A cimeira Rússia-África e o fórum económico realizam-se de 26 a 29 de Julho em São Petersburgo, devendo juntar mais de 40 chefes de estado e de governo africanos. O encontro pretende aprofundar a cooperação entre Moscovo e as capitais africanas em cinco grandes áreas: política, segurança, relações económicas, ciência e tecnologias e desenvolvimento cultural e humanitário.
Analistas internacionais consideram que a cimeira Rússia-África é indiscutivelmente mais significativa para Moscovo, que pretende mostrar que não está sozinha, devido à guerra contra a Ucrânia.
A consultora Oxford Economics considerou este domingo (23) que o tema do fornecimento de cereais da Rússia e da Ucrânia ao continente africano será um dos principais temas em debate na cimeira Rússia-África, na próxima quinta e sexta-feira.
Num comentário sobre a cimeira entre a Rússia e os países africanos, marcada para 27 e 28 de Julho, em São Petersburgo, os analistas da Oxford Economics escrevem que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderá ter um gesto de boa vontade relativamente à ajuda alimentar à região do Corno de África. Acalmar os nervos dos líderes africanos e garantir exportações alimentares russas para países como o Egipto ou a Argélia constituem também uma possibilidade.
“Podemos esperar que os preços alimentares sejam um dos principais temas em debate”, apontam os analistas, na nota enviada aos clientes e que surge poucos dias depois da suspensão do acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro.
Segundo a consultora britânica, “a nossa análise sugere que a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro teve um papel menos importante no fornecimento de alimentos para os países africanos do que para o resto do mundo”, vincando, ainda assim: “uma suspensão prolongada desse acordo pode perturbar os mercados financeiros de matérias-primas e aumentar os preços”, o que afectaria ainda mais os países africanos, a braços com uma subida generalizada da inflação num contexto em que o estado das finanças públicas da maioria dos países não permite grandes medidas de compensação para a população.
“Apesar de a inflação estar a abrandar na maioria dos países africanos, não vimos realmente uma deflação, ou seja, uma descida dos preços, por isso as famílias continuam sob pressão devido à crise do aumento do custo de vida, pelo que outro aumento da inflação iria apenas piorar a situação das famílias, que já está pior do que há alguns anos”, escrevem os analistas da Oxford Economics.
A isto junta-se o aumento da dívida pública e dos custos de financiamento dos governos, “o que significa que os países africanos têm menos margem orçamental para, desta vez, aumentar o apoio social às famílias”, conclui esta consultora.
Na última semana, a Rússia anunciou que iria suspender o acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro a partir de portos ucranianos, argumentando que os compromissos assumidos em relação à parte russa não foram cumpridos.
Diversos países e organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas e a União Europeia (UE), condenaram a decisão de Moscovo, lamentando o recuo russo face à prorrogação da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro e alertando para as graves consequências junto de países com dificuldades de acesso a bens alimentares.
A Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, acordada há um ano pela Rússia, Ucrânia, Turquia e Nações Unidas, permitiu a exportação de quase 33 milhões de toneladas de alimentos de três portos no sul da Ucrânia, considerados cruciais para a descida dos preços globais e segurança alimentar nos países mais desprotegidos.
As autoridades russas fizeram saber que só voltam ao protocolo se as suas condições forem atendidas, nomeadamente, o comércio dos seus próprios produtos agrícolas, prejudicado, segundo frisam, pelas sanções ocidentais.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de Fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). (DE)