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Carta de Opinião

segunda-feira, 14 outubro 2019 07:10

Ficas pelo peixe com legumes?

Hoje é dia de reflexão. Dia de pensar o que queremos para o nosso futuro e, principalmente para o dos nossos filhos. Já dizia Samora Machel que “as crianças são as flores que nunca murcham”. E é verdade. Há 44 anos, quando Moçambique ficou independente, a par com outros países de expressão portuguesa, muitos de nós éramos essas crianças. Hoje, depois de já termos uma história para contar às nossas crias, somos nós que decidimos. E decidir votar é a melhor opção. É participar numa sociedade que queremos mais justa, mais ecológica e mais transparente.

 

Lembro-me de uma campanha publicitária, há 10 anos atrás, que incentivava os moçambicanos a irem às urnas. Fazia uma paródia em relação àquilo que chamamos: mais do mesmo. O comer peixe com legumes e estar sempre a reclamar. Essa campanha foi um dos motores que me levou a votar com mais afinco nesse outubro de 2009. Estávamos a viver uma nova era, com o aparecimento de uma terceira força política e a esperança de que tudo ia mudar. Que os partidos se iriam esforçar para um futuro melhor para nós todos. Hoje temos quatro candidatos à presidência. E que mais?

 

Agora, sem o poder da clarividência, mas com as marcas da experiência, olho para trás e vejo que tudo piorou. Temos um país na banca rota, altos níveis de corrupção e os raptos e a violência agudizaram na Pérola do Índico. Decidiu, quem pode, evacuar as suas crianças para fora do país. E o nosso sonho em 2009?

 

Tudo bem que agora temos um novo cartão postal, a ponte. Temos mais marcas de cerveja, o pandza juntou-se à política e o tseke ficou na moda. Mas acredito que ninguém queria que o metical desvalorizasse vertiginosamente, que milhares de crianças continuem sem escola, porque Moçambique não é Maputo. Ya. Ninguém queria que inocentes continuem a ser assassinados, porque estão a “incomodar”. Que as fake news “matem” o Azagaia na véspera das eleições, como que um sinal de que temos de andar na linha. Ninguém quer ter medo de se expressar e lutar por um país melhor e viver, aos 40 anos, sem opção.

 

Por isso, e por tudo mais, vamos votar manas e manos. Vestir a camisola do poder de decisão e contribuir para que o nosso futuro, as crianças, aprendam a cuidar do nosso país e cresçam com sentido de justiça.

 

Nada de ficar em casa. Lembrem-se como foi há dez anos.

Conheci Anastácio Matavel num seminário na  província de Gaza em Outubro de 2001. Na sala de conferências do munícipio de Xai-Xai ele estava sentado numa das cadeiras da frente. A partida pensei que estivesse diante de um descendente de Ngungunhana (ou mesmo do próprio), o último imperador de Gaza, tal o porte e o jeito de sentar. Também chamou-me atenção - durante as apresentações dos temas e no debate - a sua notável concentração e a exposição das suas dúvidas, questionamentos e comentários. Uma característica, incluindo sentar a frente, que lhe era congénita conforme e desde então fui certificando.

 

O seminario foi no  âmbito de um programa de divulgação de assuntos sobre a dívida externa de Moçambique e do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA). Eu fazia parte de uma equipe de activistas do Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) que se deslocou à  Gaza para orientar um seminário e dai a instalação de um Núcleo Provincial do GMD. Deste núcleo seriam eleitos 03 representantes a fim de participarem - no mês seguinte - num seminário nacional na cidade da Beira, província de Sofala. No ano anterior (2000) o mesmo tipo de seminário tinha decorrido nas outras províncias e que por conta das cheias do mesmo ano não foi possível em Gaza.  

 

O propósito do programa era a disseminação dos resultados positivos da campanha internacional para o cancelamento da dívida externa (Jubileu 2000) e do principal condicionalismo imposto pelos credores - capitaneados pelo Banco Mundial - aos países beneficiários do alívio reforçado da dívida, os ditos países pobres e altamente endividados e que incluía Moçambique na lista. Estes países deviam possuir uma estratégia de redução da pobreza (o nosso PARPA) de médio prazo (5 anos) e que contasse com a participação da sociedade civil na sua elaboração, implementação, monitoria e avaliação. Um condicionalismo que a sociedade civil recebeu com simpatia, pois constituía uma oportunidade efectiva para participar e influenciar o rumo dos processos e políticas de governação em Moçambique.  

 

Na altura e  era estratégico que depois de apresentado o tema era  recolhido o feedback e só depois do intervalo é que se debruçava sobre os dados colhidos. Assim e durante o “lobby” do intervalo, dava tempo para esfriar os ânimos dos mais críticos e até dos hostis com uma dose de empatia, fora a do frango do almoço. E nesse dia, no intervalo do almoço, sentei-me com o Anastácio Matavel.  Foi o nosso primeiro encontro de tantos que se seguiram.

 

Em Novembro de 2001 voltaria a ver o meu amigo Matavel no evento da Beira. No encontro nacional em seguimento das sessões provinciais de divulgação. De todas as províncias participaram representantes e o encontro resultou na consolidação da implantação dos Núcleos Provinciais do GMD e da estratégia nacional de participação da sociedade civil nos processos de governação, sendo o PARPA a porta de entrada.

 

Desse evento retenho um momento que aos olhos de hoje classifico de grande alcance estratégico e que teve influência significativa no trabalho que a sociedade civil moçambicana viria a desenvolver. No primeiro dia, depois da apresentação sobre o PARPA - na verdade sobre o que devia ser um PRSP (Poverty Reduction Estrategy Paper), na linguagem do Banco Mundial - a sessão termina com a pergunta: de onde começar para monitorar o PARPA?

 

Uma vez que a participação na elaboração do PRSP/PARPA não seria possível pois o documento já havia sido elaborado e submetido ao Banco Mundial no âmbito do alívio da dívida, a leitura foi de que a participação não se esgotava no processo de elaboração. Aliás, um dos requisitos de um PRSP/PARPA era de que fosse um documento rolante e dinâmico o que abria espaço para novos “inputs” no seu processo de implementação. 

