Entre 2013 e 2014, empresas participadas pelo Estado Moçambicano (Proindicus, EMATUM e MAM), contraíram empréstimos no valor monetário de cerca de 2.2 bilhões de dólares americanos, alegadamente com o objectivo de servir o interesse público, no que respeita fundamentalmente à protecção da Zona Económica Exclusiva (ZEE).
Na sequência, houve denúncias, basicamente por via da imprensa, de que se tratava de dívidas ocultas que violavam o quadro legal em vigor no País aplicável para efeito da contração daqueles empréstimos. O Tribunal Administrativo emitiu um relatório relativo à Conta Geral do Estado, no qual declarou uma série de irregularidades e concluiu que o empréstimo havia sido ilegal do ponto de vista de procedimentos, visto que não tinha sido obtida parecer da Procuradoria-Geral da República e muito menos autorização da Assembleia da República, tal como previsto na Constituição da República de Moçambique (CRM).
Face a essas irregularidades e/ou ilegalidades, a Procuradoria-Geral da República (PGR) contratou uma auditoria forense que foi realizada pela Kroll, cujas conclusões, mais do que coincidem com as do Tribunal Administrativo, trazem mais dados sobre o modus operandi para a materialização deste calote. Posteriormente, a Assembleia da República constituiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito que, por sua vez, chegou às mesmas conclusões que as duas entidades supra identificadas.
O Conselho Constitucional da República de Moçambique, assumindo que as dívidas ocultas foram contraídas de forma fraudulenta e em total desrespeito aos ditames da lei, em resposta a acções de inconstitucionalidade interpostas por organizações da sociedade civil lideradas pelo Fórum de Monitoria e Orçamento (FMO), proferiu o Acórdão n° 5/CC/2019 de 3 de Junho referente ao Processo nº 6/CC/2017, incorporado no Processo nº 8/CC/2017 sobre fiscalização sucessiva abstracta de constitucionalidade, através do qual declarou a nulidade dos actos inerentes ao empréstimo contraído pela EMATUM,SA, e a respectiva garantia soberana conferida pelo Governo, em 2013, com todas as consequências legais.
Igualmente, o Conselho Constitucional, através do Acórdão n.º 7/CC/2020, de 8 de Maio de 2020, referente ao Processo n.º 05/CC/2019 declarou a nulidade dos actos relativos aos empréstimos contraídos pelas empresas Proíndicos, SA, e Mozambique Asset Management (MAM, SA) e das garantias conferidas pelo Governo, em 2013 e 2014, respectivamente, com todas as consequências legais.
No dia 29 de Dezembro de 2018, em conexão com o caso das dívidas ocultas, foi detido na República da África do Sul o antigo Ministro das Finanças e Deputado da Assembleia da República, Manuel Chang, a pedido das autoridades americanas com vista a ser extraditado para os Estados Unidos da América. A acusação deduzida pelas autoridades americanas apresenta detalhadamente os contornos das dívidas ocultas, com indicação expressa, de que, para além das inúmeras irregularidades também detectadas pelas instituições moçambicanas acima mencionadas, houve actos de corrupção cometidos por entidades nacionais e estrangeiras, destacando-se o antigo Ministro das Finanças e figuras do Governo, do Ministério do Interior, das Forças de Defesa e Segurança, incluindo o SISE e pessoas a eles relacionadas.
Importa aqui referir, porque de extrema importância, que em 2015 a Procuradoria-Geral da República (PGR) instaurou um processo-crime com referência de N.º 1/PGR/2015 contra as pessoas envolvidas nas dívidas ocultas, o qual está, actualmente, a ser julgado pela 6ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, na chamada Tenda da BO como processo-crime n.º 18/2019-C.
No entanto, é de se notar que estranhamente, só a partir da detenção do Manuel Chang na África do Sul, com a acusação deduzida pelas autoridades americanas que tornou de domínio público o facto de existirem indícios suficientes da prática de diversos crimes, incluindo os crimes de peculato, abuso de cargo e função e corrupção, é que a justiça moçambicana começou a encetar diligências palpáveis, por um lado com vista a resgatar Manuel Chang e, por outro, com vista a denunciar outras peças chaves.
