Os insurgentes atacaram ontem as comunidades de Nraha 2, Mussomero, Namadai, Namiruma e Mahate, em Quissanga. Fontes de “Carta” contaram que, para além de terem queimado palhotas da população e o Centro de Saúde de Mahate, os insurgentes mataram por decapitação 7 cidadãos, que pela manhã se deslocavam às suas machambas.(Carta)
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu ontem uma perseguição total aos autores de ataques armados no Norte e Centro do país, durante um discurso alusivo ao feriado do Dia do Heróis Moçambicanos.
"Estamos pelo diálogo, mas aqueles que matam os moçambicanos, [esses] continuaremos a persegui-los em todos os cantos do nosso país com vista a responsabilizá-los pelos crimes que cometem contra o Estado moçambicano", referiu, durante as cerimónias, em Maputo.
Nyusi lamentou que "os moçambicanos [sejam] afetados com atos hediondos na província de Cabo Delgado", por "malfeitores financiados por forças internas e externas", sublinhou, sem detalhar.
"Eles estão a assassinar as populações, destroem habitações e outras infraestruturas", acrescentou, quatro dias depois de uma vaga de ataques que varreu aldeias do sul da província.
Por outro lado, depois do acordo de paz celebrado em agosto entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o chefe de Estado lamenta também observar "ataques perpetrados por moçambicanos que dizem ser dissidentes da Renamo e que reclamam vantagens internas no seio daquela organização, optando por atacar populações inocentes".
Em ambos os casos, Nyusi prometeu perseguição e responsabilização dos autores, algo até agora por alcançar pelas forças de defesa e segurança, que ainda não conseguiram travar as ondas de violência.
A Norte, estima-se que já tenham morrido, pelo menos, entre 350 e 400 pessoas, com cerca de 60.000 pessoas afetadas - perdendo bens ou refugiando-se noutros locais - nos últimos dois anos e meio.
No Centro, já morreram desde agosto 21 pessoas nas principais estradas da região e nalgumas aldeias.
Os ataques centraram a intervenção presidencial no Dia dos Heróis Moçambicanos, em que Nyusi destacou um deles, Eduardo Mondlane, "arquiteto" da independência e unidade nacional, que completaria 100 anos em 20 de junho de 2020.
Ouvido pelos jornalistas à margem da cerimónia, Jaime Bessa Neto, ministro da Defesa, voltou hoje a pedir o apoio da população de Cabo Delgado para denunciar os grupos que desde 2017 atacam a região.
"Grande parte deve estar a viver dentro das casas onde os cidadãos de Cabo Delgado residem. É importante que os denunciem", referiu.
Armando Guebuza, ex-Presidente moçambicano, lamentou que a paz ainda não esteja alcançada, frutos dos ataques contra civis que prevalecem.
"Infelizmente, ainda não estamos em paz e a reconciliação não está feita nos termos em que gostaríamos que fosse", disse, considerando, ainda assim, que é possível conquistar ambas como meios que permitam "avançar para o desenvolvimento", concluiu. (Lusa)
Os insurgentes realizaram mais uma incursão na noite do último domingo, na aldeia Primeiro de Maio, muito próximo de Miangalewa, distrito de Muidumbe. Nesta incursão, os insurgentes, numa acção muito rápida, segundo fontes, causaram a morte a uma pessoa, um ferido, rapto de duas cidadãs e queimaram apenas duas palhotas. Depois da incursão, os insurgentes rumaram à zona baixa do rio Messalo, ao do lago Inguri, onde se acredita que tenham fixado uma das suas bases.
"Carta" sabe ainda que, desde o ataque à aldeia Xitaxi, os populares tem passado as noites na mata. "Quando anoitece cada um vai se esconder na mata e só voltamos de manhã", disse uma fonte, acrescentando que o medo de um novo ataque àquela aldeia prevalece. (Carta)
Um ataque armado na quarta-feira e hoje na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, destruiu várias aldeias, colocando comunidades inteiras em fuga, mas sem registo de mortes, para já, disseram à Lusa fontes locais, decorrendo ainda levantamentos.
Os agressores, em número incerto, incendiaram inúmeras habitações e infraestruturas, tais como edifícios dos serviços públicos e escolas, entre as quais o Instituto Agrário de Bilibiza, gerido pela Fundação Aga Khan - que remeteu uma reação oficial para breve.
