O ponto de interrogação eh se essa mudança eh boa para o futebol, se ela corrompe sua magia e destrói sua aura flamboyant e o traço lavish do talento puro. Será que estamos testemunhando a imposição de um estilo de jogo sisudo? Creio que não! Haverá sempre espaço para a erupção do talento puro para onde gravitarão nossas hossanas de veneração. O golo do francês Pavard na eliminação da Argentina eh prova isso. O drible de Luca Modric sobre Otamendi, o soberbo encaixe de Toni Kroos nos minutos finais do Alemanha/Suécia, a execução de CR7 no livre que remeteu De Gea a um falacioso golpe de vista e a perícia do nigeriano Musa num contra ataque iniciado por Victor Moses indicam que haverá sempre um momento em que o talento irrompe contra a nova ortodoxia do jogo. Até porque o novo paradigma não esvai o talento da sua corrente sanguínea.
Mas esse arrebatamento estratosférico do talento natural no momento da verdade hoje parece ser uma coisa de extremos. A constelação azul celeste sob a batuta de Messi se apagou no universo aguerrido das águias nigerianas, arrancando uma vitória a ferros. A deriva da Espanha na fase de grupos e a incapacidade de Portugal suplantar o Irão, dão conta, sem batota, do nivelamento crescente da qualidade da execução colectiva. Os menos talentosos estão competindo em igualdade de circunstâncias com Messi e Companhia.
Carol Dweack, em Mindset – The New Psicology of Sucess (Randon House New York 2006), disserta sobre a diferenca entre “nature” e “norture”, entre o fixed mindset e o growth mindset. Divaga sobre a qualidade intelectual do homem, argumentando que ela pode ser cultivada através do treino intenso e do esforço contínuo Sua analogia para o desporto eh seminal. Ela mostra como o talento natural sucumbiu, em muitos casos, perante o trabalho aturado. Muhamed Ali era um mau pugilista, menos dotado que Sonny Liston. Mas através do treino e do estudo minucioso da luta de Liston ele venceu. Michael Jordan não tinha um talento natural. Ele eh produto do