunhas oculares, os finados foram interpelados por duas viaturas da marca Mazda BT-50, de onde terão saído dois indivíduos desconhecidos, munidos de armas de fogo e que de imediato crivaram-nos de balas, tendo o Elvino Dias perecido no mesmo instante e Paulo Guambe, horas depois, “uma vez a Polícia da República de Moçambique ter impedido a sua evacuação através de uma ambulância que esteve no local para os socorrer”.
“As testemunhas frisaram que a Polícia fez um forte exercício de censura e intimidações às testemunhas para que não registrassem a cena de violência, tendo recolhido e danificado diversos telemóveis”, sublinha a fonte, realçando que Elvino Dias já vinha denunciando, através da sua página do Facebook, um plano de o assassinar, juntamente com o candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Na nota enviada à “Carta”, o Consórcio Eleitoral Mais Integridade insta as autoridades para que o crime seja urgentemente esclarecido e que os seus autores materiais e morais sejam responsabilizados. (Carta)
Foi bárbara e cobardemente assassinado, na madrugada de sábado, em Maputo, Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane Jr e principal assessor jurídico da CAD/PODEMOS nestas eleições gerais e das assembleias provinciais.
Com Elvino Dias foi também assassinado Paulo Guambe, mandatário do PODEMOS nestas eleições gerais e das assembleias provinciais, que o acompanhava na sua viatura, quando ambos foram interpelados por dois indivíduos desconhecidos, munidos de armas de fogo e que de imediato crivaram-nos de balas.
O crime aconteceu entre às 00:30 e 00:40 horas desta madrugada, na Avenida Joaquim Chissano, no bairro da Coop, há pouco mais de 100 metros de onde Elvino Dias e Paulo Guambe se encontravam horas antes a socializar com amigos, num pequeno mercado no bairro da Malhangalene, conhecido como Pulmão.
Elvino Dias frequentava habitualmente aquele local, facto que há anos sempre tornou público nas redes sociais. De acordo com Dinis Tivane, da CAD/PODEMOS, Venâncio Mondlane estava destroçado nas duas horas que se seguiram ao assassínio do seu mais fiel assessor nos últimos 10 meses de batalhas político-judiciais. Ainda assim, o candidato presidencial vai orientar nesta manhã uma conferência de imprensa sobre o sucedido. Esta é uma notícia em desenvolvimento, que Carta irá actualizar sempre que oportuno.(Carta)
A Polícia Sul-Africana (SAPS) deteve 19 moçambicanos indocumentados por mineração ilegal na província sul-africana de Mpumalanga, que faz fronteira com Moçambique, disse ontem à Lusa fonte do comando provincial.
Os 19 suspeitos moçambicanos, com idades entre os 18 e 33 anos, foram detidos na madrugada de terça-feira no local de mineração ilegal em New Town, Pilgrim's Rest, adiantou o porta-voz Magonseni Nkosi.
De acordo com o comando provincial da polícia de Mpumalanga, os 19 suspeitos compareceram na quarta-feira em tribunal e encontram-se detidos sob custódia para uma segunda comparência em tribunal agendada para datas diferentes, de 18 a 28 de outubro de 2024. “A razão do adiamento tem a ver com a falta de espaço na sala de tribunal, e daí o agendamento para comparência de 18 a 28”, explicou.
Questionado pela Lusa, o porta-voz policial sul-africano salientou que a mineração ilegal “é um motivo de preocupação nacional”. “Temos em curso esta operação Vala Umgodi em sete das nove províncias do país; é um problema sério e Mpumalanga é uma das províncias [afetadas] por causa das antigas minas de ouro e de carvão, é uma situação problemática”, adiantou o agente policial à Lusa.
Em setembro, o exército sul-africano deteve vários mineiros ilegais, entre os quais moçambicanos, zimbabueanos e do Lesoto, na pequena cidade mineira museu de Pilgrim’s Rest, classificada como património nacional. Num outro incidente, a polícia de Mpumalanga deteve quatro imigrantes ilegais moçambicanos, com idades entres os 17 e os 39 anos, por alegada mineração ilegal na região de Sabie.
Pilgrim’s Rest, situada a cerca de 400 quilómetros a nordeste de Joanesburgo junto ao Parque Nacional Kruger, que é uma das maiores reservas mundiais de vida animal selvagem, foi um dos primeiros campos de ouro descobertos no antigo Transvaal, em 1873, na África do Sul.
Segundo as autoridades locais sul-africanas, a exploração mineira ilegal dos 'zama-zamas' em Pilgrim’s Rest ameaça a subsistência das populações locais, uma vez que os residentes dependem do turismo. (Lusa)