 

Na noite desse dia e porque teria que apresentar no dia seguinte a proposta da estratégia do GMD para a participação em todas as fases do PRSP/PARPA compulsei um dos documentos do Governo e nele estava escrito que para a implementação e monitoria do PRSP/PARPA não se produziria nenhum documento adicional e que para o efeito seriam usados os documentos operacionais anuais do Governo: o Orçamento do Estado (e o seu relatório anual de execução) e o Plano Economico e Social (e o respectivo balanço anual). Adicionei este item na apresentação da estratégia do GMD e pouco antes de terminar uma mão já estava no ar: era o suspeito do costume, Anastácio Matavel. 

 

Em poucas palavras e no seu tom de imperador, Matavel disse que doravante tudo passava por nos concentrar nos documentos anuais de governação e de que urgia conhecer profundamente tais documentos. No final da sua intervenção foi ovacionado em cadeia nacional. Foi algo como o primeiro tiro para o início efectivo da participação da sociedade civil na monitoria da governação. Um momento histórico que recorda um outro: o do tiro de Alberto Chipande que deu inicio a luta de libertação nacional.  

 

E foi do tiro de Matavel a gênese de um programa nacional e ambicioso de divulgação e formação rumo a monitoria anual do PARPA 2001-2005 (PARPA I) e tendo como horizonte a participação efectiva da sociedade civil na sua revisão e elaboração do que seria o PARPA II (2006-2009) em 2005. E neste exercício e outros da sociedade civil que se seguiram contou com a mão crítica e a sabedoria de Anastácio Matavel, em particular no comando da província de Gaza, sendo o fundador e o impulsionador-mor da cidadania nesta província.

 

Na passada segunda-feira, dia 07 de Outubro, volvidos 18 anos do nosso primeiros encontro e por coincidência na hora do almoço e na companhia de um amigo, recebo uma chamada que me informa que o Anastácio Matevel foi baleado por volta das 11 horas na cidade de Xai-Xai e que veio a perder a vida duas horas depois no Hospital Provincial. Eu ainda permanecia em linha e o amigo que estava comigo – depois de “googlar” sobre o baleamento de Anastácio Matavele – mostrou-me o resultado: era de facto Anastácio Matavel. O “Parpa” como carinhosamente nos tratávamos em homenagem ao nosso primeiro encontro.

 

Da última vez que falei com o amigo Anastácio Matevel foi no mês de Junho passado. Liguei para ele depois de acompanhar uma notícia televisiva sobre assuntos internos de funcionamento do FONGA, o Fórum de ONGs de Gaza que ele liderava. Do outro lado da linha o habitual “Viva Parpa”. E porque ele sabia a razão da minha ligação tratou de dizer que tudo estava a funcionar dentro da normalidade, tendo até citado algumas actividades em curso. Era o Matavel no seu melhor.

 

Na despedida ele disse e repetiu que os anos de combate cívico tornara-o resiliente a intempéries internas e externas. Infelizmente a sua resiliência não cobria a resistência a uma tempestade de balas. E de balas perdemos o Imperador (da cidadania) de Gaza e um activista de dimensão nacional e além-fronteiras. 

 

Saravá, Imperador Anastácio Matavel!

quarta-feira, 09 outubro 2019 05:59

Sou amado... e não percebo nada

- Não levas o guarda-chuva?

 

- Para quê!

 

Lá fora já se começam a ouvir as primeiras notas daquilo que daqui a pouco pode vir a ser o descer da  música da chuva. Há um prenúncio. De longe os trovões ribombam, lembrando enormes tambores metálicos vazios rolando por sobre o asfalto, empurrados pelos operários exaltados por Samora Machel.

 

- Viva a classe operário-camponesa!

 

- Vivaaaaaaaa!

 

Os relâmpagos são o sinal do maestro, e logo a seguir entra em acção a orquestra. Sustentada nos trovões. É bela esta canção. Indepedentemente da tragédia que pode vir depois de todas as claves. Mas enquanto não vem o dilúvio, deixem-me dançar por dentro este rugido de Deus.

 

O céu está negro. Enclausurado em si mesmo. De quando em quando rasgado em longas fendas pelos raios que depois caem por entre os coqueiros que também dançam como eu, no palco do vento, sem perceberem que toda aquela exuberância pode vir cá abaixo,  em derrocada. Eu também, posso sucumbir aqui mesmo. Como todos aqueles que não obedeceram ao Noa. Mas eu quero sair.

 

- Amor, leva o guarda-chuva!

 

Sou relutante. Já aconteceram muitas vezes estes sinais, em dias sem memória, e nenhuma gota de chuva caíu. Hoje também pode-se repetir isso. E seria uma grande maçada andar com esse acessório num dia sem chuva. Posso parecer um maluco. Não, eu não levo o guarda-chuva. Não vai chover!

 

Por causa da baixa temperatura (22 graus de máxima e 15 de mínima em Inhambane), visto uma gabardina de ganga, forrada por dentro. Na cabeça trago um chapéu, não propriamente à Tomaz Salomão, mas provavelmente à Pablo Neruda, ou à um italiano qualquer da máfia siciliana. Meus pés estão enfiados confortavelmente em duas sapatilhas de marca,  que ainda matêm o ritmo. Tudo isso adquirido nas xicalamidade, e a sensação que tenho, vestido assim, é de leveza.

 

Dou um beijo à minha companheira, que traz um guarda-chuva na mão, insistIndo, e eu volto a recusar amavelmente.

 

- Não se preocupe, amor, não vai chover.

 

Voltei a beijá-la, e desta vez não resisti ao impulso de abraçá-la profundamente. Ela também abraçou-me profundamente, no mesmo instante em que trovejava fortemente, agora muito perto de nós, por cima da nossa casa. Senti o amor verdadeiro que vem da parte dela. Dado a um sabujo que sou, que não aceita o protector que vem do carinho de uma mulher mansa.

