Director: Marcelo Mosse

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Actualizado de Segunda a Sexta

ME Mabunda

ME Mabunda

terça-feira, 06 junho 2023 07:23

Quando incapazes de nos autodiagnosticarmos!

Bastou um estalar de dedos do FMI para corrermos a mil a hora para revermos em baixa os salários dos titulares dos órgãos de soberania e dos servidores públicos, numa palavra, dos nossos big bosses e… dignos representantes! Não fomos capazes de, nós mesmos, com os nossos próprios olhos, vermos que estávamos a caminhar para o abismo. Nem se quer a proeza atingida o ano passado, 2022, jamais vista e registada em todos os anos da nossa independência nacional em que tal instituimos, de não conseguirmos pagar o décimo terceiro salário aos funcionários e agentes do nosso Estado, nos despertou para o quase holocausto perante o qual estamos (estavamos?, oxa lá sim!) de não podermos pagar salários.

 

É lamentável que assim tenha sido. Que tenha sido só a palavra do Fundo Monetário Internacional a entrar nos nossos ouvidos. Significa que nós não temos capacidade de nos autodiagnosticarmos; não temos capacidade de auto-análise, de nos auto-auditarmos; de vermos que estamos a caminhar no mato. Perdemos as sensibilidades cognitivas, ficamos sem intelecto. Triste e profundamente decepcionante para uma sociedade que almeja algo diferente, bom e fluorescente.

 

E sinais de perigo não faltaram. Nem era/é preciso conhecimento bastante apurado para perceber que “algo errado não estava certo”! Pelo mundo, não há estado algum em que 70 por cento do seu orçamento seja para pagamento de salários! Quer dizer, todas as outras rubricas, incluindo ou sobretudo a de investimento, têm que caber nos restantes 30 por cento. Não há, entre nós, quem não tenha conhecimento deste facto, é público! Acredito que os que nos dirigem podem não ter a real dimensão da enormidade, porque absortos em outros propósitos; mas já não é crível, nem aceitável que os nossos muitos crânios, interna e externamente, não estejam cientes. Seja qual for a situação, facto, facto é que está aqui desnudada a nossa incapacidade de nos autodiagnosticarmos! 

 

Mais triste ainda, é que preferimos entender o que quisemos do alerta do FMI; não propriamente o que ela aconselhou. Aquela instituição recomendou, vivamente, diga-se, o emagrecimento da massa salarial na Função Pública. Ante esse texto, entendemos nós que era para somente reduzir os salários dos bigs. Reduzir o salário dos bigs, se bem que racional, oportuna e pertinente, é um paliativo para os desafios que se nos colocam. Não é mau reduzir-se os exorbitantes salários e regalias dos bosses, mas isso representa pouco no colossal rol de esbanjamentos orçamentais no nosso solo pátrio!

 

A título de exemplo, podemos ver algumas “coisas” e práticas que inflacionam grandemente o nosso orçamento de estado. Uma primeira é a duplicação de estruturas, somos exímios em duplicar instituições. Governador e Secretário de Estado Provincial. Na prática, o que temos tido desde a implementação desta medida são dois governadores provinciais e mais os administradores dessas cidades, com todas as mordomias associadas. Isto é pura e simplesmente um esbanjamento de fundos, sem sentido e bastante desnecessário. Eu sou de abolir os secretários de estado!

 

O nosso segundo centro de esbanjamento de fundos é a proliferação de ministérios. Não é racional, nem temos recursos para tal, haver um ministério para cada área. Temos muitos ministérios que não se justifica que sejam independentes, alguns deles podem caber num só e serem eficientes. O grupo educação, ensino superior, ensino técnico, ciência e tecnologia,  pode e muito bem formar um único ministério. O grupo agricultura, terra, ambiente pode estar num ministério. O grupo mar, águas interiores, recursos hídricos (qual a diferença entre águas interiores e recursos hídricos?) pode também estar num só pelouro. Defesa e combatentes podem ser um ministério. Trabalho, emprego, acção e segurança social (qual a fronteira entre acção social e segurança social?) podem ser agrupados numa pasta. Precisamos de entender que não temos recursos para termos um ministério para cada área social importante e que o mais relevante não é propriamente ter ministério, mas ter uma política e estratégia adequadas para determinada área e muito boa governação.

 

Uma outra componente que erode grandemente o erário público são as múltiplas viagens presidenciais internas. Não há, literalmente, uma semana em que não há visita presidencial a uma província. Há mais viagens presidenciais do que ministeriais e muito menos até de governadores  e/ou secretários de estado a postos administrativos ou localidades. Não que o Presidente da República não deva visitar as províncias, mas nos nossos moldes dá a ideia de que é ele que superintende directamente as províncias ou as actividades sectoriais e ou distritos. É preciso que tenhamos ciente dos custos de uma viagem presidencial, são elevados, elevadíssimos; mexe com uma enorme quantidade de recursos (humanos, financeiros e materiais). Os mundos e fundos que é preciso movimentar… e, feitas com a frequência com que fazemos, não há saco azul que aguente. E ligados a estas deslocações, temos as cerimónias de inauguração. Não que o chefe do Estado não deva inaugurar realizações. Deve, sim. Mas tenhamos ciente os enormes custos que tais representam envolvendo-se a figura de chefe de Estado e que arruínam qualquer estrutura financeira; e muito boas vezes tratam-se de infraestruturas que bem podiam ser inauguradas por ministros, governadores ou secretários de estado...

 

Os valores que gastamos nestas práticas apontadas aqui e noutras mais, como a corrupção desenfreada que está de vento em popa, bem podiam constituir um pé de meia para muitas preocupações que nos afligem, como a falta de medicamentos nos hospitais, estradas e outras vias de acesso precaríssimas, falta de carteiras e de transporte público. Ao assobiarmos para o lado, ou tomarmos aspirina ante problemas de grande profundidade, ou estamos a revelar incapacidade cognitiva de nos autodiagnosticarmos, ou deliberadamente estamos a negligenciar o interesse colectivo da nossa nação!

 

MMabunda

terça-feira, 06 junho 2023 07:18

Quando incapazes de nos autodiagnosticarmos!

MoisesMabundaNova3333

Bastou um estalar de dedos do FMI para corrermos a mil a hora para revermos em baixa os salários dos titulares dos órgãos de soberania e dos servidores públicos, numa palavra, dos nossos big bosses e… dignos representantes! Não fomos capazes de, nós mesmos, com os nossos próprios olhos, vermos que estávamos a caminhar para o abismo. Nem se quer a proeza atingida o ano passado, 2022, jamais vista e registada em todos os anos da nossa independência nacional em que tal instituimos, de não conseguirmos pagar o décimo terceiro salário aos funcionários e agentes do nosso Estado, nos despertou para o quase holocausto perante o qual estamos (estavamos?, oxa lá sim!) de não podermos pagar salários.

 

É lamentável que assim tenha sido. Que tenha sido só a palavra do Fundo Monetário Internacional a entrar nos nossos ouvidos. Significa que nós não temos capacidade de nos autodiagnosticarmos; não temos capacidade de auto-análise, de nos auto-auditarmos; de vermos que estamos a caminhar no mato. Perdemos as sensibilidades cognitivas, ficamos sem intelecto. Triste e profundamente decepcionante para uma sociedade que almeja algo diferente, bom e fluorescente.

