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segunda-feira, 28 novembro 2022 09:49

Tortuosos Caminhos da Paz na Ucrânia

No décimo mês de confrontação no Podzol ucraniano, com a União Europeia totalmente de rastos para manter a Ucrânia em pé de igualdade no campo de batalha e a Rússia encurralada politica e economicamente, os credores da guerra já têm assegurado o retorno da sua ajuda financeira. Seja com contratos de lend-leasing, ou pacotes de sanções feitos à medida da inutilidade do papel da ONU e suas agências especializadas, agora é tempo de se discutir a gestão dos proventos da guerra, no break-even criado pelos recursos financeiros congelados da Federação Russa.

 

Cai por terra o argumentum ad nauseam Europeu da ameaça do totalitarismo ao seu estilo de vida impoluto, para se livrar do espartilho energético russo e do colete de forças de mão-de-obra chinesa, quando se assiste ao ocidente em corrupio pelo mundo afora, assinando tratados com estados não menos totalitários e corruptos, em condições financeiras pouco favoráveis e risco sistémico, encarecendo os custos das suas cadeias de produção.

 

Joe Biden tem contudo muitos motivos para sorrir e acreditar na reviravolta económica dos EUA face ao ameaçador papão chinês que lhe ameaçava tirar o almoço. Conseguiu numa assentada tudo o que queria. Derrotou os adversários políticos internos e externos. Arrumou com a rebeldia económica da Alemanha e da França por muitos anos. Transformou a Grã-Bretanha num novo Estado Associado dos EUA. Vergou o bicentenário falso moralismo nórdico com a teoria do Medo. E – o mais importante - convenceu o seu eleitorado das intercalares que a velha fórmula da política da canhoeira está viva e recomenda-se, quando se sabe esperar e se tem como aliado idiotas úteis endinheirados, instantaneamente paridos pela Quarta Revolução Industrial.

 

Sem surpresas, produziu-se uma imediata inflexão no habitual tom exaltado do comediante de Kiev. Fala-se agora de paz. Mas pouco se sabe ainda o preço que todos estaremos dispostos a pagar por ela. Porque os termos actuais dos credores da guerra, não encontram ainda o eco do lado de Moscovo. E com isso, as hipóteses de descarrilamento das boas intenções podem se confirmar depois do Inverno, com outros actores e consequências imprevisíveis.

 

O ponto de partida é saber se os EUA estarão dispostos agora a abdicar da doutrina Wolfowitz, que faz da  Rússia um inimigo eterno que deve ser esmagado económica e politicamente pelo ocidente, no limbo de uma confrontação nuclear. A questão ucraniana mostra que a corda já esticou até ao limite aceitável pelas partes, logo os tortuosos caminhos para paz devem ser pensados com a cabeça fria.

 

Em primeiro lugar, há que discutir os termos de um Tratado de Paz com garantias geopolíticas suficientes para acalmar os receios da Rússia. Parece óbvio que a aproximação geográfica da NATO ao perímetro de defesa russo se adensou com o conflito ucraniano, tanto no Báltico, como no Mar Negro, não ajudando a resolução do conflito por meios pacíficos. Sendo assim, nada mais resta a Moscovo do que se preparar para uma longa confrontação militar na Ucrânia, que a maioria dos países da NATO não deseja prolongar.

 

Por isso, o estatuto neutral da Ucrânia, similar ao que alguns países nórdicos então abraçaram é o ponto de partida para qualquer negociação, nem que isso tenha de ser equilibrado com a devolução dos territórios ocupados por Moscovo ao arrepio dos tratados internacionais que, apesar tudo, ainda são a única bússola orientadora que nos resta no meio da tormenta. Esta necessária cedência russa daria vazão a posição ucraniana em ver preservada sua integridade territorial nos limites herdados da ex-URSS em 1991.

 

No entanto, a resolução do problema tem de ser encontrada com paciência e de maneira construtiva. Existem casos precedentes no Direito Internacional que podem servir de base para um putativo acordo conducente a paz, por exemplo,  atribuir a Crimeia um estatuto que resvale entre Guantánamo e Hong-Kong.

