Milhares de internautas moçambicanos invadiram, este fim-de-semana, as redes sociais do Presidente do Ruanda, exigindo a retirada dos militares daquele país do território nacional, por supostamente estarem a matar cidadãos moçambicanos que, desde 21 de Outubro, se têm manifestado contra os resultados eleitorais da votação do dia 09 de Outubro.
Em causa estão informações postas a circular desde sexta-feira, segundo as quais, tropas ruandesas estão em Maputo para, por um lado, ajudar as forças moçambicanas a reprimir os manifestantes civis e desarmados e, por outro, proteger o Chefe de Estado moçambicano de um provável golpe de Estado.
De acordo com as informações, ainda não confirmadas, polícias e militares ruandeses estão na capital do país, uns à paisana e outros com uniforme da Polícia moçambicana, armados e com BTR, com a finalidade de ajudar a Polícia moçambicana a assassinar os manifestantes. Aliás, durante as manifestações do último sábado, em Intaka, município da Matola, vários manifestantes denunciaram o suposto envolvimento de tropas ruandesas no impedimento de uma marcha pacífica naquela região.
Na semana passada, por exemplo, vários militares trajados com uniformes diferentes foram fotografados na cidade de Maputo, com alegações de que se tratava da força do Ruanda. Outras informações indicavam que militares daquele país africano estavam a sair de Cabo Delgado para Maputo.
Em meio à desinformação e ao caos social que se vive em todo o território nacional, milhares de internautas moçambicanos invadiram a página oficial de Paul Kagame, no Facebook, exigindo a retirada de tropas ruandesas do território nacional.
Numa campanha incentivada pelo candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane, os moçambicanos necessitaram de pouco mais de uma hora para publicar mais de dois mil comentários em repúdio à suposta presença de ruandeses em Maputo.
“Retire suas tropas do nosso solo pátrio, por favor, senhor. Em Maputo não há terrorismo; estamos resolvendo assuntos familiares. O facto de o governo da Frelimo ter solicitado sua ajuda para lidar com o terrorismo em Cabo Delgado não significa que você se deva envolver em todos os problemas de Moçambique. Não importa o que lhe prometeram. Deixe-nos lutar entre família”, refere um dos internautas.
Outro internauta disse: “Estamos a pedir que retirem vossas tropas aqui em Moçambique; parem de ajudar nossos dirigentes a cometer assassinatos contra o povo. Não se metam nos assuntos de um país que não é vosso e que vocês não conhecem. Já sofremos demais nas mãos desses tiranos. Chega de massacrar o povo!”
Alguns mais ousados que outros, os internautas iam “descarregando” a sua frustração nas redes sociais do presidente ruandês. “Sr. Kagame, exigimos que retire seus soldados que estão a matar moçambicanos em Maputo. Seus negócios com Nyusi devem ser resolvidos em off; não mate o povo moçambicano”, disse um internauta.
“Sr. Presidente Kagame, nós, moçambicanos, pedimos que retire suas tropas do nosso território. Não queremos guerra e não estamos armados; estamos apenas lutando pacificamente pelos nossos direitos. Deixe-nos em paz; somos cidadãos da paz lutando pelo futuro dos nossos filhos e pelo futuro da nossa pátria amada. Já estamos cansados de sermos explorados em nosso próprio país. Basta! Reitero: não temos armas e não desejamos guerra. Retire suas tropas e deixe-nos em paz. Recolha os soldados que estão atrapalhando e matando nossos irmãos. Kagame, não suje sua alma com o sangue inocente ao apoiar políticos bandidos”, sentenciou um dos internautas.
Refira-se que Moçambique acolhe, desde Julho de 2021, um contingente militar ruandês de mais de dois mil homens, no âmbito do combate aos ataques terroristas na província de Cabo Delgado, num acordo político-militar cujos termos não são conhecidos pelos cidadãos moçambicanos.
Numa publicação feita na rede social X (ex-Twitter), a porta-voz do Governo do Ruanda, Yolande Makolo, negou que as forças armadas ruandesas tenham ocupado ruas e praças de Maputo para conter as manifestações populares.
“Não há tropas ruandesas em Maputo. As Forças de Segurança do Ruanda estão posicionadas apenas na província de Cabo Delgado, em operações conjuntas com as forças moçambicanas contra combatentes extremistas islâmicos que têm aterrorizado os residentes na província”, escreveu Yolande Makolo, citada pela Lusa. (Marta Afonso)