 

E sinais de perigo não faltaram. Nem era/é preciso conhecimento bastante apurado para perceber que “algo errado não estava certo”! Pelo mundo, não há estado algum em que 70 por cento do seu orçamento seja para pagamento de salários! Quer dizer, todas as outras rubricas, incluindo ou sobretudo a de investimento, têm que caber nos restantes 30 por cento. Não há, entre nós, quem não tenha conhecimento deste facto, é público! Acredito que os que nos dirigem podem não ter a real dimensão da enormidade, porque absortos em outros propósitos; mas já não é crível, nem aceitável que os nossos muitos crânios, interna e externamente, não estejam cientes. Seja qual for a situação, facto, facto é que está aqui desnudada a nossa incapacidade de nos autodiagnosticarmos! 

 

Mais triste ainda, é que preferimos entender o que quisemos do alerta do FMI; não propriamente o que ela aconselhou. Aquela instituição recomendou, vivamente, diga-se, o emagrecimento da massa salarial na Função Pública. Ante esse texto, entendemos nós que era para somente reduzir os salários dos bigs. Reduzir o salário dos bigs, se bem que racional, oportuna e pertinente, é um paliativo para os desafios que se nos colocam. Não é mau reduzir-se os exorbitantes salários e regalias dos bosses, mas isso representa pouco no colossal rol de esbanjamentos orçamentais no nosso solo pátrio!

 

A título de exemplo, podemos ver algumas “coisas” e práticas que inflacionam grandemente o nosso orçamento de estado. Uma primeira é a duplicação de estruturas, somos exímios em duplicar instituições. Governador e Secretário de Estado Provincial. Na prática, o que temos tido desde a implementação desta medida são dois governadores provinciais e mais os administradores dessas cidades, com todas as mordomias associadas. Isto é pura e simplesmente um esbanjamento de fundos, sem sentido e bastante desnecessário. Eu sou de abolir os secretários de estado!

 

O nosso segundo centro de esbanjamento de fundos é a proliferação de ministérios. Não é racional, nem temos recursos para tal, haver um ministério para cada área. Temos muitos ministérios que não se justifica que sejam independentes, alguns deles podem caber num só e serem eficientes. O grupo educação, ensino superior, ensino técnico, ciência e tecnologia,  pode e muito bem formar um único ministério. O grupo agricultura, terra, ambiente pode estar num ministério. O grupo mar, águas interiores, recursos hídricos (qual a diferença entre águas interiores e recursos hídricos?) pode também estar num só pelouro. Defesa e combatentes podem ser um ministério. Trabalho, emprego, acção e segurança social (qual a fronteira entre acção social e segurança social?) podem ser agrupados numa pasta. Precisamos de entender que não temos recursos para termos um ministério para cada área social importante e que o mais relevante não é propriamente ter ministério, mas ter uma política e estratégia adequadas para determinada área e muito boa governação.

 

Uma outra componente que erode grandemente o erário público são as múltiplas viagens presidenciais internas. Não há, literalmente, uma semana em que não há visita presidencial a uma província. Há mais viagens presidenciais do que ministeriais e muito menos até de governadores  e/ou secretários de estado a postos administrativos ou localidades. Não que o Presidente da República não deva visitar as províncias, mas nos nossos moldes dá a ideia de que é ele que superintende directamente as províncias ou as actividades sectoriais e ou distritos. É preciso que tenhamos ciente dos custos de uma viagem presidencial, são elevados, elevadíssimos; mexe com uma enorme quantidade de recursos (humanos, financeiros e materiais). Os mundos e fundos que é preciso movimentar… e, feitas com a frequência com que fazemos, não há saco azul que aguente. E ligados a estas deslocações, temos as cerimónias de inauguração. Não que o chefe do Estado não deva inaugurar realizações. Deve, sim. Mas tenhamos ciente os enormes custos que tais representam envolvendo-se a figura de chefe de Estado e que arruínam qualquer estrutura financeira; e muito boas vezes tratam-se de infraestruturas que bem podiam ser inauguradas por ministros, governadores ou secretários de estado...

 

Os valores que gastamos nestas práticas apontadas aqui e noutras mais, como a corrupção desenfreada que está de vento em popa, bem podiam constituir um pé de meia para muitas preocupações que nos afligem, como a falta de medicamentos nos hospitais, estradas e outras vias de acesso precaríssimas, falta de carteiras e de transporte público. Ao assobiarmos para o lado, ou tomarmos aspirina ante problemas de grande profundidade, ou estamos a revelar incapacidade cognitiva de nos autodiagnosticarmos, ou deliberadamente estamos a negligenciar o interesse colectivo da nossa nação!

 

MMabunda

terça-feira, 30 maio 2023 11:54

Nem tudo está perdido!

MoisesMabundaNova3333

Casimiro é um homem muito bem parecido, apesar dos seus quase sessenta anos, elegante, não muito alto, mas por aí um metro e setenta; não muito forte, barriga não excessivamente grande, mas aquela que agrada a elas. Um homem atraente, bonito, cabelo grisalho, assim como a barbicha no queixo, o que também as atrai mais. É um homem bem sucedido na sua carreira de engenheiro mecânico e na sua vida em geral. Não é propriamente empresário, tipo empresário de sucesso ao nosso jeito, mas vive muito bem, folgado. Leva uma vida acima da média, com umas tantas propriedades, todas já construídas, em diferentes bairros da capital e, à nossa moda, muitos terrenos vazios espalhados por aí. Em termos de frota automóvel, dispõe de um parque de viaturas acima do comum, até certo ponto invejável, troca de fobanas sempre que lhe apetecesse. Ele e a sua querida esposa. É um homem que curte verdadeiramente a vida, sem limitações. Não tem, como nosso apanágio, nosso e dos muçulmanos, muitas esposas: tem uma só. Mas… mas… mete-se com qualquer uma que anda na rua. Tudo o que luz ou respira (tsakuta), ataca. E não lhe escapa nada. A sua estratégia é não deixar bandeira, bate e foge. Não deixa muitas mágoas: não promete mundos e fundos, não; diz-lhes que não é para casar, ele já está casado e não tem intenção alguma de se separar da esposa. É só para curtir. Talvez por causa dessa franqueza, para além do charme e dos “subsídios” que facilmente disponibiliza, elas quase nunca lhe negam. Põe e dispõe daquela que lhe apetece, naquela sua estratégia de “bate e foge”! Mas, de certa forma, /eraé comedido, não se mete com damas casadas, ou com colegas. Varre pela rua fora. Aparentemente, nunca teve problemas de maior. Começa e termina sem escaramuças. De rebentos na diáspora, justiça lhe seja feita, nunca se lhe ouviu falar.

 

É/era assim a vida do Casimiro Matchai. Ele que gosta de um bom copo, não é preso a uma bebida específica, cerveja, vinho, gin, whisky… nāo. Numa ocasião, podia beber e bem cerveja, para, na ocasião seguinte, beber vinho e numa outra, outra coisa tipo whisky. Não misturava as bebidas, mas não gostava obstinadamente de uma determinada. Mensalmente, visitava a barraca do Mangwavilane, ali no Estrela, onde fazia compras das suas bebidas e levava para casa. Ocasionalmente, podia passar por semana para prover a sua garrafeira ou colman. A barraca do Mangwavilane, que mais se assemelha a um verdadeiro botle story do que propriamente a barraca, a única diferença era que as bebidas estão espalhadas no chão, não tem muitas prateleiras. Mas, em termos de diversidade, tinha quase todas as bebidas. Aos fins de semana e feriados, é normal haver filas consideráveis.

