O último aumento dos combustíveis no país desencadeou uma onda generalizada de instabilidade em quase todos os sectores nevrálgicos da nossa sociedade, particularmente na economia. É que, logo a seguir ao aumento do preço na “boca” das bombas, os transportadores deixaram imediatamente clara a sua intenção de aumentar os preços que cobram aos utentes - e chegaram mesmo a aumentar em muitas cidades e vilas do país, apesar das manobras do governo de tentar impedir ou inviabilizar. Para surpresa geral, as próprias gasolineiras que acabavam de aumentar o preço dos combustíveis vieram a público indicar que poderiam paralisar as suas actividades caso o governo não lhes canalizasse o subsídio acordado, cujos valores, segundo as gasolineiras, andavam pelos 120 milhões de dólares na altura. Argumentam eles que o aumento efectuado continua aquém do pretendido e, assim, continuam a incorrer em prejuízos.
Os combustíveis são, sem dúvida, a parte mais sensível do sector dos transportes, este que é, por excelência, o “sangue” da economia de um país. Sem um eficaz e eficiente sector de transportes, nenhuma economia tem vitalidade. O transporte é central na economia; sem ele, não funciona, não se desenvolve. Não acontece nada. É através de transporte que um investimento é feito num determinado ponto, ou região; é através de transporte que se levam os factores de produção para os centros de produção; é através de transporte que se leva a produção para armazenamento e deste para a comercialização, seja ele interno ou externo/exportações.
E estes transportes podem ser rodoviários - ie., usam estradas; ferroviários - ie., usam as linhas/vias férreas; aéreos - ie., usam aviões; e marítimos - ie., usam as águas do mar ou dos rios. Todos estes meios têm um denominador comum: usam combustíveis.
Cada tipo de transporte tem as suas vantagens, mas complementam-se. Os transportes ferroviários (comboios) e os marítimos são mais vantajosos no transporte de carga, regra geral transportam enormes quantidades de carga diversa e por longas distâncias; os aéreos (aviões) são mais rápidos para longas distâncias; os automóveis são mais práticos no transporte intra e inter-urbano, não se tratando de longuíssimas distâncias.
Uma economia que se preze e que se quer mais robusta a longo prazo, que se pretende desenvolver, tem que fazer a combinação destes diversos meios de transporte. Não pode apostar em um único, não seria nem eficiente, nem eficaz. Temos de ter linhas férreas pelo país; temos de ter transporte marítimo (ao longo da costa e fluvial); temos de ter estradas em condições (auto-estradas, primárias, secundárias e terciárias). Isto é fundamental para uma economia.
Dito de outro modo, o sector de transportes de um país, de uma economia, deve ser robusto, pujante e em desenvolvimento. O movimento de pessoas e de mercadorias não pode ser constrangido por nenhum factor. As mercadorias devem chegar a qualquer ponto dessa economia em condições menos onerosas e em tempo útil; as pessoas devem poder movimentar-se para qualquer que for o ponto que pretendam, com custos que não onerem muito o negócio que pretendem ou estão a desenvolver. Isto é a dinâmica de economia.
Chegados aqui, a pergunta é: qual é o nosso plano estratégico para o desenvolvimento e robustecimento do nosso sector de transportes? Mais directamente: quando é que teremos uma linha férrea nacional? Ou linhas férreas ligando as capitais provinciais? Já ouvimos que a construção de uma linha férrea é muito cara; mas, vamos ser claros, os países que são desenvolvidos, são-o porque detém um parque ferroviário com robustez. Não reclamamos que se construa num ápice… claro que é impossível. Mas, no mínimo, que nos dissessem quando é que teremos uma linha férrea ligando o sul ao centro e ao norte, ou vice-versa, se preferirmos.
Pelo menos que nos dissessem quando é que teremos cabotagem. Quando é que teremos navios transportando mercadorias e/ou passageiros ao longo da nossa costa. Vários navios aportam nos nossos diferentes portos, vindos de todo o mundo. E a nós isso não nos excita, não nos dá que pensar. Assistimos impávidos e serenos!
Não faz sentido que toda a mercadoria do norte para o centro e sul e vice-versa tenha que estar a ser transportada por camiões pela EN1. Uma das consequências visíveis a olho nu é que a nossa estrada está sempre a degradar-se. É muito camião a andar pelas estradas e com mercadoria em quantidades bastante grandes.
O que pretendemos no nosso sector de transportes é o que vemos no sector de energia… infelizmente, não em muitos outros! Sabemos que em 2030, a energia vai chegar a todos os moçambicanos. Sabemos que, até ao fim do mandato do Presidente Nyusi, todos os postos administrativos vão ter energia eléctrica e que em pouco tempo Moçambique vai-se tornar num pólo regional de produção de energia. Mas não sabemos nada sobre o sector dos transportes e outros. Não sabemos nada sobre o sector ferro-portuário. Queremos um plano estratégico de desenvolvimento dos nossos caminhos de ferro. Uma abordagem integral dos transportes no país, a expansão dos caminhos de ferro, das estradas, a cabotagem… uma Estratégia Nacional do Desenvolvimento do Sector dos Transportes na sua globalidade.
Temos que ter um instrumento orientador, se não, não vamos longe! Não é porque no sector de energia erguer infra-estruturas seja menos caro, ou porque a EDM está cheia de fundos para investir; tem o seu plano director, que é um orientador do desenvolvimento do sector!
ME Mabunda