Senhor Presidente, quando você tomou posse pela primeira vez, em 2015, a sensação que pairou era de que estávamos no raiar de um novo amanhecer. Depois das dúvidas que se levantaram sobre a sua pessoa durante a pré-campanha dentro do Partido Frelimo, e após a cruzada eleitoral em si, as circunstâncias subsequentes levaram-nos a acreditar que podiamos ter outro caminho. Quanto mais não fosse, “aquele” discurso caudaloso proferido na Praça da Independência, vibrou-nos de tal maneira que não nos deixou outra escolha, que não fosse a de voltarmos a esperar com renovadas utopias no regaço.
É muita pena, senhor Presidente, que até hoje não estejamos a desfrutar desse sol radiante, prometido na enxurrada na sua intervenção discursiva, e isso leva-nos ao cepticismo quanto ao nosso futuro nos próximos cinco anos. Outros cinco anos que você tem para ainda fazer alguma coisa, e sair da Ponta Vermelha com orgulho. Aliás, eu pessoalmente e muitos que lhe desejam o bem, gostariamos que isso acontecesse. Mas todos os prognósticos indicam que o seu caminho é íngreme.
O problema, senhor Presidente, é que você não conseguiu demarcar-se. Não tenho a menor dúvida de que havia da sua parte uma enorme vontade de mudar as coisas, porém eles foram astutos, estenderam uma rede de emalhar que cortou ainda cedo a sua caminhada. Você foi capturado, e quando se apercebeu disso, já era tarde. Agora o espaço que resta para si é muito pouco. E o mais provável é que volte para casa com os braços caídos.
Não é isto que eu lhe desejo, senhor Presidente, mas é o que provavelmente vai acontecer. Você era a esperança da juventude. Eles puseram-lhe a correr nas duas campanhas eleitorais, porém quem chegou são eles, e você sabe disso, senhor Presidente, que pena! O pior é acontecer que ninguém tenha saudades de si, depois do mandato que vai terminar daqui a pouco. E a culpa poderá ser sua, não conseguiu dizer-lhes que nesta jogada eu não entro.
Agora já pode ser tarde, senhor Presidente, o que seria muito triste para nós, que acreditamos “naquele” discurso retumbante em 2015. Mas vai ser muito mais triste para si, que vai sair sem concretizar um sonho que era, segundo muitos acreditam, de prover o bem estar para o seu povo. Esse era o sonho de Filipe Jacinto Nyusi, entretanto fracassado por motivos adversos que o chefe de Estado não foi capaz de superar.
Eu não acredito, senhor Presidente, que você durma o sono dos justos, porque não é isto que estava na sua agenda preliminar. Não é isto que você queria. Com certeza nunca lhe passou pela cabeça atirar o seu próprio povo à sarjeta. Todavia, infelizmente, não vai ficar ilibado desta desgraça. Você nunca terá a paz de consciência nos próximos tempos, sabido que Sua Excia não é uma pessoa de mal.
Então o que é que deve fazer para se redimir? Faça qualquer coisa, senhor Presidente, nem que tenha de ir às províncias montado num tigre. Nem que tenha de ir novamente à serra da Gorongosa. E se isso vai trazer paz e fartura para o seu povo, why not! Lula da Silva disse uma vez, que se você decide candidatar-se ao segundo mandato, tem que ter a certeza de que vai fazer igual ou melhor do que fez no primeiro. E você, senhor Presidente, ainda vai a tempo de fazer “algum algo”.
Há cinquenta anos – tinha vinte – que saíu daqui para nunca mais voltar. Os seus irmãos também, e tantos outros dessa geração, entraram num êxodo para terras longínquas, e lá constituíram famílias cujos filhos chegam a este lugar como estranhos. Não conhecem as raízes dos pais. Pior do que isso, desembarcam, em viagens de férias, e correm imediatamente para as casas de hopesdagem previamente reservadas. Nos “lodges”. Aliás o que lhes apela não é a história genealógica dos seus progenitores. São as praias. E a necessidade urgente do gozo da liberdade.
Todos lhe chamavam carinhosamente por Nhalégwè, nome bitonga dado às gaivotas, mas hoje poucos se vão lembrar deste homem, tirando os que com ele partiram de vez, e os poucos de nós que ficamos. De resto o tempo vai esbatendo as memórias.
O Café Lobito está abarrotado, e a única mesa que ainda pode acolher mais um, é a minha, onde estou sentado tomando chá de camomila, mesmo assim sentindo-me asfixiado numa cidade (Maputo) que já não tem poros. É por isso que escolhi estar perto da montra, de costas para a maioria, o que me permite vizualizar a intensa “Eduardo Mondlane”. Contemplo os carros que descem e outros que sobem, e as pessoas apressadas que se roçagam umas às outras. Pelo menos essa azáfama recorda-me que estou vivo.
