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segunda-feira, 25 janeiro 2021 15:22

Ressuscitado em CoviD-19: a morte e o pânico nas redes sociais

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Não é para gerar polémica! Vivemos um período muito conturbado causado pelo triunfo momentâneo de um vírus mutante, que conseguiu juntar 3 em 1: a agressividade (virulência) do HIV, a transmissibilidade do vírus da gripe comum e  o factor novidade, que implica que ninguém tenha ainda desenvolvido imunidade natural ao mesmo. Um cocktail mortífero para uma doença transmitida por um organismo tão pandémico como o SarsCoV-2.

 

Se nós ajuntarmos o quarto factor, o da comunicação prolífica devida à omnipresença das redes sociais, como fruto de um milagroso desenvolvimento em exponencial das TIC´s, teremos a componente social importante para poder gerar a catástrofe. De facto, a existência de uma miríade de plataformas digitais, a internet rápida e o fabrico em série de smartphones faz com que qualquer pessoa, em qualquer momento e lugar, possa se tornar num “jornalista”, num fazedor de opinião. Aqui surge o primeiro grande desafio: todos dispomos de meios potentes de jornalismo, mas não das ferramentas éticas para exercer essa nobre profissão.

 

Assistimos muito recentemente, ao abuso ad nauseam da plataforma Twitter, para destituir ministros e conselheiros, emanar ordens presidenciais e discursos profanos e incitar ao assalto a símbolos democráticos, numa importante e próspera nação ocidental, o que prova que o risco de abuso das redes sociais pode até vir de pessoas que, à partida, deveriam ter o tal kit ético.

 

A influência e abrangência deste meio de comunicação rápida são muito grandes. Quando comecei a me interessar com política a sério, na década 70 do século passado, entendi que sempre que houvesse golpes de estado na África e América Latina, as prioridades eram a ocupação do palácio presidencial, do edifício da rádio e do estado maior general do exército. Aqui, via-se claramente que o “quarto poder”, era mais forte que o segundo e o terceiro (legislativo e judicial). A rádio aparecia como a melhor forma de chegar às pessoas, de lançar o discurso, influenciar o pensamento. Nos tempos da Internet 5G (nós em Moçambique ainda nos contentamos com 3G ou 3,5G por enquanto), é muito natural que os governos em tempos de crise, desliguem a Intenet para dificultar a comunicação entre as pessoas. Vimos isso em África, mas também na Europa e na Ásia.

 

O segundo desafio vem de outro tipo de abusadores das redes: pessoas que de forma deliberada, sentam-se e inventam os famosos “memes”. Estes, são pequeníssimos textos (chamemos-lhe textículos), alguns deles com um conteúdo humorístico muito apurado, mas infelizmente, quase sempre todos estão direccionados para expressar aquela repulsa social que existe ente grupos (ou para com grupos) e que de alguma maneira acabam reflectindo os problemas sociais em ebulição. São memes homofóbicos, contra as marhandzas, contra os Xingondos, os Makuas, os manhembanas, os machanganas e por aí, trazendo ao de cima aquilo que talvez devesse merecer lugar de prioridade nos nossos programas sociais.

 

O problema da comunicação rápida do tipo mensagem de WhatsApp é o efeito psicológico de “não pensar muito, não se bater a cabeça” que ela gera. Na verdade, a mensagem curta, com resposta rápida e muitas vezes lacónica do estilo “gosto”, actua no nosso cérebro com injecções abundantes de dopamina, própria para as acções de motivação/recompensa, igual ao cão que deve ser dado um biscoito cada vez que acerta no gesto num treino.

 

E isto, para além de estimular o prazer, vicia.

 

Assim, podem estar viciados de postar memes os que diariamente abusam das redes sociais, aproveitam-se da situação de calamidade pública em que nos encontramos no país e passam o tempo todo a enviar mensagens de perigos diversos, de incertezas científicas justificadas sobre a pandemia, de problemas técnicos com a(s) vacina(s) a serem desenvolvidas em diversos laboratórios no mundo  e de supostas mortes de personalidades públicas.

 

De repente, em pouco menos de um ano, habituais analfabetos técnicos e desléxicos titubeantes, têm um amplo domínio da microbiologia, da virologia, da saúde pública, do sequenciamento genético dos vírus e mutações, da farmacologia dos testes de vacinas e da estatística demográfica e multivariada. Este é o grande desafio das redes sociais neste momento da pandemia. Diariamente somos fustigados com GigaBytes de informação digitalizada, circulando de um grupo para o outro das redes e misturando a notícia, o alarmismo, o sensacionalismo e a morte.

 

Tenho dúvidas que esta mistura ajude-nos a combater o vírus. Mantenhamo-nos vigilantes contra esta doença da CoviD-19 que está sendo transformada, também, em doença do pânico.

 

Rogério José Uthui, 25 de Janeiro de 2021.

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