Director: Marcelo Mosse

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Não sei se já repararam, mas parece que a agremiação que representa e advoga os interesses e direitos de todos trabalhadores deste país está velha e caduca. Se ficar atento, vai notar que desde a sua criação, em 1983, a Organização dos Trabalhadores de Moçambique, mais conhecida por Ó-Tê-Eme-Central-Sindical, tem estado a ibernar a cada ano que passa. Perdeu interesse. A sua constituição, gestão e planos de actividades não são transparentes. Se são, me elucidem.

 

Um país com uma pirâmide bastante jovem, qual Moçambique, devia ter uma Ó-Tê-Eme mais jovem, criativa e actuante. Uma organização que acompanha os problemas actuais dos trabalhadores. Uma organização mais revolucionária. A nossa Ó-Tê-Eme ficou no tempo. Continua a discutir os mesmos problemas do Comunismo. A Ó-Tê-Eme sabe apenas discutir salários mínimos a cada dúzia de meses (que mal discute, diga-se) e tomar café com bolachas chocantes de baunilha em conferências alheias.

 

Não se explica que a nossa Ó-Tê-Eme seja constituída somente por velhotes. Os novos órgãos que tomaram posse na semana passada são todos velhotes pançudos que mal conseguem discutir ideias sérias durante um par de horas. Não tem um só jovem de 25 ou 30 anos (me corrijam, se estiver equivocado), num país jovem como este. Este país tem médicos, professores, engenheiros, estivadores, canalizadores, carpinteiros, bancários, motoristas, advogados, etecetera, de 22 anos de idade que têm os seus próprios problemas e interesses. Esses também precisam de ter alguém que os represente.

 

Precisamos de um sindicato que discute assuntos actuais: integração regional, globalização, qualidade de formação, mão-de-obra estrangeira, dolarização da economia, custo de vida, higiene e segurança no trabalho, meio ambiente, minorias sexuais, representação parlamentar, paz e segurança, dívida oculta, etecetera. O bem-estar do trabalhador não se define apenas pela subida(?) do salário mínimo.

 

Não estou aqui a dizer que os mais velhos, nossos pais, que ali estão não sejam importantes. Não! A sua experiência é uma mais-valia. Estou a dizer que todas as classes e faixas etárias de trabalhadores devem estar ali representadas para que o debate flua e seja abrangente. Para que seja inclusivo. E isso depende dos jovens também. Os jovens trabalhadores devem começar a se interessar também por questões sindicais. Devem começar a assumir a Ó-Tê-Eme como uma plataforma importante e válida para discutir as suas vidas profissionais e sociais. Não podem aceitar que os seus problemas sejam discutidos por outras pessoas. Não podem aceitar que a sua luta seja usada como trampolim para cargos políticos.

 

Trabalhadores de todo Moçambique, uni-vos!

 

- Co'licença!

 

Publicado em 24-12-2018

 

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No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

quinta-feira, 27 maio 2021 10:13

Ligações comerciais perigosas

 A família Hilmer vivia há décadas em Cabo Delgado. Eram provenientes da República da África do Sul e tinham vários negócios. Alguns duvidosos e outros não. Os Hilmers eram bons contribuintes para a economia local e não só. Com um Resort luxuoso numa das Ilhas da linda província, estabelecimentos comerciais e outros investimentos. Vivendo em Moçambique há décadas, os Hilmers também eram apoiantes do partido no poder - Frelimo. Mas quando a guerra começou a sua vida entrou em decadência.

 

Tudo começou quando agentes do Serviço secreto moçambicano intersectaram alguns jovens que frequentavam os seus estabelecimentos e apresentavam algum comportamento esquecido. Os homens transportavam valores monetários e circulavam pelas zonas afectadas pelo conflito. Capturados, alguns apontaram  August Hilmer como financiador. O caso foi bastante investigado e houve até mulheres infiltradas, uma vez que mesmo casado, August Hilmer apreciava uma boas pernocas das lindas jovens da terra do gás e do pescado.

 

Na investigação percebeu-se que Hilmer tinha uns negócios duvidosos que coincidiam com uma das coisas que mais circulava, nos distritos afectados pela – órgãos de seres humanos. Os agentes escalaram a casa de Hilmer – balearam-no num dos membros superiores e foi raptado. A sua esposa Janeth Hilmer circulou por tudo que era esquadra e hospital, mas não o encontro – o homem estava desaparecido. Foram criadas várias narrativas sobre o homem. Mas a verdade é que havia sido detido.

 

Foi um caso melindroso. O homem morreu na posse das autoridades e sem responder pelas alegações criminosas que lhe eram feitas. Pássaros da justiça argumentavam que o homem só abriu a boca para dizer que iria falar na presença de grandes chefes do país – dois presidentes! Estranhamente, foi encontrado morto num hospital, depois de passar mal quando tomava uma refeição no estabelecimento penitenciário – o homem não aguentou e o caso foi tratado a sete chaves.