Com efeito, só a partir da detenção do Manuel Chang é que a PGR deu a conhecer ao público em geral que havia 19 (dezanove) arguidos em conexão com este assunto, destacando-se, de entre eles, o antigo Director Geral do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), o Presidente do Conselho de Administração das empresas Proindicus, MAM e EMATUM, que era simultaneamente Director Nacional de Inteligência Económica do SISE, bem como o filho primogénito do antigo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
A judicialização das dívidas ocultas não constitui uma ameaça para a prática da corrupção
Não obstante os factos supra mencionados, o Governo negou distanciar-se das dívidas ilegais de tal modo que o posicionamento do mesmo, com destaque para o Ministério das Finanças e Primeiro-Ministro, vai no sentido de que as dívidas são soberanas, porque contraídas para responder aos mais altos interesses do Estado Moçambicano e que, por essa razão, o mais importante é negociar melhores condições de pagamento e garantir assim a credibilidade de Moçambique no plano internacional.
O Tribunal Administrativo em sérias dificuldades em responsabilizar os funcionários e agentes do Estado que se envolveram nas dívidas ocultas violando as suas obrigações e as normas do direito administrativo aplicável ao caso de contratação de dívidas externas desta natureza.
Num processo obscuro, pelo menos do ponto de vista do custo monetário, o Estado moçambicano, com a PGR na linha da frente tudo tem feito para “resgatar” Manuel Chang e não há informação clara no domínio público sobre quanto está a custar aos bolsos dos moçambicanos os honorários com advogados e demais despesas suportadas pelo Estado neste filme: “O resgate do Chang”.
Do ano de 2015, com a instauração do processo-crime sobre as dívidas ocultas e sucessos acontecimentos de ordem judicial até no estrangeiro sobre este caso até ao presente momento em que está a decorrer o julgamento das dívidas ocultas no Tenda da BO com a exposição humilhante de várias entidades públicas e privadas de renome no País, cujas liberdades, bom nome e imagem estão ora limitadas, ora ameaçadas e beliscadas, o que se nota é que não há lição bem aprendida para dissuadir a prática da corrupção e falta de transparência na gestão da coisa pública em Moçambique, senão vejamos, mais o que acima referido:
A gestão danosa do dinheiro dos contribuintes ao nível do Instituto Nacional de Segurança Social – INSS tem sido recorrente de tal maneira que esta instituição já é afamada como o saco azul de alguma elite ligada ao sector e ao partido no poder. Aliás, recentemente, a imprensa, com destaque para o semanário independente Canal de Moçambique, divulgou informação bastante preocupante que revelam a institucionalização da corrupção e má gestão dos fundos públicos em que os novos administradores do INSS recebem subsídios milionários só para o início de funções. Os titulares deste sector não demonstram uma atitude pública que esclareça aos cidadãos sobre o que está de facto a acontecer no INSS.
Organizações da sociedade civil tendem a denunciar a falta de transparência e má gestão dos dinheiros no que respeita tanto ao projecto SUSTENTA, como relativamente à Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) criada no ano passado, sobretudo no contexto de Guerra e do drama humanitário que se vive em Cabo Delgado.
De referir que no campo florestal, no que a madeira diz respeito, há muito que há denúncia de esquema de corrupção que permite sobretudo a saída de várias toneladas de tronco, fundamentalmente, com destino à China, tanto é que até num passado recente foi denunciado o desaparecimento de número significativo de contentores cheio de tronco apreendido pelas autoridades de forma bastante estranha. Aliás, importa aqui lembrar que devido ao elevado esquema de abate de árvores e roubo da madeira foi introduzido de levado a cabo pelo antigo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, a “Operação Tronco” cujos métodos de actuação e transparência foram muito criticados pela sociedade civil.
Num outro prisma, não se percebe a transparência na canalização dos valores das taxas e impostos pagos pelos munícipes para o desenvolvimento dos respectivos Municípios. Na verdade, pelo menos ao nível do Município da Cidade de Maputo assiste uma actuação de saque aos munícipes particularmente os pobres, num esquema de impunidade legalizada em benefícios dos agentes municipais que roubam os cidadãos.