 

O caso Guantánamo é aqui trazido à colação para relembrar como a Emenda Platt levou um estado soberano latino-americano enfraquecido pela ajuda internacional, hipotecar a sua independência politica em favor de interesses geopolíticos dos EUA para se libertar do jugo da potência colonizadora europeia, com um contrato de arrendamento vitalício de uma base militar. E a resolução do problema de Hong-Kong parece ser útil para se entender como uma futura superpotência, então derrotada militarmente por uma potência colonizadora global, concorda em adiar por século e meio a discussão da sua integridade territorial até ao momento em que a geopolítica estivesse alinhada com a sua economia.

 

Por outras palavras, a devolução da Crimeia pela Rússia antecedida de um tratado de aluguer das instalações militares estratégicas que Moscovo actualmente mantém naquele território por 50 anos, tal como hoje se verifica no cosmódromo de Baikonur no Cazaquistão, é uma boa hipótese de trabalho que as partes poderiam explorar, pois daria tempo suficiente para Moscovo refazer sua politica de defesa militar em relação a NATO e a maturidade politica para a Ucrânia se movimentar no concerto das nações.

 

Em segundo lugar, temos a questão do Donbass e outros territórios recentemente incorporados na Federação Russa, onde também é legitima a pretensão ucraniana em reavê-los sem restrições, mas não menos é o anseio dos seus habitantes nativos em preservar tradições religiosas, culturais e linguísticas seculares. E aqui a ONU deveria ter tido um papel mais actuante e não servir de mera caixa de ressonância dos interesses geopolíticos do ocidente. Sem querer falar de possível genocídio pelo volume de morte e destruição que se assiste desde 2014, é incompreensível que às autoridades de Kiev seja dada carta branca para expurgar tudo que seja russo dentro e fora das suas fronteiras, abrindo a caixa de Pandora no desporto, cultura e até na ciência. Os fait-divers da qualificação europeia e a tentativa de substituição do Irão pela Ucrânia no Mundial de Futebol no Qatar, são exemplos refinados desta hipocrisia politica.

 

Esta postura xenófoba de Kiev não tem paralelo senão nos anais do Holocausto Judeu ou nas famigeradas bulas papais do tempo da Inquisição. Quando as pessoas comuns são multadas por falar russo. Ler livros em russo. Ou simplesmente escrever a Letra Z para soletrar Zubaida. Então perde-se a essência da causa.

 

E isto está evidenciado no Diário Oficial daquele país a quem a União Europeia promete acolher de braços abertos no metafórico Jardim de Josep Borrell. Esta mesma Europa, que tanto se indigna nos fóruns internacionais com as atrocidades no Afeganistão, no Myanmar ou no Irão. Imagine-se o que não faria se estes países multassem os seus cidadãos por falar Inglês em público.

 

Com tanto extremismo exacerbado no leste Europeu, o precedente da Bósnia-Herzegovina ganha corpo na futura organização politica do estado Ucraniano, que se deveria transformar num Estado federal, com as liberdades religiosas, linguísticas e culturais fosse preservadas por leis aprovadas por seus próprios concidadãos. Nada obsta que o ucraniano se torne naturalmente numa língua franca disseminada pelo Donbass pela ordem natural das coisas. Sobretudo quando este país se unir cada vez mais a União Europeia, pela imensidão de recursos humanos e materiais relativamente baratos que possui, que certamente estarão na linha da frente para contrapor o expansionismo económico chinês.

 

Com as vantagens socio-económicas daí advindas, grandes investimentos da União Europeia e dos EUA vão ser guiados por factores sociológicos e antropológicos, onde o ucraniano terá precedente em relação ao russo como língua de trabalho. O mais provável é que os ucranianos do Donbass se tornem bilingues ou trilingues. O caso dos EUA – que não tem nenhuma língua oficial federal - e de Hong-Kong também, mostra como a adopção de um idioma oficial pelos habitantes nativos se faz mais pela necessidade financeira e integração social, do que por meras disposições judiciais e incitação do ódio travestidos de patriotismo.

 

Em terceiro lugar e como consequência directa das questões anteriores, há o aspecto económico que está na génese do presente conflito. Sendo irreversível a integração da Ucrânia na União Europeia, será necessário revisitar as causas que estão na base da crise económica que debilitou o então regime pró-russo de Yanukovich e culminou com a revolução da praça Maidan. Que é o efeito plano inclinado que a chamada Zona Franca da UE criou no primeiro momento em que a Ucrânia teve de alterar o seu quadro legislativo para se aproximar economicamente de Bruxelas. Criou-se uma situação em que o fluxo de bens e serviços europeus transitavam livremente para o mercado russo isentos de taxas, mas o percurso contrário oriundo da Rússia era bloqueado pelas imposições europeias.