 

Largo suavemente o corpo quente de uma criatura cândida, e sinto que ela deseja ainda manter-me no seus braços. Mas eu tenho que ir.  Saio sem olhar uma única vez para trás. Meto as mãos nos bolsos do casaco e recebo em retorno uma imensa paz de espírito. Caminho despreocupado. Nem os relâmpagos, nem os trovões me impedem de andar. Livre. Nem o céu negro, que não me assusta, mesmo sabendo que posso ser executado pelo mínimo sopro.

 

Passo pela licheira da Mafurreira e vejo um homem na gandaia, também desinteressado como eu. Quer lá saber dos relâmpagos e dos trovões! Mesmo que chova, qual é o problema? Deixa chover. A chuva não vem de Deus? E eu, não venho de Deus? Então, eu e a chuva somos irmãos do mesmo sangue. Vamos nos abraçar.

 

Não passam cinco minutos desde que saí de casa e lá está a descarga. Forte. O céu negro liberta em catadupa todo aquele vapor cumulado. Sou apanhado em cheio. Nem para trás, nem para frente. E em menos de trinta segundos já estou ensopado. Danado. E não me resta mais nada senão voltar para casa, onde a minha mulher, vendo-me entrar no quintal como um pintainho por demais molhado, vem a correr ao meu encontro, sem o guarda-chuva. Abraçou-me, ali mesmo, debaixo das fortes bátegas, e disse-me assim, és maluco, meu amor!

Quatro Pontos de Ordem

 

  • Nada mais agradável que a sensação de escrever no meio das ondas coloridas, pois aqui não precisas de culamber ou de culambismo,[1] não precisas tocar o violino para o pessoismo, nem precisas tocar o violino para a ' maladie irracional do mundo das cores' (nossismo), mas sim, tocas o violino para a santé do mundo plural das ideias;
  • Senhores candidatos presidenciáveis, a saber: Daviz Simango, Filipe Nyusi, Mário Muquissinse e Ussufo Momade, têm um inter­medo no lugar de inter­respeito, ou melhor, têm o sentimento medo no lugar do sentimento de respeito face a ausência de debate presidencial entre vós? Porque não temos um debate presidencial?
  • O voto que tem como dono o povo e não o partido, é dinâmico, é flexível, é pessoal, deve ser muito bem namorado, conquistado e valorizado;
  • Se faz favor (SFF) ou por outra, é favor, os senhores e os demais partidos mergulharem na percepção significativa deste triângulo, Estado, Governo e Partido, como forma de evitar a promiscuidade entre eles a partir de 2020, e evitar de forma escrupulosas narrativas e acçðes eleitoralistas e propagandistas;

Aqui escolho olhar para campanha eleitoral moçambicana, mais uma vez, como dialética, como debate, como troca, como fluidez, como um momento não exclusivo dos partidos, como um momento não adquirido dos partidos, mas como um momento do povo, dos vários seguimentos da nossa sociedade, onde juntos na diversidade, se diga o que se almeja e o que se espera para o próximo mandato, que mais uma vez irá impactar e imperar nas nossas vidas.

 

Tendo passado os meus últimos dezanove anos dentro da academia moçambicana, a saber: Universidade Pedagógica ­- Delegação de Nampula, Universidade Pedagógica ­ Delegação de Quelimane[2], e outras fora do país, como estudante, depois como 'docente', assim por diante, e agora de forma feliz como estudante, irei com este manifesto com base nesta pequena experiência, e com base num viés naive, começar por esta área.

 

Meus senhores[3], Daviz Simango, Filipe Nyusi, Mário Muquissinse e Ussufo Momade e demais partidos, prestem atenção:

 

Estudante Sem Bolsa Familiar

 

Em Moçambique não existe esta coisa que muitas tratam como se de lepra e doença contagiosa se tratasse, ou seja, quando procuras saber, as testas das pessoas mudam de formato, olham para ti como se fosses uma extraterrestre e estivesses a falar de coisas de outro mundo, como se tu já estivesses no futuro e nas entrelinhas te dizem, ‘não'.

 

Pois é, num país assimétrico nas questðes de paridade quantitativa entre mulheres e homens, num país desigual e sem equidade de género, num país past and copy das questões de género e feminismo, num país carente uma uma abordagem e prática '‘local’' das questões de ser mulher e ser homem, num país de calças versus capulanas[4], num país de DHABUNO MUTHABWA[5], ou seja, ' vocês mulheres agora estão a piorar (quando estas ficam fartas de estar na condição do silêncio), num país onde as narrativas ' formais ' falam de políticas de género, falam de fosso entre as calças e as capulanas perante os níveis de Mestrado e Doutoramento. Neste país, existe uma prática tóxica e nociva para aquelas mulheres que depois de venceram as barreiras de ordem estrutural e social, são confrontadas com um Estado, com uma instituição pública, que concede como bolsa para tu e tua '‘família’ irem estudar fora, se for para Europa (aqui o nosso Estado entende Europa como sendo um único país, ou seja, não importa o país, o valor é o mesmo), um valor mensal de 769 euros, ou seja, ao câmbio de dia 67,2 (compra) e 68,54 (venda), seriam 52.707,26 mt[6].

 

Para o contexto moçambicano este valor é muito, ou seja, 52.707,26 mt, para os contextos onde se a pessoa estuda fora de Moçambique este valor é aquele cinto super apertado, ora vejamos, para pagares as tuas contas básicas, que naturalmente 'mamam' a bolsa toda, isto é, para pagares a renda da casa, a água, a luz, o gás e a internet, tens que ir ao ATM e levantar o valor para poderes pagar.

 

Levantas o valor com o teu cartão multibanco da tua conta moçambicana, ou seja, cartão moçambicano, assim como a conta moçambicana, aqui fora não tem expressão, olha que em termos estéticos são cartões idênticos, (Millennium BIM ou Millenium BCP ou BCI ou BPI ). O que significa isto para o bolso do estudante bolseiro que recebe a bolsa em Metical, pois é, em Metical para pagar contas em Euro?