Outrossim, no que se refere ao contexto da introdução das medidas para o combate a COVID-19, as organizações da sociedade civil sempre contestaram a falta de transparência e sinais de corrupção na divulgação e gestão dos fundos recebidos pelo Governo para fazer face a pandemia da COVID-19.
No quadro do modelo da governação descentralizada, ouvimos no ano transato notícias de esquema de corrupção relativamente ao arrendamento de uma residência no valor de 400 mil meticais mensais a favor da Sua Exa. Vitória Diogo, mas que nunca foi esclarecido ao público em geral o que de facto aconteceu e qual foi o desfecho do caso.
O comportamento da Polícia da República de Moçambique (PRM), com destaque para o SERNIC e Polícia de Trânsito revelam se tratar de um antro de corrupção sobejamente conhecido pela sociedade, cuja forma de suborno é ora denominado refresco, ora fala como homem. Essa prática tem sido contínua e dificilmente combatida. Aliás, o
Comandante Geral da PRM já mandou o conjunto de agentes da PRM de determinada região para a reciclagem por excesso de actos de corrupção, entre os actos que já envergonham Moçambique no Estrangeiro.
*Advogado de Direitos Humanos
Concluindo
Os nossos dirigentes, os demais agentes e funcionário públicos com cargos significantes e nossos empresários, senão lobistas, não revelam estar a aprender algo de bom com o processo das dívidas ocultas para que abandonem a prática da corrupção. Existe uma ideia de que agora é a nossa vez de comer e aqueles em julgamento foram apanhados porque não souberam roubar e assim continua o País a saque de grande dimensão.
Quem está a aprender com as dívidas ocultas é o povo. Este conhece hoje alguns conceitos e terminologia jurídica, a forma como se rouba um Estado através dos próprios dirigentes e com recurso as Forças de Defesa e Segurança, incluindo a SISE ao mais alto nível, bem como a forma como se protegem para que não sejam responsabilizados. É o povo o único que está a perceber o custo da corrupção para não praticar sob pena de viver numa interna desgraça e esquecido nas mãos da justiça.
Naquela sala, do Hospital José Macamo, éramos um rebanho de doentes comendo restos de sono e capim nas camas de lençóis sujos. Os enfermeiros surgiam arrastando tubos de soros e nós éramos um enorme rebanho. Cada doente tinha um pastor que lhe espetava as agulhas, que lhe corrigia o lençol no canto da cama, que lhe abria e fechava a pequena torneira do soro…
Naquela sala disputávamos pequenas fatias de ar, os mais graves sugavam com enormes palhinhas o oxigénio aninhado em botijas metálicas. E os enfermeiros afogados em máscaras trocavam-nos a ração do soro como aves, entulhavam-nos os buracos das bocas com comprimidos e recolhiam a nossa urina em balões, o nosso sangue e o nosso escaro.
Era um milagre acordar vivo ali. Primeiro foi o senhor Hugo, um mulato, que foi descoberto enterrado pela morte no meio dos lençóis, depois foi uma criança, de feridas nas orelhas, a ser evacuada para a morgue com a língua de fora como uma cabra sem vida. As moscas aterravam à procura das feridas da menina, todavia ela já não lá estava.
Um dia, um senhor magro e de cabelos pretos tropeçando em mechas brancas, entrou na sala com um enxame de senhores de fatos. Era Pascoal Mocumbi, ouvi isso de uma voz qualquer na sala. Foi passeando de cama em cama, examinando os processos e fazendo levantamento de sintomas como os quisesse levar à sua casa.
Tão simpático, tão magro: Pascoal Mocumbi. Eu ainda era criança, mas não me esqueço dos dentes empenados de onde surgia um sorriso preguiçoso. Com uma enorme corda de elegância disfarçada em gravata no pescoço, Pascoal Mocumbi, abriu-me um dos olhos com o saca-rolhas dos dedos e eu chorei porque temia que aquele gigante me comesse o olho inteiro. Examinou-me as manchas dos olhos e seguiu para outra cama.
