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Sociedade

 Está escrito na Bíblia que “tu, mulher, parirás com dor”! Só que no Hospital Provincial da Matola (HPM) não são apenas as naturais dores que apoquentam as parturientes da maternidade daquela unidade hospitalar, mas também a frequente perda de bebés devido à violência obstétrica, ou, por outras palavras, aos maus tratos protagonizados pelas enfermeiras. Gritos, ‘palmadinhas’ frequentes, parto sem o devido acompanhamento, são algumas das frequentes situações vividas por mulheres que se dirigem à maternidade do HPM na esperança de ter um parto normal, ainda que não isento de dor. 

 

Segundo informação facultada à “Carta” por uma fonte que pediu anonimato, na quarta-feira da semana finda uma mulher que estava na iminência de dar parto quando chegou àquele hospital a ‘bolsa’ já tinha rebentado. Aos gritos de pedido de socorro da aflita mulher, as enfermeiras respondiam com advertência de que “quanto mais gritas, mais dores vais sentir”! O tempo foi passando, com a desesperada parturiente sempre pedido incessantemente ajuda, mas sem qualquer retorno. No dia seguinte, já sem forças, o bebé que esperava ter com vida morreu ainda no ventre materno! 

 

A nossa fonte garantiu que a infortunada mulher suplicou durante muito tempo às enfermeiras para ajudá-la, “mas estas só se aproximaram ao aperceber-se que ela tinha perdido o bebé”. Quando inconsolada por ver gorada a felicidade de ser mãe naquele momento, pediu encarecidamente para que através de uma cirurgia lhe retirassem o nado morto, a resposta das enfermeiras foi de que os doentes não têm o direito de exigir o que quer que seja. 

 

Acto contínuo, recorreram a um método pouco ‘ortodoxo’, extremamente doloroso, que implicou um corte numa secção entre as zonas vaginal e anal, que teve mais tarde de ser cosida com 16 pontos! Em seguida uma das enfermeiras colocou-se em cima da infeliz parturiente fazendo pressão para que ela pudesse ‘expulsar’ o feto.

 

Terminado o massacre, a vítima foi transportada para um compartimento com 10 camas onde das parturientes que lá entraram apenas duas tinham sido bem sucedidas, enquanto as restantes choravam copiosamente por terem perdido os respectivos bebés. Um dos nados-vivos foi abandonado pelo pai em virtude de a mãe ter morrido durante o parto.

 

Contactadas pela “Carta”, algumas mulheres residentes na Matola afirmaram preferir o hospital José Macamo ou Central ao HPM, por neste último terem poucas probabilidades de sair com vida. (M.A.)

O ano lectivo-2019 arrancou oficialmente esta terça-feira (05) em todo país, mas ficou gorada a expectativa do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDEH) de todas as crianças terem acesso ao livro escolar no primeiro dia de aulas.

 

Alguns professores da cidade de Maputo contactados pela “Carta” confirmaram que contrariamente ao que estava previsto, no dia do início oficial das aulas o livro escolar não foi distribuído em virtude de os alunos não terem afluído em massa às escolas. Acrescentaram que eventualmente a distribuição vai acontecer hoje (06), para abranger a todos ou pelo menos a maioria dos alunos contemplados. Segundo dados do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, a existência dos livros de distribuição gratuita em todos os distritos do país vinha sendo feita desde Novembro do ano passado. A previsão era de todos os alunos terem acesso ao livro escolar no primeiro dia de aulas. 

 

Foram adquiridos 14.778.363 livros para o ensino primário, sendo 14.341.863 para os alunos de 1ª a 7ª classes, para além de 274.500 manuais, 162 mil guiões de professores. Para a 3.ª classe, que este ano entra em funcionamento com o novo curriculum, foram comprados mais de 2.129 mil livros, e os manuais do ano passado já não serão usados.

