Mais de 500 trabalhadores da antiga empresa estatal de criação e produção de aves, (AVÍCOLA), em Nampula, estão há 30 anos a reivindicar os seus ordenados, indemnizações e pré-avisos, na sequência da venda da empresa a privados, em 1987.
Os trabalhadores acusam o governo de lhes ter “burlado" e, como forma de recuperar o que lhes é devido, decidiram, há um mês, intensificar a manifestação (junto ao edifício da Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar DPASA ) que já vinham levando a cabo há 13 anos. Com recurso a latas, galões vazios de óleo alimentar e outros objectos, os antigos trabalhadores daquela que foi uma das principais empresas estatais que produziam ração, aves e ovos, na província de Nampula, nas décadas 70-80, amotinaram-se defronte do edifício da DPASA, bloqueando assim o passeio e a sua entrada.
Não obstante, aquela instituição continua a funcionar normalmente.
‘‘Se fosse em Maputo, haviam de nos pagar… se fosse em Inhambane, haviam de nos pagar…’’, são algumas das palavras proferidas na língua local (emakhwa), por vezes acompanhadas por passos de dança. Os trabalhadores dizem que o governo decidiu privatizar a extinta AVÍCOLA em 1987, por alegada incapacidade financeira, mas sem aviso prévio. Trinta anos depois, os trabalhadores ainda aguardam pelo pagamento dos seus vencimentos.
Apesar de terem iniciado a greve (de forma silenciosa) em 2006, eis que agora, cansados de promessas, os ex-trabalhadores decidiram, desde o mês passado, amotinar-se no edifício da Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar, instituição que tutelava a empresa, para pressionar o governo a pagar o que lhes deve.
Pereira Travessa, antigo trabalhador e porta-voz da extinta AVÍCOLA, conta-nos que já foram feitas várias promessas, desde 2006, para o pagamento dos seus ordenados, mas que os resultados continuam os mesmos, ou seja, não passam de meras promessas. ‘‘O Ministro da Agricultura fez duas: uma primeira que autorizava o pagamento, em 2013. A segunda foi no ano passado, quando ele ordenou que se pagassem os salários atrasados da extinta empresa AVÍCOLA’’, disse a nossa fonte.
O representante dos grevistas afirma não ter dúvidas de que foram e continuam a ser enganados pelo Estado moçambicano, mas assegura que a reivindicação vai continuar e será ininterrupta. ‘‘Sentimo-nos burlados porque estamos há muito tempo a reivindicar. O despacho do senhor Ministro da Agricultura, em 2013, até agora não está a ser cumprido. Já se fez um documento para o Ministro das Finanças, em Maio do ano passado, mas até hoje não estamos a ter nenhum dia marcado para o pagamento, por isso estamos a lutar para que, pelo menos, nos informem do dia do pagamento’’, manteve o seu desabafo.
Há trabalhadores que morreram sem sequer ter saboreado os seus ordenados. Inicialmente, eram mais de 600 e agora só ficaram 566 trabalhadores, e isso inquieta Travessa que vê a demora no pagamento como algo intencional do governo para que os restantes desistam. ‘‘A demora é demais! Muitos acabam por morrer. Quem vai receber esse dinheiro? Eles estão à espera que todos nós morramos para ficarem com o dinheiro? A inquietação é essa’’, rematou.
O Director Provincial da instituição devedora, Jaime Chissico, disse reconhecer a situação, que não só afecta os antigos trabalhadores em Nampula como noutras províncias do país, mas assegura que o executivo vai pagar e está a trabalhar para o efeito. Todavia, não estabelece datas nem se pronuncia quanto a previsões. Outras três empresas enfrentam a mesma situação, sendo que o número de afectados pode estar acima de 1500 trabalhadores. (Sitoi Lutxeque)