Atrás de mim há um burburinho de gente que vem tomar o pequeno almoço rápido, ou um simples café, e ainda o tilintar das chávenas poisando constantemente nos piris. É o início de um dia de trabalho, e as tertúlias irão esperar para o final da tarde, onde, para além do café, pode vir uma caneca de cerveja. Mas eu estou livre, amanhã volto para Inhambane, minha eterna cidade, onde nunca vai faltar oxigénio para as minhas botijas espirituais. Onde não há este ram-ram todo que me enlouquece.
Olho para o relógio, são oito horas e trinta e cinco minutos, e logo a seguir, no meu horizonte, vejo um homem alto, magro, cheio de barba da cor de prata, cambando no passeio, numa passada desinteressada. Pelo andar deduzo que usa prótese na perna esquerda, e pode estar, por assim dizer, incapacitado para encetar uma corrida, a menos que a prótese que o sustenta seja de carbono, como as duas postiças de Oscar Pistorius.
Paguei a conta. Saí e segui na direcção do personagem que me fascina pela barba da cor de prata, e pelo estilo que parece de um bailarino. Ele dança na minha imaginação, uma dança desconhecida. Usa boina preta que cobre completamente a cabeça, camisa de ganga negligenciada, calças Gins, e nos pés calça botas a Beatles, sem conseguir, contudo, disfarçar o defeito de um pé que não dobra, o que reforça a minha suposição de que este indivíduo tem na verdade uma prótese na perna esquerda.
De repente o tempo mudou e começou a chover, o que nos obrigou a interromper a marcha para nos abrigarmos na varanda de um daqueles prédios perfilados na “Eduardo Mondlane”, entre a “Salvador Allende” e “Amilcar Cabral”. Estamos muito perto um do outro. Olhei bem para ele, agora com “lupa”, e senti um gelo na espinha dorsal. Saudei-lhe timidamente e perguntei, o senhor não é o Nhalégwè!?
Não podia estar equivocado. É ele! Porém, o que eu não esperava, e esperava também, é que o dito cujo me vergastasse, Nhalégwè é teu avô!
Deu-me costas e passou para outro extremo do nosso “esconderijo”, à espera, sem voltar a olhar para mim uma única vez, que a chuva, que cai em catadupa, cessace. Mas esta atitude é de muitos bitongas, que detestam ser reconhecidos como tal, sobretudo quando estão em Maputo.
A entrevista está marcada para Chilembene, terra natal do presidente mais borbulhante da África, em todos os tempos, que pecava entretanto por pensar que as coisas deviam obedecer ao ritmo da sua loucura. É manhã solarenta de um domingo que pode estar a começar da pior forma, ou seja, Samora evoca a Deus desmentindo todos os Seus preceitos. Ele disse-me de frente, que Jehová nunca existiu. Chegou a afirmar, na sombra frondosa onde estamos sentados, de homem para homem, apesar de ele representar o símbolo maior do poder, que a bíblia era obra de paranóicos. Mas esse pensamento, claramente era um delírio.
Samora Machel passou a noite anterior ao nosso encontro numa cubata desguarnecida, dormindo na esteira de palha previamente preparada, completamente nu, sem travesseiro, respirando o perfume tóxico dos incensos trazidos por curandeiros ndawus de Nova Mambone. Era necessário que assim fosse, segundo soube do próprio durante a entrevista. O poder não se oferece, arranca-se, e ele sabia que estava cercado por bajuladores e gananciosos que nunca o quiseram na cadeira mais importante da governação, por o considerarem inculto e incapaz de dirigir um Estado moderno.
Fui alojado no mesmo lugar, noutra cubata, ao lado da que acolhia Samora, e pude aperceber-me que o homem passou toda a noite a balbuciar. Mas tive que fazer um esforço para me abastrair daquele pesadelo porque não era nada comigo. Eu fui ali apenas para entrevistar o Presidente da República, que me parece, desde o primeiro dia que o vi, um grande actor que mesmo assim, carece de descernimento. Ele é capaz de agir como um touro num supermercado.
Acordei muito cedo, na madrugada que ainda recebia as últimas gotas do luar. Espretei lá fora pelas frestas da casota, e vi Samora saíndo do seu casulo vestindo uma saiota vermelha, cingida no lombo por um cinturão de pano preto. Estava descalço. Atrás dele vinha uma mulher com seios enormes à mostra, segurando na mão esquerda um rabo de boi que ia introduzindo num recipiente que trazia noutra mão e chapiscava nas costas do Presidente, e eu fartava-me de rir perante aquele espectáculo ridículo. Nem parecia Samora Machel que rugia nos palanques, Independência ou morte!