 

Durante mais de 20 anos, Matchai comprava os drinkings no Mangwavilane! Já era um cliente especial, privilegiado. Quando chegasse com enchente, o dono procurava maneira de despachar o sr. Casimiro. Até que um dia… sempre um dia! Foi ao Mangwavilane procurar um tipo de gin que lhe tinham recomendado… não havia! E o empregado recomendou que fosse à barraca/botle story ao lado, dez metros, que havia. E lá foi.

 

Havia o gin que procurava. Mas o que lhe chamou a atenção foi a “caixa”: era uma miúda fora de série. Lindíssima. A sua jovialidade perdia-se no seu corpo esbelto, violino, uma cara bonita, de mulher mesmo! Casimiro Matchai ficou completamente perdido. Quando a moça lhe pediu o dinheiro da bebida que pedira, a trapalhice foi tal que não sabia se da carteira tirava o dinheiro ou o cartão de crédito. Acabou pagando e ele não se lembra se pagou  via uma ou outra modalidade! Desde esse dia  em diante, deixou de ir comprar as suas bebidas no Mangwavilane, passou a frequentar a barraca ao lado. Esta, ao contrário da primeira, tinha mais organização, com um compartimento organizado de estantes para garrafas.

 

Dois por três, Casimiro estava ali mais a contemplar a Isaltina do que a comprar bebidas. E um dia, não havendo muita clientela, ousou pedir o número de telefone da linda miúda. Esta deu o número da casa, não o dela particular.  Registou-o com todo o carinho, suspirando de alívio. Esfregando as mãos para mais um… bate e foge!

 

Ao quarto dia, ligou para aquele número que tinha recebido das mãos dela. Para seu espanto, quem atende é a voz de um moço. Ficou completamente baralhado, aquela voz dócil desapareceu logo, mas ainda ganhou imaginação para dizer que “falhei o numero”! Dia seguinte, foi fingir que ia comprar alguma bebida e nisso conseguiu perguntar à moça se o número fornecido era pessoal dela, ao que ela respondeu que não. Pediu o dela e ela aplicou o truque conhecido, “não tenho telefone”. Naquele dia não respondeu nada, mas num outro dia, que calhou não haver clientela a não ser ele, voltou à carga e confessou o seu desejo de andar com ela. Porque chegaram clientes, interromperam a negociação. No momento de pagar, ainda atirou uma nota de duzentos meticais, mas ela devolveu-lho, dizendo que não era preciso. Ficou confuso, mas foi-se embora!

 

Porque tinha cada vez menos sono, para lá voltou mais um dia e a sorte acompanhou-lhe. Quase não havia um cliente, o último era aquele que estava a pagar e a ir-se embora! E sem perder mais tempo, disparou:

 

  • Mulher, não me queres mesmo? Vou-te comprar telefone…

 

  • O sr. tem idade de meu pai, assemelha-se ao meu pai. Não posso andar com pessoas da idade do meu pai. Nāo veja o meu corpo grande, sou crianca de 21 anos! Sempre que olho para o senhor, só vejo meu pai…

 

Casimiro Matchai não conseguiu palavra alguma para redarguir.

 

Nem tudo está perdido na nossa sociedade!

 

ME Mabunda

quarta-feira, 24 maio 2023 20:04

Impunidade total

MoisesMabundaNova3333

A impunidade é um mal muito grave para uma sociedade. Estamos diante de impunidade quando, em clara violação da lei e das regras de convivência social, humana, a instituição (ou indivíduo) de direito não sanciona, não toma as medidas que devia tomar para restabelecer a ordem normal, a justiça e a harmonia. Uma sociedade em que grassa a impunidade é uma sociedade em que a justiça não tem significado nem a sublime importância devida. É uma sociedade em que reina o mais forte, não o justo, o correcto, ou o ético. É uma sociedade sem razoabilidade, sem equilíbrio, nem estabilidade social. Reina quem pode e como pode; manda quem pode; faz quem pode e como quer e pode. Como na selva!

 

Numa sociedade onde reina a impunidade, não há justiça, não há harmonia, não há felicidade, não é sadia; as acções em contra-mão são toleradas, aceites, e sempre passam aparentemente despercebidas. Os injustiçados sofrem, sofrem até ao sufoco, até à morte espiritual, ou mesmo e muitas vezes material. Uma sociedade sem justiça é uma sociedade insegura, propensa a uma ruptura social, à violência: os injustiçados não toleram a injustiça para todo o sempre, tenderão sempre a fazer justiça à sua maneira e com as suas próprias mãos. Procurarão recorrer à vingança, à desordem e à violência.

 

Uma sociedade de impunidade e de vingança não é uma sociedade com valores sociais aceitáveis, de ética, desenvolvida, estável, em concórdia; é uma sociedade em guerra, sem paz, sem sossego. A justiça traz consigo a harmonia e esta leva ao desenvolvimento social, econômico e político. Não há uma sociedade em guerra que esteja a desenvolver-se.

 

A nossa tende a ser uma sociedade de impunidade. Exemplos são aos magotes, dia após dia! Práticas e procedimentos que noutros quadrantes dariam claras penas de morte, entre nós passam despercebidas. E mesmo se percebidas, faz-se de contas que o não foram. A corrupção campeia aos olhos menos atentos,  e não há nenhuma acção enérgica séria visível. Parece que todos estamos amarrados aos rabos uns de outros. Aqueles que deviam exercer a justiça parecem presos aos prevaricadores. São revelações atrás de revelações bombásticas, escandalosas, irracionalidades e irracionalidades, mas nada acontece, aqueles de direito deviam, nunca fazem patavina. Ou, se fazem, é para distraírem as atenções dos injustiçados e ou sedentos de justiça, dos incautos, ou dos que advogam uma sociedade de justiça - “para inglês ver”, como se diz.

 

Um dos muitos bons exemplos de impunidade é do que falava há dias. Depois de uma deslocação a Hati Hati, algures em Gaza, falava eu das péssimas condições em que se encontra o troço Mohambe-Maqueze-Hati Hati-Chigubo. O que afinal eu desconhecia era que sobre o troço há contratos entre a ANE - Delegação Provincial de Gaza e a S Construções  Xai-Xai, um ainda em vigor e outro terminado em Junho de 2021, para a sua manutenção. Curiosamente, os dois contratos foram com o mesmo empreiteiro, a S Construçōes - Xai-Xai.

 

O contrato em vigor, de 1/06/2021 a 30/06/2023, com o custo de 6 446 287,80Mt, visava especificamente a “manutenção de rotina da estrada terraplanada R855 Maqueze- Changanine, extensão 30 km, na base do sistema do acampamento”. Fiscal é a Nippon Koei Mozambique. Nem acampamento, nem manutenção, nem uma buldozer avariada e abandonada, nem nada. Nada! Junho é já para a semana, o contrato vai terminar, a estrada continuará péssima como está e vai piorar a cada chuvada que aparecer e os nlhanganinenses, esses, continuarão a sofrer a bom sofrer.