 

Janeth Hilmer com vícios ligados a droga e álcool, perdeu-se mais. O medo de enfrentar a longa luta pela justiça e do nome do chefe de família que estava linchado na praça pública e corredores internacionais. Ela lutou até onde pode. Desamparada e sem permissão para que os filhos entrassem em Moçambique, Janeth Hilmer perdeu a vida doente, uma vez que desde que August, seu grande amor, já não estava no mundo dos vivos – mesmo com toda riqueza, casas luxuosas e dinheiro para fartar, ela perdeu a vontade de viver e dormia no carro– sentiu a dor da injustiça e de estar do lado dos perseguidos – mesmo com os amigos presidentes, ministros, governadores e empresários renomados que antes confraternizavam juntos, na hora H, desapareceram e ficaram a ver o filme ao vivo.

 

Na montanha das tramoias contra a família Hilmer, estava o combate por uma área turística e de exploração de recursos petrolíferos e gasoduto que haviam ocupado e tinham o título de propriedade há anos. Mas os "novos ricos" da província e do país não tinham como o retirar formalmente – então, inventaram que o homem era um financiador depravado, viciado em sangue humano e que tinha passagem pelo famigerado batalhão Búfalo, designado 32º da elite sul-africana que interveio na guerra civil Mangolé e na guerra da independência dos Nama e Herero – na Namíbia. Os inimigos vaticinaram estes factos e difundiram falsas informações sobre o homem e sujaram a sua biografia para sempre…!

 

Os Hilmers deixaram muita riqueza e com a guerra ninguém sabe quem terá se apoderado dela, uma vez que os filhos todos foram proibidos de pisarem em Mossambike!

segunda-feira, 24 maio 2021 09:31

Estou em decadência como a minha cidade

Já antes de pairar por aqui a Covid-19 eu era uma mulher sem esperança, não acreditava no futuro, nem meu nem da minha cidade. Há sinais que me chegavam de vários lados com a mensagem de que do outro lado da porta não há nada, e eu levei tempo a perceber isso. Houve insistência por via de acontecimentos nefastos, testemunhados pelo silêncio que afinal vem dos tempos, para me fazerem entrender as parábolas, então acabei sentindo que ao final do dia não haverá flores para colher.

 

Nasci aqui há mais de 70 anos e nunca vi nada de extraordinário a acontecer. A princípio virava-me contra aqueles que saíam e não voltavam mais, eu sempre pensei que aqui fosse um paraíso. Por isso era incompreensível que alguém abandonasse um paraíso, era assim como eu pensava. Mas agora percebo esse êxodo dos filhos da dita “Terra da boa gente”, têm medo de voltar. Temem sucumbir como eu, que na verdade estou em estado vegetativo.

 

Um amigo meu, cuja intimidade vem dos tempos de infância, apareceu na minha cidade vindo da Europa, depois de longos anos de ausência e disse assim, Nhambuli, quero construir um complexo de lazer para divertir a juventude aos fins-de-semana, e o lugar escolhido é um bairro que fica a  cerca de cinco quilómetros em direcção à praia do Tofo, saíndo do centro da urbe.

 

Delirei ao ouvir aquilo que me parecia uma música afinada em grandes conservatórios. O sonho em si era lindo, capaz de atrair o belo, porém a realidade veio mostrar que o homem que acabava de desembarcar com um projecto daqueles no regaço, não conhecia com profundeza o terreno que pisava, afinal movediço. Ergueu as infraestruturas que incluiam uma piscina para o público. Fez publicidade. Conquistou de facto a juventude que foi em avalanche. Badalou-se o complexo em terras outras. Vieram músicos de renome para noites de festa, em catadupa, mas pouco tempo depois a casa fechou as portas e o jovem regressou à Europa. Deixando seu sangue vertido no chão. Em vão.

 

Eu acreditava no sonho do meu amigo. Ia lá sempre passar o tempo e beber a minha cachaça e queimar o tempo num lugar retirado e tranquilo,  e chegava mesmo a mergulhar na piscina sem qualquer complexo de mostrar o meu corpo envelhecido e enrugado, eu vibro por dentro mesmo assim. Mas o sol não demorou a cair no ocaso e deixou aquelas ruinas que ainda hoje me flagelam o espírito.