 

Ninguém acredita que com a paz novamente instaurada naquelas paragens,  as fronteiras e os negócios com a Rússia permaneçam fechados. Pois se houver alguma legitimidade da ONU em apelar ao pagamento de indeminizações pela Rússia por causa do presente conflito, então que se faça também com investimento russo igualmente na Ucrânia, em termos aceitáveis nos tratados da OMC e não guiado por proteccionismo económico da União Europeia ou da OCDE.

 

Porque não interessa ao ocidente que este imenso país da Eurásia se vire definitivamente para a Ásia. E nem que espere que Moscovo se conforme com a adesão ucraniana a Europa sem entendimentos prévios sobre o levantamento progressivo das sanções económicas e futuras alterações aos estatutos da ONU, particularmente, na quadro de actuação do FMI, Banco Mundial e OMC, face ao papel das emergentes potências regionais do BRICS na arquitectura de segurança mundial. Nada será como antes.

 

Sem estas medidas cautelares, serão letra morta quaisquer “linhas vermelhas” que as partes contendoras vierem a estabelecer para a preservação da paz na Ucrânia, incluindo a não proliferação nuclear, cibersegurança, preservação do meio ambiente e outros tópicos não menos importantes.  

 

Ricardo Santos

sexta-feira, 25 novembro 2022 08:55

João Lourenço: A Hora de Vingança!

A Procuradoria-Geral de Angola emitiu um mandato de prisão contra a empresária angolana Isabel dos Santos por suspeita dos "crimes de peculato, fraude qualificada, participação ilegal em negócios, associação criminosa, tráfico de influência e lavagem de dinheiro que, de acordo com a referida nota, a Empresaria “lesou” o Estado Angolano em 200 milhões de Euros entre os anos de 2015 e 2017 quando esteve na Administração de Sonangol, veja abaixo o extracto da publicação da VOA Citando a Lusa.

 

“De acordo com o mandado de captura internacional, Isabel dos Santos terá prejudicado o Estado angolano nos montantes totais de mais de 200 milhões de euros, cometendo crimes de peculato, fraude qualificada, participação ilegal em negócio e branqueamento de capitais.

 

Segundo o documento a que a Lusa teve acesso na quinta-feira, entre 2015 e 2017, a empresária angolana criou mecanismos financeiros "com intenção de obter ganhos financeiros ilícitos e branquear operações criminosas suspeitas”, através de "informação sobre dinheiros públicos do Estado angolano" que conseguiu na qualidade de administradora da petrolífera estatal Sonangol”.

 

In VOA Citando a LUSA

 

Mas, de acordo com as mesmas publicações, incluindo a Reuters, a Empresária diz não estar a par desse mandato emitido pela PGR e tão pouco da Interpol, contudo, não seria de estranhar, a atitude das instituições estatais de Angola, neste caso da PGR, pois, na minha opinião, chegou a hora de vingança de João Lourenço pelo mau período que passou em tempo de campanha eleitoral que não desembocou em “banho de sangue” porque Adalberto Júnior não seguiu os conselhos dos seus apoiantes.

 

Na verdade, as recentes eleições Angolanas ainda têm muito por que se diga. Os resultados divulgados pela Comissão Eleitoral Angolana sobre a vitória do MPLA e seu candidato João Lourenço são poucos credíveis, mas, como era de esperar, de políticos como o Presidente João Lourenço, a caça à família dos Santos retomou e a questão que coloco é: o Partido MPLA não tem espaço para desaconselhar essas práticas a João Lourenço?!

 

Sim, porque, para qualquer um que esteve a acompanhar a par e passo o processo eleitoral, desde a morte e a procura de extradição do corpo de José Eduardo dos Santos, com forte oposição familiar, desembocando com a extradição e o “ignorar” da chegada do corpo pelas autoridades Angolanas, não restam dúvidas que estava preparada a “hora de vingança” em caso de vitória do MPLA.

 

Para mim, causa-me alguma estranheza que um partido como MPLA paute por atitudes desta natureza por parte dos seus dirigentes, MPLA é um partido libertador a par da UNITA em Angola. A sua direcção deve estar mais lúcida e clara sobre os objectivos de luta e da independência. Os dirigentes do MPLA não podem ficar indiferentes perante o desvio da linha política do MPLA, sobretudo quando o referido desvio visa um dos seus carismáticos dirigentes, o José Eduardo dos Santos.

