Em menos de uma semana, os insurgentes atacaram seis comunidades no distrito de Quissanga, em Cabo Delgado. Ontem, quarta-feira, cerca das 15 horas, os insurgentes atacaram a aldeia Ntuare, cerca de 10 km da sede do posto administrativo de Bilibiza (Quissanga). Incendiaram quase todas as casas daquela comunidade de camponeses. Os residentes de Ntuare são maioritariamente provenientes das aldeias Tororo, Tapara e outras, sendo a agricultura e corte de bambu e estacas para construção sua principal actividade.
De Ntuare, os insurgentes passaram por machambas da aldeia Ntessa, onde raptaram duas mulheres em campos de produção muito próximos da comunidade. A mulher mais velha seria abandonada e a mais nova forçada a acompanhá-los em direcção à sede do posto de Bilibiza. No percurso, incendiaram palhotas na aldeia “25 de Setembro”.
E quando eram 17 horas, os insurgentes fizeram sua incursão em Bilibiza. Nessa altura, segundo fontes de “Carta”, os residentes locais já tinham praticamente abandonado a aldeia, alertados pelo ataque anterior à Ntuare. “Nós estamos no mato, desde aquela hora que atacaram Ntuare. Quase toda gente deixou a aldeia e está no mato”, disse uma fonte, desesperada.
Em Bilibiza, os insurgentes incendiaram muitas casas, saquearam barracas e vandalizaram bens da população e infraestruturas públicas como a Secretaria do Posto, o Centro de Saúde, o Instituto Agrário local, entre outras. Fontes relatam que o efectivo das Forças de Defesa e Segurança, afecto à Bilibiza, não deu resposta, dado que estava em menor número relativamente ao do grupo dos insurgentes.
Os insurgentes entraram pela via do Instituto Agrário e saíram pelo mesmo lado. É lá onde temos a nossa casa. Não sei se escapou, mas vimos muito fogo durante a noite”, disse uma cidadã contactada por “Carta” esta manhã. Até aqui ainda não há um balanço sobre vítimas mortais e feridos. Até por volta das 05h50 minutos, esta manhã, as pessoas que passaram a noite na mata ainda não tinham regressado à aldeia de Bilibiza.
Em Bilibiza funcionam a Escola de Formação de Professores do Futuro “ADPP” e o Instituto Agrário. De recordar que no sábado passado, os insurgentes atacaram sucessivamente as aldeias de Nancaramo (localmente conhecida por Nagruvala), Cagembe e Namaluco, esta última localizada a menos de 20 quilómetros da vila de Macomia.
O Instituto Agrário de Bilibiza que, de acordo com os relatos da incursão de ontem, sofreu danos consideráveis, foi alvo de uma reabilitação recente, com a ajuda da Fundação Aga Khan Moçambique. A intervenção contemplou a reabilitação e ampliação de salas de aulas e dormitórios, construção de casas para o corpo docente e a revisão do currículo prático (com incidência para as áreas de gestão de terras e de desenvolvimento de competências, para além da extensão rural. Com cerca de 500 estudantes e 24 docentes, o Instituto Agrário de Bilibiza é um dos centros de formação técnico profissional mais antigos do país. (Carta)