 

Não era a primeira vez que eu chegava a um limite doloroso como este, mas agora o meu cepticismo quanto ao futuro da minha cidade, que entrou em decadência, contrariando os tempos de euforia da juventude, aumentou. Não acredito no amanhã, e o que me resta é ruminar as dores sem poder fazer nada. Absolutamente nada! A não ser passar o tempo a beber cachaça e ouvir a música de Elizeth Cardoso, “Eu bebo sim”, sem esperança porém, de que o sol vai nascer outra vez na minha cidade.

segunda-feira, 24 maio 2021 07:15

Naturais da Natureza

Pitágoras deixou-nos uma solução para quando estivéssemos perdidos: “Saiam da estrada e sigam o trilho.”

 

sexta-feira, 21 maio 2021 10:12

Uma Frelimo que não vi …e tenho saudades

Acabo de ler textos recentes (agrupados em “Corrigir para fazer melhor”)  do professor Elísio Macamo em que  debruça sobre a Frelimo, em parte  a partir do Relatório do II Congresso da FRELIMO (1968), um relatório  que o Elísio Macamo reconhece qualidade. “Um relatório impressionante”  na suas palavras. E por falar da qualidade deste relatório, lembro-me que já cruzara com algo parecido sobre os documentos da  Frente de Libertação de Moçambique.  Foi há uma década ou pouco menos, que em conversa ocasional com  um membro sénior da Frelimo (frente e partido), contara-me que o filho o questionara sobre a qualidade dos documentos produzidos pela Frente de Libertação de Moçambique.  Na verdade o filho queria saber como é que foi possível jovens, em tenra juventude, produziram documentos de tamanha qualidade, coisa que jovens de hoje, até com o dobro da idade e em melhores circunstâncias (tecnológicas e outras), não conseguem. Ainda na conversa, o citado membro confessara de que essa qualidade era conhecida e respeitada pelos outros movimentos de libertação (e não só) e de que tal foi um grande diferencial da FRELIMO na arena internacional.   Foi uma conversa interessante, mas mais interessante,   foi o que conto abaixo e que me invadia a mente, enquanto decorria a conversa. 

 

Em 2019, num meu texto ( Por onde andas, Kalungamo? ), em jeito de homenagem aos 90 anos de Marcelino dos Santos (1929-2020), outro destacado membro sénior da FRELIMO, relato um episódio de uma reunião em que participara com ele.  A reunião, decorrida em finais de Dezembro de 2006,  foi convocada por ele e eu tomara parte com outros colegas, na altura a equipe executiva que organizara, meses antes, o 1º Fórum Social Moçambicano (FSMoç), um espaço aberto de debate crítico de ideias.   Na abertura da reunião e conforme o relatado no citado texto: “Marcelino dos Santos tinha na mesa os documentos  do FSMoç, destacando o Plano Nacional. Este estava excessivamente sublinhado e com diversas cores e anotações, evidenciando que o tinha lido, como também, que vinha “chimoco”. Para a nossa satisfação, Marcelino começa a reunião  elogiando a qualidade dos documentos, admitindo  que não via há bom tempo algo parecido na pérola do Índico, o que o deixava contente (…)”. Em outro desenvolvimento da reunião, Marcelino perguntara se já havíamos lido os estatutos da fundação da FRELIMO, pois os documentos estruturantes do FSMoç (O Plano Nacional e a Carta de Princípios), tinham o mesmo espírito. 

 

E aqui, o mesmo espírito, começa a parte mais interessante e que me invadia na conversa ocasional acima relatada.  Soa até a uma confissão.  Uns anos anos (2003/2004) antes da  realização do 1º FSMoç (2006), ainda no processo de discussão da sua constituição, fora criado um Grupo de Trabalho para redigir um documento informativo/orientador sobre o FSMoç. O grupo era encabeçado por Hélder Martins, outro membro sénior e fundador da Frelimo, e este, em tempo programado, apresentou o documento, que  por sinal, e não vem ao acaso, ele lamentara a pouca ou nula  participação dos restantes membros do grupo . Este documento, em 2006, é resgatado e servido de base, a par da “Carta de Príncipios” do Fórum Social Mundial (FSM),  para a elaboração do Plano Nacional do FSMoç, o tal documento que Marcelino dos Santos elogiara a sua qualidade e dissera de que era do mesmo espírito  dos estatutos da fundação da FRELIMO. Em reunião de seguimento, em Janeiro de 2007,  Marcelino até sugerira um intercâmbio entre o partido Frelimo e o FSMoç, pois os propósitos do FSMoç eram os mesmo que guiaram a fundação da FRELIMO e que conduziram a luta de libertação nacional.

 

É desta Frelimo - a da qualidade (conteúdo) dos seus documentos -  que não vi…e tenho saudades. Por sinal,  concluo que é  a mesma Frelimo que o professor Elísio Macamo debruça  sobre ela e torce  para que seja resgatada na reunião do seu Comité Central que se avizinha. Uma vez resgatada, e para fechar, “Um outro Moçambique é Possivel!” conforme ditava  o lema que guiava o FSMoç. A Luta Continua!