A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) disse esta terça-feira que nas Unidades Sanitárias do país ocorrem muitas mortes por conta da deterioração do Serviço Nacional de Saúde e avança ainda que faltam muitos medicamentos para o tratamento dos pacientes.
Segundo o Presidente da Associação, Anselmo Muchave, as pessoas que estão fora não conseguem ver quantos óbitos ocorrem dentro das Unidades Sanitárias, só quem vive naquele cenário é que sabe quantas pessoas morrem. Muchave falava à imprensa sobre as razões que levam esta classe à paralisação das actividades a partir do próximo dia 01 de Junho.
“Aqui em Moçambique acontecem muitas mortes nos Hospitais, mas as pessoas não sabem porque estão fora”.
Sobre a greve que começa no dia 01 de Junho, a classe garante que, para que a população não seja prejudicada, serão paralisados apenas os serviços prestados pelos auxiliares de saúde, técnicos básicos, médios e superiores especialistas e especializados filiados à associação, no entanto, a outra classe irá garantir o funcionamento pleno dos hospitais.
Os profissionais dizem ainda que estão abertos a dialogar porque “o nosso objectivo é dialogar e não paralisar, quem vai paralisar as actividades não somos nós, é o Governo por não aceitar dialogar”.
Muchave explicou ainda que por vezes os pacientes procuram o hospital por uma simples dor de cabeça e, no fim, a pessoa acaba agravando o seu estado no Hospital. ‘A nossa sorte é que estamos num país onde as pessoas não têm o hábito de exigir os seus direitos. Os pacientes adquirem infecções nas Unidades Sanitárias e ninguém é processado por isso. Temos ainda casos de crianças que recebem transfusão de sangue e, por conta da deficiência do nosso sistema, acabam adquirindo o HIV”.
De acordo com Muchave, quando os profissionais de saúde colocam esta inquietação sobre a falta de medicamentos nos hospitais do país, aparece sempre alguém a dizer que tem, enquanto não tem. ‘A título de exemplo, se sairmos hoje para o Centro de Saúde da Manhiça, considerado corredor dos acidentes de viação, não temos uma máquina de Raio X a funcionar já há um mês e imaginemos que aconteça por esses dias um acidente e em vez de tratar o ferido ou feridos na Manhiça somos obrigados a transferir para o Hospital Central. Se o paciente morre durante o caminho, o nosso Governo não coloca esta morte nas estatísticas”, explicou.
Muchave disse ainda que a Associação dos Profissionais de Saúde tem alertado o Governo sobre a deterioração do Serviço Nacional de Saúde, mas o executivo não dá a devida resposta.
Destacou que os profissionais têm feito esforço pessoal e financeiro para garantir a continuidade dos cuidados de saúde e o funcionamento do serviço, o que tem permitido que os dirigentes transmitam informações falsas de que os Hospitais Públicos estão a funcionar normalmente.
A fonte explicou que, neste momento, para além das mortes, as unidades sanitárias debatem-se também com a crónica falta de medicamentos e equipamento de protecção individual, como luvas de cano alto para a maternidade e materiais cirúrgicos invasivos. Os Hospitais também enfrentam a escassez de soro fisiológico, obrigando os pacientes a comprar esses produtos para realizar o procedimento cirúrgico. (Marta Afonso)