As escolas que insistiram em abrir as suas portas ontem funcionaram a “meio-gás”, devido ao caos que se vive no país, na sequência das manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane em protesto contra a fraude eleitoral.
Os gestores das escolas, sobretudo as públicas, obrigaram os alunos a irem à escola nesta segunda-feira para realizar as últimas avaliações curriculares. Josina Machel, Francisco Manyanga e Armando Emílio Guebuza são alguns dos estabelecimentos de ensino da cidade de Maputo acusados de forçar os alunos a se fazerem presentes, mesmo sem condições de segurança.
Naquelas escolas, as avaliações ocorreram mesmo com a presença tímida dos alunos. No entanto, os encarregados de educação pedem às autoridades competentes que coloquem ordem diante do que está a acontecer neste momento. "Não é possível que os alunos sejam obrigados a ir à escola. Alguns iniciaram as últimas avaliações e aqueles que não conseguiram ir por falta de transporte, devido aos tumultos nas ruas, como é que ficam?”, questionou, com lágrimas nos olhos, Alda Nhassengo, encarregada de educação de um aluno da Josina Machel.
No distrito de Boane, a Escola Secundária Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi também integrou a lista das escolas que intimaram os alunos a realizar as avaliações. O Director Adjunto emitiu uma mensagem no grupo da escola logo nas primeiras horas do dia com o seguinte teor: “Bom dia, caros colegas, pedimos que se façam à instituição urgentemente. Estamos a avaliar os alunos. O assunto é sério, colegas; evitemos embaraços”, dizia a mensagem.
Na Escola Básica da Matola-Gare, muitos alunos foram ordenados a regressar à casa porque os professores não conseguiram se fazer presentes. E, dos poucos que foram, as avaliações não começaram devido ao número reduzido de alunos.
Nas escolas privadas, uma nota foi emitida na semana passada informando: “Devido a desafios de rede e outras questões fora do nosso controlo, estamos a cancelar as aulas na semana de 4 a 8 de Novembro. Assim, estenderemos o calendário escolar para compensar os dias perdidos assim que tudo retornar à normalidade. Agradecemos a compreensão”.
Em vários pontos, os poucos alunos que se dirigiram às escolas foram mandados de volta para casa, temendo que algo lhes pudesse acontecer devido ao cenário de manifestações em que o país se encontra. “Sei que essas ordens de obrigar os nossos filhos a irem à escola nesta segunda-feira, mesmo no meio de tumultos, vieram de pessoas cujos filhos estudam no estrangeiro e não estão a passar por esta situação caótica do país. Elas fazem isso propositadamente porque querem nos ferir onde mais dói”, afirmou Paulo Massango, encarregado de educação da Escola Primária de Matlemele.
Frisar que, em vários bairros da província e da cidade de Maputo, as vias de acesso estavam bloqueadas desde as primeiras horas de ontem, segunda-feira, com barricadas impedindo a circulação normal de veículos. Algumas ruas estavam em chamas, com pneus sendo incendiados.
Por outro lado, “Carta” apurou que os centros de saúde instalados nos bairros estão quase encerrados, garantindo apenas serviços mínimos e o serviço de maternidade. Essa situação foi observada nos Centros de Saúde de Maxaquene, Mavalane e no Hospital da Santa Filomena, onde os pacientes não conseguiram ter acesso, devido à falta de transporte e ao facto de que muitos funcionários também não conseguiram chegar aos seus locais de trabalho. (M. Afonso)