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O Governador de Cabo Delgado lançou no último sábado (17) duras críticas contra jornalistas locais que, ao reportar sobre os ataques terroristas, alegadamente, exageram e tendem a dar protagonismo às incursões daquele grupo em prejuízo da população e das operações das Forças de Defesa e Segurança.

 

Para Valige Tauabo, os tais “escribas” criam narrativas jornalísticas sugerindo que estão em sintonia (ou acordos firmados) com os terroristas para destacar as suas acções e desvalorizar o governo e as Forças de Defesa e Segurança.

 

"Os jornalistas residentes na nossa província parecem ter algum acordo com os terroristas", lamentou, afirmando: "isso não fica bem, nós trabalhamos convosco e nada está vedado para que possam saber melhor".

 

Segundo o governador de Cabo Delgado, a narrativa sobre os ataques terroristas feita por certos jornalistas na província tem um cunho maldoso. "Quando fornecemos alguma informação gerem de uma forma distorcida, com um cunho maldoso para a nossa província e para a população de Cabo Delgado", declarou Valige Tauabo.

 

Tauabo também desmentiu a existência de "portagens" ou barricadas montadas pelos terroristas nas estradas da província e explicou que o que acontece é que os terroristas se aproveitam de locais sem cobertura das FDS para extorquir a população e os automobilistas.(Carta)

segunda-feira, 19 fevereiro 2024 06:01

Entrada ilegal de estrangeiros: reboliço no SENAMI

O Serviço Nacional de Migração, (SENAMI) está a passar por um cenário de instabilidade sem paralelo. O actual Director Geral, Felizardo Sede, decidiu reeestruturar a máquina, trocando chefias de Postos de Travessia (que tramitam a entrada e saída de estrangeirios) nas cidades e províncias de Maputo, em Gaza, Tete e Cabo de Delgado, mas isso caiu mal no seio de grupos que controlam a entrada ilegal de estrangeiros em Mocambique, um sector que movimenta milhões e milhões de Mts na corrupção.

 

Felizardo Sede foi nomeado Director Geral do SENAMI em Junho do ano passado, ainda no consulado da antiga Ministra do Interior Arsénia Massingue. Ele era Director Provincial em Gaza. Alegadamente, sua tentaiva de reduzir a compra e venda de entrada ilegal de estrangeiro estava a enfrentar bloqueios. “Carta” ouviu relatos sobre a existência de redes bem instaladas de enriquecimento em postos de travessia relevantes como Mavalane, Ressano Garcia e os Aeroportos de Tete e Pemba. 

 

Nesta semana, Sede emitiu uma Ordem de Serviço que concretiza uma movimentação de chefes de Postos de Travessia (Mavalane, Ressano Garcia, Ponta de Ouro, Pemba e outros), estando entre os visados os antigos chefes dos postos de Mavalane (Ancha João Martins Jeque) e o do Aeroporto de Pemba, conhecidas portas de imigração ilegal para Mocambique, com bolsas de enriquecimento ilícito bem identificadas, envolvendo altos funcionários do sector.

 

Agora que Sede deu esse passo no sentido da limpeza de prováveis bolsas de corrupção, é muito bem provável que ele seja visado pelo Ministro do Interior, Pascoal Ronda, alegam fontes do sector.

 

“Carta” apurou que Ronda está a ensaiar uma movimentação dos titulares das principais direcções do SENAMI, nomeadamente Operações Migratórias, Emissão de Documentos, Finanças, Direcção da Cidadesem excluir a hipótese da remoção de Seda.

 

Aliás, estas prováveis movimentações já vinham sendo motivo de conversa nos corredores da corporação, com o actual Director do SENAMI de Cabo Delgado, Juma Costa, mostrando-se um dos principais entusiastas de mudança das directorias. Ele foi capaz de, aproveitando-se da deslocação do Ministro do Interior Pascoal Ronda, para Gurué, no âmbito das cerimónias de tomada de posse dos novos órgãos autárquicos no passado dia 5 de Fevereiro, ter ido ao encontro do Ministro para alegadamente “traçar estratégias de controlo da instituição”. 

 

Juma espera ser nomeado como o futuro Director de Operações Migratórias, o centro nevrálgico da corrupção no sector. Desde sexta-feira, o nosso jornal procura ouvir Juma Costa, infrutiferamente. Dirigir as Operações Migratórias é controlar a corrupção no SENAMI.