 

O mandato de prisão internacional contra Isabel dos Santos não passa de um expediente que visa a família de José Eduardo dos Santos por tudo que representa para Angola e particularmente ao MPLA. Pretende-se colocar o nome de José Eduardo dos Santos no lamaçal de modo a emergir outros nomes, mas as coisas não são bem assim, cada nome emerge em função do seu contributo real e não por expedientes.

 

Eu, como pessoa, começo a ter receio destes partidos libertadores porque, no lugar de serem aqueles que mantêm a linha política coerente com as causas libertárias, parece que passam a servir de espaço para o enriquecimento e vinganças pessoais. Entristece-me ainda saber que vários quadros do MPLA estão a colocar-se numa posição de indiferença, talvez devido a ganhos financeiros do seu silêncio. Triste isto!

 

Adelino Buque

quinta-feira, 24 novembro 2022 15:12

A máfia dos BI’s de provedor alemão

A corrupção e a máfia já se instalaram como uma metástase cancerosa nos órgãos vitais do Estado e da Sociedade. Não vou divagar. O áudio que partilho é assombroso. Trata-se de uma vítima da máfia encrustada na emissão de Bilhetes de Identidade. Através de um BI falsificado, com seu nome aposto mas com fotografia doutra pessoa, a vítima caiu numa trama que envolve bancos e telefonias móveis. Tiraram-lhe dinheiro da conta. Não fosse uma gestora honesta, e o homem ia sofrer um rombo de milhões.

 

Os tentáculos da criminalidade organizada têm raizes plantadas em empresas de quem se suponha altos níveis de controlo de fraude interna. Não vou colocar nomes.

 

A vítima nomeia ele próprio os bois. Mas, no caso concreto dos BIs, o alarme devia envolver uma revisão do contrato com a Malbauer, uma empresa alemã (certamente com lobbistas e parceiros políticos locais), que entre 2018/19, substituiu a Semlex (uma multinacional de fundador sírio-belga), que entrou em litígio com o Governo por alegada incapacidade.

 

A nova provedora mostra-se porosa, a crer nos dados em nossa posse.

 

Outro exemplo crasso da podridão é a descoberta há dias de uma rede local de uso de identidade alheia retirada de BIs, tal como as imagens documentam, numa prevaricação à jusante.

 

A coisa foi-me descrita assim:

“Os BI's são recebidos na Direcção provincial de Identificação Civil, alguém tira e entrega a vários indivíduos estranhos que usam para registar cartões SIM, depois devolvem a DIC e estes mandam para os distritos e entregam aos legítimos titulares”.

 

Batemos bem no fundo e duvido que isto um dia se repare. Com uma Frelimo empenhada no culto da autoridade e não na governanção, uma oposição que se reduziu aos espetáculo do VM7 e uma sociedade caladinha da silva, medricas e conformada, nosso destino é indecifrável.

Tirem as vossas ilações…

“Qual é a instituição, em Moçambique, que se responsabiliza pela recepção de investidores internos e externos? Essa instituição possui no seu cadastro terra arável, terrenos disponíveis quer para indústria hoteleira, indústria propriamente dita, para disponibilizar a quem queira trabalhar?

Por outro lado, qual é a instituição responsável por contabilizar apoios prometidos por parceiros internacionais. É que quase todos os dias a comunicação social fala de apoios em milhões de USD, mas, na prática, nada acontece e as mesmas instituições, sem cumprir, primeira promete, segunda, terceira e até quarta vez e fica a sensação de estar a entrar para o País muito dinheiro. Há que colocar um basta nisto!”

AB

O Governo moçambicano, nos últimos tempos, tem se desdobrado na procura de investimentos externos e internos para Moçambique, em diferentes áreas económicas, desde a Agricultura, Energia, Mineração, Indústria Hoteleira, entre outros sectores. Contudo, o que não sei e gostaria de saber é o seguinte: se eu me apresento como investidor para a agricultura, existe espaço previamente demarcado para eu chegar e meter as máquinas a funcionarem! Se eu me apresento como potencial investidor industrial, existe espaço previamente definido para esse efeito? Se me apresento como investidor da Indústria Hoteleira, haverá espaço previamente delimitado para o efeito!