Depois da “ducha” e do pequeno almoço, fui escolatado por dois brutamontes para o lugar onde vai decorrer a sessão de perguntas e respostas. Indicaram-me a cadeira onde devia sentar e reparei que não se diferia da outra que acomodaria o também apelidado “leão de Gaza”, embora esse epíteto pertencesse a Ngungunhana. E eu estou ali, sentindo com prazer o cantar do vento leve, enquanto espero pela sumidade do nosso tempo. Samora come na cubata, à mão, sentado na esteira com as pernas entreabertas. A panelinha de barro bruto, abastecida de xima e carne, está aconchegada muito perto dos testículos, que estão à mostra diante da mulher com os seios fartos e livres.
Serviram-me uma garrafa de água mineral importada da Rússia, para ir bebendo enquanto espero pacientemente pelo “boss”, e eu divirto-me com todo este cenário comandado pelo silêncio. Venero o silêncio. O silêncio é o melhor palco para amar. E o amor está acima de todas as coisas. “Vais amar o próximo, assim como de amas a ti próprio”.
Samora Machel sai da cubata vestindo, agora, o uniforme militar que o torna personagem destacável. É um leão saciado, pronto para novas batalhas. Mas contrariamente ao felino rei da selva que ruge depois de encher o bandulho, Samora ruge porque está com medo. Tem medo dos que lhe rodeiam.
Olho para ele e percebo que não está seguro. Titubeia na minha direcção. Parece um sonâmbulo que caminha para o fim, e eu levanto-me para saudar o ídolo das massas. Samora já não se envaidece. Muito menos embevece. Ele degenera. Está sitiado por um batalhão armado que o protege. Parece Ngungunhana quando estivesse ébrio, metia medo. Só que, Samora Machel, para além de meter medo, ele também está com medo. Não consegue responder às minhas perguntas. Delira em todo o tempo dizendo, A luta continua!
Estou a ouvir Rádio desde às quatro, deitado sozinho na cama com saudades da minha mulher que zarpou há cinco anos, farta da minha conduta, e eu não vejo o mínimo sinal de que um dia o caminho dos meus pés voltará a ser como era dantes, cheio de flores. Moro no décimo sexto andar de um prédio na 24 de Julho, e até hoje não sei como é que ainda não me suicidei, pois tenho tudo facilitado pelas alturas. Não preciso de recorrer à corda nem ao veneno, daqui posso saltar sem recurso ao pára-quedas.
O locutor de serviço é Agostinho Luís, meu ídolo. Um homem que tem toda a alma na voz devastadora, capaz de provocar terramotos em todos os sentidos. Com este actor a falar eu não tinha outra saída que não fosse entregar-me, por inteiro, ao seu chamamento. Agostinho é o próprio sino, cujo som produzido pela batida do tremendo badalo, vai reboar pelos quatro cantos do globo que está dentro de cada um de nós.
É madrugada em Maputo, dizia ele na sua voz de ouro, para depois tocar a música “Chove chuva, chove sem parar”, do brasileiro Jorge Ben, e eu senti fortemente o escorrer do coração, pensando na minha mulher, na minha linda mulher perdida para outros braços. Para outro coração, melhor que o meu.
Saltei da cama quando Agostinho voltou a falar, e disse assim, “chove em Maputo”. Mesmo assim, este locutor de elevada classe, inigualável, não podia preencher o vazio deixado pela minha Mbuli, muito provavelmente aconchegada no peito de outro homem nesta madrugada fria, depois de uma noite inteira cheia de amor, e eu sem amor nenhum. Sentindo-me um nenhumano. Um verme.
Fui à varanda do meu quarto. Olhei lá fora e chovia em cascata. Parecia que Deus tinha aberto todas as torneiras do Céu, e se eu daqui me atiro, sem páraquedas, não tenho a menor dúvida de que o meu corpo irá esparramar-se lá em baixo, de vez. Mas eu não vou fazer isso, para além de que venero a chuva, ela não merece misturar-se com o meu sangue envenenado pelo álcool que não páro de insuflar neste corpo putrefacto, desde que Mbuli foi embora. Aliás, ela foi exactamente porque eu sou uma pipa.
Volto à cama e sento-me na borda ouvindo o Agostinho Luís. Olho para a garrafa de whisky na cabeceira e não resisto. Acendo um cigarro e impregno todo o espaço que me acolhe com fumo. Entorno a bebida no copo vazado no último gole da noite, e partir daqui, o que me espera é a pângeda. A continuação da pândega. E hoje também não vou trabalhar, que se lixe! Quem vai mudar o mundo não sou eu!
Queimo as goelas com Scotch, e os pulmões com fumo, sob a doce sombra do Agostinho Luís que, em sintonia telepática comigo, põe a girar a universal Eu bebo sim/ Eu tou vivendo/ Tem gente que não bebe e tá morrendo/ . É um samba de Elza Soares, de 1973, celebrizado na voz de Elizeth Cardoso. Mas toda essa paródia não vai impedir a minha derrocada.