 

Um alto funcionário reformado descreveu assim o sector: 

 

As “Operações Migratórias”são o cancro da Migração e motivo de grandes lutas. Deixam entrar estrangeiros ilegais, com maior destaque para bengalis e paquistaneses, a troco de pagamento de USD 1500, ou mais, por cada pessoa. Esse esquema não só envolve migração, mas também o SISE e o SERNIC, altos quadros de várias instituições. É crime organizado mesmo. Quem tenta combater isso é um alvo a abater porque dá muito dinheiro. Então as redes procuram colocar como Chefe do Posto de Travessia principalmente nos deMavalane, Pemba, Nampula alguém da confiança de modo a controlar tudo”.

 

“Carta” apurou que o Ministro Ronda deverá remeter ao Presidente da República, a qualquer, sua proposta de demissão dos titulares das pastas acima indicadas. Trata-se apenas de uma formalidade facultativa. Ele tem competências para nomear os directores do SENAMI sem precisar consultar o PR. Fazendo-o, está apenas a buscar protecção, e concretizando a aspiração de um certo grupo interno de controlar as “Operações Migratórias”.(Carta)

Pelo menos cinco pessoas perderam a vida em mais uma incursão terrorista no posto administrativo de Chiúre-Velho, distrito de Chiúre, a sul da província de Cabo Delgado. Os ataques aconteceram em zonas onde não havia presença das Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

À "Carta", fontes contaram que os ataques se registaram entre sexta-feira e sábado nas aldeias Nguira e Magaia. Na aldeia Nguira, os "Mababus" causaram um morto e queimaram mais de duas dezenas de casas da população. Já na aldeia Magaia, os “alshababs” decapitaram quatro cidadãos, dois dos quais comerciantes locais.

 

"Um dos decapitados é um comerciante, chamado Branco e o outro chamava-se Cebola. Os dois eram nomes sonantes e grandes empresários naquela aldeia", contou Herculano Mário.

 

Por causa da situação, várias famílias foram obrigadas a deslocar-se para a vila de Chiúre, muitas das quais a pé, devido à falta de meios de transporte na zona e à especulação do preço pelos operadores de táxi-mota. De repente, os valores cobrados subiram de 100 meticais para 300 por cada passageiro.

 

"As pessoas continuam a abandonar as aldeias circunvizinhas, incluindo Chiúre-Velho para a vila, porque os bandidos circulam de qualquer maneira", explicou outro residente. Refira-se que os meios de propaganda do Estado Islâmico reivindicaram a morte de quatro cristãos na aldeia Magaia.

 

Entretanto, na sua missa celebrada este domingo, o Papa Francisco condenou a prevalência da violência armada na província de Cabo Delgado, em particular o ataque à missão católica de Mazeze, distrito de Chiúre. (Carta)

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O aumento dos ataques terroristas na província de Cabo Delgado, alguns muito próximos da capital provincial, Pemba, e de campos de acolhimento, está a gerar medo e uma nova onda de famílias em fuga.

 

Muitas delas têm pedido ajuda à Cáritas de Pemba, mas a organização da Igreja Católica está sem recursos para responder a esta nova emergência humanitária no território, alertou esta quinta-feira (15) a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

 

“Neste momento, a Cáritas tem vindo a receber muitos pedidos para poder ajudar essas famílias que chegam e outras que vão para as suas zonas de origem”, afirma a gestora de projectos da Cáritas diocesana, Betinha Ribeiro, citada pela AIS. Mas não tem sido possível dar a resposta necessária “por falta de recursos financeiros”.

 

A responsável explica que seriam necessários pelo menos cerca de 200 mil euros e “esse seria o valor mínimo” para dar resposta às necessidades mais prementes destes novos deslocados.

 

Um valor de que a Cáritas não dispõe. “Estamos de mãos atadas e não temos como responder…”, lamenta, assinalando: “o consolo só por si não basta. Estas populações estão a precisar de apoio. Neste momento, as palavras não significam nada”.