 

  • Os 769 euros pagos em Moçambique, com o câmbio moçambicano (ou do BM), nunca chegam completos;
  • Se câmbio de dia em Moçambique  67,2 (compra) e 68,54 (venda), para o caso de Portugal, por exemplo, este câmbio pode oscilar entre 75 a 80 por euro, e quando estás no ATM para efetuar o levantamento, a máquina visualiza esta informação no ecran (quando estás a fazer a mercearia, nos supermercados podes efectuar o pagamento com o cartão, depois de inserir o código no POS, visualiza o valor pago na base de câmbio de Portugal);
  • Quando pensas em levantar o valor aos poucos da conta MZ para depositares na conta PT, por cada levantamento no limite diário de 200 euros, tens um duplo desconto, ou seja, desconto pelo levantamento (170 meticais), e desconto pelo desnível da parametrização dos câmbios MZ e PT;
  • O 'mamar' está aqui, pois o valor nunca chegou completo, e já agora, aceitamos o valor em falta com efeitos retroactivos, de preferência em euro.

Não sei em que ano e em que contexto esta tabela de bolsas de estudo foi definida, mas ela não tem mais a cara e o rosto para o século XXI, ou seja, se a bolsa individual o estudante vive stressado (stress negativo), pelo facto do valor apertar e bem a sua cintura e cinto, como acham que fazem os estudantes que ousam em estar fora do país com as famílias, geralmente com menores?

 

Quando falas e negoceias a bolsa familiar na instituição, olham como se de um capricho se tratasse, porque tal Fulano e tal Fulana, já passaram por isso, ou seja, já sofreram, porque 'ela/e(s)' não pode(m) sofrer, ou melhor, '‘no nosso tempo nós sofremos, porque eles não podem sofrer’'. E mais estudar dentro ou fora de país tratasse de opção, ora vejamos;

 

  • Uns escolhem rever os seus professores da Licenciatura, no Mestrado, e depois no Doutoramento;
  • Outros escolhem reencontrar os seus professores de Licenciatura no futuro depois da formação.

Quando a pessoa termina os estudos, dentro ou fora do país, engrossa os dados estatísticos de Moçambique, isso se não tiveres a sorte de aparecer um Boisse (Chefe), que vai te dizer o seguinte, ‘você só estudou graças ao partido’, nas entrelinhas você pensa ‘possas, este tipo está a dizer o que’.

 

Sobre este assunto, senhores candidatos e partidos, vamos parar de ter pesos e medidas, ou seja;

 

  • Vamos juntos perceber que o Estado quando está a desempenhar bem o seu papel, não está a fazer nenhum favor, isto é, está a desempenhar o seu papel;
  • Os dirigentes (ou dirigidos) da Res publica servem ao povo;
  • Em Moçambique existe o Instituto de Bolsas de Estudo (IBE), que paga o seguinte aos seus bolseiros:
  • 1050 USD mensais, 1000 ou mais USD para subsídio de material didático e 1500 USD para compra de laptop, contra,
  • 769 euros mensais, 100 euros para o subsídio de material didático, entre outros.

Que tal, senhores candidatos e partidos, lutarem e lutarmos para:

 

  • Pagar a bolsa na moeda real do país de estudo;
  • Bolsa individual, 1050 euros mensais;
  • Bolsa familiar, 1500 euros mensais;
  • Os subsídios serem nivelados ao contexto do IBE;
  • O subsídio de saúde passar a ser pago anualmente, pois, a saúde precisa ser cuidada, e saúde somos nós estudantes, acreditando que o nosso Estado nos quer bem e saudáveis.
  • Olhar de igual modo para a bolsa daqueles que optam por estudar dentro do país, bolsa individual e bolsa familiar.

Pensão de Sobrevivência

 

Pensão de Sobrevivência na função pública perante o cenário onde o funcionário tenha perdido a vida, os menores só terão direito, caso o falecido tenha descontando 5 anos, não tendo descontando cinco anos, os seus dependentes não tê direito. Porque gostamos de complicar? Acham mesmo que o falecido escolheu a morte? Acham que ele devia ter dito a morte para esperar nove meses ou um ano de um mês para ele completar os cinco anos de desconto? Acham que os menores merecem não ter apoio do Estado na ausência do seu progenitor?

 

Senhores candidatos e partidos, porque não dar o direito automático a Pensão de Sobrevivência a quem de direito, ou seja, a partir do Visto do Tribunal Administrativo, visto que a pessoa não escolhe morrer e muito menos quando de uma morte precoce se trata. Stélio Gadaga, esta é a pensar em ti, para que a Alicia, Tessália, e mais crianças, possam ter a Pensão de Sobrevivência até aos 18 anos.

 

Academia without the box

 

Prezados candidatos, vamos nos próximos cinco anos, e assim por diante pensar e sonhar com uma academia moçambicana emancipada. Como se faz isso?

 

Com base na libertação das mesmas das entranhas políticos partidários. As academias são instituições ‘autônomas’, como fica esta autonomia sem liberdade?

 

  • Não precisamos de academia inside the box
  • Não precisamos de academias out of the box
  • Precisamos sim, para ontem, de academias without the box

 

Uma academia que toma as decisões a pensar no seu colectivo, nos seus órgãos colegiais, na comunidade universitária, uma academia naturalmente aberta para o debate de ideias, onde todos cabem nela, com ou sem cores. Uma academia de portas abertas para a política, para os partidos políticos e para os políticos, caso estes queiram vir debater com ela. Que o capital político não venha dar ordens, não venha mandar, não venha dizer em que deve e o que não deve estar no debate académico, mas que venha na condição de participante. Uma academia onde o reitor saiba que as decisões por ele tomadas devem refletir o colectivo não o individualismo.

 

Senhores candidatos, para tal o capital político precisa primeiro libertar-se da academia, para depois poder libertar ou ajudar a academia a liberta-se. A voz político partidária não pode ser o status quo na academia, o status quo na academia deve ser a liberdade e autonomia.