E o enxame de senhores de fatos seguia os passos de Pascoal Mocumbi, uma senhora gorda espetava-se os dentes com uma tapa BIC e entornava os óculos numa agenda para anotar os nossos gemidos; e Pascoal Mocumbi encheu a sala toda com um fumo de esperança dizendo “amanhã vocês sairão daqui”; ele repetia isso sem parar; era como se pulverizasse a sala das mortes e da desesperança. “Amanhã vocês sairão daqui”. Depois de circular de cama em cama, como uma servente recolhendo lençóis para o tanque, Pascoal Mocumbi saiu da sala e o enxame de fatos foi arrastando com ele.
Claro que ficamos todos ali a disputar aquela frase como cães lutando por um osso. “Amanhã vocês sairão daqui”. E aos poucos fomos saindo com a sabotagem da doença: uns para as gavetas da morgue e outros foram carregados por ambulâncias para esperar pela morte em outros hospitais. Mas todos saímos. Todos saímos. Obrigado, Pascoal Mocumbi, pela fé, pelo isqueiro de esperança que nunca mais se apagou em mim.
E de repente, na cabeça um ruído estridente como o de um meteoro a abrir um buraco na terra. Nenhuma gaivota nos meus olhos; nenhuma mão na minha mão. Apenas um ruído estridente a vaguear na minha cabeça, a fumaça a enturvecer a visão, as chamas a engolirem tudo como uma serpente gigante e o cheiro a queimado a espicaçar-me as narinas como a máquina do vizinho a moer os grãos de milho, sem piedade, até tudo ser farinha ou pó que um dia voltaremos a ser.
O fogo era tão intenso como um desejo maldito que nos visita sem aviso e sentia ferverem dentro de mim as tripas de todo o mundo. Não sei onde tinha começado, nem o que queria connosco, mas ele estava dentro da nossa casa, estava no nosso bairro que ardia numa madrugada que insiste em colar-se às paredes da minha memória.
Desde que me conheço por gente, foi sempre dentro daquelas paredes de madeira e zinco que vivi; foi sempre neste bairro de madeira zinco onde cresci e aprender a ler a cidade de Maputo que à nossa volta vai erguendo prédios gigantes que meia-volta e meia vão nos sufocando e proibindo o sol de chegar até nós. Nunca vivi noutro bairro, não conheço outras paredes para além das chapas de zinco que acendidas pelo fogo naquela noite assavam-nos vivos. O primeiro aniversário na sala de madeira e zinco, o primeiro sonho no quarto de madeira e zinco, as primeiras gotículas de menstruação e o primeiro beijo num beco de madeira e zinco, o primeiro gemido e os olhos na madeira zinco. Tudo aqui.
Perdi a conta de vezes que o presidente do município, a governadora da cidade, os sucessivos governos da República prometeram construir casas novas, melhoradas, de cimento como as outras tantas que crescem a cada dia na cidade. Mas sempre tudo o mesmo. Tudo solução de curto prazo, a peneira em cima do sol. No lugar de casas de madeira e zinco que caiem, outras casas de madeira e zinco, talvez para preservar o património histórico da cidade, talvez para preservar a nossa pobreza. Outras casas de madeira zinco até o fogo chegar de novo e consumir tudo de novo. Outras casas de madeira e zinco porque reclama-se uma semana e na semana seguinte ninguém mais fala no assunto, uma indignação que dura uma semana e uma madeira e zinco que dura até o próximo incêndio.
Quando a fumaça começou a invadir o quarto e a pequena porta de madeira foi engolida pelo fogo, o bairro já andava irrequieto e construía-se, uma vez mais, a maior chaminé da cidade. Uma chaminé que deitava para o céu uma nuvem rugosa, densa e suja de nossas memórias e passados.
Não era a primeira vez que o bairro ardia, mas era a primeira que o fogo invadia a nossa casa e devorava tudo o que tínhamos.
O fogo a consumir a porta com gula. A cara da minha mãe assustada e as suas em cima de mim a abanarem-me o corpo para que acordasse enquanto fosse tempo. As mãos da minha mãe, que com os anos foram ganhando rugas de tanto lavar os pratos nos quais os outros comiam num dos principais restaurantes da cidade, em cima de mim a abanarem-me desesperadamente até que eu acordasse, porque mais tempo e deixaria de haver tempo para escapar do fogo que devorava a porta do quarto.