 

O MINEDH anunciou que nos próximos dias será introduzido um sistema de inventário do livro escolar de distribuição gratuita, como forma de controlar a sua alocação em diferentes escolas do país. Outro objectivo da iniciativa é contornar os desvios do material, um problema com que o MINEDH se vem debatendo desde há algum tempo. (M.A)

Ana comuanaO Conselho de Ministros (CM) apreciou e aprovou na sua terceira sessão ordinária de terça-feira (05) um decreto que modifica a servidão do Hospital Militar de Maputo (HMM) por desanexação de 0,5 hectare da sua parcela a favor do Instituto do Coração (ICOR). Tal concessão, segundo a porta-voz do CM, Ana Coana, não foi feita mediante qualquer pagamento porque o ICOR é resultado da Associação Amigos do Coração que desenvolve várias actividades humanitárias. Assim, doravante todos os membros do Ministério da Defesa passarão a ter um atendimento mais privilegiado.

 

Foi igualmente apreciado pelo Conselho de Ministros o relatório sobre a visita de Estado às Ilhas Maurícias realizada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, de 30 do mês passado até 02 deste Fevereiro, a convite do Primeiro-Ministro mauriciano.

 

Na mesma sessão, o CM aprovou um decreto de resolução das Boas Práticas de Fabrico de Medicamentos para Uso Humano. É objectivo do regulamento em causa estabelecer o regime jurídico sobre boas práticas para fabrico de medicamentos destinados ao uso humano. O mesmo regime jurídico incide nos medicamentos fabricados e registados por empresas devidamente licenciadas para a realização de actividade cuja finalidade é garantir segurança, eficácia e boa qualidade do produto.

 

 

O Conselho de Ministros apreciou as informações sobre a situação de emergência, com destaque para as condições climatéricas adversas, entre outros fenómenos naturais que ocorreram à escala nacional, bem como as respectivas acções de resposta realizadas pelo Governo e seus parceiros no período de 28 de Janeiro último a 4 deste Fevereiro. Foi ainda apreciado pelo CM o balanço da quadra festiva 2018/2019, abertura do ano lectivo 2019 e situação de abastecimento de água na região do Grande Maputo. (S.R.)

O fornecimento de água às cidades de Maputo, Matola e vila de Boane, que actualmente é feito em dias alternados, poderá agravar-se nos próximos tempos devido à fraca queda de chuvas numa altura em que a época chuvosa aproxima-se do fim. Neste momento, o número de famílias afectadas pela escassez de água, sobretudo nas zonas periféricas de Maputo e Matola, é de aproximadamente 14.577. Muitas dessas famílias queixam-se de mesmo sem água estarem a receber facturas, com ameaças de corte caso procedam ao respectivo pagamento. A barragem dos Pequenos Libombos tem capacidade para armazenar pouco mais de 400 milhões de metros cúbicos de água, mas há pouco mais de cinco (5) anos que está sem reserva suficiente. Neste momento, aquela infra-estrutura apenas tem capacidade para satisfazer 80% das necessidades, situação que poderá agravar-se com a prevista seca derivada da escassez de chuvas.

 

 Segundo Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine, que falava durante a visita que efectuou na semana finda à barragem dos Pequenos Libombos, os bairros da Machava, Tsalala e outros das cidades de Maputo e Matola são os mais afectados pela crise de água. Para minimizar este cenário prevê-se a abertura de novos furos para satisfazer a procura daquele precioso líquido, mas enquanto isso não acontece a água será fornecida em dias alternados. Ainda de acordo com João Machatine, prevê-se a entrada em funcionamento da nova estacão de tratamento de água na província de Maputo.

 

 “Até aqui existem 12 mil metros cúbicos de água como resultado da abertura de 10 furos. Até Junho deste ano a previsão é de incrementar no sistema mais de 30 mil metros cúbicos, através do tratamento de água na zona de Sabié onde se esperm 60 metros cúbicos por dia”, acrescentou o ministro. Perante a actual crise, o Ministério das Obras Públicas diz que será dada prioridade ao fornecimento da água para o consumo.. Os agricultores são abastecidos com 30 por cento de água, e a previsão para os próximos dias é de receberem 15 por cento. Porque o problema da água pode durar mais tempo, apela-se para o seu uso racional. As restrições no fornecimento de água começaram quando a Estacão de Tratamento de Água de Umbeluzi (ETA) reduziu o seu nível de produção para 150 mil metros cúbicos diários. (M.A.)