 

O contrato que já expirou tinha como propósito a “manutenção do troço Mohambe-Maqueze, 54km”, o mais crítico agora, e tinha como período de implementação Dezembro de 2019 a 30 de Junho de 2021, com o custo de 11 260 951, 31Mt e fiscal a COTOP. Certo, certo, é que o contrato terminou e de estrada não se viu patavina e muito menos agora, passado um ano e tal - que o digam os maquezianos e outros compatriotas daquelas bandas, como o comerciante local Betuel. Se tivesse havido um bom trabalho de base, a estrada não estaria tão péssima como está! E com as chuvas…

 

Cerca de 18 milhões de meticais saíram dos cofres do Estado para a manutenção da estrada. Foram embolsados. Nheto feito. A população de Maqueze, Nlhanganine, Hati Hati, Chigubo continua a sofrer como sempre, sem estrada! Com aquela estrada que só danifica as pobres viaturas que conseguem comprar com muito sacrifício. Onde estão as autoridades de direito? O dono da obra? O fiscal fez/faz alguma coisa? O empreiteiro, cadê ele? Entregou ele a obra? Quem a recebeu?... E as Unidades anti não sei o quê!...

 

Impunidade total. Inação, omissão, indiferença, deixa-andar, cumplicidade…. Impávido e sereno está quem devia mexer a palha. Que sociedade pretendemos? De impunidade! De revoltosos? De justiça com as próprias mãos? De tumultos…

 

ME Mabunda

terça-feira, 16 maio 2023 09:20

Jonas Ernesto Binda Chitsumba

MoisesMabundaNova3333

O Costa do Sol preencheu, por fim, no pretérito sábado, a vacatura aberta na sequência da partida precoce de Jonas Chitsumba a 28 de Novembro do ano passado, 2022. O perecido era colega na EDM e amigo! Praticamente, ele é que me introduziu na EDM!

 

Na mensagem fúnebre da Direcção a que Chitsumba estava afecto nos últimos dias da sua vida, podia ler-se: “Como endereçar-te uma mensagem de despedida? Como elaborar um elogio fúnebre? Como te dizer adeus? Se tu estás nos nossos olhos! Nas nossas vistas; na nossa mente; nos nossos corações. Ainda sentimos em nós a tua energia, a tua força, pujança e serenidade, a tua alegria! O teu dinamismo muito contagiante!  Nós ainda não aceitamos que partiste. Para nós, tu foste para Temane, em mais uma missão de serviço! Para nós, tu foste a Inhambane ver o andamento do projecto da Central Termo-eléctrica de Temane (CTT), de que eras digno Director e Gestor! Para nós, logo, logo, voltarás e nos insuflarás com o teu dinamismo, com a tua voz sibilante e muito audível! Continuaremos a usufruir da tua presença ruidosa nos corredores e salas da nossa Direcção de Desenvolvimento de Negócios!”

 

Com a devida vênia, faço minhas estas palavras, integralmente. Como faço minhas também as seguintes, que cito da mesma mensagem: “Custa-nos ouvir, aceitar e acreditar que jamais voltarás de Temane. Se foste inúmeras vezes e voltaste! Foste, voltaste, foste e voltaste! Custa-nos muito encarar que nos deixaste para todo o sempre. Que jamais sentiremos o teu fulgor. Que não mais beneficiaremos dos teus profundos conhecimentos, do teu saber muito alargado; da tua liderança galvanizante e estimulante; da tua grande capacidade de gestão. Que não mais teremos o teu coração humanista entre nós!” E acrescento que, depois de tudo, não mais ouvirei “é isso aí, meu caro Mabunda”, como me dizias sempre, depois de… fosse o que fosse!

 

Esta, confesso, foi a razão por que, cinco meses após a morte do Chitsumba, não consegui rabiscar nada. Ainda estou à espera do Chitsumba para… mais uma tirada por aí, ou em Vilankulo, ultimamente, ou na Beira, Nampula, ou em Pemba! Mas, o passo dado pelo Clube de Desportos do Costa do Sol - também ele muito incrédulo com o que se passou - deixa muito bem claro que o nosso amigo, irmão e colega partiu definitivamente para o além! E que só temos de aceitar, embora com olhos esbugalhados.

 

A minha entrada na EDM, em 2006, coincide mais ou menos com a transferência dele de Director Regional Norte para Director de Distribuição (DD) e na sequência disso tinha que viver para Maputo.  Como DD, tinha a grande responsabilidade de dinamizar todas as então Áreas de Distribuição (agora Delegações) por todo o país, uma espécie de director nacional.  E eu acabava de ser recrutado para… também eu… dinamizar a divulgação das muitas e imensas realizações da Empresa! A proximidade das missões de cada um de nós, se fosse para dar certo, só podia dar em casamento sólido!... e deu!

 

Entrei em Novembro, mas, já em Dezembro, antes de completar um mês sequer, já lá estava eu com uma missão de jornalistas de vários órgãos de informação nacionais, em digressão pelo país, a visitar os mais vistosos projectos da EDM, com Jonas Chitsumba na liderança da delegação, não só a apresentar-me aos colegas em todas as direcções, mas a abrir todas as portas. Ponto por ponto, ele e o director local é que prestavam os esclarecimentos necessários aos jornalistas. Em cerca de duas semanas, batemos quase todo o país - Pemba, Nampula, Nacala, Quelimane, Beira, Chimoio e Província de Maputo.

 

Assim começava uma relação de trabalho que foi muito profunda e que deu numa amizade inapagável. Ele, detentor de informação de utilidade pública e eu, divulgador de informação. Muitas mais digressões com jornalistas faríamos ao longo dos seus seis anos como Director de Distribuição e muitas aventuras teríamos... Mas, mais digressões juntos faríamos também por causa dos eventos da Empresa. O modelo de gestão em vigor tinha/tem reuniões nacionais regulares em diferentes pontos do país - reuniões de prestação de contas, reuniões de balanço e reuniões de debates sobre várias outras matérias. Lá estávamos, ou lá nos encontrávamos, trabalhávamos, curtíamos… e mais alguma coisa!

 

Obviamente que nem só de trabalho vive o homem! Nestas andanças todas pelo país real, muita coisa acontecia, deixando à imaginação do querido leitor! A sua transferência para a direcção das Áreas da Cidade e Província de Maputo, em 2012, apenas refreou a frequência dos contactos, do trabalho em conjunto, das conversas, mas estes continuariam até agora que ele dirigia o projecto da construção da Central Térmica de Temane!

 

Foi-se um amigo, um amigo dos seus amigos, uma pessoa que nunca andava de testa amarrada, que nunca olvidava o confronto com jornalistas, que nunca se exaltava nas milhentas discussões e debates que mantínhamos, a sós ou com outros presentes, incluindo jornalistas; com um riso (não sorriso) genuíno, estridente, contagiante! Nenhum jornalista desdisse o Chitsumba ao longo desse tempo! Nunca!

 

Caro Colega, Amigo e Irmão Jonas Ernesto Binda Chitsumba, vá e descanse em paz! Mas viverás para sempre nos nossos corações! - citando de novo a mensagem dos colegas da Direcção de Desenvolvimento de Negócios.

 

ME Mabunda

terça-feira, 09 maio 2023 08:05

Não desejo a ninguém ‘ir a Maqueze’!

