De cinco em cinco anos e por 45 dias o país vive sob o manto festivo de jornadas de teatro político onde a arte de encenar é uma qualidade bastante apreciada e aplaudida. Tenho estado a acompanhar e até ao momento – para efeitos do próximo mandato - não me simpatizei com nenhuma das peças postas ao crivo popular. Aliás, fora as cores, nada as diferencia. E se tivesse que responder a um inquérito sobre a qualidade do que é apresentado a minha resposta seria bem à brasileira: bota ruim!
E a propósito do “bota ruim”: uma vez no Brasil tive que responder a um inquérito sobre a qualidade de um determinado evento em que participara. O inquiridor - que me interpelou no aeroporto e de regresso ao país - depois de explicar os propósitos, argumentou e pediu encarecidamente que eu escolhesse a opção “ruim”. Concordei com os fundamentos e fui mais a fundo, assinalando a opção “muito ruim”. Oxalá tenha sido útil.
Trago isto a terreiro porque nas eleições, pelo menos em Moçambique, a opção “ruim” ou outra - “não sei” ou “nenhum deles”- não faz(em) parte do boletim de voto. Desde as primeiras eleições (1994) que me abala ter que escolher candidatos entre os que a partida não me apresentam razões fiáveis que justifiquem o meu voto.
Tenho dito, salvo melhor entendimento, que o modelo de boletim de voto que é usado não está concebido para o voto que se queira racional. No mínimo exclui uma parte das conclusões do exame que o eleitor faz dos manifestos dos candidatos. Em caso de manifesta discordância com todos os candidatos o boletim de voto não oferece nenhuma alternativa para expressar essa vontade.
Apresentei a preocupação a um grupo de amigos e em outras esferas. Grosso modo o conselho é de que que (i) inutilize o boletim, votando em mais de um candidato (por exemplo), (ii) deixe o boletim em branco e (iii) não se apresente no dia de votação, adensando por ai a baixa taxa de participação eleitoral.
De forma sucinta, das três sugestões, a primeira e a terceira estão claras e não alinho. A segunda é problemática. Deixar o boletim em branco, fora o risco de ser reciclado, não expressa de forma inequívoca que nenhum dos candidatos é a escolha. Por exemplo, o voto em branco pode significar que o eleitor não se importa que seja um ou outro candidato a governar. O que é diferente de dizer que nenhum dos candidatos é a escolha certa para governar. De resto, estou convicto que este tipo de feedback é de capital importância para a saúde democrática do país.
E no contexto das baixas taxas de participação eleitoral talvez por aqui se possa explorar alguma racionalidade na decisão dos que não vão votar. Em parte a solução – ir votar – passe pela reformulação do boletim de voto. Ciente de que não se vai a tempo para influenciar quem de direito a adequar o boletim de voto para uma variante mais democrática fica a reflexão nesse sentido e, obviamente, ressaltando se faz algum sentido.
Enquanto isso e observando todo o enredo exposto acima, no próximo dia 15 de Outubro, irei recorrer ao método do “Pim, pam, pum…” na hora de sinalizar o “X” no candidato. Tentei uma das cores, mas “desconsegui”. Está muito ruim. Mas quem sabe se da mata densa ainda saia um coelho nos dias que restam da campanha. Oxalá!