Quando o Governo apresenta interesse nos investidores agrícolas, está a pensar em colocá-los nas zonas recônditas onde não há potencial conflito de terras! Sendo assim, existe noção do que representa isso em termos de custos de produção para esses potenciais investidores? Se a ideia é virem requerer a terra para o efeito, o Governo terá noção do que representa em termos de tempo e dinheiro ao privado, fazer consulta comunitária, reassentar pessoas e depois gerir hipotéticos conflitos de terra?!

Por exemplo, a Indústria Hoteleira deve instalar-se em zonas já habitadas, zonas devidamente parceladas com energia e água, não se instala um hotel ou restaurante numa zona de hipotética expansão, sem delimitação das zonas de estrada, talhões de habitação entre outras infra-estruturas públicas obrigatórias, como sejam hospitais e escolas, esquadras e reservas para parques infantis e reservas do Estado para o futuro. A minha questão é: existe esta consciência ou quando se faz convite aos investidores o fazemos como algo de rotina e para constar!

Na província de Maputo, existe muita terra ociosa em zona de potencial agrícola e que ninguém faz nada, mas essas áreas, aparentemente, não estão livres porque possuem “donos”. Ora, por aquilo que está consagrado na Constituição da República de Moçambique, a terra pertence ao Estado, as pessoas ou entidades colectivas adquirem o direito de uso e aproveitamento da terra e, nos casos em que não honram esse direito, a terra reverte a favor do Estado, respeita-se este quesito constitucional? Se não, então, o que estará a falhar!

Se o Governo, através da Cultura e Turismo, convida investidores para a área, terá noção este sector do custo de instalação de um Hotel na Cidade e Província de Maputo? É verdade que a terra não se vende e nem pode ser hipotecada de qualquer jeito, no entanto, todos lemos nos Jornais e outras publicações, como redes sociais, sobre a venda de terra e nenhuma instituição intervém, é uma forma de institucionalizar a venda de terra em contramão à Constituição da Republica de Moçambique!


Vamos convidar investidores externos e internos sim, mas, primeiro, devemos fazer o trabalho de casa, quer através de Municípios quer através dos Governos Distritais e esse trabalho de casa consiste em identificar lugares apetecíveis para investir num Hotel, Restaurante, Guest House ou outra estância de Hotelaria e Turismo e, com isso, devidamente mapeado. Chegar a Portugal, por exemplo, dizer, olha para a indústria hoteleira, temos terrenos em Marracuene para Hotel de três estrelas no local X, temos espaço para Restaurante de classe Y na zona H, temos espaço para isto e aquilo no lugar tal. Isto válido para todos os Distritos, Municípios e capitais provinciais!

É que, se não dispomos de espaços disponíveis previamente, para qualquer actividade económica e andamos por aí a convidar investidores, significa que, à partida, não estamos a ser coerentes com o exercício que fazemos, se convidas alguém que não sabes onde colocá-lo, creio que a falta de seriedade começa com a entidade que convida e quer me parecer que isso que acontece connosco. Propalamos disponibilidade para investidores, mas não sabemos onde colocar esses mesmos investidores. Este exercício é por de mais desgastante.

Outra coisa que acontece no nosso País é que muitos parceiros prometem apoios em áreas diferentes. Por exemplo, hoje estamos com uma calamidade, chega e diz “eu apoio com 200 milhões de USD” amanhã, a mesma instituição, porque temos problema na outra zona aparece e diz “eu apoio com 150 mil USD”. Mas, na verdade, essa instituição ainda não desembolsou a promessa anterior e vamos contabilizando apoios “vazios” e, aos olhos do público, esses valores já estão com o Governo, quem é responsável por fazer cumprir promessas feitas por essas instituições internacionais!

Aqui, vejo, infelizmente, que fazemos um exercício ingrato, prometemos disponibilidade para investidores e, quando chegam, são obrigados a um ritual de consulta que não conhecem, mas que a lei determina. São obrigados a um reassentamento de pessoas que não estava previso no seu orçamento, são obrigados a juntarem-se a pessoas cuja idoneidade nem sequer conhecem. Em contrapartida, também nos prometemos milhões de USD que nunca chegam e todos ficamos felizes com essas promessas vazias. Para onde vamos com isto!

