Médicos, maqueiros, motoristas, estudantes e demais profissionais de saúde saíram à rua ontem, mesmo contra a vontade dos Ministérios da Saúde e da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (que disseram não reconhecer a legalidade da Comunidade Médica de Moçambique), para marchar em defesa do respeito à vida e aos direitos humanos.
No entanto, pouco tempo depois de iniciar a marcha, os médicos souberam que uma “ordem superior” havia sido dada para impedir a classe de se manifestar. A Polícia, como sempre, tentou impedir a marcha, primeiro, em forma de diálogo e, depois, tentando bloquear a via.
“A polícia está aqui tentando nos impedir de marchar. As ditas 'ordens superiores' é que estão a falar neste momento. Porque estão a impedir-nos? Queremos marchar apenas, este é o nosso direito. Chega de lambebotismo!”, disse um manifestante, perante o anúncio da suposta falta de condições de segurança para marcha.
Aliás, a direcção da Associação Médica de Moçambique até acatou as “ordens superiores”, mas o grosso dos manifestantes não aderiu à narrativa da Polícia e continuou a marchar por conta e risco próprio, gritando o famosos “Este país é nosso, salve Moçambique”, entoado nas marchas populares e durante a campanha eleitoral de Venâncio Mondlane.
Empunhando cartazes com dizeres como: "medicamentos stock zero, balas 25 por pessoa", "somos pela paz", "não nos podemos abster", "nós também somos povo", "milhões de braços, uma só força", "a vida começa quando a violência acaba", e num ambiente de cânticos e gritos de socorro, os profissionais de saúde marcharam pela Avenida Eduardo Mondlane, partindo do Hospital Central de Maputo até à Estatua de Eduardo Mondlane, perante um forte contingente policial, que não conseguiu inviabilizar a manifestação.
Segundo o porta-voz da Associação Médica de Moçambique, Napoleão Viola, os médicos e demais profissionais da saúde decidiram ir à rua para dizer "basta" de baleamentos e para passar uma mensagem de paz, promoção da saúde e da vida.
"Neste momento, queremos nos unir todos para salvar o país e tirá-lo desta situação difícil que enfrentamos, marcada pela violência. Portanto, esta é a mensagem que queremos passar: a promoção da saúde, dos direitos humanos e, acima de tudo, da cidadania, porque somos todos cidadãos e a Constituição nos permite ter esse direito de manifestar."
Viola afirmou que, até à última actualização, as estatísticas indicavam que cerca de 108 pessoas foram baleadas, das quais 16 perderam a vida em todo país. Algumas ambulâncias também foram atacadas e muitos profissionais de saúde não têm conseguido chegar ao local de trabalho devido ao bloqueio das estradas, facto que tem dificultado a substituição dos profissionais, uma vez que as estradas estão bloqueadas. (M.A.)