MoisesMabundaNova3333

Na nossa vida cotidiana, depois de vivenciarmos - como dizemos ultimamente, no lugar de ‘vivermos’, ‘passar por certa experiência’, ‘sentirmos na pele ou na carne determinado facto ou fenômeno, etc. - costumamos relatar para os outros e, quase em todas as vezes, fazemos recomendações. Recomendamos aos nossos interlocutores, muitas vezes amigos, conforme tenha sido para nós a experiência passada. Recomendamos que passem por ela ou tentem passar, se tiver sido bastantemente boa, se tivermos gostado verdadeiramente do que passamos, se tivermos gramado, curtido a valer! Recomendamos “assim, assim”, isto é, moderadamente, se não tivermos gostado muito. E não recomendamos absolutamente se aquilo por que tivermos passado for ou tiver sido uma experiência terrível, horrível! Não desejamos a ninguém tal coisa. “Não desejo a ninguém aquilo”, dizemos de viva voz.

 

Pois bem, numa das últimas semanas, por razões profissionais, vi-me na contingência de ir a Hati Hati (os nativos pronunciam e escrevem assim, mas na grafia prostrada no edifício da sede vem Hate Hate), a norte do distrito de Chibuto, quase a ir para o distrito de Chigubo. E o trajecto, de cerca de 170 quilómetros, é Chibuto-Mohambe-Maqueze-Nlhanganine-Hati Hati… e mais para lá, até Chigubo! Chibuto-Mohambe, é o que sabemos, uma estrada muito bem asfaltada, somente há que ter cuidado com as curvas e contracurvas perigosas, mas é um tapete! Pesadelo, verdadeiro pesadelo, é quando viras à direita e tomas a direcção de Maqueze… yoweyoweeee!

 

Uma pontequinha partida dá-te as boas vindas maiores, porque as menores, essas, logo ao deixar o alcatrão, tem-nas, imponentes e exuberantes. Covas, covinhas e covinhinhas desde o primeiro centímetro! E, à medida que vais progredindo, passas ou navegas entre covinhinhas, covinhas, covas, buraquinhos, buracos, com buracões à espreita na berma da estrada. Qualquer distração no volante, excesso de velocidade, imprudência ou xikwembo… é o precipício, que pode ser fatal!

 

E é nesta plataforma - ngwendjengwendje, ngwendjengwendje, ngwendjengwendje - que tens que navegar até… Maqueze! Bem, bem, não só até Maqueze, mas até ao destino. Mas, até Maqueze é que é pior. Todo o tipo de reentrâncais… cruzas toda a localidade de Tlhatlhene, onde tem o desvio à esquerda para a lagoa de Bambeni, e vais até à… “vila” de Maqueze, neste grande zigue-zague! Impossível andar a… 50!, 20, 30 é a moda, para quem se lembra da linguagem estatística… muitas vezes os 10 km/h. Neste preciso momento, há uma empresa que está a montar painéis solares em Maqueze, mas não tem como trazer contentores de materiais devido à péssima estrada!…

 

É a este sofrimento que está sujeito quem, por alguma razão, tiver que se fazer para aquela estrada. Com boa “fobana” em ngwendjengwendje, ngwendjengwendje, saindo de Chibuto às 6, 6:30 horas, só conseguimos chegar a Maqueze, cerca de 90 km, por aí 9:30, 9:40, depois de vencer os imensos e desagradáveis solavancos! Três horas queimadas. Mas, só é fim se o destino final for este. Mas se for Nlhanganine ou Hati Hati… o mergulho no calvário prossegue por mais dias, duas horas e meia. Se bem que ligeiramente menos ngwendjengwendje, à medida que se vai indo mais para frente!

 

Alternativa… neste momento, não existe! Digo neste momento, porque é só nos períodos que correm que inexiste alternativa, que é o trajecto Chibuto-Alto Changane-Maqueze… num trajecto de cerca de 58 quilómetros até Alto Changane, mais apenas 7 até Maqueze,  bem melhor do que o actual. Mas… entre Alto Changane e Maqueze não há ponte para atravessar o rio Changane, que está bastante cheio de água. ESTE É O BUSÍLIS DA QUESTÃO! Em anos de antanho, houve uma ponteca de paus, que ninguém mais melhorou! Nos tempos de seca, poucas águas no rio, chega-se a atravessar… a pé, ou mesmo de carro, a muito risco!

Há três anos, tive que… fazer as duas vias numa única manhã. Saído de Maputo cerca das 5, a caminho de uma missa em casa de um amigo em Maqueze, por volta das 8:30 horas estava eu e os que iam na viatura a esfregar as mãos, porque pensávamos que já estávamos a chegar… mas, quase a mergulhar o focinho da viatura do lado do Alto Changane, sem saber que não há travessia por ali. Ligando para o amigo, só foi quando despertamos para a triste realidade, que a ponte prometida e com fundos garantidos em Alto Changane nunca chegou a nascer! Até hoje, já estamos a caminho de dez anos. E nunca ninguém foi responsabilizado.

Em crónica a que intitulei O SOFRIMENTO DOS MAQUEZIANOS, relatei a triste experiência de estar, da margem do Alto Changane, a ver Maqueze, que era o destino, mas depois ter que dar a volta por Chibuto, Mohambe e… aquele terrível troço.

E a pergunta que não cala é: o que é que os maquezianos, nlhanganinenses, hati hatenses, etc. fizeram para merecer tamanho martírio. Ou por outra, o que é que os gazenses fizeram, ou não fizeram, para serem submetidos a tamanho sacrifício, sofrimento e inferno. Cônscio ainda de que os utentes da nossa EN1 têm o mesmo calvário em muitos troços, até uma companhia de transporte desistir, a questão pode ser aperfeiçoada para os seguintes termos: afinal, o que fizemos (ou não fizemos) nós para tamanho castigo!?…

Não desejo a ninguém ‘ir a Maqueze’!

ME Mabunda

terça-feira, 02 maio 2023 11:40

Simião Phongwane: um exemplo de vida!

MoisesMabundaNova3333

(Texto dedicado ao amigo Leandro Paul)

 

“Dr. Mabunda, todos os jornalistas já vieram levantar os cabazes, menos um da TVM. Liguei para ele, diz que não precisa!” - assim me dava o relatório da distribuição de cabazes numa instituição onde eu geria a relação com os Media, num certo ano. Eu, que tanto me tinha batido para que o CA daquela empresa aprovasse a concessão de cabazes aos profissionais de comunicação, fazedores de opinião e outras personalidades da praça, como forma de massagear a sociedade - como nos ensinou o outro, então estava ali alguém a dizer que não precisa…

 

Atónito e no meio de tantas “dores de cabeça” do trabalho, ainda perguntei à Dra. Isabel, então chefe do Departamento Administrativo e Financeiro, de quem se tratava: “Chama-se Simião Phongwane, chefe de Redacção da TVM”! Agradeci a colega por ter distribuído a contento todos os mais de 60 cabazes e depois prometi-lhe que ia falar com aquele jornalista que prescindia. Dito e feito, na primeira oportunidade, lá me pus a falar telefonicamente com o Simião Phongwane, meu antigo colega na escola e de profissão, depois. Somos amigos, mas consideramo-nos irmãos. Desde a escola, nunca mais deixou de me chamar “meu chefe”! Mas, debalde! Nem a minha voz o convenceu a ir levantar o cabaz!

 

Este é o Simião Phongwane (não Simeão Ponguane, como ele próprio gosta de corrigir quando pode) que conheço desde 1987, na Escola de Jornalismo. Ele, vindo da Secundária de Nwaxikolwane, distrito de Chókwè, em Gaza; e eu, da Rádio Moçambique. Eu e ele fizemos parte da turma de jornalismo dos anos 1987 a 1988, dois anos, com perto de vinte estudantes.