Adelino Buque

segunda-feira, 21 novembro 2022 08:55

Voo decepado

AlexandreChauqueNova 

Estamos sentados na varanda da casa do Khwambe Makhwandra, um homem que passou a vida inteira esgravatando terrenos agrestes, porém sem conseguir juntar nada nas mãos, nem por coincidência. Só agora, a caminho dos oitenta, é que sente a chuva fininha  a cair-lhe na alma, sem saber como, pois nunca houve antes sinal algum da materialização de tal fenómeno no seu caminho. Mas Khwambe Makhwandra, mesmo assim,  tem dito com entusiasmo nas conversas banais e outras profundas, depois da pinga que lhe ajuda a aclarar as ideias, que esta chuvinha retemperadora polvilha-lhe porque nunca deixou de andar enquanto atravessava o inferno.

 

Khwambe Makhwandra vive agora em Linga-Linga, para onde regressou depois de várias idas à antiga Lourenço Marques, que não deram em nada. Tentou ainda o “Hunderground” da África do Sul, também nada! Até que, já no fim da linha, apareceu o filho de um amigo dele que, sabendo da luta dos dois nos tempos da juventude, convidou-lhe a ser seu fiel de armazém na Maxixe, onde trabalhou nos últimos dez anos, até que, já exausto nas bases do corpo, houve um entendimento mútuo de que devia repousar.

 

Khwambe Makhwandra vive agora da reforma concedida, mais pelo respeito que o armazenista tem por ele, por ter sido amigo do pai, do que propriamente pelo tempo de trabalho. Construíu uma casa de dois quartos com uma ampla varanda virada para o mar, na qual passa a maior do tempo ruminando com riso e alegria, as peripécias de um passado que lhe lembra os ossos secos que ele tentou dar vida e não conseguiu, mesmo tendo dado até ao limite, toda a energia do seu porte físico e espiritual.

 

Temos na mesa uma jarra de sura, essa bebida alva brotada da árvore da vida e um petisco de carangueijo fresco refogado com cebolinha orgânica tirada da horta feita ali mesmo, no  quintal, e tomate cereja que rebenta espontaneamente  a toda volta da casa, como dádiva de Deus. Tudo isto é natural e puro como o próprio ar que respiramos, e o banho que tomamos da brisa vinda do mar. E para que este encontro, também espontâneao como o tomate cereja, a melhor coisa que podemos fazer é falar das memórias do passado, porque nós também pertencemos ao passado. O futuro não é nosso.

 

Veio a terceira jarra e Khwambe Makhwandra, no auge, perguntou-me se eu estava a ver “aquela gaiola”.  E eu, no lugar de lhe responder que sim, que estava a ver a gaiola, retorqui assim, você sabe que está a agredir o direito daquele passarinho? Você sabe que a vocação daquele passarinho é voar em liberdade? Você sabe que a parte mais importante daquele passarinho está nas asas? Você sabe que o lugar daquele passarinho não é aquele estúpida gaiola?

 

Khwambe Makhwandra, que não se importava  e se deliciava com o canto triste e doloroso da ave encarcerada,  bebeu, ante a minha inquirição, num trago, o copo de sura que tinha a sua frente e disse assim, tens razão, meu irmão, a principal vocação daquele passarinho é voar! Levantou-se, abriu a gaiola com as mãos e deixou o pasarinho em liberdade. Então, lembrei-me de um poema que o Guita Jr. enviou-me e que dizia assim: no dia que libertei o meu escravo, fui com ele!

sexta-feira, 18 novembro 2022 08:35

Presidenciais de 2024: Qual é o critério a seguir!

Nesta quinta-feira, 17 de Novembro de 2022, li, em publicações diferentes, o assunto em epígrafe, Carta de Moçambique, com o título “Como parar o debate sobre o terceiro mandato” escrito por Nando Menete e Canal de Moçambique, com o título “agenda ou pessoas: que critérios devem nortear a escolha do próximo Presidente da República? Escrito por Alexandre Chivale e achei as duas abordagens interessantes porque em parte são contraditórias, mas também se complementam.

Tanto Nando Menete quanto Alexandre Chivale não concordam com o III mandato, mas, enquanto Menete acredita no “roteiro geográfico do poder”, Chivale propõe a rotura com essa prática e diz “temos de urgentemente desmarcar-nos do localismo que caracteriza o nosso discurso, se quisermos construir um país virado para o progresso e como é impossível que cada província tenha um seu inquilino na Ponta Vermelha ao mesmo tempo, é curial a mudar do foco na escolha de candidato a Presidente da República” veja abaixo o que pensa Nando Menete.

