Interpelámos uma paciente para nos inteirarmos da justificação dada aquando da marcação da sua consulta, e a resposta foi a seguinte: “Vim ao hospital na quinta-feira para fazer a marcação da consulta com uma guia de transferência do centro de saúde. Quando cheguei disseram-me para voltar na sexta-feira. Quando reparei na data da minha consulta fiquei feliz ao ver que a mesma tinha sido agendada para Janeiro. Porém… quase caí de costas ao perceber que se tratava de Janeiro de 2020. Questionei a senhora o porquê tinha de esperar tanto tempo? Ela disse que eu devia simplesmente aguardar pela data registada nos papéis. ”
A repórter da “Carta” resolveu fazer marcação para uma consulta similar, e a resposta que teve foi a seguinte: “Aqui, para uma consulta normal o paciente leva mais de um ano na fila, mas temos as consultas especiais, as quais, mediante o pagamento de 900,00 Meticais podem acontecer no prazo de apenas um dia. Com 1500,00 Meticais o paciente pode ser atendido dentro de minutos“.
Mas afinal quanto vale a saúde no nosso país?
“Carta” entrou em contacto com a Direcção do Hospital Central de Maputo (HCM) para perceber como funcionam as marcações destas consultas. O indivíduo que nos atendeu, sem se identificar, disse não ser novidade para ninguém o facto de as consultas serem marcadas para daqui a um ano, pois tal procedimento prende-se com a escassez de recursos humanos no HCM.
O nosso interlocutor acrescentou que todo o cidadão que sofre algum trauma dirige-se ao Hospital Central, ignorando os centros de saúde. “Isto não acontece apenas na Ortopedia, mas também nos serviços de Urologia, que tem pacientes na fila de espera há mais de um ano”, foi dizendo. Quanto às consultas especiais, confidenciou-nos que os utentes não podem e nem devem pensar que as mesmas são agendadas naqueles moldes só porque o hospital quer lucrar. Não obstante, a realidade provou-nos o contrário: com 1500 no bolso pode-se ter o atendimento no momento, mesmo com escassez de recursos humanos para atender os milhares de pacientes que aguardam na fila por mais de um ano. (Marta Afonso)