 

O académico não pode sentir medo, o académico deve sim ter respeito, chega a ser deprimente e surreal quando chegamos ao nível tão baixo onde o académico, pensa que a solução para seus problemas e vergar-se ao som e as batidas do partido. Não pode ser normal no seio académico a venda de consciência por um cargo e depois colocar-se numa posição onde de forma recorrente será recordado o seguinte que depois o partido vai dizer você ‘cuidado com tua boca’, a boca não é para ser controlada na academia, na academia a boca é para liberta-se e se possível para cantar ao ritmo das demandas da sociedade.

 

Os académicos que quiserem fazer a vida política, que estão na vida política, que o façam, mas que não caiam na política por desespero, a nossa política não pode ser um bastião de desesperados. A nossa política deve ser um lugar de salutar e com pessoas e visões progressistas, pessoas de qualidade. Mas não caiam na política por acharem que a política é a escada, não façam isso, isso é deprimente, academia deve significar liberté, a verdadeira emancipação quotidiana.

 

Caros candidatos, o que podem fazer como estadistas, e os partidos que são  influentes na assembleia da república é políticas públicas (não como um favor) bem robustas e estruturais no que toca a política de ensino, pesquisa, publicação e extensão, antes de nos internacionalizarmos, vamos organizar bem a casa. Sem deixar de lado a formação de quadros, se queremos no ensino superior o nível de Mestrado e Doutoramento como requisito para lecionar, que o façamos a pensar em mulheres e homens, como bolsas familiares.

 

O que também podem fazer é incentivar que a nossa academia pense no lugar na cultura dentro dela. Para que possamos ter uma academia glocal, onde o saber local é valorizado, mas, que ela não deixe de comunicar com o saber global.

 

Política como Ética

 

Prezados candidatos e distintos partidos, a sociedade precisa acreditar na política e nos políticos. Para tal, vós tereis que trabalhar para existência de partidos com narrativas frescas e refrescantes, com narrativas progressistas, com estórias e história sim, como referências, mas não como dogma, partido que não deia ordens na academia, partido que não deia ordens no povo, mas sim uma relação social entre ambos, com respeito no lugar do medo e silêncio. Partidos naturalmente tolerantes.

 

Uma política que usa com peúgas e botas, e não uma política que usa as botas e depois procura pelas peúgas. Como seguimento social precisamos muito da política, assim como o político precisa deste seguimento, ou seja, são os dois lados da mesma moeda. Isto é, não só precisamos do político, como também precisamos do cidadão, da cidadania, da liberdade, e de todo aquele que se prestar ao serviço da política que o faça sobre um juramento ético e não materialista, empatia, alteridade e tolerância. O político não pode ser o status quo da sociedade, status quo é o cidadão, o povo, as mulheres, os homens, o político vem ao reboque destes e muito bem-disposto a servi-los. Os benefícios devem estar mais próximo possível do povo e não o inverso.

 

Bilhete Jovem (até aos 25 anos)

 

Nos pouquíssimos dias que faltam de campanha, vamos juntos pensar num Moçambique melhor para os adolescentes e jovens. Por exemplo, Podemos começar pelo bilhete jovem. Quer seja por via aérea, via terrestre, dentro e fora da província. Não falo de promoções, mas sim de uma prática com um grupo de políticas pro-jovens.

 

Prezados candidatos presidenciáveis, Daviz Simango, Filipe Nyusi, Mário Muquissinse e Ussufo Momade, e demais partidos extra-parlamentares, os manifestos eleitorais, a campanha, os candidatos, os partidos precisam aprender a Pensar Moçambique como prioridade, como status quo, como pilar, antes e depois das cores, ou seja, Pensar Moçambique without the box.

 

Homo oeconomicus e Homo politicus

 

Prezados Candidatos

 

A radiogradia actual moçambicana não deve ser percebida e analisada fora do ethos comportamental e percepcional do povo. Ou melhor,

  • O que significa para as massas o que nós consumimos diariamente nas redes sociais?
  • O que significa para as massas as questões de Homo oeconomicus e Homo politicus?
  • Que entendimento as massas têm sobre as Políticas Públicas?
  • Que entendimento as massas têm sobre as questões político-partidárias?

As massas funcionam como um barómetro relevante nas questões de governamentabilidade.

 

O novo por excelência nas memórias colectivas causa estranheza, resistência, e pode causar falta de percepção, mas precisamos entender e aceitar esta nova forma de ser e estar em Moçambique, ou melhor, precisamos perceber este Moçambique pluridimensional, rico pela diversidade e não pelo consenso.

 

Penso como a actual conjuntura social, económica, política, ou se aceitarem homo oeconomicus e homo politicus, (re)socializaram ou mudaram o ethos do cidadão moçambicano. O desafio reside na maneira como o  homo politicus reage a esta mudança e social change (culture change).

 

O questionar o binómio homo oeconomicus e homo politicus pelas moçambicanas e pelos moçambicanos, fazem parte de uma evolução social, histórica, política, ideologia e cultural normal na actual conjuntura do país.

 

Em nome do povo precisamos agir de forma cristalina e nobre, pois o povo merece, não só pela bio-política e pelo bio-poder, mas porque sem o povo não seremos nada

 

Por uma Posição (nós) e Oposição (outros) Tolerantes

 

Prezados candidatos, vamos fazer um pequeno exercício

  • Gostamos da diferença?
  • Como convivemos com a diferença?
  • Somos tolerantes?
  • Somos intolerantes?
  • Como convivemos com quem pensa diferente?
  • Pensar diferente é errado numa sociedade livre?
  • Num Estado de Direito Democrático é (im)possível ser diferente?
  • Por que colocamos cores no país? É possível um pais sem cores?
  • Podemos pensar num país multicolorido onde existe espaço de liberdades para todas e todos?
  • Podemos pensar num país onde os cabeças-de-lista têm direito a concorrer pelos seus partidos (intra e inter)?
  • Podemos sonhar com um país onde, independentemente da sua ideologia, cor, sexo, género, filiação, a pessoa pode ser querida e amada?
  • Podemos sonhar com uma sociedade onde cada um é livre de fazer as suas escolhas?
  • Podemos amar os nossos (inimigos)?
  • Queremos uma sociedade de falas ou de silêncios?
  • Como ressignificar a relação eu- ele e nós-eles?´
  • É possível sairmos da caverna do “nossismo” político (Psicologia do Eu e dos Outros) ?
  • Podemos ressignifiar o nosso status quo de ser, estar e fazer de forma inclusiva e diversificada?
  • Podemos ser ''without the box' sem medo, e com respeito pela diferença?