Mbuli! Ela não me sai dos pensamentos, apesar de eu saber que não sou digno dela. E o que mais me dói nisto tudo, é que, enquanto caminho pelo desfiladeiro ígreme em direcção ao poço escuro com espigas de aço à minha espera, ela brilha nos patamares da felicidade. Com outro homem. Melhor do que eu. Isso é que me doi!
Numa altura em que as pessoas sugeriam, por zombaria, um megafone para António Frangoulis amplificar a voz, definhada por uma infecção que parecia determinada a apagar de vez a alma do criminalista, a qual residia exactamente na laringe, eis que ele decide enfrentar a faca do otorrinolaringologista. E o resultado da intervenção ciríurgica é esse: a vocalização das palavras regressou com alguma limpidez.
O homem estava no auge, desdenhando os detractores do seu palmarés, e de peito aberto, predispôs-se para todas as batalhas, sem disfarce, enfrentando os gurus da Frelimo que tremiam perante um camarada que os desafiava. Frangoulis sabia que a eles não convinha ter um inimigo da sua magnitude, um indivíduo que se metamorfoseava em direcção ao livre arbítrio da sua consciência. Tinha certeza, absoluta, de que naquele tapete rolante onde todos giravam, corria riscos. Enormes. Mesmo assim, talvez com grande dose de arrogância, decidiu avançar como os gnus, cuja marcha pode ser interrompida para sempre na travessia do rio dos crocodilos.
Foi isso que Frangoulis, tornado personagem, um actor de topo, fez. Atirou-se ao rio traiçoeiro para nadar, em determinados momentos, de mariposa. Noutros momentos, de bruços, e nas etapas cruciais convocava todas as suas energias para nadar de livre. Aliás, pode ter sido esta ousadia, este desprezo pelos algozes, o fundamento para o túnel escuro que o vai levar ao pricipício, até prova em contrário, sabido que estamos perante alguém que tem demonstrado uma grande capacidade de refocilar. Quer dizer, você enterra um gato vivo a vários metros de profundidade, e ele refocila. Ou seja, volta à superfície. E António Frangoulis parece ser um gato.
Encontrei-o no Djambo, sentado numa das mesas da esplanada, com os dois braços suportando o queixo por via das mãos coladas uma sobre a outra. Reparei que dançava com as pernas, provavelmente para espevitar os pensamentos. Olhava aparentemente para o vácuo, quando no fundo podia estar a vigiar todos os movimentos do lugar, sabido que uma pessoa do porte de António Frangoulis, está proibida de se distraiar. Qualquer movimento para ele é suspeito. E a mão direita está em permanente comunicação silenciosa com o revólver dessimulado.
Há uma azáfama na baixa da cidade de Maputo, os vendedores ambulantes misturam os apelos ao negócio, com as buzinadelas dos automóveis que não cessam de nos fustigar os tímpanos. Os camiões monstruosos invadem a “25 de Setembro”, como se fosse normal andarem na cidade, descarregando os compressores como sempre o fazem na auto-estrada, brrrrôôôôôôoooooo! O Djambo torna-se inóspito, desvalorizando o grande simbolismo que ele carrega, na longa história de uma cidade cosmopolita, que vai caminhando irreversivelmente em direcção ao caos.
Frangoulis faz parte deste drama, nunca fugirá dele, e é mentira que não tenha medo. Quem não tem medo não anda com um revólver furtivo por debaixo da axila. Mas eu estou curioso, o que é que este homem está a fazer aqui? Beber whisky pode ser um pretexto. E ele bebe em doses cavalares, sem ninguém por perto para conversar. Até porque eu o conheço, podia estar ali com ele, porém escolhi recolher ao interior do bar, de onde podia controlar em pleno os movimentos do “bufo” mais mediático de Moçambique. Temido pelos bandidos e por outros “bufos”.
Desde que eu cheguei, já bebeu quatro duplos – pode ter vertido goela abaixo outros antes - e ainda não notei qualquer alteração no seu comportamento. Tirou as mãos por debaixo do queixo. Tem agora os braços cruzados por cima da mesa, onde o copo de whisky funciona como uma lamparina para iluminar as ideias. Ele continua a dançar com as pernas, e parece alheio a vozearia dos bebedores entusiasmados que enchem o Djambo. Engajados na conversa.
Quando a empregada de mesa movia-se para depositar o sexto duplo na mesa do “meu” personagem, ouviu-se uma explosão que parecia de uma arma. Muitos atiraram-se para debaixo das mesas. Outros, terrivelmente assustados, perderam o descernimento e correram para a estrada onde podiam ser atropelados, outros ainda foram se apertar na casa de banho. Mas António Frangoulis manteve-se tranquilo no seu lugar, brincando com o copo vazio. O estoiro era de um pneu.
