Quase três anos depois de o bairro Chingodze, nos arredores da cidade de Tete, ter ficado completamente inundado e o distrito de Moatize isolado do resto da província de Tete, o cenário repete-se naquele ponto do país, tendo como protagonista o mesmo actor: o Rio Revúboè.
Esta terça-feira, 25 de Janeiro de 2022, o país ficou chocado com imagens provenientes da província de Tete, ilustrando a fúria do Rio Revúboè, um dos maiores afluentes do Rio Zambeze, que ia consumindo tudo que encontrava à sua volta. Até às 13:00 horas de terça-feira, a Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos referia que o caudal daquele rio, que separa as cidades de Tete e de Moatize, tinha ultrapassado o nível de alerta em 4 metros.
Como consequência da subida do caudal do Rio Revúboè, a ponte sobre aquele rio cedeu, interrompendo a ligação rodoviária entre as cidades de Tete e Moatize, os principais motores da economia da província mais quente do país. A infra-estrutura, sublinhe-se, foi reabilitada em 2019, após o ciclone Idai e consumiu 3,7 milhões de USD.
Em entrevista à STV, Agostinho Vilanculos, Chefe do Departamento de Gestão de Bacias Hidrográficas, garantiu que as chuvas que caem naquela província, em consequência da passagem da Tempestade Tropical ANA – cujo epicentro ainda se encontrava em Tete – estão na origem daquele cenário.
Para além da queda da ponte sobre o Rio Revúboè, algumas viaturas foram arrastadas pelas águas do rio e várias casas e machambas ficaram inundadas. Aliás, a Comitiva do Governador da província, assim como do Presidente do Município da Cidade de Tete, não escapou à fúria das águas, tendo perdido algumas viaturas. Até ao fecho desta reportagem, não se sabia quantas pessoas foram afectadas pelo transbordo do caudal do Rio Revúboè e muito menos se havia vítimas humanas.
De acordo com a Rádio Moçambique, há famílias que passaram a noite ao relento e debaixo de chuvas intensas, em consequência da destruição das suas casas.
Um desastre previsto e cíclico
Segundo Agostinho Vilanculos, o cenário que se assiste nas margens do rio Revúboè estava previsto. Na verdade, trata-se de um desastre que já não é novo na província de Tete. Na madrugada do dia 8 de Março de 2019, lembre-se, o bairro Chingodze ficou inundado, em consequência da subida do caudal do rio Revúboè. Como resultado, seis pessoas perderam a vida e centenas de casas ficaram completamente destruídas.
De acordo com o Chefe do Departamento de Gestão de Bacias Hidrográficas, o cenário deve-se à falta de infra-estruturas de regulação de águas naquela bacia hidrográfica. Aliás, trata-se de uma situação que se repete em quase grande parte das bacias hidrográficas do país e que tem custado vidas humanas, para além de bens materiais.
Porém, “Carta” sabe que há sete anos que o Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos senta por cima do Plano Nacional de Gestão de Recursos Hídricos e que já teria evitado as tragédias que se assistem, a cada época chuvosa, nas províncias do centro do país, com maior destaque para províncias de Tete, Sofala e Zambézia.
O Plano prevê a construção de uma barragem no Rio Revúboè, com capacidade para armazenar 1.135 mil metros cúbicos de água. Já ao longo do Rio Zambeze, prevê a construção de cinco barragens. No total, o documento projecta a construção e desenvolvimento de 39 barragens de fins múltiplos, a reabilitação de cinco barragens já existentes, o desenvolvimento de 118 pequenas barragens, a construção de outras quatro de geração de energia hidro-eléctrica e a construção de diques nos rios e drenagem de água pluvial. Até ao momento, nenhum dos projectos foi executado.
Agostinho Vilanculos enaltece a gestão das águas que está sendo feita pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), que permite que, até ao momento, ainda não haja inundações ao longo das margens do rio Zambeze e que as mesmas serão moderadas. À STV, Vilanculos explicou que a HCB está, neste momento, a turbinar as águas que vêm dos países vizinhos, onde também se regista uma maior precipitação. A fonte alerta para risco de inundações na cidade de Tete e no distrito de Mutarara. (A. Maolela)