Em política e na política, existem duas figuras o Eu (nós) e o Outro (eles), ambos com uma comunicação, com um comportamento, com uma tradição, com uma 'disciplina', com uma cultura do eu perante o outro, alicerçada na percepção do outro como  diferente. Procede? Sim. Deveria? Não.

 

Pois, o eu na teoria, na sociedade, na política, no governo, deveria ter uma obrigação moral com o outro e o outro deveria ter a mesma obrigação com o eu ( Martha Nussbaum). Mas a prática social e cultural entre e o eu e o outro no lugar de ser eu-outro, persiste em ser eu e outro.

 

O eu e o outro pressupõem uma comunicação  ética  e empática, enquanto categorias  das nossas relações inter-grupais, pois só  somos eu e eles porque existe uma relação  com o outro, mas, o que acontece quando:

  • O eu não comunica com o outro?
  • O que acontece quando o eu não tem empatia pelo outro?
  • O que acontece quando o eu não nutre a bondade para com o outro?
  • O que acontece quando o eu é linearmente individualista e não colectivo?
  • O que acontece quando o eu se transforma em tóxico ?
  • O que acontece quando assumimos que para fortalecer o eu precisamos destruir o outro?

Mas, em política é importante perceber que o lugar do eu e do outro não são tácitos, o eu de hoje pode fluir para o outro e o outro pode fluir para o eu.

 

A origem do totalitarismo numa sociedade pode estar associado ao emergir de uma política no seio de uma pequena elite, à uma forma de degradação dos direitos dos cidadãos e ao emergir de uma forma de governação associada a uma ideologia de medo, de terror e de silêncio. Direitos humanos, direito a ter direito, liberdade para ser e estar na sociedade e a liberdade de expressão são alguns dos cavalos-de-batalha  num cenário de crise de valores e cidadania (Hannah Arendt,).

 

Sem deixar de lado the psychology of dictatorship, (Fathali M. Moghadam), chama a atenção para esta forma de psicologia com a qual podemos conviver sem ganharmos consciência da mesma, pois, os comportamentos, as atitudes e as práticas que emergem no seio da política e da sociedade em momento de crise e de social change, são responsáveis pelas reacçðes das elites políticas às mudanças e às pressões.

 

Pode a Posição (nós) e e Oposição (outros) estabelecer uma relação inter-grupal nos diferentes partidos, no parlamento e no governo, baseada num continnuum?

 

Chamo aqui atenção para a Psicologia do Silêncio instaurada no seio da nossa sociedade. Se falas, és do contra, se falas, és da oposição, se pensas diferente, não és patriota, não és nacionalista, e as redes sociais aparecem neste contexto como uma contra-cultura onde as pessoas encontraram uma fuga ou um espaço de liberdade. Pois, para a Psicologia, é importante que as pessoas tenham um espaço para falar, para serem livres, mesmo que seja no espelho da casa de banho, ainda que este seja aquele espaço único onde podes dar um grito de liberdade.

 

Que realmente possamos ter um verdadeiro governo inclusivo e sem cores, onde o que deve contar não são as ideologias, mas sim a taxonomia de Bloom, ou seja, saber ser, saber estar e saber fazer com pilares na nossa plural cultura e nossa elástica moçambicanidade.

E mais, não tenham medo de trabalhar com 'vosso inimigo', visto que o importante é o encontro de ideias que ele tem para desenvolver Moçambique, a tal 'construção do consenso'.

 

[1]O Engraxanço e o Culambismo Português in http://www.citador.pt/textos/o-engraxanco-e-o-culambismo-portugues-miguel-esteves-cardoso

[2]        Falar destas duas casas é nostálgico

[3]        Infelizmente aqui não há como escrever 'Senhoras e Senhores'

[4] Género, Poder e Gestão do Ensino Superior: os gestores usam calças (masculinidade) e as gestoras usam capulanas (feminidade), 2013.

[5]DHABUNO MUTHABWA: (re)definindo o papel das mulheres no campo político

“As donas da Zambézia, as donas da campanha, as donas das eleições! E donas do pós-15 de Outubro?”

[6]        https://ind.millenniumbim.co.mz/pt/Paginas/homepage.aspx

Na dimensão ideal existem muitas pontes dialéticas (desejos e anseios) entre o Setembro Amarelo e as Ondas Coloridas, ambos podem ser um momento de paz, reconciliação e tranquilidade mental, nas relações interindividual e intergrupal em ambas as categorias, (o eu e o outro, e o nós e eles). Mas, na dimensão real, sem dialética ‘possível’, visto que o Setembro Amarelo almeja por uma maior consciência sobre a saúde mental, segurança mental, higiene mental, ou seja, uma sociedade que cuida do binómio saúde e doença mental, e surrealmente encontrarás esta tranquilidade toda no meio das escaramuçaras. E mas, os média são em parte responsáveis pelas nossas construções e representações sociais, vamos parar de pensar que o que aparece na televisão começa e fica por ali, até porque toda nossa psicologia, comportamentos, percepções e emoções são em parte alteradas perante uma simples notícia, imagine perante cenários de trocas de mimos, escaramuças e ridicularizadade?

 

Mas, do lado das Ondas Coloridas que poderiam propiciar esta tranquilidade e relaxamento todo, ou seja, propiciar as Ondas Coloridas como bem-estar, estão busy com trocas de mimos (exibição de nossismos, euismos, meuismos e pessoismos), estão busy com as escaramuças, no lugar daquele plano ideal de ondas coloridas como festa, como dança, como música, como namoro, como conquista. Somos presenteados com candidatos a namorados que não sabem que eles deveriam ser os primeiros a dizer não a qualquer forma ou tipo de violência, namorados que são pela paz, namorados que são pela reconciliação, namorados que pensam no país como prioridades no lugar das cores, namorados que usam a palavra não armada, a palavra não belicista, a palavra não intolerante, a palavra não tóxica para conquistar as namoradas, neste caso, as moçambicanas e os moçambicanos.