Lembro-me da arrelia ao acordar; do medo no lugar da arrelia; do calor dentro da casa; a luz incandescente das labaredas a espalhadas pela casa; o medo a devorar-nos coma mesma intensidade que o fogo devorava a casa enquanto minha mãe e eu atravessamos o mesmo buraco entre as chapas por onde sempre entrou frio no Inverno.
Não era a primeira vez que o bairro ardia, mas era a primeira que o fogo invadia a nossa casa e devorava tudo o que tínhamos. Muita algazarra naquela madrugada, uma nuvem cinzenta e rugosa na chaminé gigante que cuspia no céu tudo o que tínhamos.
Sinceramente, nenhuma gaivota nos meus olhos; tudo pó no lugar da casa; no lugar do tecto de zinco apenas o céu cinzento em cima de mim, de minha mãe e do meu pobre bairro.
Nos últimos anos, em Moçambique aumentaram os grupos do narcotráfico, daí que todos os dias são apreendidas quantidades elevadas de drogas diversas e detidos os respectivos traficantes, embora maior parte seja apenas Pombos-correios e não os mandantes.
Em quase todas as províncias do país, o tráfico de drogas ocorre de vento e pompa. A situação demonstra estarmos a caminhar para uma situação descontrolada. Vídeos de adolescentes, alunas uniformizadas “viralizam” nas redes sociais. Todos os dias filhos e pais são internados por perturbações ligadas ao consumo abusivo de substâncias psicotrópicas. Socialmente, alguns mentecaptos vêem a coisa como normal, mas não é! Se queres perceber, circule por Mafalala, Zona Militar (Cidade de Maputo), Namicopo, Muhavire-Expansão (Cidade de Nampula), Paquitequete, Natite (Pemba), são apenas alguns exemplos dos vários.
Hoje, facilmente, as pessoas se tornam milionárias num zás! Entretanto, quando se vai mais a fundo na origem da riqueza percebe-se que tudo foi adquirido na base de caminhos sinuosos, maior parte deles ligados ao mundo do crime organizado. Foi o que ficou patente no dia 10 de Novembro do presente ano, na capital do Norte, Cidade de Nampula, quando as autoridades anunciaram a maior apreensão de drogas e a detenção de um dos "big dealers in town", muita coisa veio à tona.
Afinal, o homem não é qualquer. Movimentava as substâncias químicas em corredores devidamente protegidos, como aeroportos e transportes aéreos que levavam a mercadoria como se de roupa, peixe ou mesmo ovos de um canto para o outro se tratasse, para a Cidade do “cota” Vahanle. O pior é que como o negócio tinha parceiros policiais estratégicos, o homem chegava a fazer promoção dos estupefacientes todas as quintas-feiras, com trabalhadores espalhados um pouco pela cidade vendendo e distribuindo as bolas e os bolinhos de chocolate.
Em Nampula, os consumidores e os pequenos traficantes rezavam para que todos dias da semana fossem quinta-feira. Dia em que compravam a muamba (drogas), a um preço de rebuçado. A praga já estava espalhada, o homem já vivia sem medo, de tal sorte que, na hora da detenção, foi enganado com uma chamada em sinal aberto, como se de um negócio normal se tratasse. As más línguas contam que a árvore plantada pelo tipo que produz pó e fumo já tem raízes robustas, sementes e encontram-se a germinar em outras partes da província e do país, onde os turistas gostam de estar e ficar.
A par das outras regiões do país, em que a praga se espalhou, onde a swazi gold é vendida em qualquer esquina, a capital do Norte tornou-se, actualmente, Skid Row, Downtown, Los Angeles, nos Estados Unidos da América (EUA), onde há anos as ruas estavam infestadas de consumidores de crack e cocaína, outros andando pelas ruas e avenidas rotos e rasgados, com caras de zumbi em plena madrugada.
