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terça-feira, 17 agosto 2021 05:46

Eleições na Zâmbia: Os sete pecados que ditaram derrota de Lungu

O líder da oposição, Hakainde Hichilema, ganhou a eleição presidencial na Zâmbia, com uma derrota esmagadora contra o seu rival Edgar Lungu. Hichilema foi declarado pela Comissão Eleitoral como sétimo presidente da Zâmbia, no pleito realizado na quinta-feira. Entretanto, dados disponíveis indicam que foi o voto dos jovens que ditou a vitória expressiva do novo estadista zambiano, uma vez que mais da metade do eleitorado tinha menos de 35 anos. Estima-se que 7 milhões de pessoas, maioritariamente jovens, registaram-se para votar no segundo maior produtor de cobre da África.

 

Refira-se que desde a sua eleição em 2016, Edgar Lungu não cumpriu as suas promessas eleitorais aos zambianos e isso levou ao colapso sócio-económico do país. A impopularidade de Lungu, de 64 anos, atingiu um extremo tal que os jovens zambianos já tinham perdido esperança e confiança no seu governo. De acordo com os dados mais recentes do Instituto para o Desenvolvimento sobre pobreza crónica, o número de adultos sem meios para pagar por mais de uma refeição por dia aumentou para 40% sob o seu governo.

 

Segundo: os altos níveis de desigualdade de renda conduziram o país ao abismo. Apesar de ser um país de renda média baixa, os últimos registos do Banco Mundial mostram que quase 60% dos 18,8 milhões de habitantes da Zâmbia ganham abaixo da linha de pobreza de 1,90 dólar por dia. Embora a pobreza seja endémica, vários líderes da Frente Patriótica de Edgar Lungu continuaram a acumular e exibir riqueza obscena, deixando muitos zambianos na miséria.

 

O terceiro pecado é a dívida do país, que junto com a falta de compromisso demonstrada pelo governo de Lungu em resolver a crise por meio de uma melhor gestão fiscal, minou a capacidade do executivo de melhorar a prestação de serviços, investir em sectores sociais e reduzir o alto desemprego. 

 

Quando a Frente Patriótica conquistou o poder em Setembro de 2011, a dívida externa da Zâmbia era de 1,9 bilião de dólares. Em Dezembro de 2020, tinha subido para 12,74 biliões de dólares.

 

Os investidores acompanharam de perto o resultado desta eleição e o país da África Austral está altamente endividado e sofreu o primeiro default soberano da era da pandemia do continente em Novembro. O apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), por sua vez, já amplamente acordado, estava suspenso até depois desta votação. A falta de prestação de serviços foi sentida principalmente no sector de saúde, onde os efeitos da pandemia do coronavírus exacerbaram a crise e, aliado a isso, o comportamento violento dos quadros da Frente Patriótica minou a autoridade incluindo da polícia.

 

O quinto pecado de Lungu e do seu governo foi a falta de consistência das políticas, incluindo na indústria de mineração, a principal fonte de exportação da Zâmbia. Além de prejudicar a arrecadação de receitas, essa instabilidade da política económica gerou consternação significativa entre os investidores estrangeiros.

 

Soma-se a isso o encerramento do espaço democrático, a deterioração dos direitos humanos no país, o colapso geral do Estado de Direito e a ausência de liderança em questões-chave como a grande corrupção no governo, a pandemia de coronavírus e o aprofundamento das divisões étnicas que caracterizaram os últimos cinco anos.

 

Emergência da vitória da oposição na SADC 

 

A Zâmbia é um exemplo de alternância política na África Austral e no continente em geral. O país destaca-se na região, tendo mudado de governo democraticamente duas vezes desde que terminou o governo do falecido Kenneth Kaunda em 1991. A Frente Patriótica conquistou o poder em 2011 sob a liderança de Michael Sata e Lungu foi eleito em 2015 após a morte de Sata, quando este estava no cargo.

 

Lembre-se, o encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados Unidos da América em Lusaka, a capital, alertou antes da votação da quinta-feira que Washington poderia impor sanções a quaisquer indivíduos que “promovam a violência, minem os processos eleitorais, se envolvam em comportamento fraudulento ou corrupto, ou de outra forma violem os direitos democráticos e os fundamentos de eleições livres.

 

O Malawi é um outro exemplo de alternância governativa. No ano passado, a oposição também ganhou a eleição presidencial no Malawi. O MCP, Malawi Congress Party de Kamuzu Banda, voltou ao poder depois de mais de vinte anos na oposição. A vitória da oposição malawiana liderada pelo ex-clérigo Lazarus Chakwera deveu-se à impopularidade aliada à má gestão de Peter Mutharika. Mutharika concorria para o seu segundo e último mandato, mas a má governação deitou por terra o seu sonho de dirigir o país.

 

Esta segunda-feira o presidente do Malawi, Lazarus Chakwera, foi um dos primeiros estadistas da região a endereçar uma mensagem de felicitações ao recém-eleito presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, do Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional.

 

Quem é Hakainde Hichilema?

 

Conhecido por HH, o novo presidente da Zâmbia é formado em Economia e possui também MBA pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Empresário de 59 anos com interesses que incluem pecuária e turismo, ele disputou sem sucesso as cinco eleições anteriores. Hichilema planeia selar um resgate do FMI assim que for tecnicamente possível e iniciar negociações de reestruturação da dívida. Analistas, por seu turno, acreditam que a união da oposição na região pode conduzir gradualmente à alternância política nos Estados-membros. (F.I)

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