 

As relações entre todos nós eram muito cordiais, éramos quase família! Ao Simião Phongwane coube a responsabilidade de ser o chefe dos alunos internos e a mim a de chefe da turma. Havia os alunos que estudavam morando na Escola e outros que estudavam vivendo em suas próprias casas, na cidade de Maputo.

 

As queixas sobre o “Xipongwani”, como o falecido João Matola (que saudades… Deus o tenha na sua graça) o chamava clandestinamente, não tardaram: o chefe era demasiado chato e exigente! Duro. Queria sempre “ordem” na casa. Nada de indisciplina; nada de desleixos, nada de barulho, nada de bebedeiras; nada de farras na Escola de Jornalismo. Ele impunha essa… ordem! Que ia contra a vontade de muitos estudantes que se viam num internato, onde quase cada um vive livremente como quer e como pode! Claro que o casal “Couto”, que geria a escola gostava da disciplina!

 

Ele, o Simião, que é verdadeiramente homem às direitas: até hoje, não bebe álcool, nem fuma; não é homem de curtições, não é de mulheres, nem farras… ele é de conversas, estudos e mais nada! Nem de futebol gosta, pelo que, quando ainda na Escola de Jornalismo íamos jogar, quase todos os alunos, semanalmente, na agora inexistente Escola Secundária de Maxaquene, ali na Av. Eduardo Mondlane (hoje Universidade São Tomás), ele não ia; nem para assistir, nada. Trabalho, organização e preparação do trabalho, era/é só isso com ele! Um homem organizado!

 

De forma que estava claro que ele iria muito longe na vida social e profissional. E foi. Embora ache eu que, numa sociedade mais honesta, mais justa, poderia ter ido, ou pode ir, bastante longe. Ele é um homem honesto, sincero, frontal, sem regateios. Não tem muito de diplomacia. Aquele que o conhece minimamente bem, sabe das qualidades dele. Profissionalmente, é o que todos sabemos: bom, agressivo, justiceiro e contundente. Todo aquele que acompanhou os trabalhos do Simião Phongwane sabe que ele reporta tudo. Mas tudo mesmo, até o detalhe desnecessário. As suas entrevistas são contundentes de facto. Quem não se lembra da memorável entrevista dele com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama (Deus o tenha)? Quase discutiam em frente às câmeras, com o líder completa e visivelmente nervoso… quem não se lembra da discussão acérrima em pleno “Quinta à Noite” com o Professor Ferreira, há uns dois anos?…

 

De modo que, quando a Dona Isabel me veio falar que o Sr. Simião Phongwane, chefe de Redacção da TVM, prescindia do cabaz, depois de fazer o flashback da figura dele, não fiquei muito surpreso, ante a cara de muito espanto e admiração dela. É o Phongwane que conheci/conheço. Um homem honesto! Incorruptível! Imassageavel!… Sempre que nos encontramos ou para um café, ou um almoço, ainda que maior parte de consumo seja meu por conta do copo, ele sempre exige dividir a conta. Deve ser esta sua honestidade, seriedade e frontalidade que assusta as pessoas!

 

Fica aqui o registo da minha admiração por este grande jornalista moçambicano, em serviço na Televisão de Moçambique, a nossa estação pública.

 

ME Mabunda

quarta-feira, 26 abril 2023 07:34

A “mão” do Dr. António Bugalho

MoisesMabundaNova3333

Disse, alguma vez, um sábio anônimo que todos nós devemos alguma coisa a alguém - não há um único homem que não deva nada a outrem. Não só devemos à terra tornar, como bem disse Alberto Machavele; mas a uma série de outras pessoas e outras coisas… semana passada, narrava eu como duas rubriquinhas apenas mudaram grandemente a minha vida. Na verdade, devemos infinitamente a tudo e a todos: aos nossos pais, aos pais dos nossos pais, ao resto da família, aos nossos professores/educadores, aos colegas de infância, da turma ou da faculdade e aos nossos amigos, e até a anónimos, consoante onde conseguimos chegar!

 

Depois de contar a história com o José Catorze, ocorreu-me a do Dr. António Bugalho. Aquele mesmo conhecidíssimo médico Antonio Bugalho! A ele também tenho uma grandiosa dívida de gratidão. Eiiii… devemos a tanta gente! Já agora, a todos a quem tenho uma divida de gratidão e se, por alguma razão, não me ocorra, fica aqui o meu profundo reconhecimento! Vamos ao Bugalho.

 

Não conheci, como tal, o Dr. Antonio Bugalho. A vez em que entrei em contacto com ele, em 1988, foi na sequência de uma grande reportagem que estava a fazer sobre o aborto em Moçambique. Ele era o director da Maternidade do Hospital Central, naturalmente, figura importante na reportagem. Não foi preciso nenhum salamaleco, foi só chegar à Maternidade e logo lá se pôs ele a falar para o jovem repórter do Domingo. Esta reportagem viria a merecer distinção nos defuntos prêmios anuais de jornalismo que a então Organização Nacional de Jornalistas realizava anualmente.

 

Atendeu-me lindamente, deu-me toda a informação que desejava. Ficou o contacto, mas não propriamente uma pessoa próxima, mas, aberta que não é, numa ou noutra ocasião, um e outro cumprimento. A vida foi correndo e, em 1991, com apenas 27 anos, sou indicado subchefe da redacção do semanário Domingo! O trabalho começou a apertar. Além da minha reportagem da semana e mais duas a três notícias que devia que apresentar semanalmente, já tinha que estar à frente de outros, ver o trabalho deles e do jornal no seu todo; coadjuvar o chefe; realizar quaisquer tarefas que ele indicasse; esboçar editoriais e realizar outras tarefas, como grandes reportagens e grandes entrevistas com altas personalidades, ministros, chefes de estado, grandes artistas, etc. e representá-lo ou ao jornal em cerimônias oficiais.

 

Como azar não custa, cerca de três anos depois, sou conduzido a chefe! De coadjuvante, passo a titular. Para os escribas de hoje, isto não vai significar muito. Nesse tempo, não usávamos computador - não havia ainda. Era tudo à máquina de escrever. A edição do texto era feita manualmente, à esferográfica, na… lauda! E o autor do texto tinha que reescrever. Depois, o texto ia para a composição, nas oficinas e, a seguir, a paginação… mecânica, não digital. O Corsino, o Macassa e, mais tarde, o Sérgio Dzimba pré-desenhavam as páginas na presença do autor do texto e do fotógrafo e depois levavam à anuência do chefe. Aprovada a prova, seguia para a pré-impressão e só depois de aprovada é que ia à impressão final. A aprovação da arte final raramente acontecia antes das 23 horas; normalmente, era a uma, duas horas da madrugada! Quase todos os domingos começavam nós ainda no jornal a jobar! Só depois de a prova seguir para a máquina, para a impressão, é que íamos entrar na viatura do jornal para nos distribuir pelas nossas casas…

 

Para piorar, o período que vai de 1990 a 1995 foi dos mais intensos da história do nosso país. Duvido que haja ou venha a haver outro. Nova Constituição da República que marca o efectivo fim do monopartidarismo entra em vigor; a negociação do fim da guerra com a Renamo; a assinatura e implementação do Acordo Geral de Paz de Roma, as Nações Unidas no país (a famosa ONUMOZ); a discussão e preparação das primeiras eleições gerais multipartidárias; a realização das eleições; a retirada de última hora de Afonso Dhlakama das eleições; a lenga-lenga da divulgação dos resultados; a recusa da Renamo dos resultados do escrutínio… e o reinício (melhor início) da convivência social pacífica entre moçambicanos membros declarados de partidos políticos diferentes… tudo isto e mais alguma coisa mais ou menos no mesmo período! Acredito que jornalista algum jamais terá a oportunidade de viver num ambiente desta jaez!

