O tom de medo e preocupação tende a subir para os estrangeiros que vivem e/ou querem se implantar em alguns pontos da província de Cabo Delgado. Tudo se deve aos últimos pronunciamentos em torno da insurgência, naquela província, que apontam os forasteiros como financiadores dos ataques militares, sobretudo aqueles que estão interessados no negócio dos recursos naturais.
Nos últimos tempos, a província de Cabo Delgado tem sido famosa devido à descoberta não só dos jazigos de Gás, mas também de Ouro, Rubi e outras pedras preciosas, facto que tem estado a movimentar muitas pessoas, incluindo cidadãos estrangeiros.
Alguns, na companhia de cidadãos nacionais, fazem a exploração ilegal dos recursos, e outros, como agentes económicos, aproveitam a oportunidade para desenvolver os seus negócios. A província tem estado a registar muitos estrangeiros entre legais e ilegais, vindos da vizinha República da Tanzânia, da Somália, Congo e outros de origem asiática.
Os distritos de Meluco, Montepuez (Nanhupo e Namanhumbir) e, muito recentemente, Ancuabe (Mahera, Nanjua e Nacaca), incluindo a cidade de Pemba, são os locais onde se verifica maior circulação desses cidadãos.
A presença massiva de estrangeiros motivou as autoridades policiais, em meados de 2017, a desencadearem uma ofensiva contra eles e, nessa altura, o Comando Provincial da Polícia, em Cabo Delgado, mobilizou o seu contingente para evacuar muitos cidadãos.
Maior parte dos estrangeiros ilegais encontrados pelas autoridades foi repatriada, através da fronteira do Rovuma, no distrito de Palma, a pouco mais de 100 km de Mocímboa da Praia, onde começaram os primeiros focos da insurgência, em Outubro de 2017.
A empresa de transporte de passageiros Nagi Investimentos, através dos seus autocarros, foi responsável pela evacuação de muitos cidadãos estrangeiros, sob a escolta das Forças de Defesa e Segurança.
Pouco tempo depois, eclodiu a insurgência, entretanto, a expulsão dos estrangeiros ilegais nunca foi associada à onda de ataques, até porque, apesar dessa expulsão, pouco a pouco os estrangeiros iam voltando. Outros tiveram a má sorte de serem detidos e acusados de participar nesses ataques, que, na primeira hora, tinham rosto de insurgência islâmica, associada ao grupo Alshabab, que actua na região oriental de África.
Mas, porque perspectivar um futuro preocupante para os estrangeiros?
Primeiro, foi o Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, que, em Maio, em Montepuez, distrito onde reside parte considerável de estrangeiros ilegais, apontou o dedo aos estrangeiros como sendo os principais financiadores dos actos de insurgência do Centro e Norte de Cabo Delgado.
Mais tarde, na sua última visita àquela província do norte do país, o Chefe de Estado também apontou o dedo aos estrangeiros, como sendo os mandantes dos jovens que se juntaram à insurgência.
Filipe Nyusi foi mais longe e acusou tanzanianos e congoleses de instrumentalizarem jovens nacionais em troca de boa vida, tendo na altura reiterado que irá trabalhar até que se esclareça as reais motivações do fenómeno.
As acusações dos dois altos responsáveis pela segurança do povo serão, sem dúvida, replicadas pelos dirigentes aos níveis abaixo, podendo agudizar a ira contra os estrangeiros.
No dia de África, os estrangeiros afirmaram, na sua mensagem, que Moçambique, em particular a província de Cabo Delgado, era sua segunda casa, porém, pode passar de um sonho.
O medo aumenta ainda porque um dia, sob ordens do governo, tal como em Março de 2017, podem ser vítimas de expulsão, capturas desnecessárias e acusações infundadas ou podem ser vítimas de Xenofobia. Isto poderá fazê-los, mais uma vez, perder dignidade e bens, pois, segundo as autoridades, estes são o novo rosto da insurgência, que ainda não se sabe quando irá terminar.
Reforço da segurança na zona fronteiriça com Tanzânia
Praticamente, a segurança nas zonas fronteiriças com a Tanzânia está reforçada. Considerável efectivo das Forças de Defesa e Segurança (FDS) está a fazer patrulha, de forma permanente, durante 24 horas.
Aliás, no último domingo, 09 de Junho, o Comandante Geral da Polícia escalou a região de Namatil, distrito de Mueda, que faz fronteira com Tanzânia, e na sequência pediu a população para reforçar a vigilância e controlar a entrada de pessoas estranhas. Na sede do distrito de Nangade, reuniu-se com as FDS, posicionadas para controlar a fronteira com a Tanzânia.
Refira-se que, dos 24 réus condenados, a penas de 12 a 16 anos de prisão, há cidadãos tanzanianos que, alegadamente, estavam a caminho de África do Sul. (Carta)