Sobre o Escobar de Nampula, dentro do circuito das más línguas, há quem diga que, na cadeia, o homem será substituído por uma mula, que assumirá o papel principal da telenovela que está a ser montada, uma vez que, na vida real, o homem representa vários chefes devidamente posicionados e que não aceitaram que o homem coloque a boca no trombone e o negócio milionário vá à falência.
Precisamos de repensar neste novo inimigo que invadiu a nossa sociedade e começou a colonizar a mesma com recurso a substâncias químicas e o fumo mágico. Temos de encontrar um caminho diferente e que melhore a nossa vida. A droga não pode capturar e subverter a juventude, o motor do desenvolvimento e da transformação de qualquer pátria. É importante que tenhamos pessoas a promoverem o acesso aos livros, comida nutritiva, ao emprego e o que temos de belo e bom em tudo que é canto, e não drogas pesadas que aos poucos tornam a nossa Pérola do Índico num Narco-Estado e falhado!!!
Moçambique é caracterizado, pela respectiva Constituição da República, como um Estado de Direito e de justiça social, baseado no respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, conforme se depreende dos artigos 1 e 3 da mesma lei mãe. Outrossim, as alíneas c) e e) do artigo 11 da Constituição da República, respectivamente, consagram como parte dos objectivos fundamentais do Estado moçambicano: “a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos.” “A defesa e a promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a lei.”
Curiosamente, há anos que no ordenamento jurídico moçambicano foi instituída a figura de Vice-Ministros, os quais para além de não serem, constitucionalmente, membros do Governo, não tomam decisões por competências próprias senão por delegação dos seus Ministros e em casos raros, atendendo que a principal função dos Vice-Ministros é a de substituir os Ministros em caso de situações de impedimentos destes. Trata-se de uma espécie de suplentes dos Ministros nos vários Ministérios em que tal figura foi concebida. “O Ministério é dirigido por um Ministro, que pode ser coadjuvado por um ou mais Vice-Ministros.” Assim determina o n.º 3 do artigo 43 da Lei n.º 7/2012, de 8 de Fevereiro (Lei de Base da Organização e Funcionamento da Administração Pública).
O Governo da República de Moçambique é o Conselho de Ministros, o qual é composto pelo Presidente da República que a ele preside, pelo Primeiro-Ministro e pelos Ministros. É o que dispõe o artigo 199 e o n.º 1 do artigo 200 da Constituição da República. Daqui resulta inequívoco que os Vice-Ministros não integram a composição dos membros do governo e apenas participam em reuniões do Conselho de Ministros na qualidade de convidados, conforme estabelece o n.º 2 do artigo 200 da Constituição.
No entanto, em virtude desse cargo de Vice-Ministro que é meramente cosmético, estes beneficiam de uma remuneração significativa aproximada a dos Ministros, incluindo subsídios e/ou regalias e alguma equipa de trabalho de assessoria ou assistência. Em bom rigor, os Vice-Ministros não têm uma função pública que justifique a remuneração que auferem, até porque sequer deviam existir, na medida em que quase que nada fazem para a prossecução do interesse público no contexto da governação ou Administração Pública. Importa aqui referir que o autor do presente artigo não conseguiu, rigorosamente, apurar o valor actual da remuneração dos Ministros e Vice-Ministros e respectivas regalias e/ou subsídios devido à deficiente disponibilização do interesse público no País.
De acordo com o n.º 1 do artigo 96 da Constituição da República: “A Política económica do Estado é dirigida à construção das bases fundamentais do desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do povo, ao reforço da soberania do Estado e à consolidação da unidade nacional, através da participação dos cidadãos, bem como da utilização eficiente dos recursos humanos e materiais.” Na mesma sequência, determina o n.º 2 do mesmo artigo constitucional que: “Sem prejuízo do desenvolvimento equilibrado, o Estado garante a distribuição da riqueza nacional, reconhecendo e valorizando o papel das zonas produtoras.”
Ora, os Vice-Ministros constituem, pois, cargos cosméticos, senão parasitas, de inaceitável elevado custo nas contas do Estado, o que contraria a promoção da justiça social e realização dos direitos humanos, representando mais uma evidência de má distribuição da riqueza entre os cidadãos e o cada vez mais empobrecimento dos pobres que com muito sacrifício pagam impostos para, de entre outras coisas, sustentar os salários e regalias dos Vice-Ministros.