 

Mas será que as cerimónias tradicionais pelas quais passaram estes ‘namorados’ e seus ‘familiares’ passaram antes do início das Ondas Coloridas e cuidaram do espíritos destes? Cuidaram das mentes destes, cuidaram dos comportamentos tóxicos, cuidaram da alma destes, ou por outra, as mentes foram desarmadas como forma de desarmar as narrativas belicistas, por um lado, e as atitudes belicistas, por outro lado? Se calhar com mentes desarmadas teríamos candidatos ao namoro com uma narrativa baseada na cura pela palavra (pacífica), uma retórica com base em ideias em prol de um Moçambique autónomo e soberano, com maior redução possível da dependência externa,  no lugar da troca habitual de mimos.

 

Candidatos a namorados que percebam que com base na dialética do eu e outro emerge o nós, no lugar da dialética de nós aqui e eles lá (com pontes quebradas), e todo aquele que pensa diferente de nós é percebido como sendo nosso inimigo.

 

Sobre o lado tóxico dos candidatos a namoro em nome das Ondas Coloridas, ou seja, namoro como uma forma de nossismo deixa resgatar um trecho publicado em 2018 a pensar no 10 de Outubro, ou melhor, nas eleições autárquicas de 2018:

 

Teria a narrativa Moçambique monstros e fantasmas com o poder de perigar a relação entre o eu e o outro, criamos nós estes monstros e fantasmas mentais e imaginários como uma consequência da  fobia pela diferença e pelo diferente? Para tal falo das várias nuances do nossismo dentro do ethos da Psicologia Social, a saber:

 

  • Nossismo comunicativo como uma forma que ganha espaço na significação da nossa narrativa, onde os ciber-intelectuais com recurso a popularidade (não confundir com populismo) criam fábricas mágicas de pós-verdades como se a narrativa Moçambique se tratasse dos contos da Alice no país das maravilhas, ou seja, este ethos funciona dentro das cavernas e nas torres de marfim (como se de contos aos quadradinhos se tratasse) sobre falsos eventos, sobre falsas verdades, esta fabricação é do eu face ao outro, neste lugar pelo pódio na narrativa Moçambique. Estaríamos perante a morte da verdade em Moçambique? A verdade morre ou teria morte em Moçambique?

Nossismo identitário como forma de marcar território representa uma outra nuance da perigosidade da relação eu e outro. Os temas actuais na nossa narrativa giram em volta da identidade tribal, regional e quiçá em voltas gemas, ou moçambicanos de primeira e os moçambicanos de segunda. Esta forma linear e fechada de ver e mergulhar no ethos do país funciona para legitimar as diferenças (formas excludentes) no lugar da tão sofrida e bem conseguida narrativa: unidade nacional, mas:

 

  • Somos unidas e unidos?
  • Temos condições psíquicas para pensar nesta bela conquista: unidade nacional?
  • Como funciona a nossa unicidade?
  • Como as moçambicanas e os moçambicanos vivem as relações multiculturais, num país bilionário na cultura e na diferença?
  • Como as nossas singularidades socializam a nossa unicidade?
  • Como as dinâmicas dos vários grupos transbordam no espaço público?

Nossismo cultural como o status quo de ser ou não moçambicana e moçambicano de gema, o local, a dona e o dono, cultura que é ou pode ser legitimada e reforçada pelo poder político e legal. A capulana como artefacto social, por exemplo, é assumida como o expoente máximo da expressão da nossa cultura mas de forma livre e espontânea. O que se assiste hoje: toda uma legislatura de capulana, não tem mulheres e não tem homens, estamos perante o eu-capaluana nos espaços públicos e privados, ou seja, a capulana sai do binómio privado-público para público-privado. Será de livre vontade? Estarão felizes com o eu-capulana? Como são vistos os que não assumem o eu-capulana no espaço público? O Nossismo cultura faz parte de um ethos inflexível, que legitima os grupos através da cultura, o que seria cultura para o país bilionário culturalmente?

 

Nossismo político, a elevação e legitimação da intolerância no seio dos grupos, dos movimentos e dos partidos políticos, podem ser assumidas como uma forma de violência simbólica, sem mencionar aqui as várias nuances e dimensões da violência associada a este ethos. No lugar de perceber o outro, no lugar de comunicar com outro, o escarramos como sendo um inimigo por abater do espaço político no lugar de uma co-habitação política, num contexto de liberdades individuais e colectivas.

 

A dialética eu e outro são importantes na relação interpessoal e intergrupal, mas também, são importantes no âmbito do Setembro Amarelo que almejava uma dialética sã nesta relação eu e outro. Pois a ausência desta relação equilibrada nos colocaria mais próximos das nuances do nossismo. Esta dialética do eu e do outro passa pela consciência de si a partir do outro. Neste caso em especial seria uma dialética entre os candidatos a namorados na Onda Colorida, onde a ‘ideia’do outro é importante para uma sociedade autónoma, desenvolvida e esclarecida, por um lado, onde é urgente abandonar a prática tóxica de eliminação a figura dialética do outro, não se elimina o espírito do outro, até porque a consciência de si não flui sem o outro.

 

Perceber o namoro das Ondas Coloridas como escaramuças é perpetuar a imbecilidade associada ao nossismo, pessoismo, euismo e meuismo

 

O Setembro Amarelo significa também consciência redobrada e acrescida na prevenção de doenças mentais, mais particularmente àquelas como a depressão que infelizmente podem levar ao suicídio, Setembro amarelo significa prevenção, significa promoção, significa educação para saúde, significa saúde coletiva e comunitária face a saúde mental, saúde mental como bem-estar societal.