Sempre tive um fascínio intenso pelo entardecer. Arrebata-me o vermelho-amarelado espalhado pelo pôr sol, na zona onde, por limitação de óptica, o céu parece terminar. Toda aquela grandiosidade faz-me acreditar em novas auroras. Também porque é ao fenecer do dia que os cânticos dos pássaros retumbam, deixando-nos com a sensação de que é possível recomeçar depois das derrotas.
O Presidente Nyusi disse-me, ao telefone, que a entrevista – há muito desejada - podia ser feita ao fim da tarde de Domingo, na Ponta Vermelha, e eu saltei de alegria, não propriamente porque finalmente iria ser recebido pelo Chefe de Estado, mas porque o encontro vai acontecer ao fim da tarde. Ainda por cima de domingo, depois de me apetrechar com a Palavra de Deus.
Foram buscar-me no Hotel Radison Blu, onde estava hospedado com todas as despesas pagas, suponho eu, pelo herário público. Do meu bolso seria impensável sustentar aquele fausto, onde na casa de banho os chuveiros funcionam com sensores, e há uma garrafa de champanhe aqui na banheira, embutida num pequeno balde com gelo.
Alguém ligou para o meu celular e disse assim, o senhor está a ver um carro preto da marca Toyota Prado aqui na entrada? Eu disse que sim. E ele voltou a rosnar, “venha até aqui”. É daquelas máquinas que chamam a atenção pela pintura luzidia e os vidros escuros que não nos deixam ver absolutamente nada lá dentro.
Cheguei perto e a porta da traz abriu-se. Tremi. Pensei por uns instantes em desistir, por medo, porém não podia fugir porque o Presidente da República, inteiro, está a minha espera. E de um Presidente não se foge. Ou seja, eu já tinha entrado na rede de emalhar, e as probabilidades de sair dalí eram por demais ténues. Mas quando me lembrei que era final da tarde, o meu coração ora descompassado, estabilizou-se. Entrei e sentei-me no lugar onde estaria acomodado, em passeio discreto, o próprio Nyusi. Senti-me presidente da República, um posto que nunca almejei por todas as consequências que isso acarreta, incluíndo levar um balázio dos próprios guarda-costas.
Deslizamos suavemente pela marginal, num percurso que me permitia desfrutar da espectacular paisagem que incluiu as Ilhas Xefina e Inhaca, e ainda a Ilha dos portugueses. Mesmo assim senti-me um prisioneiro nas mandímbulas de um corcodilo, que me vai levar pela última vez a apreciar a beleza da terra, antes de me puxar para a sinistra toca onde vai-me executar. Mas é fim de tarde, e eu vou ser protegido por esta muralha que já se tornou meu amuleto.
“Fizemos” a rotunda da Praça Robert Mugabe e subimos na marcha derradeira para a Ponta Vermelha, onde me espera um homem vulgar, agora investido de poderes invulgares. Não tenho medo dele, mas a Lei obriga-me a respeitá-lo como símbolo do poder. Nyusi é o nosso Presidente, “querendo como não”.
A primeira diferença que notei ao entrar no sumptuoso lugar que acolhe o alto magistrado da Nação, é que os pavões estimados pelo ex-chefe de Estado Armando Guebuza, já não estão lá. Foram substituídos por rolas e pombos brancos que esvoaçam livres pelas árvores frondosas, e poisam levemente por sobre a relva cuidada, que expõe um verde brilhante.
Permaneci dentro do carro, estacionado de forma aparentemente negligente, à espera que me dessem instruções. Desceu o homem que ia à frente, ao lado do motorista. Logo a seguir saíu o condutor, ambos indivíduos rudes. Fiquei sozinho. Tranquilo. Porque é final de tarde. Ainda por cima de um domingo que começara da melhor forma.
Vejo o Presidente Nyusi a vir na minha direcção, naquele seu estilo meio cambaio, talhado não exactamente para dançar mapiko, mas para qualquer coisa indecifrável, sabido que homem baixinho é imprevisível. Traja um fato de treino vermelho e pareceu-me que acabava de fazer a barba, por isso estava com o rosto fresco. Jovial.
Ele próprio abriu a “minha” porta e disse-me assim, naquele sotaque misturado entre o ximaconde e swahili, seja bem vindo irmão! Desci para saudá-lo. Apertei-lhe a mão e senti que ele treimia. Eu não! Puxou-me para debaixo de uma sombra onde nos sentamos, “tête a tête”, o Presidente e eu, ouvindo a música das rolas e dos pombos.
Nyusi disse assim, depois de beber um gole da água mineral importada da Birmânia, não é bonito ouvir o cântico das rolas e dos pombos? E eu perguntei-lhe assim, senhor Presidente, por que é que nós os moçambicanos não cantamos assim, em uníssomo, como estes pássaros?