Nos termos em que foi concebida e aprovada a função do Vice-Ministro, mais do que promover um Estado despesista e consumista para uma certa classe elitista, promove a discriminação, a desigualdade e injustiça social entre os cidadãos, principalmente entre os funcionários e/ou servidores públicos, com tarefas bastante significativas, quando comparados com os Vice-Ministros.
Portanto, os custos suportados pelo Estado com os cargos dos Vice-Ministros contribuem anualmente para a denegação da materialização do direito ao desenvolvimento dos cidadãos no que à distribuição da riqueza para o bem-estar das populações diz respeito, uma vez que parte significativa dos fundos públicos que deviam ser canalizados para a satisfação do interesse público com impacto directo na melhoria das condições de vida dos cidadãos são alocados para alimentar cargos irrelevantes para os objectivos da Administração Pública, conforme é o caso dos Vice-Ministros, cuja eliminação se mostra urgente.
Por: João Nhampossa
Human Rights Lawyer
Advogado e Defensor dos Direitos Humanos
Pedro Jumento e mais de mil cidadãos nasceram, cresceram e vivem em Tchadzuca, no posto administrativo de Machipanda, no distrito de Manica, província com o mesmo nome. Na infância, Pedro Jumento circulava por Makudho e Maridza em Penhalonga, onde pescava e fazia mergulhos competitivos na nascente do rio Revue. Embora tenha saído por algum período para estudar e formar-se na capital da província, Chimoio, Jumento sempre regressava para visitar a família, rever os amigos e namorar com a pitinha de longa data.
Na terra de Pedro Jumento, o subsolo possui quantidades infindáveis de ouro e outros minérios, daí que, para além de praticar a agricultura de subsistência, muitas famílias também se dedicavam ao garimpo. Esta actividade decorre há vários anos em Makudho, Maridza e Tchadzuca e ajudou milhares de famílias a ter casas e bens de qualidade, mas sempre era feita em locais não poluentes. Entretanto, tudo viria a mudar, com a ascensão da nova realeza na Pérola do Índico. A vida de Pedro Jumento e de outros habitantes daquela região mudou drasticamente.
A região começou a receber visitantes da terra de Xi Jinping, com a capa de investidores e devidamente apadrinhados pelos donos das licenças de exploração mineira actualmente em Manica e outros locais deste belo e empobrecido país. Repentinamente, sem qualquer consulta pública e nem indemnizações, as pessoas viram suas machambas localizadas nas proximidades do rio Revue ocupadas e usurpadas. Máquinas a roncar e carros de alta cilindrada a circularem. A água que servia para alimentar as famílias, o gado, regar os campos de cultivos, tomar banho e lavar roupas e outros objectos foi privatizada e poluída.
Os amigos de Jumento que tentam encontrar um local para fazer o garimpo são impedidos, violentados ou mesmo detidos em nome dos interesses do filho do Boss. As expectativas de vida melhor para as comunidades acima mencionadas, através dos recursos ali existentes, praticamente foram goradas e transferidas para o filho do Boss, que usa os ganhos do business para altas vibes e viagens pelas terras de gente famosa internacionalmente.
Nesta saga de exploração dos recursos, os soldados económicos de Xi Jinping lavam as pedras na nascente do rio Revue, poluindo a água e criando sérias dificuldades para as comunidades ali residentes. A vida naquela região está cada dia infernal. As preciosidades dos minérios valiosos ali existentes como ouro, turmalinas e outros não beneficiam os jovens como Pedro Jumento e os restantes habitantes que esperavam que, no âmbito da responsabilidade social das empresas que exploram, pudessem ter casas melhores, escolas, centros de saúde, água potável e outros serviços básicos para o povo.
Entretanto, parece que não é isso que o filho do Boss e seus amigos das bandas de Xangai querem e pensam – a ideia é raspar e sujar tudo que a mãe natureza ofereceu às comunidades de Machipanda e se na terra de Pedro Jumento a coisa está assim, o que se pode falar das florestas de Tambara, Machaze, Vanduzi, Gondola e Dombe!?