 

Também esta quinta-feira, a Comissão Nacional Justiça e Paz divulgou uma nota com o objectivo de “alertar os responsáveis políticos e todos os cidadãos para a importância de não esquecer o drama que se vive na região de Cabo Delgado, de reforçar a ajuda humanitária e garantir a segurança das suas populações e de não desistir de trabalhar para um futuro de justiça e de paz nessa região”.

 

Intitulada “Não esquecer Cabo Delgado”, a nota enviada ao 7MARGENS sublinha que “a situação [na região de Cabo Delgado] não melhorou (apenas se deixou de falar dela): intensificaram-se os ataques terroristas a várias aldeias, com destruição de casas, igrejas e mesquitas e o número (superior a um milhão) de pessoas forçadas a deixar as suas terras não para de aumentar”. (7 MARGENS)

Missionários, padres e religiosas estão a fugir de aldeias remotas de Cabo Delgado para Pemba, capital daquela província do norte de Moçambique, devido aos ataques de grupos terroristas associados ao Estado Islâmico, denunciou hoje a organização cristã ACN

 

Citando relatos no terreno, a organização internacional Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês) referiu que “vários novos e simultâneos ataques de insurgentes armados” estão a abalar a província de Cabo Delgado.

 

“As atividades dos grupos insurgentes islâmicos intensificaram-se na região, criando uma situação extremamente complicada e uma atmosfera de medo e insegurança”, relatou a organização de caridade, acrescentando que a fuga de missionários, padres e religiosas está a “sobrecarregar as estruturas” de apoio aos refugiados.

 

“A insurgência no norte de Moçambique começou em 2017, mas registou um aumento nos ataques desde o início de 2024. Só nos últimos dias, registaram-se vários novos ataques a cidades e aldeias, e pessoas foram mortas ou raptadas”, apontou.

 

Relatou igualmente que em 09 de fevereiro estes grupos de insurgentes, que afirmam lealdade ao Estado Islâmico, atacaram três comunidades na zona de Mazeze, 100 quilómetros a sul de Pemba.

 

“As igrejas foram queimadas, assim como as casas da população”, afirmou um missionário local, citado na publicação da ACN, dando conta que os ataques, juntamente com “rumores de novos movimentos terroristas em localidades vizinhas”, levaram ao “deslocamento de centenas de pessoas”.

 

“Em muitos casos percorreram longas distâncias pelo mato para encontrar refúgio em Pemba ou na cidade vizinha mais próxima, Chiúre, causando sobrelotação”, detalhou ainda.

 

Uma missionária, não identificada por razões de segurança, também citada no documento, referiu que os terroristas destruíram casas e igrejas em várias aldeias e estão agora “espalhados pelos distritos sul e centro” de Cabo Delgado, embora “o objetivo final dos movimentos ou ataques não seja claro” ainda.

 

A situação, explicou, “é muito, muito complicada”.

 

“O sacerdote que estava numa das comunidades mudou-se para Pemba, centro da diocese, assim como as religiosas que viviam nas proximidades. Outros missionários estão a seguir o exemplo, para se protegerem, mas também para protegerem a população”, confirmou ainda.

 

A organização explicou que partir “é por vezes uma forma de proteger as pessoas, porque muitas vezes se os padres ou irmãs permanecem nas aldeias as pessoas sentem-se seguras e ficam com eles, o que pode deixá-los expostos a ataques”.

 

“Eles não limitaram os seus ataques a aldeias com igrejas cristãs. Como sempre, atacam absolutamente tudo, incluindo igrejas, mas também mesquitas, mas visam especialmente a população e as suas casas”, relatou um sacerdote.

 

No relatório descreve-se que “além do aumento do número de ataques”, estes grupos de insurgentes “também parecem estar a tornar-se mais ousados nos seus métodos” e num recente ataque contra a povoação Mucojo, ainda em janeiro, “em vez de destruírem casas e fugirem para o mato”, acabaram por permanecer “durante pelo menos dois dias, apesar da presença próxima das forças armadas de Moçambique e de outros países aliados”.

 

A ACN, Fundação Pontifícia criada em 1947, descreve-se como uma organização solidária que promove “um mundo em que o cristianismo possa prosperar em todos os lugares”, sendo “leal ao Santo Padre”.

 

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reivindicados com o grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.