* Texto imaginário
Era uma fogueira admirável. Desafiava as fortes chuvas que vinham, por exemplo, de Maputo e Nampula e Xinavane e Sofala e de dentro da sua zona de influência. A precipitação caía em catadupa sobre as fortes labaredas dessa lareira, que entretanto, no lugar de desvanecer, ressurgia. E triunfava nos combates. A equipa do Gomes da Maxixe, como também vai ser conhecida esta formação, tornou-se um elo. Unia todos os bitongas e todos os vathswa e todos os vatchopi e todos os vandawu que desciam de Mambone para festejarem a magnificência de um conjunto de mito.
Mesmo assim, ainda alguém tentou contrariar o rumo fervoroso de uma formação que tinha um patrão forjado para as sagas. Reuniram-se dirigentes e antigos jogadores de futebol nascidos em Mucucune, um arquipélago discreto que fica à ilharga da cidade de Inhambane, e o obejctivo era reformular a equipa local para, com todas as armas possíveis, parar com as “brincadeiras” desses senhores.
Tocaram-se as trompetas em toda a província, anunciando o grande jogo que vai colocar frente a frente o Nova Aliança da Maxixe e o Mucucune, numa luta em que a equipa do Gomes da Maxixe tinha que ganhar para se manter no Campeonato Nacional, e os “ilhéus” também precisavam da vitória para ascenderem à panóplia dos grandes. No fundo o Mucucune tinha bons executantes, capazes de contrariar todas a expectativas, é por isso que o Gomes da Maxixe passou noites e noites sem dormir, enquanto o jogo não se realizasse.
A província inteira borbulha porque, como se propala pela voz do povo, alguém vai morrer. Foi convidado um grupo de zorre para abrilhantar a festa que se espera intensa. O farfalhar dos trazeiros das mulheres, libertados na dança, segundo se diz por aqui, é um forte incentivo para os jogadores. E como se isso não bastasse, vem aí a orquestra de Tmbila ta Mwaneni e a sua louca matxatxulani, que vai nos mostrar o feitiço das coxas e das ancas. Os locutores da Rádio Moçambique não páram de anunciar a realização da partida. E em todo o lado a conversa é essa, ou seja, ninguém sabe o que na verdade vai acontecer, porque esses tipos de Mucucune podem fazer das suas. Outros ainda diziam, agora é que o Gomes vai sentir o sabor do sal. E o sal vem de Mucucune.
O Nova Aliança da Maxixe era isso, um desiquilibrador dos prognósticos. Não é por acaso que no seu logotipo vamos ter uma gaivota ( nhalégwè em bitonga). Significa que é uma equipa concebida para atravessar mares e oceanos. Não há vento que o desvie do seu azimute. É como se todas as suas realizações fossem feitas a partir do topo, de onde já não se pode ir a mais nenhum lugar, ou melhor, de onde só se pode partir para a levitação.
Eles eram a glória da Maxixe, e de toda a província de Inhambane, até ao dia em que o eixo de toda a gravitação, o Gomes da Maxixe, deu o último suspiro sobre a terra. Aí tudo começou a desmoronar, até entrar em derrocada. O que nos entristece é que até hoje nunca ouvimos, a nível oficial, nada sobre uma homenagem a um homem que deu tudo de si e da sua fortuna, para alegrar o povo, onde os políticos se emiscuíam. Agora a gaivota já não voa. E o mais provável é que sucumba de vez. O que seria muito lamentável!
Comprei uma recarga de dez meticais da Movitel e converti o valor em megabyts. O resultado desta operação permite-me ir ao Youtub e ficar lá durante três horas a ouvir música. A assistir, em deferido, a memoráveis espectáculos dos meus ídolos, que ainda são os mesmos. Três horas de viagem consecutiva, embalado numa nave espacial que levita na órbita do espírito, é verdadeiramente uma catarse. E eu, por mais que o desejasse, não teria outra escolha que não fosse entregar-me todo, por inteiro, ao apelo inegável da música. Da boa música.
A minha casa está implantada num enorme quintal onde disponta um pequeno pomar de quatro laranjeiras. Tenho ainda duas mangueiras, dois limoeiros, uma toranjeira e um desabrochamento de plantas de camomila. Aqui reina o silêncio, poucas vezes interrompido pela comunicação entre mim e a senhora dona que está aqui para me dar algum azimute. De resto tenho a liberdade total para fazer as minhas coisas, e uma dessas coisas que gosto de fazer, é ouvir música. E ver shows que a memória jamais apagará.
Já perdi o hábito de estar na sala a ver televião. Este lugar para mim tornou-se um claustro, ou seja, quando estou aqui a sensação que tenho é de que os meus pulmões degeneraram. Falta-me ar. É por isso que que busco recorrentemente a sombra das minhas árvores, onde me sento na cadeira de palha a ouvir, ou a música dos pássaros, ou vomitada pelos pequenos alfitalantes do meu computador, ou ainda a própria música do coração.
