Um grupo de transportadores filiados às Cooperativas de transporte de passageiros, sediados na região metropolitana de Maputo, acusa a direcção da Agência Metropolitana de Transportes de Maputo (AMTM) de retirar-lhes autocarros, alegadamente por mau uso do sistema de bilhética electrónica, em curso desde Fevereiro último.
Em conversa com a “Carta”, os lesados falam de um conjunto de 15 autocarros retirados das mãos de alguns transportadores e entregues a outros com o argumento de mau uso do novo sistema de cobrança. Um dos lesados disse à “Carta” que os transportadores apoiam o uso do sistema, até porque “ajuda-nos a controlar as receitas”, porém, explica que a inovação apresenta várias lacunas que precisam ser sanadas para que a mesma funcione em pleno.
Segundo o lesado, com esta atitude, a direcção liderada por António Matos deita por terra todo o investimento feito pelos transportadores, nos últimos anos, no sentido de honrar com os seus compromissos, de modo a contribuir na melhoria do sistema de transporte na região do Grande Maputo (que compreende as cidades de Maputo e Matola e as vilas de Boane e Marracuene).
“É importante referir que boa parte dos autocarros nunca tiveram assistência/revisão periódica prevista no contrato, desde que iniciou a pandemia em 2020, mas por via de sacrifícios, os transportadores têm feito de tudo para manter os autocarros operacionais”, explicou a fonte.
É obrigatório o uso da bilhética electrónica – diz AMTM
“Carta” contactou a AMTM, de modo a inteirar-se do assunto, tendo-se mostrado disponível a responder, por escrito, as nossas questões. A AMTM garante haver “um acordo entre a AMTM e a FEMATRO [Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários] sobre a obrigatoriedade do uso da bilhética electrónica, para além de outras questões contratuais”.
“Os autocarros retirados constituem o culminar de um processo que iniciou este ano, no sentido de termos disciplina e cumprirmos com as regras. Os operadores não estão contra o sistema de bilhética electrónica e, embora existam dificuldades, vamos aos poucos cimentando este complexo processo, que é muito útil para os passageiros, operadores e governo”, diz a organização.
Segundo a AMTM, estão registados, neste momento, mais de 130 mil passageiros, porém, “parte destes não têm a possibilidade de usar este meio de pagamento, porque em certos autocarros, o sistema não está ligado”.
“Não podemos continuar a ter uma grande maioria esforçada e uma muito pequeníssima minoria que não usa e não apresenta sinais no sistema que vai usar. Quem fica prejudicado é o passageiro e o Estado, que não recebe dados de quantos passageiros viajaram na rota X e nas horas Y e de onde para onde. O operador também pode perder receita, pois, o manuseio com dinheiro vivo é sempre um dilema. Todos estes dados são importantes para futuras tomadas de decisão”, acrescenta a Agência Metropolitana de Transportes, sublinhando haver situações em que dois autocarros pertencentes à mesma cooperativa e que operam na mesma rota relatam dados totalmente contraditórios.
“Por exemplo, dois autocarros da mesma rota, na mesma cooperativa: um consegue transportar por dia 900 passageiros e acha possível que um outro tenha transportado apenas 20? Se o sistema está no autocarro, por que não usam?”, questiona a fonte.
Referir que o sistema de bilhética electrónica foi introduzido no passado dia 01 de Fevereiro em quatro corredores (6, 5, 3 e 4), abrangendo 46 rotas. O sistema está sendo operado pela empresa tanzaniana Maxcom e é avaliado em mais de 1.4 bilião de Meticais. (Marta Afonso)