 

O mês de setembro, simboliza uma ação que deve ser contínua e consciente num país que infelizmente, figura nas estatísticas mais altas de África na questão de suicídio, e pelo facto de ainda darmos pouca atenção as questões de saúde mental, por acharmos ou reduzirmos às questões tradicionais, onde as mesmas são apeladas para uma resposta no seio familiar, porque lá encontrarão com facilidade o autor desta crise mental. Mas nada impede que a saúde convencional estabeleça pontes com a dita saúde tradicional na questão de um melhor entendimento sobre a saúde mental, pois, não deve ser visto como retrógrado o acto de existirem teorias do quotidiano ou melhor, construções e representações sociais sobre o que é saúde mental e o que é doença mental.

 

Infelizmente as pontes são quebradas entre estes dois eventos, para além do facto da consciência do mês, ou seja, Setembro Amarelo. O Setembro Amarelo tinha ‘tudo para dar certo’, no namoro com as Ondas Coloridas, o que falhou?

 

  • Falta de informação sobre o Setembro Amarelo?
  • Que pontes existem entre saúde mental e as Ondas Coloridas?
  • Postura cívica dos namorados?
  • Fasquia dos namorados?
  • Campanha ou política de grupetos?
  • Percepção dos namorados sobre o significado das Ondas Coloridas?
  • Campanha como loucura?
  • Campanha como 'dor'?
  • Campanha como acusação?
  • Campanha como ódio?
  • Campanha como grupetos de amigos e inimigos?
  • Campanha como inflamação de egos, narcisismos?

As Ondas Coloridas não são um momento para fortalecer a nossa introversão, mas sim, um momento para fortalecer a nossa excentricidade, não deve ser um namoro onde a tua fala e retórica só têm sentido para as vozes dentro da tua cabeça e dentro do teu grupeto, assim estaríamos a prestar um serviço sem fasquia e sem qualidade, e pior, a enganar ao tal eleitorado que fingimos estar a namorar, pois, no final pretendemos é um autonamoro, escamoteando as questões éticas, que não deviriam ficar em modo pause em época de namoro eleitoral.

 

Ondas Coloridas seriam o momento de educação e cidadania, de expurgar a mentalidade belicista e armada, e clamar por um desarmamento espiritual baseado no confronto de ideias rumo a uma sociedade informada e lúcida sobre como melhor votar, não pelos partidos, mas por Moçambique, por Zambézia, e por todas as províncias dentro da sua rica diversidade.  

 

Setembro Amarelo calhou no mês errado? Acredito que não, penso que o Outubro Rosa terá mais sorte que o Setembro Amarelo. Que a contagem decrescente seja um verdadeiro momento de debate de ideias entre os candidatos presidenciáveis e entre os partidos extraparlamentares. Não há sociedade sem ' debates' 

quarta-feira, 02 outubro 2019 06:32

Pim, Pam, Pum…

De cinco em cinco anos e por 45 dias o país vive sob o manto festivo de jornadas de teatro político onde a arte de encenar é uma qualidade bastante apreciada e aplaudida. Tenho estado a acompanhar e até ao momento – para efeitos do próximo mandato - não me simpatizei com nenhuma das peças postas ao crivo popular. Aliás, fora as cores, nada as diferencia. E se tivesse que responder a um inquérito sobre a qualidade do que é apresentado a minha resposta seria bem à brasileira: bota ruim! 
 
 
E a propósito do “bota ruim”: uma vez no Brasil tive que responder a um inquérito sobre a qualidade de um determinado evento em que participara. O inquiridor - que me interpelou no aeroporto e de regresso ao país - depois de explicar os propósitos, argumentou e pediu encarecidamente que eu escolhesse a opção “ruim”. Concordei com os fundamentos e fui mais a fundo, assinalando a opção “muito ruim”. Oxalá tenha sido útil.
 
 
Trago isto a terreiro porque nas eleições, pelo menos em Moçambique, a opção “ruim” ou outra - “não sei” ou “nenhum deles”- não faz(em) parte do boletim de voto. Desde as primeiras eleições (1994) que me abala ter que escolher candidatos entre os que a partida não me apresentam razões fiáveis que justifiquem o meu voto. 
 
 
Tenho dito, salvo melhor entendimento, que o modelo de boletim de voto que é usado não está concebido para o voto que se queira racional. No mínimo exclui uma parte das conclusões do exame que o eleitor faz dos manifestos dos candidatos. Em caso de manifesta discordância com todos os candidatos o boletim de voto não oferece nenhuma alternativa para expressar essa vontade.  
 
 
Apresentei a preocupação a um grupo de amigos e em outras esferas. Grosso modo o conselho é de que que (i) inutilize o boletim, votando em mais de um candidato (por exemplo), (ii) deixe o boletim em branco e (iii) não se apresente no dia de votação, adensando por ai a baixa taxa de participação eleitoral. 
 
 
De forma sucinta, das três sugestões, a primeira e a terceira estão claras e não alinho. A segunda é problemática. Deixar o boletim em branco, fora o risco de ser reciclado, não expressa de forma inequívoca que nenhum dos candidatos é a escolha. Por exemplo, o voto em branco pode significar que o eleitor não se importa que seja um ou outro candidato a governar. O que é diferente de dizer que nenhum dos candidatos é a escolha certa para governar. De resto, estou convicto que este tipo de feedback é de capital importância para a saúde democrática do país. 
 
 
E no contexto das baixas taxas de participação eleitoral talvez por aqui se possa explorar alguma racionalidade na decisão dos que não vão votar. Em parte a solução – ir votar – passe pela reformulação do boletim de voto. Ciente de que não se vai a tempo para influenciar quem de direito a adequar o boletim de voto para uma variante mais democrática fica a reflexão nesse sentido e, obviamente, ressaltando se faz algum sentido. 
 
 
Enquanto isso e observando todo o enredo exposto acima, no próximo dia 15 de Outubro, irei recorrer ao método do “Pim, pam, pum…” na hora de sinalizar o “X” no candidato. Tentei uma das cores, mas “desconsegui”. Está muito ruim. Mas quem sabe se da mata densa ainda saia um coelho nos dias que restam da campanha. Oxalá!