 

E eis que… a minha máquina deixa de funcionar devido  à pressão do trabalho. Eu já não era eu. Aquele homem já virara sezimeia! Mês após mês e… ano após ano, nada!... sono profundo. Mas a saúde, em termos de sentir dor, ou algum problema, estava tudo bem. Mas ainda assim fui aconselhado a procurar conselho de um médico, ou a ir mesmo a hospital!…

 

Já não me lembro das circunstâncias e como, mas o médico que me deu os conselhos que estão a ser úteis na minha vida toda foi… o Dr. António Bugalho!...  fazer ginástica. Ainda lhe perguntei se, no lugar de ginástica, podia ir jogar futebol, já que gosto muito. Anuiu.

 

Fui correr atrás do esférico e não passaram três meses, a máquina voltou a funcionar!

 

Estou e estarei eternamente grato pelo conselho que me tirou da condição de sezimeia!

 

ME Mabunda

terça-feira, 18 abril 2023 07:58

Pêrola Jaime Matsinhe: 60 anos!

MoisesMabundaNova3333

Como o tempo não pára, é impiedoso, perene e impetuoso!

 

Conheci a Pérola Jaime Matsinhe nos finas da década de sessenta, princípios da de setenta do século XX. Isto é, finais dos anos 1960, princípio dos anos 1970. Meu “kota” era “titxa” da Escola Primária de Muguñwane e, depois da de Munyangane, ambos, na altura, na Circunscrição de Mtxuquete, distrito de Chibuto! Já vão por aí uns 53 anos. A casa dos pais dela ficava/fica no conclave entre Muguñwane/Phusa/Nkwakwene/Munyangane, num povoado chamado Mangwenyani. É mais fácil para ela dizer que é de Phusa. Toda a criançada dessas zonas frequentava a escola de Muguñwane e ou Munyangane. Frequentava tanto o ensino, como a catequese. Vezes sem conta, as crianças/alunos da Escola eram destacados pelo… professor para irem fazer trabalhos domésticos na sua residência. Não posso escrever que a Pérola tenha ido à nossa casa fazer trabalhos domésticos, ou levar água ou lenha, cozinhar, lavar, ou ir à machamba do senhor professor. Mas posso escrever que a Pérola Jaime, mais a Ana Josefa Khongolo são as duas meninas que habitaram a mente dele até aos seus últimos dias. Nutria uma grandiosa simpatia e empatia - era como se fossem suas próprias filhas, sentia orgulho por elas. Confesso que nalgum momento ficava com ciúmes, mas compreendia, o velho não teve filha ou filhas que conhecêssemos. Sobre a Ana Khongolo, esta sim, de Muguñwane e ex-aluna, há uns quatro meses,  esclareceu-me de onde é que nasceu a “paixão de pai e filha”. Uma vez, em plena aula de aritmética, o velho deu um exercício que estava mal entabulado. Ela tentou por três vezes resolver, mas dava errado. E ela, destemida, sempre foi desafiar o temido professor Eugênio a informá-lo de que o exercício não estava bem. Na primeira vez, apanhou umas varas; na segunda, recebeu um grande olhão e um berro; mas, na terceira, o velho pôs-se a examinar cuidadosamente o exercício e viu que, de facto, estava problemático, ela tinha razão  e corrigiu.

 

E, quando chegou a vez de baptismo delas, primeiro a Ana, depois a Pêrola, os padrinhos foram, justamente, Eugénio António Mabunda e Isaura Filimone Mahene! (meu pai e mãe, respectivamente!) Em 1973, o velho foi transferido para a Escola Primária de Chipadja e, assim, deixou de “tutelar” directamente a Pérola e outras muitas crianças afilhadas que tinha por aquelas terras/bandas. Mas o “amor de pai” voltaria a resplandecer quando o velho é de novo transferido para a vila de Chibuto e vai encontrar… as suas “filhas”/afilhadas… não já com o mesmo fulgor, mas ele as visitava sempre e procurava saber do curso das suas vidas! Daí até aos últimos dias da sua vida, a Ana e a Pérola eram pessoas especiais para ele.

 

Acredito que, um dia, a Pérola vai esclarecer como caiu nas graças do “titxa” e, também, porque é que a minha mãe, sempre que a visse na televisão, nas suas exibições e/ou em entrevistas, tamanha era a sua nostalgia, a saudade, a emoção e a vontade de a querer abraçar! Sentia muito a ausência da Pérola!

 

Pois bem, dito isto, vamos ao objecto deste texto. Nada, mas absolutamente nada, do que acabo de dizer tem influência no que vou elaborar a seguir. Como disse num “post” no Facebook, quando me foi dada conta da efeméride, pedi alguns escritos sobre a Pérola e  foram-me facultados um texto e o seu CV. Quão ignorante não era eu sobre a minha “irmã”!

 

A nossa Diva da Dança assinalou, no passado dia 5 de Abril, mais uma primavera. Mas não é “mais uma primavera”. Nem é “primavera” qualquer. É a sexagésima! Não é fácil chegar aos 60, com tanta vida porosa, com as sidas e agora as coronas à mistura. É uma grande bênção! Grandiosa. Está de parabéns a nossa “Deusa de Dança”! De toda a dança: tradicional, clássica, moderna, contemporânea, dança não sei que mais...afro-fusão, seja o que for, ela é excelente. Que ela é exímia dançarina, bailarina, coreógrafa, ela é! Destra. Estamos de parabéns todos nós por uma das nossas estrelas completar semelhante idade e a continuar a brilhar como tem brilhado, na ribalta, em todo o lado por onde é chamada. Em finais de 2022, ainda a vimos a coreografar em Vilankulo o Campeonato Africano de Futebol de Praia: uma maravilha total à vista.

 

Foram sessenta anos a coreografar o mundo, o seu e o de outros, a cantar, encantar, a dançar e a ensinar em muitos palcos do mundo. A conceber coreografias, bailados e outras peças; a representar em bailados; a dançar como bailarina muito habilidosa; mas também a cantar com todo o talento e a encantar e a orientar bailados. A formar e a orientar bailados e  bailarinos. Não há como falar da Companhia Nacional de Canto e Dança sem mencionar, entre outros vultos, tipo David Abílio, o nome da Pérola Jaime. Pérola Jaime Matsinhe, de nome completo! E não há como falar de dança em Moçambique sem mencionar o nome dela!