Segundo as descrições, o nível de destruição é grande nas povoações situadas dentro das circunscrições dos postos administrativos de Bilibiza e Mahate, ambos pertencentes ao distrito de Quissanga - um distrito costeiro do sul de Cabo Delgado, a 120 quilómetros de Pemba, capital provincial, por caminhos de terra batida.
Fontes locais têm dito à Lusa que a população iniciou a debandada das aldeias para o mato ao princípio da tarde de quarta-feira, altura em que começaram a circular as primeiras mensagens sobre um ataque armado em curso na zona: uma região de mato pontuada por ‘machambas' (hortas) de agricultura de subsistência, onde as aldeias são feitas de construções artesanais, com materiais tradicionais, ligadas entre si por caminhos em terra batida.
Em Bilibiza, sede de posto administrativo e muito afetada pela passagem do grupo armado, a violência registou-se a partir das 20:00, sendo que os habitantes só começaram a regressar durante a manhã.
O Instituto Agrário de Bilibiza é a única escola secundária técnica em Cabo Delgado, é frequentada por cerca de 400 alunos e tem uma componente de internato, mas está em período de férias.
A instituição faz parte da Rede de Desenvolvimento Aga Khan (AKDN, sigla inglesa) na sequência de um acordo assinado com o Governo moçambicano em 2014 e tem estado a introduzir novas técnicas agrícolas, além de realizar projetos de infraestruturas.
Portugal é um dos países parceiros do Instituto Agrário de Bilibiza e o Governo português já condenou o ataque, reiterando apoio a Moçambique para lidar com a ameaça armada.
As autoridades moçambicanas ainda não comentaram o assunto.
O primeiro-ministro deu hoje posse a dois dirigentes do Estado, numa cerimónia pública, em Maputo, mas não prestou declarações aos jornalistas presentes, sendo que os dois empossados também se escusaram a falar quando confrontados com o tema.
"Não estou em condições de me pronunciar sobre a questão", disse Estêvão Pale, novo presidente do conselho de administração da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), cujos maiores investimentos estão a nascer na região de Cabo Delgado para exploração de gás natural.
Luísa Meque, diretora-geral do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), também não quis falar sobre o assunto.
Ataques armados eclodiram em 2017 na província de Cabo Delgado protagonizados por frequentadores de mesquitas consideradas radicalizadas por estrangeiros, segundo líderes islâmicos locais, que já tinham alertado antecipadamente para atritos crescentes.
Nunca houve uma reivindicação da autoria dos ataques, com exceção para comunicados do grupo ‘jihadista' Estado Islâmico, que desde junho tem vindo a chamar a si alguns deles, com alegadas fotos das ações, mas cuja presença no terreno especialistas e autoridades consideram pouco credível.
Os ataques já provocaram pelo menos 350 mortos entre agressores, residentes e militares moçambicanos, além de deixar cerca de 60.000 afetados ou obrigados a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária a Moçambique das Nações Unidas.
As forças de defesa e segurança moçambicanas têm estado no terreno, mas o Presidente da República, Filipe Nyusi, admitiu na última semana que são necessários mais apoios para lidar com o problema.(Lusa)
Em menos de uma semana, os insurgentes atacaram seis comunidades no distrito de Quissanga, em Cabo Delgado. Ontem, quarta-feira, cerca das 15 horas, os insurgentes atacaram a aldeia Ntuare, cerca de 10 km da sede do posto administrativo de Bilibiza (Quissanga). Incendiaram quase todas as casas daquela comunidade de camponeses. Os residentes de Ntuare são maioritariamente provenientes das aldeias Tororo, Tapara e outras, sendo a agricultura e corte de bambu e estacas para construção sua principal actividade.
De Ntuare, os insurgentes passaram por machambas da aldeia Ntessa, onde raptaram duas mulheres em campos de produção muito próximos da comunidade. A mulher mais velha seria abandonada e a mais nova forçada a acompanhá-los em direcção à sede do posto de Bilibiza. No percurso, incendiaram palhotas na aldeia “25 de Setembro”.
E quando eram 17 horas, os insurgentes fizeram sua incursão em Bilibiza. Nessa altura, segundo fontes de “Carta”, os residentes locais já tinham praticamente abandonado a aldeia, alertados pelo ataque anterior à Ntuare. “Nós estamos no mato, desde aquela hora que atacaram Ntuare. Quase toda gente deixou a aldeia e está no mato”, disse uma fonte, desesperada.