 

Após um período da relativa estabilidade, nas últimas semanas novos ataques e movimentações foram registados em Cabo Delgado, embora localmente as autoridades suspeitem que a movimentação esteja ligada à perseguição imposta pelas Forças de Defesa e Segurança nos distritos de Macomia, Quissanga e Muidumbe, entre os mais afetados.(Lusa)

Os ataques terroristas em três distritos de Cabo Delgado, norte de Moçambique, levaram à fuga de 812 pessoas em apenas cinco dias, segundo estimativa divulgada hoje pela Organização Internacional das Migrações (OIM). 

 

Em causa, de acordo com um boletim semanal daquela agência intergovernamental, estão os ataques ocorridos entre 08 e 12 de fevereiro em Macomia, Chiúre e Mecufi, que levaram à fuga da população para aldeias vizinhas, recebidas em campos de reassentamento.

 

O mesmo boletim acrescenta que desde 22 de dezembro de 2023, em termos acumulados, há registo de 1.478 famílias, totalizando 10.849 pessoas, que fugiram dos locais onde vivem em vários distritos de Cabo Delgado, devido a uma “série de ataques esporádicos” e ao “medo” dos grupos insurgentes, que se voltou a fazer sentir no final do ano passado.

 

Do total de indivíduos deslocados em cinco dias de fevereiro, 47 famílias refugiaram-se, após viagens a pé, de autocarro ou de canoas, nos centros de deslocados de Macomia (Nanga A e Nanga B), 35 famílias nos centros de Chiure (Maningane, Muajaja e Namisir), dez famílias no centro de Montepuez (Ntele) e duas famílias no centro de Metuge (Ngunga).

 

“Devido às preocupações de segurança prevalecentes na região relatadas pelas famílias deslocadas, as intenções sobre a duração da sua estadia nos atuais locais de deslocamento e nas comunidades de acolhimento permanecem incertas. Os movimentos na região continuam a ser dinâmicos dentro dos distritos”, relata-se no boletim.

 

Nas últimas semanas têm sido relatados casos de ataques de grupos insurgentes em várias aldeias e estradas de Cabo Delgado, inclusive com abordagens a viaturas, rapto de motoristas e exigência de dinheiro para a população circular em algumas vias.

 

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou na quarta-feira a autoria de um ataque terrorista em Macomia, em Cabo Delgado, e a morte de pelo menos 20 militares, um dos mais violentos em vários meses.

 

Através de canais de propaganda, o grupo terrorista documentou o ataque com imagens, a uma posição das forças armadas moçambicanas, levando vário material bélico, e reivindicou ainda outro ataque em Chiúre.

 

A Lusa não conseguiu atestar no terreno a autenticidade desta reivindicação e as autoridades moçambicanas não comentam as operações militares em curso em Cabo Delgado.

 

Contudo, o administrador distrital de Macomia, Tomás Badae, confirmou na segunda-feira que os grupos de insurgentes que atuam em Cabo Delgado atacaram uma posição das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no distrito.

 

O ataque aconteceu entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado, entre 23:00 e 03:00 (21:00 e 01:00 em Lisboa), no posto administrativo de Mucojo, a 45 quilómetros da sede distrital de Macomia: “Tomaram, sim, a posição e assaltaram-na, mas não temos mais informação se ainda estão lá ou já abandonaram”.

 

Relatos de residentes locais também davam conta de várias baixas entre os militares moçambicanos.

 

Na terça-feira foi confirmado o ataque, também depois reivindicado pelo EI, no distrito de Chiúre, com a destruição de várias infraestruturas e igrejas.

 

O alvo foi a sede do posto administrativo de Mazeze, no interior do distrito de Chiúre, onde os rebeldes atearam fogo ao hospital, secretaria do posto administrativo e a residência da chefe do posto administrativo, avançou o administrador distrital de Chiúre.

 

“As infraestruturas estão basicamente destruídas”, disse Oliveira Amimo, acrescentando que os rebeldes destruíram a capela pertencente à Igreja Católica.

 

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.

 

Depois de um período da relativa estabilidade, novos ataques e movimentações foram registados em Cabo Delgado, nas últimas semanas, embora localmente as autoridades suspeitem que a movimentação esteja ligada a perseguição imposta pelas Forças de Defesa e Segurança nos distritos de Macomia, Quissanga e Muidumbe, entre os mais afetados(Lusa)

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