Em Moçambique são diagnosticados anualmente mais de 20 mil novos casos de cancro, diz a Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a OMS, os cancros do colo do útero, da mama e sarcoma de kaposi são os que mais afectam as mulheres. Este último e o cancro de fígado são mais comuns nos homens. Uma alternativa viável para pessoas padecendo de cancro consistiria nos cuidados paliativos, mas de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde a escassez dos medicamentos para os sintomas e alívio da dor causada por aquela enfermidade impedem a expansão e implementação dos cuidados paliativos em Moçambique. É por esse motivo que pessoas com melhores condições em termos financeiros optam por deslocar-se ao estrangeiro, onde lhes são garantidos cuidados que o tratamento do cancro exige.

 

Ana Lurdes sofre de cancro desde 2015, e um ano mais tarde foi-lhe amputado um dos seios por ter-se descoberto tardiamente que ela padecia daquela doença. Quando Lurdes iniciou as consultas na Oncologia do Hospital Central de Maputo (HCM), o horário era das 07h00 às 12h00. Actualmente, devido ao aumento do número de pacientes sofrendo do cancro foi estabelecida uma hora específica de atendimento. Diariamente, cada um dos cinco médicos da Oncologia do HCM atende 15 a 17 pacientes. 

 

Por ocasião do Dia Mundial do Cancro que se comemorou esta segunda-feira (04), a jovem activista Énia Lipanga organizou uma oficina de turbantes na Oncologia do HCM, como forma de devolver a auto-estima aos doentes de cancro. A iniciativa deveu-se ao facto de um dos efeitos secundários da quimioterapia- processo que faz parte do tratamento daquela doença- ser a queda do cabelo, o que geralmente retira a auto-estima dos pacientes, mulheres em particular. Outra finalidade da oficina de turbantes era de ensinar as diversas formas de amarrar uma capulana na cabeça em substituição de um lenço próprio, para que as pacientes de cancro se sintam mais bonitas mesmo estando a passar por uma fase difícil das suas vidas. 

 

As capulanas usadas como turbantes dos pacientes são provenientes de doações de pessoas de boa vontade. Énia Lipanga diz que de certa forma sente algo indescritível como pessoa ao desenvolver este tipo de actividades. “Para mim, o activismo é exactamente isso: levar a esperança para aqueles que a perderam, oferecer palavras de conforto às pessoas que tanto precisam”, afirmou aquela activista. Alguns hospitais da cidade de Maputo têm levado a cabo campanhas de rastreio para diagnóstico precoce do cancro, como forma de evitar que mais pessoas sejam afectadas pela doença. Factores como envelhecimento, tabaco, luz solar, álcool, entre outros, podem representar um risco para o surgimento do cancro. Muitos desses factores são evitáveis, mas existem outros, como o histórico familiar, de que não se pode fugir.  (M.A)

O recluso agredido até à morte há cerca de duas semanas na cadeia da Central na Machava tinha ameaçado denunciar à direcção daquele estabelecimento penitenciário os guardas e reclusos envolvidos em tráfico de drogas, contrabando de bebidas alcoólicas e entrada ilegal de mulheres para prática de relações sexuais. Ele foi agredido violentamente até perder a vida.

 

De acordo com fontes de “Carta”, o malogrado terá revelado a alguns guardas e responsáveis do estabelecimento penitenciário que pretendia revelar à direcção os mecanismos do tráfico e do contrabando de bebidas e da “venda” de sexo. Mas, ao comunicar essa intenção, ele deitou tudo a perder, ditando a sua própria sentença de morte. 

 

Com efeito, volvidas algumas horas depois de ele ter destapado o segredo, foi agredido até à morte, com recurso a algumas armas brancas incluindo facas. A agressão foi protagonizada por 21 colegas (reclusos). A nossa fonte também contou que três dos reclusos envolvidos no crime haviam sido retirados das celas de máxima segurança onde se encontravam. “O sistema funciona com a conivência dos guardas e oficiais da penitenciária”, disse a fonte de “Carta”, adiantando que os reclusos de maior peso movimentam os seus negócios a partir da prisão, com recurso a telemóveis.

Como ficou confirmado pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, o recluso assassinado à pancada era chefe da disciplina interna, tendo sido nessa qualidade que pretendia denunciar os desmandos referidos, longe de pensar que se estava a expor à uma violência que resultaria na sua própria morte. Presume-se que foram os guardas que facilitaram a passagem das armas brancas usadas para mata-lo.(Omardine Omar)