Em Bilibiza, os insurgentes incendiaram muitas casas, saquearam barracas e vandalizaram bens da população e infraestruturas públicas como a Secretaria do Posto, o Centro de Saúde, o Instituto Agrário local, entre outras. Fontes relatam que o efectivo das Forças de Defesa e Segurança, afecto à Bilibiza, não deu resposta, dado que estava em menor número relativamente ao do grupo dos insurgentes.
Os insurgentes entraram pela via do Instituto Agrário e saíram pelo mesmo lado. É lá onde temos a nossa casa. Não sei se escapou, mas vimos muito fogo durante a noite”, disse uma cidadã contactada por “Carta” esta manhã. Até aqui ainda não há um balanço sobre vítimas mortais e feridos. Até por volta das 05h50 minutos, esta manhã, as pessoas que passaram a noite na mata ainda não tinham regressado à aldeia de Bilibiza.
Em Bilibiza funcionam a Escola de Formação de Professores do Futuro “ADPP” e o Instituto Agrário. De recordar que no sábado passado, os insurgentes atacaram sucessivamente as aldeias de Nancaramo (localmente conhecida por Nagruvala), Cagembe e Namaluco, esta última localizada a menos de 20 quilómetros da vila de Macomia.
O Instituto Agrário de Bilibiza que, de acordo com os relatos da incursão de ontem, sofreu danos consideráveis, foi alvo de uma reabilitação recente, com a ajuda da Fundação Aga Khan Moçambique. A intervenção contemplou a reabilitação e ampliação de salas de aulas e dormitórios, construção de casas para o corpo docente e a revisão do currículo prático (com incidência para as áreas de gestão de terras e de desenvolvimento de competências, para além da extensão rural. Com cerca de 500 estudantes e 24 docentes, o Instituto Agrário de Bilibiza é um dos centros de formação técnico profissional mais antigos do país. (Carta)
São quatro mortos: três foram decapitados e um carbonizado. Os insurgentes voltaram à carga, como que mostrando que, até aqui, nada os impede de encetar ataques sobre as populações e seus bens.
Por volta das zero horas deste sábado, os insurgentes atacaram a aldeia Xitaxi, distrito de Muidumbe. Decapitaram uma pessoa, saquearam uma barraca e queimaram uma residência.
Só não causaram mais “estragos”, porque nessa mesma altura caía uma chuva torrencial, o que os obrigou a recuar nos seus intentos. Segundo contou uma fonte, “todos nós aqui na aldeia dormimos no mato, aliás, nem foi dormir, mas sim amanhecer no mato, porque estava a chover muito”.
Já no distrito de Quissanga, por volta das 3:00 horas da madrugada, os insurgentes escalaram a aldeia Namaluco, onde sem causar vítimas mortais, incendiaram palhotas da população que estavam sendo reconstruídas. Esta é a segunda vez que os insurgentes atacaram em Namaluco. A primeira foi em Junho de 2018, tendo-se registado um saldo de sete mortos e mais de 100 casas incendiadas.
Quando eram 08:00h, “Carta” recebeu de fontes informações dando conta que os insurgentes estavam atacando a aldeia Cagembe – que dista a 8 Km de Namaluco – também no distrito de Quissanga. Ali decapitaram duas pessoas e também queimaram maior parte das residências da população.
Em Cagembe, teriam capturado um membro das estruturas da aldeia, o qual fugiu quando estes fizeram uma pausa para cumprir uma das cinco orações diárias. Nessa aldeia, também se apoderaram de telefones celulares.
Prosseguiram as fontes que, pouco depois, sem nenhuma oposição, os insurgentes rumaram para aldeia vizinha de Nagruvala, oficialmente conhecida por Nancaramo, no mesmo distrito de Quissanga, onde também queimaram bens e residências da população, e onde uma cidadã idosa, portadora de deficiência (nas pernas), acabou morrendo carbonizada.
Há cada vez mais famílias em luto e, consequentemente, um aumento do índice de pobreza, nas regiões afectadas pelos ataques dos insurgentes.
Em muitas dessas comunidades, o dilema da fome também está presente, porque não se pratica a agricultura. Como se não bastasse, os preços dos produtos da primeira necessidade subiram acima de 100%. (Carta)