“Como parar (o debate sobre) o terceiro mandato?

Feita esta breve resenha histórica, foi consenso dos pares do café de que até se podia avançar para o III mandato desde que, e seria justo, o Chissano fosse o primeiro. Este (ou seu mandatário), que até estava na legalidade em 1999, concorreria em 2024. Guebuza (ou seu mandatário) concorreria em 2029. E Nyusi (não houve consenso quanto a ser indicado um seu mandatário) concorreria em 2034.

 

Este raciocínio vai ao encontro do (invisível) roteiro geográfico do Poder. Se nas próximas eleições a vez é da Região Centro governar o país, que o terceiro mandato também observe o mesmo roteiro histórico de precedência. Ou seja, concluindo: uma vez observado o dito roteiro, a Região Centro que espere as eleições de 2039 para governar o país”.

In Nando Menete, Carta de Moçambique de 17 de Novembro de 2022 Edição 998

Na opinião de Alexandre Chivale, cinco critérios devem ser priorizados na escolha do candidato às próximas eleições, como sejam: 1) a visão que tem do País; 2) experiência do trabalho; 3) Apresentação e capacidade de bem comunicar; 4) Patriotismo; e 5) Respeito pelos libertadores da Pátria e de antecessores e remata “não duvido que seja vez vez, mas isso não nos deve cegar na sedimentação da agenda nacional, do desenvolvimento e, acima de tudo, da democracia”, conclui Chivale.

Ora, a questão que se coloca deve ser: o que eu penso das duas opiniões opostas?! No que diz respeito ao “roteiro geográfico do poder”, a minha opinião vai de encontro com a ideia do Nando Menete, na verdade, em algum momento devemos pautar por seriedade como sociedade e as qualidades elencadas por Alexandre Chivale podem ser encontradas em alguém do Centro de Moçambique, não queremos mais conflitos em Moçambique!

 

É verdade que a abordagem regional é meramente do Partido Frelimo, cabendo a este Partido “vender” a imagem do seu candidato para que seja eleito pelo povo Moçambicano, os outros partidos políticos, certamente, terão seus próprios critérios na escolha do seu candidato. Se para a Frelimo a vez é do Centro, isso não impede que Ossufo Momade de Nampula, norte de Moçambique, possa concorrer em representação da Renamo e, se o povo notar na escolha geográfica da Frelimo alguma falta de coerência, ficará penalizada, como é óbvio!

Quem diz Ossufo Momade, também poderia dizer Lutero Simango que, como se sabe, é do centro de Moçambique e representa o MDM. Mas fique claro, existem mais moçambicanos com “apetites” presidenciais, não são somente os representantes da Frelimo, Renamo e MDM. Na hora de apresentar as candidaturas, certamente que se deve ter em conta esse aspecto, por outro lado, quem tem acesso a estes meios de comunicação, por mais que esteja vinculado a um partido político, faz escolhas conscientes, não faz pura e simplesmente porque é candidato do seu partido, haja liberdade!

Há um aspecto relevante que Alexandre Chivale levanta quando diz “porque vivemos num mundo marcado por mudanças estruturais sistémicas, a nível internacional, marcadas essencialmente pela afronta à monopolaridade (pelos EUA) e pela procura de fontes alternativas de recursos energéticos a Europa justamente no ano em que Moçambique entra para o clube de exportadores de gás, as próximas eleições ganham importância peculiar para os moçambicanos e para o mundo”.

Ora, este dado que Chivale levanta, na minha opinião, deve merecer estudo interno dos partidos que irão lançar candidatos à Ponta Vermelha e, se calhar, alguma advocacia da sociedade civil, depois de conhecidos os candidatos dos partidos políticos. Contudo, é um assunto a ter em conta porque podemos “acordar” com outra nacionalidade, porque Moçambique foi “vendido” como dizia o General e Catedrático Hama Thai.

Conclusão: o tema sobre as eleições de 2024, sobretudo no que diz respeito às presidenciais, vai continuar a alimentar debates e espero com franqueza que aqueles que têm esse poder de apresentar candidatos, estejam atentos à evolução do mundo, estejam atentos às aspirações de nós moçambicanos, no sentido de “patriotismo” como diz Alexandre Chivale e subscrevo, com ressalva, no caso da Frelimo, que se encontre esse patriota no Centro de Moçambique porque existem!

Adelino Buque

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