Acho tudo isto muito admirável. Nas manhãs são as tuta-negras que me acordam quando o dia ainda é uma aurora, e no final da tarde são as rolas que me avisam, no seu recolher, arrulhando melancolias, sobre a chegada lenta da noite. As aves aproveitam a copa das minhas árvores, e poisam irrequiestas para agradecerm a Deus, cantando canções que oiço todos os dias sem me cansar. Amiúde descem e pisam a terra com as frágeis patas, procurando algo para debicar sem medo de mim.
Mas hoje estou com o computador ligado debaixo desta mangueira. Quero ouvir a música dos meus ídolos, aproveitando os “megas” convertidos dos dez meticais. Sinto-me feliz. Livre. E sem saber porquê, comecei por um rock-blues, bem içado pelas mãos de uma panóplia de ouro, Buddy Guy, Eric Clapton, John Winter, Robert Cray, Humbert Sumlin. Eles tocam “Sweet home Chicago”, uma verdadeira catarata de guitarras tocadas por gente auspiciosa. Fazem parte do meu tempo, porém isso não me basta. Não me saceia.
Procurei Louis Armstrong, nascido antes da Segunda Guerra Mundial (1901), e o que eu queria ouvir dele era Hello Dolly e What a Wonderful World. Senti-me elevado. Mesmo assim não podia esgotar a minha conta sem ver e ouvir Fela Kuti e o inevitável Hugh Masekela, que me levou para sempre na apresentação que fez em Lugano, em 2009, cantando o inultrapassável “Stimela”. Foi aqui onde percebi tudo, Hugh nasceu para cantar. E tocar trompeta. No cume.
Sigo este ritual de forma quase religiosa, e este imenso verde que me cerca, e ajuda na regulação do gás carbónico na atmosfera, é mais do que isso. É uma importante plateia que me leva a vastidão do mundo da música, onde o coração transborda e outorga a paz. Na verdade, este verde leve dá-me isso. De graça.
Já haviamos combinado que a entrevista decorreria na esplanada do Hotel Tofo-Mar, e eu cheguei uma hora antes. Às nove. Estava bem disposto, inspirado para explorar ao máximo um homem invulgar. Um personagem. No fundo será uma ousadia, pois como se diz, se quiseres enfrentar um monstro, tens que ser um monstro, e eu não sou. É por isso que fui buscar vários reforços para encará-lo, de frente. E uma das vigas que vou usar para cingir o meu lombo, é o poder da imaginação.
A maré esta a vazar, e as ondas vão perdendo fulgor. Daqui onde estou a paisagem é linda, e tudo isto dá-me uma sensação indescritível de liberdade. Vejo, de longe, em pleno Oceano Índico, um barco passando em direcção ao sul, e um dos trabalhadores do hotel apressou-se a dizer que está alí um cruzeiro. Na verdade este é um ponto privilegiado de contemplação. É um lugar que mesmo assim está na iminência de ceder ao mar, que vai “comendo”, aos poucos e poucos, a terra que já não se pode gabar da sua firmeza.
Tenho à minha mesa uma pequena garrafa de água, da marca Vumba. Vou bebendo gole a gole enquanto espero por uma pessoa que nunca vi em carne, a não ser em livros. Estou ansioso. Há um terramoto que se anuncia dentro de mim, e esse sentimento pode abalar a minha alma e destruir-me por inteiro. Desde que estou aqui, há quarenta minutos, o meu telefone ainda não tocou, não sei se isso é bom. O silêncio, agora mais do que nunca, ruge a minha volta, parecendo que eu próprio sou o actor principal de um filme de terror.
São dez horas. O garçon aproxima-se e pergunta-me se vai mais uma água, uma vez que a garrafinha já não tinha conteúdo. Eu disse-lhe que sim, vocalizando suavemente uma palavra comprometedora, ou seja, o “sim” é de uma grande responsabilidade. E o que vou fazer na esplanada do hotel Tofo-Mar não é nenhuma brincadeira. Quer dizer, convoquei um homem inteiro que vai deixar os seus afazeres, para ser interrogado por mim.
Não páro de olhar para a entrada que dá acesso a tranquila esplanada onde estou sentado, esperando por um enigma. Pode ser que não faça, por incapacidade, as perguntas apropriadas. Eventualmente ele também irá me colocar questões, e não terei sabedoria para ir ao encontro das suas expectativas. Há um maremoto que me devasta mais o coração do que exactamente o cérebro. A minha pressão arterial deve estar perto dos duzentos, ou um pouco para além disso, e nestas condições o médico não vai levar-me, concerteza, à sala da cirurgia.
São onze e vinte. Vejo um homem muito entrado na idade (um ancião), dirigindo-se resolutamente a minha mesa, apoiado num cajado que suporta o lombo cansado. Parece dançar com as ancas descompensadas, ao estilo das hienas, animais com a dentadura mais feroz da selva. Ele sorri para mim, e não tive quaisquer dúvidas de que era ele. Levantei-me, sorrindo também, e fui ao seu encontro.