 

Das dezenas de coreografias que concebeu e montou, com muita destreza, destacam-se Amatodos, A ponte, a Biografia do Antigo Presidente Chissano, o Encontro Inter-religioso com os jovens em saudação ao Papa Francisco, a abertura do Campeonato Africano de Futebol de Praia em Vilankulo, etc. Das coreografias e bailados onde ela desempenhou papéis muito importantes, destacam-se Em Moçambique o Sol Nasceu, A Noiva de Nha-kebera, Xitukulumukumba e N´tsay. Peças que vivem na memória do Mundo! Como cantora, para além de ter integrado o naipe de cantoras da CNCD e  tendo-se celebrizada com as canções Xingwavilane e Xindzekwane,  participou  no projecto de fusão Timbila/Jazz, uma orquestra que integrava moçambicanos, suíços e alemães, denominada Família de Percussão, dirigido por Peter Giger, e Eduardo Durão, cujo trabalho a levou a actuar em várias cidades da Alemanha, culminando com a gravação de um disco compacto.

 

Como professora, ensinou a toda a gente e em todo o lado… desde nas escolas e academias de dança, até lugares suspeitos como Serviços Cívicos de Moçambique, Escola de Aplicação Militar, Banco de Moçambique… A Pérola é uma mulher andada: foi para todo o mundo… dançou em todos os palcos do mundo! Até na China! Tiremos o chapéu para ela!

 

Agora, prêmios, esses, é que minguam! Variam de Melhor Trabalhador do Ministério da Educação e Cultura, Figura do Ano pela Revista Tempo, Rádio Moçambique Jornal Notícias e pouco mais. MUITÍSSIMO POUCO PARA UMA PESSOA COM UM CURRÍCULO DESTA ENVERGADURA! Não merece alguma medalha esta senhora? Ou nome de uma rua?

terça-feira, 11 abril 2023 07:24

Tributo a José Catorze

MoisesMabundaNova3333

Há umas semanas, visitei o Salomão Moiane na sua propriedade em Taninga, a seu convite. O pretexto foi o canhu. Foi um meio dia inteiro de “papo e canhu”, das 11 da manhã até 19:30. Um dos momentos foi a passagem em revista do encontro profissional (mas não só) entre nós.

 

O nosso cruzamento dá-se no semanário Domingo, no distante ano de 1988! Entramos mais ou menos na mesma altura. Ambos vindos do… jornal Notícias! Ele entrara no Notícias vindo da AIM, onde trabalhou longos anos. Já era jornalista sênior e eu principiante.

 

Em 1988, o Domingo conheceu uma profunda “revolução”. Durante muitos anos, tinha um quadro editorial muito magro: Atanásio Dimas (Deus o tenha), como chefe; Augusto de Jesus, Albano Naroromele (Deus o tenha), Lourenço Jossias e Almiro Santos, como efectivos. O resto eram colaboradores. Basicamente, o jornal vivia de colaborações. Nesse ano, vê o seu quadro editorial reforçado, um pouco ampliado. Passou a contar mais com o Salomão Moiane, o Orlando Muchanga, Moisés Mabunda, pouco depois, com o Bento Baloi e… a equipa ficou bem forte!

 

E ali passou a haver uma grande competição profissional. Boa competição. Cada um procurava trazer a sua melhor reportagem. E isso era estimulado por um prêmio que a empresa tinha instituído: a melhor reportagem do mês era premiada monetariamente. Competimos, reportagem por reportagem; argumento por argumento. Aquilo era profissionalismo. Só tocava a viola quem tivesse unhas. E nisto trouxemos histórias e histórias do Moçambique real. O jornal teve mais vida.

 

Mas o “dream team” não duraria muito… o Dimas iria para a Presidência como adido, o Naroromele iria estudar a tempo inteiro, o Augusto de Jesus iria para o Zimbabwe. E dois, três anos depois, o próprio Moiane e o Lourenço Jossias deixariam o semanário. Foram uns cerca de quatro anitos intensíssimos… também porque o país estava a fermentar com a busca do fim da guerra dos 16 anos. Nalgum momento, neste período, o semanário Domingo chegou a ser um dos melhores jornais do país.

 

Mas ali cimentou-se também uma relação de alguma familiaridade, empatia e simpatia, de tal sorte que podemos cada um de nós estarmos onde estivermos, sempre procuramos saber um do outro. Ficou a irmandade entre nós - Salomão Moiane incluído!

 

Mas este texto nem é sobre o semanário Domingo, ou sobre o Salomão Moiane! É sobre o José Catorze!… Só os jornalistas mais antigos saberão quem é/foi este jornalista, grande cronista! Nos últimos tempos, 1987, 88, 89… por aí, assinava uma rubrica com o título”veredas”, onde passavam algumas das melhores crónicas que este país possui. Certa vez, viajou para na altura União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e ficou lá três meses. As crónicas que produziu foram o melhor material que me ajudou a compreender a perestroika e glasnot!

 

Vou parar no Domingo graças a José Catorze, que era, então, o director-geral das Sociedade Notícias! Cheguei à Redacção do Notícias vindo da Escola de Jornalismo, em Março de 1988. Mas minha vontade era ir para o semanário. Não levei dois meses sem meter a carta a Mário Ferro (Deus o tenha) para me deixar subir para onde eu      queria (a Redacção do Domingo está num andar acima da do Notícias). E o Ferro, então director-adjunto e chefe de Redacção, não estava a deixar-me ir, queria-me obviamente nos seus efectivos.

 

Um desses dias, cerrei os punhos e fui bater à porta do José Catorze. Mal tinha falado com ele antes. Expliquei-lhe o que se passava. Sem protocolo nenhum, mandou a secretária procurar a carta do Moisés Mabunda. Tendo-a encontrado, trouxe-a e o Catorze despachou-a ali mesmo favoravelmente. E fui dar ao Domingo. Escusado será dizer que o chefe da Redacção não gostou nada do assunto, mandou-me chamar e deu-me uma palestra de nunca acabar! Segundo ele, eu não iria evoluir num semanário, precisava de estar onde escrevesse todos os dias…

 

Ainda que concordasse com o argumento dele, no fundo eu estava a agradecer fervorosamente ao José Catorze.

 

Mas a minha gratidão para com o Catorze não se fica por me ter autorizado a transferir-me do Notícias para o Domingo em 1988. Já no semanário, em 1989, surge em mim a vontade e determinação de continuar com os estudos na Universidade Eduardo Mondlane. Eis que meto a carta ao então meu chefe. E a resposta nunca mais vinha… vendo o prazo de inscrições na UEM quase a esfumar-se, cerro de novo os punhos e vou bater à porta do… José Catorze! Meu chefe dizia que o director-geral ainda não tinha despachado, então fui confrontar o búfalo pelos chifres!

 

Afinal, a carta ainda não tinha chegado. O Catorze, ali mesmo, diante de mim e da secretária que acabava de lhe jurar a pés juntos que não havia tal carta, pegou no telefone interno, ligou para o meu chefe e instruiu-lhe que mandasse o documento naquele mesmo instante… uma vez mais, despachou-o nos meus olhos. Favoravelmente!

 

Estou eternamente grato a JOSÉ CATORZE. Primeiro, por me ter autorizado a ir para o jornal dos meus sonhos - e creio que não decepcionei nem a ele, nem a mim mesmo, nem à sociedade em geral. Segundo, por me ter autorizado a continuar com os estudos! Não tivesse ele me autorizado, não sei que caminho teria seguido minha vida.

 

Esteja onde estiver o José Catorze - depois que cessou de director-geral da Sociedade Notícias, nunca mais ouvi dele -, aqui fica o meu tributo a este homem que tomou decisões que tiveram grandioso impacto na minha vida!

 

ME Mabunda

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