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quinta-feira, 28 março 2024 07:03

No Paraíso das canções da eternidade

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Os trovadores foram sempre os mais talentosos artistas da antiguidade. Não cantavam simplesmente. Transportavam, na nostalgia da saudade, o que mais alegrava ao povo e o que mais provocava desalento. Era assim que, como habilidosos artesãos da emoção, eles teciam versos que transcendiam o tempo, transformando a dor em poesia e a alegria em sonhos. Eles eram os guardiões das histórias não contadas, dos suspiros abafados e dos segredos sussurrados ao luar. Com as suas vozes melodiosas, eram capazes de curar feridas antigas e despertar esperanças adormecidas. As suas composições eram como bússolas, guiando os ouvintes através das marés turbulentas da vida, rumo à ilha da compreensão e da paz interior. Portanto, os trovadores tornaram-se não apenas músicos, mas também sábios contadores de histórias, cujas canções ecoam ainda hoje nos corações daqueles que anseiam por beleza e verdade.

 

Em Março, neste mês de poetas, escritores de teatro, de selectos trovadores, aniversariamos a presença e a voz, as ausências, as partidas de todos quanto invadiram os nossos corações, remexeram os suores, e invadiram as emoções. É, assim, que esta noite será destinada a uma voz especial e irreverente. Os santos, anjos e arcanjos, perfilam sentados em poltronas douradas para escutar a voz de Azagaia. Quem sabe, ele regressa ao seu nome original, pois, nestes espectáculos, valem mesmo os nomes de baptismo: Edson da Luz. Essa água benta que nos liga a eternidade e aos céus.

 

Será uma noite de gala e a banda convidada, engloba sonantes executores de todos os quadrantes, exímios percursores, afinados coristas e um festival de luzes que chega ao planeta Terra sob forma de faísca sem trovoadas. As faíscas são o sinal de que os deuses e os espíritos se reencontram para celebrar a música e proporcionar alegria às almas. Zaida Chongo e Zena Bacar vão requebrar e provar que só ela granjeou as simpatias da mais vasta multidão na hora do adeus. Alexandre Langa fará os arranjos e terá o contributo de Zeca Alage, Chico António e Pedro Langa. Quem mais poderia dedilhar e colocar esta nossa marrabenta ao nível de todas as sonoridades senão o Jaimito? Oh, quase esquecia, os sopros estarão a cargo de Chico da Conceição. Marcelino dos Santos convidou Mondlane para a iguaria musical. Machel vem orgulhoso por não ser apelado por discursos, mas, por Hip hop. Será Moçambique que vai resplandecer neste céu que não tem luar por coincidir com o tempo da solenidade e da espiritualidade.

                                                                                      

Quando as estrelas reluzirem e o crepúsculo se der por vencido, o arco-íris nocturno vai intercalar a cacimba destas madrugadas e deslumbrar os ânimos exaltados de um povo saudoso e inconformado. E sob a voz do Edson da Luz teremos a maçonaria do ABC, sem preconceito de uma marcha que viajará entre a esquerda e a direita e o refrão em uníssono do primeiro ano da saudade dos hinos jamais cantados, mas de memórias colectivas eternizadas.

 

Outrora, esse mesmo  Azagaia, com a sua lírica afiada como a ponta de uma lança, mergulhou nas profundezas da nossa consciência colectiva, desafiando-nos a encarar as sombras que se escondem nos recantos mais obscuros da sociedade. Cada palavra que ele entoava, tal como os trovadores do antigamente, era como uma chama ardente que iluminava os cantos esquecidos da nossa história e nos despertava, sempre que se mostrasse necessário, para a urgência da mudança. Era como, muito assertivamente, dizia o saudoso Zeca Afonso: “O que é preciso é criar desassossego. Quando começamos a criar álibis para justificar o nosso conformismo, então está tudo lixado!”.

 

Revivemos, a cada 9 de Março, o mesmo ritual. Afinal, os relâmpagos também ficaram reféns das letras vampíricas que continuam anunciando a alma de um músico e um trovador moderno que nunca partiu e cujos aproveitamentos se estendem muito para lá das nossas imaginações. É exactamente por isso que esta noite será um festival com declarações de paz, abanadas pelos ventos da matança e o inconformismo de uma história de intervenção social que ainda mal iniciou, porém que continua despertando as consciências e revivendo as saudades.

 

Azagaia, com sua lírica afiada como a ponta de uma lança, mergulhou nas profundezas da consciência coletiva, desafiando-nos a encarar as sombras que se escondem nos recantos mais obscuros da sociedade. Cada palavra que ele entoava era como uma chama ardente, iluminando os cantos esquecidos da nossa história e despertando-nos para a urgência da mudança. Como um trovador moderno, ele não apenas cantava, mas clamava por justiça, igualdade e dignidade, inspirando uma geração inteira a levantar-se e reivindicar seu lugar no tecido da nação.

 

Como um trovador moderno, a sua música tornou-se um manifesto dos despossuídos, uma ode aos que vivem à margem da sociedade, e uma trilha sonora para os que buscam uma voz em meio ao silêncio ensurdecedor das injustiças. Com a sua arte, Azagaia não apenas nos entreteve, mas nos desafiou a olhar além das aparências, reconhecendo a humanidade em cada rosto esquecido pelas sombras da indiferença. Assim, ele não apenas se tornou uma lenda da música moçambicana, mas também um farol de esperança para aqueles que ousam sonhar com um mundo mais justo e compassivo.

 

É, precisamente assim, que revivemos, a cada 9 de Março, o mesmo ritual. Afinal, os relâmpagos também ficaram reféns das letras vampíricas que continuam anunciando a alma de um músico e um trovador moderno que nunca partiu e cujos aproveitamentos se estendem muito para lá das nossas imaginações. É, exactamente por isso, que esta noite será um festival com declarações de paz, abanadas pelos ventos da matança e o inconformismo de uma história de intervenção social que ainda mal iniciou, mas que continua despertando as consciências e revivendo as saudades.

 

Nessa efeméride, os céus parecem ecoar o lamento das guitarras e o estrondo dos tambores, como se as estrelas dançassem ao som das canções que se recusam a serem silenciadas pelo tempo ou pela distância. Somos testemunhas de um pacto etéreo entre o passado e o presente, onde as palavras de Azagaia ecoam no devir, tecendo uma teia de significados que se entrelaçam com as fibras da nossa própria existência.

 

É como se a noite se enfeitasse com estrelas cintilantes, cada uma delas uma testemunha silente da jornada desse trovador moderno, cujo legado transcende as fronteiras do tempo e do espaço. Os ventos da mudança sopram com fervor, carregando consigo os ecos de um passado marcado pela luta e pela resistência, mas também pela esperança incansável de um futuro melhor. Neste festival de lembranças e promessas, erguemos as nossas vozes em uníssono, celebrando não apenas o paraíso das canções da eternidade que foi a vida e a obra de Azagaia, mas também o poder transformador da arte e da música na construção de um Moçambique melhor.

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