Abraçamo-nos efusivamente, e eu senti o corpo do homem tremendo como a terra flagelada pelos sismos. Também tremi. E nós os dois passamos a dançar a música dos nossos corações. Era uma espécie de transmutação, porque este momento trouxe-me a serenidade que precisava para entrevistar este mamute. Mas a entrevista não se materializou. Ele pediu – depois de nos sentarmos - um duplo de “scotch” e disse-me assim, amigo, desculpa, vamos conversar amanhã, hoje deixa-me contemplar esta maravilha do Índico. Fica comigo, por favor, conta-me a tua vida.
Tenho 96 anos de idade e nunca tinha visto antes uma coisa igual. Já vivi momentos dramáticos e de medo, que ultrapassam os limites da dor, como estar uma noite inteira debaixo do matraquear incessante do granizo por sobre as chapas de zinco que cobrem a minha casota, e do rimbombar apocaliptico dos trovões que pareciam a última ira do próprio Jehová dos Exércitos. Experimentei a terrível sensação de que o mundo ia implodir para dentro dele mesmo, ou para dentro de nós, nos anos 40, quando um terramoto flagelou aldeias inteiras em Kassakatiza, alí no limite entre Tete e Zâmbia. Tenho ainda na parede da memória, o remoínho que me arrancou do rio Zambeze, para fustração dos crocodilos, colocando-me no ar como Jesus Cristo em ascenção, depois de se despedir dos Seus discípulos em Galileia. Tenho esses profundos episódios todos, inesquecíveis, e eu a pensar que não haveria mais nada de extraoridnário para viver.
Eis que agora, empurrado pela própria história, provavelmente pelo destino, estou aqui, numa cidade alagada de preconceitos e tabus sem fim. A princípio, quando cheguei, vindo de Chinde - outra escala da minha existência de andarilho anarquista - esta urbe parecia incapaz de produzir feitos notáveis, para além do sossego, que por sua vez nos dá a falsa sensação de que a vida aqui é completamente musicada. Mas aos poucos e poucos, fui percebendo que por detrás deste sereno ulular, podem estar escondidas várias hienas que passam a vida a sorrir para esconder o asco.
Moro num ponto privilegiado da baía, em Nhapossa, de onde posso contemplar, de longe, as cidades de Inhambane e Maxixe. À noite passo horas e horas observando tranquilamente as luzes emanadas pelas duas urbes, as quais, por sua vez, deixam escapar as gotas da iluminação que se espalham pelo mar, tornando a paisagem ainda mais reverberante. Tudo isto é uma beleza sem paralelo, enfatizada pelo murmúrio imperceptível das ondas pacatas. É uma dávida.
E porque a cidade de Inhambane é um alfobre de mistérios, temos que estar preparados para o pior. Na última quinta-feira (9 de Janeiro de 2020), acordamos entusiasmados ao ver o Céu completamente coberto de nuvens, depois de meses e meses sem chover por estas terras. Era o renovar da esperança, que mesmo assim, perante todos os sinais de infausto, nunca desvaneceu. Trovejou em sussurro sem que antes podessemos visualizar os relâmpagos. Pingos escassos começaram a tamborilar por sobre os nossos tectos, mas pouco tempo depois tudo voltou com era. Sol devastador.
Porém, do lado da Maxixe, que fica aqui pertinho, chovia a potes. E no lugar de a precipitação alastrar-se até onde havia sido anunciada, foi desviada para Homoíne, Panda e Funhalouro, deixando-nos a mercê da canícula e dos pensamentos. Dizem que alguém, cheio de maldade e rancor contra estes lugares, “amarrou” a chuva. Aqui não pode chover, e muitos acreditam nisso. Aliás, eu também, que pensava ter vivido o lado mais dramático da vida, sou tentado a pensar como esses muitos. Até porque aqui mesmo, nas profundezas deste pedaço de mar, há pessoas que vivem em comunhão com os peixes e mariscos afins, incluindo tubarões que têm aparecido como se fossem o terror dos mares. Esses seres humanos naufragaram. Uns reapareceram, e hoje são curandeiros. Outros, contudo, continuam lá, na esperança de um dia voltarem.
Nos meados de Dezembro de 2019 eu voltava de Linga-Linga, depois de uma visita familiar. Esse poderá ser o dia mais espectacular dos meus últimos tempos. Fomos perseguidos pela chuva, que entretanto limitava-se a cair à volta do barco à vela que nos transportava, sem nos atingir. Andamos cerca de duas horas à favor do vento, cheios de medo, com a chuva a escoltar-nos, e o marinheiro, experiente nestas andanças, dizia-nos, fiquem calmos, havemos de chegar.
Na verdade, depois da Ilha de Inhambane (Giidwane), a chuva desapareceu. Vimo-la voltando para Linga-Linga e ninguém ousou perguntar, mas o que é isto!